Samir Oliveira no SUL21
Tema bastante discutido no Fórum Social Mundial Palestina Livre, o
papel das mulheres na luta pela construção de um Estado Palestino
soberano foi retomado em um painel no início da tarde desta sexta-feira
(30). Na quinta-feira (29), outra conferência havia exposto a situação das mães que lutam pela independência palestina.
Desta vez, o foco foi a discussão em torno da resistência
protagonizada pelas mulheres – inclusive com fortes auto-críticas a essa
atuação. O público questionou, por exemplo, até que ponto a luta de
mulheres por libertação não acaba dominando a pauta de movimentos
sociais e camuflando ações em torno de mudanças mais profundas nos
governos e sociedades da região.
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Uma das presenças mais ilustres no painel foi a de Leila Khaled, que
participou via teleconferência por Skype, já que não pôde vir a Porto
Alegre. Leila é uma das lideranças da Frente Popular pela Libertação da
Palestina (FPLP) – considerada uma organização terrorista pelos Estados
Unidos e por Israel.
Em 1969, Leila e um outro colega da FPLP sequestraram o voo 840 da
Trans World Airlines, que viajava de Roma em direção a Tel Aviv. O
objetivo era tomar como refém o embaixador israelense nos Estados
Unidos, Yitzak Rabin, que acabou não embarcando naquele avião. A ação
terminou na Síria, onde a aeronave foi forçada a pousar, e não houve
mortos ou feridos.
Atualmente, a FPLP integra a Organização Palestina pela Libertação
(OLP), da qual faz parte do Fatah, partido que comanda a Cisjordânia e a
Autoridade Nacional Palestina, com o presidente Mahmoud Abbas. Em sua
fala no painel do Fórum Social Mundial Palestina Livre, Leila explicou
que não há divisão de tarefas ou responsabilidades entre homens e
mulheres na luta pela independência palestina.
“A partir de 1967, muitas mulheres começaram a se engajar nessa luta,
fazendo exatamente as mesmas coisas que os homens. No movimento pela
libertação da Palestina, não há divisão de tarefas por gênero”, disse.
Ela acredita que, atualmente, é preciso que as mulheres ocupem cada
vez mais os espaços de comando da resistência. E defendeu veementemente o
direito de o povo palestino lutar – inclusive militarmente – pela
soberania do seu território.
“Mulheres e homens palestinos não podem se sentir orgulhosos de sua
identidade por qualquer outra via que não seja a resistência. É preciso
resistir de todas as formas à ocupação israelense – inclusive através
das armas, conforme assegura a ONU, quando diz que um povo tem o direito
de se insurgir contra um governo opressor”, esclareceu.
Professora da Universidade Estadual de São Francisco, nos Estados
Unidos, Rabab Abdulhadi é especialista em estudos étnicos e em diásporas
do povo árabe e muçulmano. Ela falou sobre os estereótipos que as
forças contrárias à causa Palestina tentam imprimir nas mulheres que
resistem às ocupações.
“Dizem que a mulher se junta à luta porque sente atração pelas
lideranças masculinas da resistência. Atribuem à mulher militante um
caráter de não-feminilidade, alegando que elas têm pelos pelo corpo e
são todas lésbicas”, explicou. Para a professora,”a revolução palestina
não é uma exclusividade masculina”.
Também esteve presente no painel a ativista norte-americana Angela
Davis. Líder do Partido Comunista dos Estados Unidos nos anos 1960, ela
tinha vínculos muito próximos com os Panteras Negras, apesar de nunca
ter integrado formalmente a organização. Atualmente, Angela é professora
aposentada da Universidade da Califórnia. Em 1969, chegou a ser
demitida da instituição a mando do presidente Ronald Reagan, devido à
sua ligação com os comunistas.
Angela Davis chegou a criticar a organização da marcha de abertura do
fórum. “Eu estive o tempo inteiro atrás de um caminhão de som. De todas
as pessoas que falaram, nenhuma delas era uma mulher palestina. Parece
que algumas coisas ainda não mudaram muito”, observou. A mesma crítica
foi feita por uma refugiada palestina que estava na plateia e disse ter
conseguido, depois de muito esforço, subir no caminhão para se
pronunciar.
A ativista avalia que, atualmente, as mulheres palestinas ocupam um
papel central na mobilização feminista ao redor do mundo. “Quero
agradecer às mulheres palestinas. A luta delas trouxe à tona a
mobilização contra o racismo, o apartheid e o colonialismo”, elogiou.
Provocada a fazer uma avaliação do governo de Barack Obama, a
norte-americana qualificou como “horrendo” o apoio incondicional do país
a Israel e lembrou da resolução da ONU que reconheceu, nesta
quinta-feira (29), a Palestina como um Estado observador não-membro das
Nações Unidas. “Israel ficou totalmente isolado do mundo inteiro e,
ainda assim, os Estados Unidos os apoiaram. Esse voto contrário foi
horrendo. Ainda temos muito trabalho a fazer”, disse.