quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A "paz" de israel....

Podemos conversar? A "indústria da paz" do Médio Oriente

por Faris Giacaman [*]

Boicote Israel. Cartoon de Latuff. Ao descobrirem que sou palestino, muitas pessoas que encontro na universidade aqui nos Estados Unidos ficam ansiosas por informar-me de várias actividades em que têm participado a fim de promover "coexistência" e "diálogo" entre ambos os lados do "conflito", sem dúvida à espera de um aceno de aprovação da minha parte. Contudo, estes esforços são danosos e minam o apelo da sociedade civil palestina em favor do boicote, desinvestimento e sanções a Israel – o único meio de pressionar Israel a cessar as suas violações dos direitos dos palestinos.

Quando eu frequentava o secundário, em Ramalá, uma das iniciativas "pessoa-a-pessoa" mais conhecidas, a Seeds of Peace, muitas vezes visitava a minha escola, pedindo aos estudantes para aderirem ao seu programa. Quase todos os anos eles enviavam alguns dos meus colegas a um campo de Verão nos EUA com um grupo de estudantes israelenses. Segundo o sítio web de Seeds of Peace, ensinam-lhes no campo a "desenvolver empatia, respeito e confiança bem como liderança, comunicação e aptidões de negociação – componentes críticos que facilitarão a coexistência pacífica da geração seguinte". Eles pintam um quadro róseo e a maior parte das pessoas na universidade fica muito surpreendida ao ouvir que penso serem tais actividades equivocadas na melhor das hipóteses e imorais na pior. Por que diabos eu era contra a "coexistência", perguntavam-me sempre.

Durante os últimos anos tem havido apelos crescentes a por um fim à opressão do povo palestino por Israel através de um movimento internacional de boicote, desinvestimento e sanções (BDS). Uma das objecções comuns ao boicote é que ele é contra-producente e que o "diálogo" e a "promoção da coexistência" são muito mais construtivos do que boicotes.

A partir do início dos acordos de Oslo, em 1993, tem havido toda uma indústria que opera no sentido de reunir israelenses e palestinos nestes grupos de "diálogo". A finalidade declarada de tais grupos é a criação de entendimento entre "ambos os lados conflito", a fim de "construir pontes" e "ultrapassar barreiras". Contudo, a suposição de que tais actividades ajudarão a facilitar a paz não é não só incorrecta como realmente carente de moral.

A presunção de que o diálogo é necessário a fim de alcançar a paz ignora completamente o contexto histórico da situação na Palestina. Ela assume que ambos os lados cometeram uma quantidade mais ou menos igual de atrocidades um contra o outro e que são igualmente culpáveis pelos erros que foram cometido. É assumido que nenhum lado está completamente certo ou completamente errado, mas que ambos têm direitos legítimos que deveriam ser tratados e certos pontos mortos que devem ser ultrapassados. Portanto, ambos os lados devem ouvir o ponto de vista do "outro" a fim de promover o entendimento e a comunicação, os quais presumivelmente levariam à "coexistência" ou a "reconciliação".

Tal abordagem é considerada "equilibrada" ou "moderada", como se isto fosse uma coisa boa. Contudo, a realidade no terreno é imensamente diferente do que a visão "moderada" deste assim chamado "conflito". Mesmo a palavra "conflito" é enganosa, pois ela implica uma disputa entre duas partes simétricas. A realidade não é assim; não se trata de um caso de simples falta de entendimento ou de ódio mútuo que se atravessa no caminho da paz. O contexto da situação em Israel/Palestina é de colonialismo, apartheid e racismo, uma situação na qual há um opressor e um oprimido, um colonizador e um colonizado.

Em casos de colonialismo e apartheid, a história mostra que regimes coloniais não abandonam o poder sem luta e resistência popular, ou pressão internacional directa. É uma visão particularmente ingénua assumir que a persuasão e a "conversação" convencerão um sistema opressor a renunciar ao seu poder.

O regime do apartheid na África do Sul, por exemplo, foi finalizado após anos de luta com a ajuda vital de uma campanha internacional de sanções, desinvestimentos e boicotes. Se alguém houvesse sugerido aos oprimidos sul-africanos que viviam nos bantustões a tentar e entender o ponto de vista do outro (isto é, dos partidários da supremacia branca), as pessoas teria rido de uma noção tão ridícula. Analogamente, durante a luta indiana pela emancipação do domínio colonial britânico, Mahatma Gandhi não teria sido venerado como um combatente pela justiça se houvesse renunciado à satyagraha – "ater-se firmemente à verdade", a sua expressão para o movimento de resistência não violenta – e ao invés disso houvesse advogado em favor do diálogo com os ocupantes colonialistas britânicos a fim de entender o seu lado da história.

Entretanto, é verdade que alguns sul-africanos brancos tomaram posição de solidariedade com os negros oprimidos e participaram na luta contra o apartheid. E havia, certamente, alguns britânicos dissidentes das políticas coloniais do seu governo. Mas aqueles apoiantes posicionaram-se explicitamente ao lado dos oprimidos com o objectivo claro de acabar com a opressão, de combater as injustiças perpetradas pelos seus governos e representantes. Qualquer reunião conjunta de ambas as partes, portanto, só pode ser moralmente sã quando os cidadãos do estado opressivo posicionam-se em solidariedade aos membros do grupo oprimido, não sob a bandeira do "diálogo" com o objectivo de "entender o outro lado da história". O diálogo só é aceitável quando efectuado a fim de entender o problema do oprimido, não no contexto de "ouvir ambos os lados".

Entretanto, tem sido argumentado pelos proponentes palestinos destes grupos de diálogo que tais actividades podem ser utilizados como uma ferramenta – não para promover o assim chamado "entendimento" – mas para realmente ganhar israelenses para luta palestina pela justiça, persuadindo-os ou "tendo eles de reconhecer a nossa humanidade".

Contudo, esta concepção também é ingénua. Infelizmente, a maior parte dos israelenses caiu vítima da propaganda com que o establishment sionista e os seus muitos instrumentos os alimentam desde tenra idade. Além disso, exigirá um esforço enorme e concertado contrariar esta propaganda através da persuasão. A maior dos israelenses, por exemplo, não será convencida de que o seu governo atingiu um nível de criminalidade que justifique um apelo ao boicote. Mesmo que eles sejam convencidos logicamente das brutalidades da opressão israelense, provavelmente não será o suficiente para levá-los a qualquer forma de acção. Isto tem-se provado reiteradamente verdadeiro, o que é evidente no fracasso abjecto de tais grupos de diálogo para formarem qualquer movimento abrangente anti-ocupação desde os seus primórdios com o processo de Oslo. Na realidade, nada menos do que a pressão sustentada – não a persuasão – fará os israelenses perceberem que os direitos dos palestinos têm de ser rectificados. Esta é a lógica do movimento BDS, o qual é inteiramente oposto à falsa lógica do diálogo.

Com base num relatório não publicado de 2002 do Israel/Palestine Center for Research and Information, o San Francisco Chronicle informou em Outubro último que "entre 1993 e 2000 [apenas], governos e fundações ocidentais gastaram entre US$20 milhões e US$25 milhões nos grupos de diálogo". Um ulterior inquérito em grande escala a palestinos que participaram nos grupos de diálogo revelou que esta grande despesa falhou em produziu "um único activista da paz em qualquer dos lados". Isto confirma a crença entre palestinos de que todo o empreendimento é um desperdício de tempo e de dinheiro.

O inquérito também revelou que os participantes palestinos não eram plenamente representativos da sua sociedade. Muitos participantes tendiam a ser "filhos ou amigos de altos responsáveis palestinos ou das elites económicas. Apenas sete por cento dos participantes eram residentes em campos de refugiados, muito embora eles constituam 16 por cento da população palestina". O inquérito também descobriu que 91 por cento dos participantes palestinos já não mantinham laços com os israelenses com quem se encontraram. Além disso, 93 por cento não foram abordados com actividade de campo a seguir e apenas cinco por cento concordaram em que toda a experiência ajudou a "promover paz, cultura e diálogo entre participantes".

Apesar do inequívoco fracasso destes projectos de diálogo, continua a ser investido dinheiro neles. Como explicou Omar Barghouti, um dos membros fundados do movimento BDS na Palestina, em The Electronic Intifada, "houve demasiadas tentativas de diálogo desde 1993 ... tornou-se uma indústria – chamamo-la a indústria da paz".

Isto pode ser atribuído parcialmente a dois factores. O factor dominante é o papel utilizável de tais projectos em relações públicas. O Seeds of Peace, por exemplo, jacta-se da sua legitimidade apresentando um impressionante conjunto de endossos por parte de políticos e autoridades tais como Hillary Clinton, Bill Clinton, George Mitchell, Shimon Peres, George Bush, Colin Powell e Tony Blair, dentre outros. O segundo factor é a necessidade de certos "esquerdistas" e "liberais" israelenses sentirem como se estivessem a fazer alguma coisa admirável ao "questionarem-se", quando na realidade eles não tomam nenhum posicionamento significativo contra os crimes que o seu governo comete em seu nome. Os políticos e os governos ocidentais continuam a financiar tais projectos, promovendo dessa forma as suas imagens como apoiantes da "coexistência", e os "liberais" participantes israelenses podem isentar-se de qualquer culpa pela participação no nobre acto de "promover a paz". Um relacionamento simbiótico, muito insatisfatório.

A falta de resultados de tais iniciativos não é surpreendente, pois os objectivos declarados do diálogo e grupos de "coexistência" não incluem convencer israelenses a ajudar palestinos a ganharem o respeito dos seus direitos inalienáveis. A exigência mínima de reconhecer a natureza inerentemente opressiva de Israel está ausente nestes grupos de diálogo. Ao invés disso, estas organizações operam sob a dúbia suposição de que o "conflito" é muito complexo e multifacetado, onde há "dois lados em toda história" e que cada narrativa tem certas afirmações válidas assim como dúbias.

Quando o apelo autorizado Campanha Palestina pelo Boicote Académico e Cultural de Israel faz o seu caminho, quaisquer actividades conjuntas palestino-israelenses – quer sejam projecções de filmes ou campos de Verão – pode ser aceitável só quando o seu objectivo declarado for finalizar, protestar e/ou despertar a consciência quanto à opressão dos palestinos.

Qualquer israelense que procure interagir com palestinos, com o objectivo claro de solidariedade e de ajudá-los a acabar com a opressão, será saudado de braços abertos. Mas deve haver cautela, contudo, quando são feitos convites para participar num diálogo entre "ambos os lados" do assim chamado "conflito". Qualquer apelo a um discursos "equilibrado" sobre esta questão – onde o lema "há dois lados em toda história" é reverenciado quase religiosamente – é intelectualmente e moralmente desonesto pois ignora o facto de que, quando se trata de casos de colonialismo, apartheid e opressão não tal coisa como "equilíbrio". A sociedade opressora, de modo geral, não renunciará aos seus privilégios sem pressão. É por isso que a campanha BDS é um importante instrumento de mudança.


[*] Estudante palestino da Cisjordânia, a fazer o segundo ano da universidade nos Estados Unidos

O original encontra-se em http://electronicintifada.net/v2/article10722.shtml

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

O Financiamento dos Talibãs Afegãos


Quem está a financiar os inimigos da América? Nem queiram saber
Jean MacKenzie
Como se não bastasse os crescentes desaires dos EUA e das forças da NATO na guerra do Afeganistão, descobrem agora que são eles os principais financiadores das forças que os estão a derrotar. E quanto mais investirem mais financiam o inimigo…



Jean MacKenzie* - Odiario.info

É um segredo a descoberto, de que ninguém quer falar, uma verdade incómoda que muitos preferem esconder. No Afeganistão, uma das fontes mais abundantes do financiamento dos talibãs é a ajuda estrangeira que entra no país.

Na prática, todos os grandes projectos incluem uma parte substancial para os insurrectos. Quer lhe chamem dinheiro para protecção, quer lhe chamem extorsão, ou, como os talibãs preferem chamar-lhe, “despojos de guerra”, o que é um facto é que os doadores internacionais, em especial os Estados Unidos, estão a financiar os seus próprios inimigos em grande escala.

«Toda a gente sabe o que se está a passar», disse um funcionário da embaixada americana, em privado.

É quase impossível determinar quanto é que os insurrectos estão a gastar, tornando difícil detectar as origens dos financiamentos.

Mullah Abdul Salaam Zaeef, antigo ministro talibã no Paquistão, foi com certeza mais do que ingénuo quando disse ao GlobalPost que os militantes funcionavam quase do ar:
«Os talibãs não têm grandes despesas», disse ele sorrindo levemente. «Andam descalços e famintos, sem telhado onde se abriguem e com uma pedra por almofada». Quanto às armas, encolheu os ombros. “O Afeganistão está cheio de espingardas” disse. «Temos espingardas que cheguem para anos».

Claro que a realidade é muito diferente. Os militantes recrutam combatentes locais, pagando-lhes. Deslocam-se nos seus tradicionais 4x4, têm que alimentar as tropas, pagam os transportes e o tratamento dos feridos e, evidentemente, têm que comprar foguetes, granadas e as suas queridas Kalashnikovs.

Até há pouco tempo, a maioria dos entendidos julgava que era o dinheiro da droga que financiava os talibãs. Mas mesmo assim, as opiniões dividiam-se quanto às quantias reais. Alguns relatórios calculavam a receita total anual em cerca de 100 milhões de dólares, enquanto outros elevavam esse número até aos 300 milhões – mesmo assim, uma pequena fracção dos 4 mil milhões de dólares da indústria do ópio.

Agora, os funcionários da administração desencadearam uma investigação quanto aos patrocinadores dos talibãs. Richard Holbroke, enviado especial americano no Afeganistão e no Paquistão, disse no passado mês numa conferência de imprensa em Islamabad que a droga contribuía para os cofres dos talibãs numa quota menor do que se julgava anteriormente.

«No passado havia um certo sentimento de que o dinheiro era proveniente da droga no Afeganistão», disse Holbrooke, segundo as notícias dos meios de comunicação. «Mas isso não corresponde à verdade».

O actual sentimento é de que o ópio contribui com menos de metade do dinheiro para a guerra, e que há uma série de fontes, incluindo contribuições privadas de Estados do Golfo Pérsico, que constituem a sua maior parte. Holbrooke disse aos repórteres que ia acrescentar à sua equipa um membro do Departamento do Tesouro para averiguar a questão do financiamento aos talibãs.

Mas, porventura, os funcionários americanos não precisam de procurar mais longe do que no seu próprio quintal.

Aumentam os indícios esporádicos de que os talibãs estão a arrecadar uma parte substancial do dinheiro da ajuda que chega ao Afeganistão, vindo do exterior.

Isso ultrapassa o mero dinheiro de protecção ou extorsão de «impostos» a nível local – efectuam-se negociações a alto nível entre os talibãs e os principais construtores, segundo fontes próximas do processo.

Um escritório sombrio em Cabul alberga o funcionário talibã de contratos, que examina propostas e negoceia percentagens com hierarquias organizativas. Não falará, nem sequer se encontrará com um jornalista, mas fontes que falaram com ele e que viram documentos dizem que o processo é bastante profissional.

O gerente de uma empresa afegã com lucrativos contratos de construção com o governo dos EUA inclui no mínimo 20 por cento para os talibãs nas suas estimativas de custos. O gerente, que não fala abertamente, disse em privado a amigos seus que faz cerca de 1 milhão de dólares por mês. Nesta quantia, há 200.000 dólares que estão a ser canalizados para os insurrectos.

Se as negociações não chegarem a bom termo, o projecto vai encontrar problemas – os trabalhadores de estradas podem ser atacados ou mortos, podem ir pontes pelo ar, podem ser assassinados engenheiros.

É surpreendente o grau de cooperação e de coordenação entre os talibãs e os trabalhadores de ajuda, o que deverá fazer com que os financiadores se sintam extremamente desconfortáveis.

Um empreiteiro afegão, falando em privado, contou a amigos um projecto que estava a dirigir no sul instável. Não se pode referir qual é a província, nem qual o projecto em causa.

«Eu estava a construir uma ponte», disse ele numa noite, depois de umas bebidas. «O comandante talibã local mandou-me chamar e disse “não construa uma ponte ali, vamos ter que fazê-la ir pelos ares”. Pedi-lhe que me deixasse acabar a ponte, receber o dinheiro – depois podiam fazê-la ir pelos ares quando lhes apetecesse. Chegámos a acordo e eu terminei o meu projecto».

No sul, não se pode implementar nenhum contrato sem que os talibãs recebam uma parte, por vezes em diversas fases durante o seu percurso.

Um empreiteiro na província sul de Helmand estava a negociar com um fornecedor local um fornecimento enorme de tubagens. Os tubos tinham que ser trazidos do Paquistão, portanto o fornecedor acrescentou cerca de 30 por cento a mais para os talibãs, para garantir que os tubos chegavam a Lashkar Gah sãos e salvos.

Logo que os tubos foram entregues ao empreiteiro, este teve que negociar outra vez com os talibãs para levar os tubos para o local do projecto. Também isso foi acrescentado aos custos de transporte.

«Sabemos que a nossa gente anda a pagar aos talibãs», disse o empreiteiro estrangeiro encarregado do projecto.

Na província de Farah, funcionários locais relatam que os talibãs estão a apoderar-se de 40 por cento do dinheiro que entra para o Programa de Solidariedade Nacional, um dos projectos de reconstrução comunitária de maior êxito no país, que já gastou centenas de milhões de dólares no país nos últimos seis anos.

Muitos afegãos não acham mal que os militantes obtenham o seu quinhão da ajuda externa.

«É dinheiro internacional» disse um jovem residente em Cabul. «Não estão a roubar o povo, estão a sacá-lo ao inimigo».

Mas em áreas sob o controlo dos talibãs, os insurrectos também estão a extorquir dinheiro ao povo.

Em Helman, devastada pela guerra, onde grande parte da província tem estado sob controlo dos talibãs nos últimos dois anos, os residentes lamentam-se por causa das tarifas.

«É um desastre», disse um residente de 50 anos do distrito de Marja. «Temos que lhes dar dois quilos de pasta de ópio por jerib durante a colheita; depois temos que lhes pagar o ushr (um imposto islâmico, correspondente a um décimo da colheita) do nosso trigo. Depois insistiram no zakat (décima islâmica). Agora apareceram com mais uma coisa: 12.000 rupias paquistanesas (cerca de150 dólares) por família. E não aceitam nem uma rupia a menos».

Tudo isto ajuda, evidentemente. Mas as coisas são relativas: se os talibãs conseguem reunir e gastar, digamos, mil milhões de dólares por ano – o limite máximo que as pessoas se atrevem a calcular – isso corresponde ao que os Estados Unidos estão actualmente a gastar em 10 dias de guerra para os derrotar.

* Jean MacKenzie é correspondente de Global Post no Afeganistão


Este texto foi originalmente publicado em Global Post no dia 7 de Agosto passado (http://www.globalpost.com/dispatch/taliban/funding-the-taliban) e divulgado pela Reuters no dia 13 de Agosto (http://blogs.reuters.com/global/2009/08/13/who-is-funding-the-afghan-taliban-you-dont-want-to-know/)

Tradução de Margarida Ferreira

A midia de esgoto perde o rumo mais uma vez....

Tiro pela culatra: o papelão de Waldvogel e o fiasco da Globo

A jornalista Monica Waldvogel protagonizou um dos maiores papelões da grande mídia nos últimos tempos. Para discutir, nesta terça-feira (25), a "crise da Receita", ela reuniu no programa Entre Aspas, da Globonews, um trio de entrevistados que estava simplesmente na contramão do script golpista da emissora. Eram eles o ex-secretário da Receita Federal (no governo FHC), Everardo Maciel, o presidente do SindiReceita, Paulo Antenor, e um advogado tributarista.

Waldvogel iniciou o programa com uma leitura apocalíptica sobre o "aparelhamento da Receita" pelo governo Lula, mostrando Lina Vieira como uma “vítima” de interesses poderosos (Sarney, Petrobras, etc.). Todas as teses da introdução de Waldvogel foram, no entanto, rejeitadas e rebatidas pelos participantes do programa. Segundo eles, o aparelhamento foi feito, na verdade, pela própria Lina Vieira.

Para o jornalista Luis Nassif, o comentário inicial de Waldvogel foi "vergonhoso, antijornalístico e desonesto", “a Globonews perdeu o rumo”, e a apresentadora “desrespeita os telespectadores ao antecipar conclusões falsas”. Ao final do programa, constrangida, a jornalista ainda perguntou: “Mas então houve uma manipulação da opinião pública?”. Os três entrevistados concordam.

Veja abaixo a íntegra do programa.



Leia abaixo o texto de Luis Nassif, publicado em seu blog

O comentário inicial lido por Mônica Waldvogel é vergonhoso, antijornalístico, desonesto, porque desmentido ao longo de todo o programa pelos três entrevistados convidados. A Globonews perdeu o rumo.

Os três convidados são unânimes em afirmar que politização ocorreu na fase de Lina Vieira, não agora. Mônica atropela as conclusões da mesa redonda, desrespeita os telespectadores ao antecipar conclusões falsas. Principalmente sabendo-se que a abertura sempre é feita após o programa, com base nas conclusões levantadas.

Paulo Antenor, presidente do SindiReceita, sindicato dos Analistas-Tributários da Receita Federal, denuncia o aparelhamento da Receita… por Lina. Mostra que o pedido de demissão coletiva dos antigos superintendentes foi apenas uma antecipação para demissões que ocorreriam. O advogado tributarista nega crise na Receita. Disse que está mais preocupado com as taxas de juros dos bancos e temas mais relevantes.

Mônica tenta se socorrer do ex-Secretário da Receita Everardo Maciel, da gestão FHC, pedindo que confirme a politização. Everardo diz que a politização ocorreu com Lina e que agora não há ingerência política, porque é atribuição do Ministro definir o Secretário.

Depois disso tudo, Mônica volta ao papo de que Mantega estaria pressionando para não apertar os grandes contribuintes. Os entrevistados negam. Everardo mostra que esse foco nos grandes contribuintes começou em sua gestão. Mônica diz que houve aumento na arrecadação dos grandes contribuintes na gestão Lina. Everardo desmonta com números.

Mônica vem com a história da opção do regime de caixa pela Petrobras foi manipulação. Everardo é incisivo: a Petrobras está certa. O factóide criado foi para justificar a queda da arrecadação na gestão Lina - embora admita que a queda tem muitos outros fatores deflagradores, entre os quais a crise.

Mônica: se fosse tão clara a possibilidade de mudar o regime no meio do ano, não haveria essa controvérsia.

Everardo: a regra é clara e foi feita em 1999 justamente para enfrentar o problema da desvalorização cambial.

Mônica: mas até agora a Receita está para soltar um parecer.

Everardo e os demais: já foi feito, concordando com a Petrobras. Essa prática existe há muito tempo, não existe qualquer ilegalidade ou manobra contábil.

Mônica, balbuciando: a lei foi feita. Houve então uma manipulação da opinião pública?

Todos concordam com a cabeça.

Aí ela deriva a entrevista para o caso Sarney, perguntando se é legítimo pressionar a Receita para abrandar a fiscalização.

O presidente do Sindicato disse que é impossível essa pressão, que nunca essa informação correu na Receita. Disse que sempre trabalhou próximo à chefia da Receita, tanto no governo FHC e Lula, e nunca viu esse procedimento. O chefe da Receita conversa com políticos todos os dias. Mas esse tipo de ingerência é novidade para a gente.

Everardo disse que se ocorreu, o momento certo seria na época em que foi feita. Se não fez, cometeu prevaricação.

Conclusão final dos três entrevistados: Lina foi um desastre para a imagem da Receita e caberá a todos os funcionários trabalharem para o resgate de sua imagem.

Assista o programa e depois volte à abertura.

PS - O programa é ao vivo. Então na abertura Mônica definiu conclusões que não foram avalizadas, posteriormente, pelos entrevistados.

Créditos: www.vermelho.org.br

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Partido Pirata: novos ventos na política

Como o Partido Verde no mundo, invenção recente que assumiu muitas vezes o foco das luzes de batalhas políticas de relevância, a idéia do Partido Pirata alastra-se e promete uma revoravolta em velhas práticas não mais compatíveis com as modernas tecnologias e os avanços das liberdades sociais ameaçadas por políticas fascistas.



Chico Villela - NovaE

Do norte da Europa chegam ventos amenos que indicam uma boa nova política para arejar os mais que pestilentos ares de democracias que se afundam a cada dia mais em medidas de “segurança” que implicam violação de privacidade, controle da vida dos cidadãos, restrições crescentes ao livre pensar e ao livre manifestar-se, e fatos similares, num alastramento de sistemas repressivos que avançam no mundo a partir da gestão fascista do regime Cheney-Bush, iniciada em 2001, e sua empulhação de “guerra global ao terror”. Nascido na Suécia em 2006, o Partido Pirata (PP) vem ganhando adeptos que organizam seções em todo o mundo. Assume o nome pelo qual os detentores de “patentes e direitos” chamam os que resistem ao avanço da sua dominação: piratas.

Um exemplo interessante de possível campo de ação dos PPs é o dos ‘organismos geneticamente modificados’, os OGM. Considere-se a Monsanto e suas sementes resistentes a determinado herbicida que mata as pragas, mas não as afeta. Uma semente que se planta hoje, de culturas como trigo, arroz, soja, milho etc., é resultado de milênios de aperfeiçoamento. De milho, os incas usavam mais de 50 tipos, de todas as cores e tamanhos.

A agricultura tem algo como 10 mil anos de história. Foi a partir da criação e do desenvolvimento de plantio e estocagem de alimentos que o homem pôde enfim abandonar a vida nômade baseada na caça e na coleta e fixar-se num território, o que origina a suprema criação humana, a cidade, e propicia a invenção de controles e mecanismos de administração dos alimentos e bens coletivos e particulares, mais tarde um dos pilares de outra invenção determinante, a escrita. Foi a partir da agricultura também que se desenvolveu o conhecimento do tempo e do clima, que nasceu e cresceu imbricado com o conhecimento dos céus e suas peculiaridades.

Ao longo da história humana, incontáveis centenas de milhões de agricultores ensaiaram e corrigiram solos e frutos, para legar ao homem contemporâneo as sementes que o nutrem. Mas múltis como a Monsanto não pensam assim: apropriam-se de uma semente propriedade da humanidade, modificam um minúsculo ponto em sua cadeia genética e se proclamam donas da semente modificada, e passam assim a cobrar bilhões de dólares dos que produzem alimentos em todo o planeta; no Brasil citam-se cifras ao redor de US$ 300 milhões.

Os PPs firmam posição contra essa posse desautorizada: são contrários a patentes de seres e entes vivos, como as sementes, da mesma forma que se opõem à posse privada de mudanças genéticas, objeto hoje de extensas pesquisas em muitos países. Como o ar é, e a água deverá ser um dia, as sementes e os recursos genéticos são patrimônio de todos, e não devem ser sujeitos a posse privada.

Os PPs adotam posição flexível sobre o uso particular de obras que circulam na rede. O movimento pela criação do PP de Portugal publicou em seu site em junho de 2009 notas sobre um estudo da Harvard Business School de downloads de músicas e suas conseqüências para autores e mercados. Os resultados da pesquisa conduzida por dois economistas, Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf desmentem os que anunciam danos aos detentores de direitos. Focou-se a avaliação do “impacto da troca de ficheiros [arquivos] no mundo contemporâneo”, e concluiu-se que, “mesmo com o download ilegal, a produção musical mais do que duplicou nos últimos sete anos”.

Alguns destaques do texto citado: “Embora a venda de discos tenha caído desde 2000, o número de álbuns criados aumentou bastante. Se em 2000 foram lançados 35,5 mil discos, em 2007 esse número saltou para os 79,6 mil, onde se incluem 25,1 mil álbuns digitais. Procurando desmistificar os prejuízos económicos causados pela da troca de ficheiros protegidos por direitos de autor, o estudo, citado pela IDG News, sugere, por exemplo, que o download de músicas não representa necessariamente uma venda perdida e que os remixes e os mashups podem incentivar a venda dos temas originais.

Os autores sugerem ainda que a partilha de ficheiros pode representar uma perda de receita de início, mas é compensada por outros factores. Os economistas da Harvard Business School apresentam como exemplo o aumento da procura por espectáculos ao vivo, assim como a subida do preço dos mesmos. Perante os dados reunidos, Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf concluem que o maior acesso do público às músicas e “uma protecção menos vincada dos direitos de autor, aparentemente, beneficiaram a sociedade”. Tal faz com que a violação dos direitos de autor seja ‘ambiguamente desejável’, desde que não impeça a produção de novos trabalhos por parte dos artistas e empresas de entretenimento.”

O pioneiro PiratPartiet sueco (http://www.piratpartiet.se/international/english), fundado em 2006, conseguiu eleger um membro ao Parlamento Europeu, com 7,1% dos votos do país, percentual mínimo que habilita o partido a ocupar uma das 16 cadeiras a que a Suécia tem direito. Prega reforma da lei de copyright, um novo projeto de patentes com severas restrições ao domínio aberto de empresas que operam pesquisas muitas vezes financiadas por governos, especialmente de produtos farmacêuticos, defende o direito à privacidade e a trocas e compartilhamento. A íntegra da declaração de princípios acha-se disponível em http://docs.piratpartiet.se/Principles%203.2.pdf.

O movimento cresceu após a multa de cerca de 3 milhões de euros estabelecida pela justiça contra os criadores do site pirata sueco The Pirate Bay, maior site de compartilhamento da rede até então. Os beneficiários foram múltis do ramo, entre elas Warner Bros, Sony Music, EMI e Columbia Pictures. A entidade ‘Partido Pirata Internacional’, com site em construção disponível em inglês em http://www.pp-international.net/, lista os links de partidos e movimentos em 32 países, além de noticiário variado, fóruns de discussão, etc.

O link do PP do Brasil é http://www.partido-pirata.org/. O site apresenta os princípios que baseiam sua ação e uma lista de perguntas e respostas de esclarecimento. Em ‘Quem somos’, lê-se:

O Partido Pirata é um movimento que surgiu no Brasil no final de 2007 a partir da rede Internacional de Partidos Piratas [a mesma citada acima], organização pela defesa ao acesso à informação, o compartilhamento do conhecimento, a transparência na gestão pública e a privacidade - direitos fundamentais que são ameaçados constantemente pelos governos e corporações para controlar e monitorar os cidadãos. Não acreditamos na "propriedade intelectual" e entendemos que sua defesa no âmbito digital implica o controle dos cidadãos e a supressão dos direitos civis e liberdades individuais fundamentais. O Partido Pirata do Brasil defende ainda a inclusão digital, o uso de softwares livres e a construção de políticas públicas de forma efetivamente participativa e colaborativa.” O PP brasileiro defende também a inclusão digital e a transparência dos atos públicos, o que o aproxima de outros movimentos pela ética na administração pública e na política.

Uma das conseqüências da ampliação dos PPs pelo mundo é a colocação na mesa de debates de temas como direitos de propriedade e de autoria e seus desdobramentos. Há tendência à revisão de regras, algumas seculares, que disciplinam a matéria. Em alguns países não se considera pirataria a cópia não autorizada de uma obra para usufruto individual, sem intuito de comercialização ou lucro. Um paralelo pode ser traçado com outro alvo de medidas de repressão, as drogas. Em dezenas de países já se permite o consumo individual de algumas drogas e a sua posse em quantidades limitadas. No Brasil, a questão patina, sem que governos, políticos ou organizações civis tenham coragem de abrir o debate e propor avanços.

O último país a relaxar as antes rigorosas proibições contra drogas foi o México, que se acha há três anos em guerra contra traficantes de peso em que morreram mais de 7 mil pessoas. Na sexta passada, dia 21 de agosto, o governo aprovou lei que descriminaliza a posse de até 5 g de maconha, 500 mg de cocaína, 50 mg de heroína, 40 mg de metanfetaminas e 0,015 mg de LSD. O intuito é evitar a corrupção da cobrança de propinas para liberação de presos por porte e uso dessas drogas e permitir maior concentração das ações no combate aos grandes traficantes.

Mas a maior contribuição que os PPs poderão trazer talvez se situe na esfera da definição mais adequada aos tempos atuais dos direitos de patentes, em especial patentes da órbita da internet e algumas de uso mundial, e à reposição do debate sobre outras já consagradas e até aqui não questionadas. Um exemplo foi fornecido com a questão dos OGM, que implicam patentes sobre mínimas alterações em seres e entes vivos existentes há milhares, ou milhões, de anos. Outro campo promissor para alterações e novas propostas é o dos direitos intelectuais sobre obras. O ponto de partida é muito próximo ao do debate sobre patentes de seres e entes vivos: até que ponto uma obra técnica ou pedagógica para uso em educação, por exemplo, não incorpora conhecimentos acumulados por milhares de anos? Qual é a real contribuição do autor, se o tema é amplamente conhecido e de domínio público? A forma particular de organização do conhecimento coletivo num livro ou outra forma de registro autoriza o autor a direitos exclusivos?

São bastante amplas as perspectivas de crescimento e presença dos PPs na vida política de muitos países. Isso ocorre apesar da maciça resistência das empresas que detêm direitos e patentes sobre as obras e tecnologias que vêm sendo objeto de discussão pelos PPs. Um fato que vem atraindo atenção é a rapidez com que a idéia se consolida. O Pirate Party do Reino Unido (http://www.pirateparty.org.uk/) recebeu centenas de adesões (adultos, 10 libras, jovens, 2 libras) em questão de poucas horas no primeiro dia em que se noticiou sua abertura. O curioso é que o seu surgimento coincide com uma ameaça do governo de punição com multas de até 50 mil libras (mais de 150 mil reais) e bloqueio do acesso à rede aos cerca de 7 milhões de usuários que baixam obras ‘ilegalmente’ na internet.

Alguns analistas vêm mesmo comparando o surgimento dos PPs ao erguimento do recente e hoje sólido movimento ambientalista e seus PVs, que, em alguns países, ocupam cargos de primeiro nível e motivaram a reforma do Estado com a criação de órgãos e ministérios e uma detalhada legislação voltados ao tema. Mas, se o foco dos PVs é quase exclusivamente o ambiente, o raio de ação dos PPS pode abrir-se a campos bastante mais amplos.

Um exemplo é o Pirate-Party dos EUA, http://www.pirate-party.us/, em formação, que apresenta plataforma com alguns candentes temas políticos, como rejeição do conceito de pirataria online; imprensa livre, com respeito às normas constitucionais, extinção da recente parcela pertinente da legislação de caráter fascista da Lei Patriota de 2001 do regime Cheney-Bush, e limitação das dimensões da grande imprensa; respeito à absoluta transparência nos atos de governo e acesso dos cidadãos ao seu conhecimento; direito à privacidade (reivindicação explosiva, dada a permanente invasão da privacidade de milhões de cidadãos por agências governamentais que agem secretamente e ao desamparo da lei, a partir de 2001, e que continua no governo BHObama).

Outro exemplo é o Piratenpartei alemão, http://www.piratenpartei.de/, que participará das eleições de 27 de setembro para o Bundestag (parlamento). Pesquisas indicam que o novo concorrente poderá amealhar até inesperados 11% dos votos. Entre suas propostas situam-se a defesa da privacidade e da liberdade de circulação do conhecimento humano e a alteração de muitos pontos de sua lei de patentes, extinção das patentes de software, pontos comuns a todos os PPs. Mas o Piraten-Partei também defende a educação pública gratuita em todos os níveis e a transparência dos atos da administração pública, o que o aproxima de eficazes movimentos sociais dos dias de hoje. O PirateParty canadense http://www.pirateparty.ca/ ecoa essa plataforma em seus princípios em cinco pontos: reforma do copyright, mais respeito à privacidade, reforma do sistema de patentes, neutralidade na rede, e governo transparente.

Além do Brasil, só Chile (http://www.partidopirata.cl/) e Argentina (http://partido-pirata.blogspot.com/) contam com o movimento pelo PP na América Latina. Ambos os sites trazem manifestos de princípios extensos e elaborados. Pelo Peru, apresenta-se o movimento Estudantes pela Cultura Livre, que abrange algumas dezenas de universidades euamericanas e um ideário com alguns pontos em comum com os PPs. O ‘correspondente’ peruano é dirigido pela ‘Comissão para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação’, de 2003, com representantes de governo, universidades estrangeiras e iniciativa privada, que tem por meta a criação de um plano de atividades para o Peru. Os peruanos têm direito a dois assentos na comissão, com dezenas de membros.

Pela aparência, os EUA e seus “movimentos de estudantes” que propagam sua ideologia já se interessaram pelo PP tipo exportação, e o Peru é alvo fácil, o que mostra que, mesmo sendo tão recente, o interesse pelos PPs já chegou ao Departamento de Estado. Pelo menos, é um sinal da sua relevância.

Crise econômica global:

China mostra sua força

As exportações chinesas abriram uma ligeira dianteira em relação às da Alemanha no primeiro semestre deste ano, segundo novos dados divulgados ontem, em mais uma indicação de que a posição da Alemanha, de principal país exportador do mundo, está ameaçada. Japão é beneficiado pelo vigor chinês.

A China exportou mercadorias em valor equivalente a US$ 521,7 bilhões no primeiro semestre do ano, enquanto o total da Alemanha foi US$ 521,6 bilhões, conforme anunciou a Organização Mundial do Comércio (OMC), com sede em Genebra. Estes números de exportação são acompanhados de perto na Alemanha, a maior economia da Europa, que terá eleições nacionais no próximo mês.

As vendas dos seus produtos industriais têm impulsionado em grande parte o crescimento econômico nos últimos anos e, durante toda a crise econômica, o governo da premiê conservadora Angela Merkel tem defendido firmemente o modelo econômico do país, voltado às exportações.

A Alemanha há muito tempo vem se preparando para que a economia chinesa, de crescimento muito mais acelerado, assuma o seu título de “campeã mundial de exportações”. O valor provável das exportações alemãs e chinesas para o ano cheio continua, porém, incerto e dependerá decisivamente das oscilações das taxas de câmbio nos próximos meses.

Euro forte

Um euro forte poderia ajudar a reduzir as vendas da Alemanha. Os setores exportadores do país mostraram sinais de recuperação nos meses recentes. “Está apertado demais para podermos extrapolar para o ano todo e, quem dirá, para o próximo ano”, afirmou Patrick Low, economista-chefe da OMC.

As exportações alemãs foram duramente abaladas pela queda na confiança mundial que se seguiu à derrocada do banco de investimentos americano Lehman Brothers, no ano passado. Mas surgiram sólidos sinais de uma sólida retomada no crescimento. Em junho, mês mais recente para o qual há dados disponíveis, as exportações alemãs deram um salto de 7% na comparação com o mês anterior.

Apesar disso, elas ainda ficaram 22,3% abaixo do nível do ano anterior. As exportações chinesas seguiram um padrão semelhante. O aumento repentino nas exportações ajudou a explicar porque a Alemanha conseguiu registrar um aumento no PIB no segundo trimestre, na comparação com o trimestre anterior - dando a entender que o país teria saído da recessão antes dos EUA, Reino Unido e da maioria das demais grandes economias da UE.

Por sua vez, a recuperação na Alemanha está ajudando a elevar o desempenho global da zona do euro. As encomendas à indústria na zona do euro dispararam, numa alta de 3,1% em junho, na comparação com o mês anterior (leia texto ao lado), segundo dados da Eurostat, a agência oficial de estatísticas da União Europeia.

Cautela

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, disse que a economia de seu país “ainda enfrenta muitas novas dificuldades e problemas” e que o governo manterá suas políticas de estímulo uma vez que recuperação ainda carece de bases sólidas. Wen disse que apesar de melhoras nas condições da economia chinesa, não se pode ser “cegamente otimista”.

As declarações foram feitas durante visita ao sul do país e veiculadas pelo site do gabinete do premiê. “Ainda há muitos fatores de instabilidade e de incerteza pela frente e a situação econômica futura é ainda muito grave, embora tanto a economia mundial quanto a economia nacional estejam passando por mudanças positivas neste momento.”

O premiê advertiu também que os efeitos de algumas das medidas do governo podem começar a perder força enquanto outras levarão algum tempo até apresentarem resultados. No comunicado do gabinete com as declarações de Wen não há mais detalhes dos problemas mencionados por ele.

A cautela do líder chinês contrasta com um otimismo crescente entre muitos analistas que dizem que a China está fazendo progressos impressionantes para deixar para trás os efeitos da crise. Muitos têm repetido que a China será a primeira grande economia a sair da maior retração mundial desde os anos 30.

Wen prometeu que Pequim continuará aplicando suas políticas para incrementar a demanda doméstica, ampliar o crédito e melhorar eficiência. O país está pondo em prática a um plano de estímulo de US$ 586 bilhões previsto para durar dois anos. O objetivo é injetar recursos do Estado na economia para estimular o consumo doméstico por meio de maiores gastos públicos em obras e ampliação de crédito.

Pacote

O Banco da Construção da China afirmou, no entanto, que há o excesso de recursos no sistema bancário está criando uma bolhas do mercado, o que deu asas a temores de que autoridades chinesas estejam preparando - ao contrário da promessa de Wen - um aperto no crédito.

“Há incerteza na economia e bolhas no mercado de capitais”, disse Guo Shuqing, presidente do banco, o segundo maior do país. “O sistema bancário chinês ainda tem excesso de liquidez.” No primeiro trimestre, bancos do país concederam um valor recorde de US$ 1,1 trilhão em novos empréstimos para ajudar a por em prática o pacote de estímulo do governo.

Foi o pacote que contribuiu para que a economia chinesa tivesse um crescimento de 7,9% no último trimestre - ante os 6,1% do trimestre anterior. O premiê e outras autoridades chinesas têm alertado, no entanto, que muitas empresas no país ainda registram resultados ruins e que outras áreas mostram que a fase de recuperação ainda não está bem fundada.

“A fundação da recuperação econômica não está estável, não está firme, não está equilibrada e certamente não podemos ser cegamente otimistas”, disse Wen. A meta de crescimento do governo para este ano é de 8%. Estimativas de analistas privados variam de 7% a 9,4%.

Japão


A demanda da China está contribuindo para tirar o Japão de sua mais grave recessão do pós-guerra, disse uma destacada economista do governo japonês. “Não há dúvida de que a recuperação econômica da China está contribuindo para uma reação no Japão e em outras economias da região”, disse Tomoko Hayashi, diretora para economias externas da Secretaria de Governo em Tóquio.

Indústrias, da Honda à Komatsu, se beneficiaram no trimestre passado com o pacote de incentivo econômico da China, de 4 trilhões de iuan (US$ 585 bilhões), o que ajudou a economia do Japão a crescer pela primeira vez em mais de um ano. As exportações para a China superaram as vendas para os Estados Unidos e fizeram com que o país se tornasse o maior mercado externo do Japão este ano.

O mercado chinês está compensando a fragilidade dos gastos do consumidor e das empresas no mercado japonês. A “recuperação [do Japão] seguirá dependendo muito da demanda externa e do pacotes de estímulo no segundo semestre de 2009 e início de 2010″, disse Tetsufumi Yamakawa, economista-chefe para Japão do Goldman Sachs.

Imóveis

Outro dado que mostra o vigor da China é que o país superou os EUA e o Reino Unido juntos em vendas de imóveis comerciais no primeiro semestre do ano, disse a empresa de pesquisa Real Capital Analytics, sediada em Nova York. As transações chinesas totalizaram US$ 31,2 bilhões, depois da disparada de vendas propiciada pelo boom de crédito patrocinado pelo governo chinês.

As vendas nos EUA somaram US$ 16,2 bilhões no primeiro semestre, segundo o relatório, e as do Reino Unido, US$ 13,7 bilhões. “Não há dúvida que de a China será um participante mais significativo no cenário mundial de transações de imóveis comerciais”, disse Dan Fasulo, diretor-executivo da Real Capital.

Cerca de US$ 62,8 bilhões em imóveis comerciais foram negociados mundialmente no segundo trimestre, 17% a mais que nos três meses anteriores, o que representa o primeiro aumento em 18 meses, disse a Real Capital.

Esse crescimento indica uma recuperação mundial. O total mundial de vendas no primeiro semestre foi de US$ 116,4 bilhões, 65% a menos que no mesmo período do ano passado e US$ 500 bilhões a menos que no pico no primeiro semestre de 2007. Espera-se que as vendas cresçam neste semestre.

Com agências e Valor Econômico, in www.vermelho.org.br

terça-feira, 25 de agosto de 2009

PSOL - seminario Internacional

Seminário Internacional do PSol declara solidariedade ao povo hondurenho e às lutas sociais na América Latina

A solidariedade com o povo hondurenho, que sofreu recente golpe militar, e o combate à presença de forças militares norte-americanas na Colômbia foram alguns dos temas mais citados na abertura do Seminário Internacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSol) na manhã da terça-feira, 18 de agosto, em São Paulo. Com o tema "Crise: Alternativas na América Latina e para o Mundo", o evento contou com a presença de representantes de movimentos e partidos de esquerda da Bolívia, Peru, Colômbia e do presidente da Fundação Lauro Campos, Milton Temer.

O primeiro integrante da mesa a falar foi o dirigente do partido Movimento para o Socialismo (MAS), Sérgio Loyaza, representante da Bolívia. Ele deu um depoimento sobre a luta do povo indígena, que representa a origem social do presidente Evo Morales, e o temor sobre a organização das forças conservadoras que querem voltar ao poder no país. "Há uma direita que está conspirando contra o nosso Governo. Temos derrotado as oligarquias na Bolívia, mas queremos que as forças indígenas e movimentos sociais se relacionem cada vez mais".

Segundo Loayza, o povo boliviano está consciente da mudança em curso. "Não marginalizamos e excluímos ninguém. Nossa filosofia é manter o clima e o equilíbrio, não existe o conceito de exploração"

Milton Temer, presidente da Fundação Lauro Campos e fundador do PSol, destacou que os temas tratados no seminário não são de interesse da grande imprensa brasileira, que está aliada ao grande capital. Completou que o partido apóia a reeleição de Evo Morales e posiciona radicalmente contra a presença das forças militares na Colômbia. "A importância deste seminário é demonstrar solidariedade com os processos revolucionários da América Latina. A esquerda existe, a utopia existe, a força dos povos tem como se impor a força do capital".

Sobre a Venezuela, de acordo com Temer, se há simpatia do governo Lula com Hugo Chávez, a motivação é mais econômica do que ideológica. "Há um superávit de US$ 5 bilhões de dólares em jogo". Ele apontou que Seminário deve elaborar um documento de desdobramentos sobre essas questões.

A resistência Colombiana e Peruana

Wilson Borja, que faz parte do Pólo Alternativo Democrático da Colômbia, também falou na abertura, acredita que a América Latina está vivendo um momento difícil por conta da crise internacional, considerada por especialistas como uma quebra do modelo neoliberal, e que as táticas e soluções devem ser renovadas.

Sobre a presença das tropas norte-americanas no país, ele explicou que o presidente Álvaro Uribe é um representante dos latifundiários, além de ser responsável pelo assassinato de civis inocentes. "Pesam no nosso país algumas propostas que são difíceis de estudá-las para avançar na revolução na América do Sul".

No Peru, a situação é semelhante. Quem falou a respeito do tema na mesa foi a deputada do Partido Nacionalista Peruano, Janet Cajahuanca. "Temos combatido um sistema que realmente chegou com mentiras para governar. O presidente Alan Garcia tomou a bandeira nacionalista, anunciou mudanças e quando chegou ao governo, se colocou de joelhos diante do poder econômico".

Ela lamentou a diminuição do grupo de oposição do Congresso Peruano de 43 parlamentares para 23, mas acredita que, apesar da redução, a luta pelas terras indígenas e contra o sistema neoliberal continua forte. Explicou que o povo se organizou a partir da conscientização sobre leis que prejudicavam o meio ambiente que foram derrubadas. "Isso se conseguiu a com uma grande luta dos povos da Amazônia. Foi um grande exemplo para o modelo econômico neoliberal, algo muito grande que devolveu confiança ao povo".

Ela concluiu dizendo que há políticos no Peru que estão exilados ou respondem processo, além de perseguição a dirigentes de sindicatos e grêmios. "Isso não nos tirou a vontade de modificar nossa pátria. Temos uma grande oportunidade em nossas mãos".

Liberdade para Honduras

A resistência ao golpe militar em Honduras foi destaque nas palavras de ordem dos militantes e monopolizou parte dos discursos de todos os integrantes da mesa. O representante da Frente Resistência Honduras, Gilberto Rios, contou na abertura que há mais de 50 dias, mais de cem mil pessoas estão marchando nas ruas diariamente. "Há dias em que chegamos a há quase meio milhão de pessoas em todo o território nacional. Essa mobilização nunca aconteceu em toda a história de Honduras".

Ele explicou que o golpe de estado tem dois componentes importantes: as oligarquias e a atuação direta da CIA, o que ajuda a entender o medo do capitalismo em relação às forças da esquerda revolucionária no continente. "A oligarquia hondurenha concentra 90% da economia e viu com muito temor a consulta popular proposta pelo presidente Manoel Zelaya. Mas o tamanho da oligarquia não é suficiente para impor um golpe de Estado".

Por isso, ele afirmou que o planejamento, execução e direção do golpe tem a participação dos Estados Unidos. Relatou que Agentes da ultra-direita do Partido Republicano nos EUA falam abertamente que quem está controlando o golpe de Estado em Honduras é a CIA. "Nós sabemos dessa presença em toda a América Latina, mas são eles que estão se encarregando diretamente do golpe, apesar de Honduras não ser tão representativa para a economia norte-americana".

Uma proposta (in)decente?

Um convite ao PCB, PSOL e PSTU: uma jogada ousada


Escrito por Wladimir Pomar - Correio da Cidadania


Esperava, nesta edição, iniciar um depoimento sobre a luta armada dos anos 1960-1970. Porém, apareceu um convite interessante ao PCB, PSOL e PSTU, para examinarem "uma aliança eleitoral, em torno da senadora Marina Silva", já que todos compartilham "uma posição de independência e de crítica diante do governo Lula".

Segundo o convite, uma frente eleitoral que tenha por base uma plataforma de "reformas democratizadoras" poderia contemplar objetivos comuns "dos partidos de centro e de esquerda" e "ganhar o apoio do MST e de setores de base das igrejas cristãs".

Acreditam que tal frente seria uma "iniciativa política ousada", que mexeria na "disposição atual das forças políticas e sociais", ventilaria "as propostas econômicas e sociais das forças populares", e aproximaria "a oposição de esquerda ao governo Lula de setores de centro".

Alertam que, sem tal iniciativa, a "oposição popular e de esquerda" não aglutinará "forças majoritárias" capazes de "arrebatar vitórias". E concluem que, para constituir uma "alternativa política real nas atuais condições", a "oposição popular e de esquerda" terá que combinar "o programa socialista com uma tática democratizadora".

O convite não explicita em que consiste essa combinação entre o programa socialista e a tática democratizadora. Mas não deixa de fazer uma crítica ao PCB, PSOL e PSTU, por seu emparedamento "entre o economicismo corporativista e o doutrinarismo socialista". Com razão, reclama que eles não podem "atacar mais as forças de centro do que as forças de direita". E lembra, também com razão, que "aliança implica diferença", "unidade de ação em torno de objetivos imediatos e comuns". Desde que, é lógico, subordinem "seu discurso e sua atuação à convergência tática".

A proposta, porém, esquece que o conteúdo principal da "posição de crítica" do PCB, PSOL e PSTU ao governo Lula reside justamente no fato de o PT ter adotado a tática democratizadora de aliança com o centro. Esses partidos podem, então, se perguntar: se é para unir-se ao centro, formar uma frente de centro-esquerda e aplicar reformas democratizadoras, por que não se unirem em torno de Lula e de Dilma? Qual a diferença entre a frente eleitoral, que o PT chama de "centro-esquerda", e a frente de "centro-esquerda" da proposta de unificação em torno da senadora Marina Silva?

Talvez prevendo isso, o convite tenha tido o cuidado de colocar o PT e o PSDB como principais "líderes dos blocos de centro-direita". Com isso, tentou responder, de antemão, àquela inevitável pergunta. No entanto, como não são ignorantes, os militantes e dirigentes daqueles partidos também poderão perguntar: quem são os partidos de "centro"?

Ora, se os partidos de centro forem o PMDB, PDT, PSB etc. etc., a questão retorna. Qual a diferença entre a frente eleitoral que está sendo montada pelo PT, contra a qual PCB, PSOL e PSTU se batem há tempos, e a frente eleitoral proposta pelos que pretendem "aglutinar as forças majoritárias"? A não ser, podem concluir, que esta proposta de apoio à senadora Marina Silva esconda uma jogada mais "ousada".

Isto é, embora o convite parta do pressuposto de que o PT e o PSDB são líderes da centro-direita, a mexida na "disposição atual das forças políticas e sociais" na prática só faria uma vítima: a candidatura Dilma. Isto ficando claro, talvez PCB, PSOL e PSTU se animem a participar da frente proposta, mesmo sabendo que PSDB e DEM levarão vantagem.

O convite, porém, não pode ser claro a esse respeito. Deixaria boa parte das "forças majoritárias", que pretende conquistar, numa situação desconfortável. Por isso, do mesmo modo que Sun Zi teria feito há 2500 anos atrás, finge atacar o amigo Serra, para destruir a inimiga Dilma.

Seu problema, com o qual Sun Zi também se confrontou várias vezes: nem todos foram ignorantes, a ponto de deixarem que a disposição das forças fosse mexida e permitisse a vitória a seu verdadeiro inimigo.

Wladimir Pomar e analista político e escritor.

como será???



Qual será o futuro de nossos netos?


Leonardo Boff * -Adital -

Olhando meus netos brincando no jardim, saltitando como cabritos, rolando no chão e subindo e descendo árvores surgem-me dois sentimentos. Um de inveja: já não posso fazer nada disso com as quatro próteses que tenho nos membros inferiores. E outra de preocupação: que mundo irão enfrentar dentro de alguns anos?

Os prognósticos dos especialistas mais sérios são ameaçadores. Há uma data fatídica ou mágica sempre aventada por eles: o ano 2025. Quase todos afirmam: se nada fizermos ou não fizermos o suficiente já agora, a catástrofe ecológico-humanitária será inevitável.

A recuperação lenta que se nota em muitos países da atual crise econômico-financeira, não significa ainda uma saída dela. Apenas que a queda livre se encerrou. Volta o desenvolvimento/crescimento mas com outra crise: a do desemprego. Milhões estão sendo condenados a serem desempregados estruturais. Quer dizer, não irão mais ingressar no mercado de trabalho, sequer ficarão como exército de reserva do processo produtivo. Serão simplesmente dispensáveis. Que significa ficar desempregado permanentemente senão uma lenta morte e uma desintegração profunda do sentido da vida? Acresce ainda que estão prognosticados até àquela data fatídica cerca de 150 a 200 milhões de refugiados climáticos.

O relatório feito por 2.700 cientistas "State of the Future 2009" (O Globo de 14.07/09) diz enfaticamente que devido principalmente ao aquecimento global, por volta de 2025, cerca de três bilhões de pessoas não terão acesso à água potável. Que significa dizer isso? Simplesmente que esses bilhões, se não forem socorridos, poderão morrer por sede, desidratação e outras doenças. O relatório diz mais: metade da população mundial estará envolvida em convulsões sociais em razão da crise sócio-ecológica global.

Paul Krugman, prêmio Nobel de economia de 2008, sempre ponderado e crítico quanto à insuficiência das medidas para enfrentar a crise sócio-ambiental, escreveu recentemente: "Se o consenso dos especialistas econômicos é péssimo, o consenso dos especialistas das mudanças climáticas é terrível"(JB 14/07/09). E comenta: "se agirmos da mesma forma como agimos, não o pior cenário, mas o mais provável, será a elevação de temperaturas que vão destruir a vida como a conhecemos".

Se provavelmente assim será, minha preocupação pelos netos se transforma em angústia: que mundo herdarão de nós? Que decisões serão obrigados a tomar que poderão significar para eles vida ou morte?

Comportamo-nos como se a Terra fosse só nossa e de nossa geração. Esquecemos que ela pertence principalmente aos que ainda virão, nossos filhos e netos. Eles têm direito de poder entrar neste mundo, minimamente habitável e com as condições necessárias para uma vida decente que não só lhes permita sobreviver mas florescer e irradiar.

Os cenários referidos acima nos obrigam a soluções que mudam o quadro global de nossa vida na Terra. Não dá para continuar ganhando dinheiro com a venda do direito de poluir (créditos de carbono) e com a economia verde. Se o gênio do capitalismo é saber adaptar-se a cada circunstância, desde que se preservem as leis do mercado e as chances de ganho, agora devemos reconhecer que esta estratégia não é mais possível. Ela precipitaria a catástrofe previsível.

Para termos futuro devemos partir de outras premissas: ao invés da exploração, a sinergia homem-natureza, pois Terra e humanidade foram um único todo; no lugar da concorrência, a cooperação, base da construção da sociedade com rosto humano.

Dão-me alguma esperança os teóricos da complexidade, da incerteza e do caos (Prigogine, Heisenberg, Morin) que dizem: em toda a realidade funciona a seguinte dinâmica: a desordem leva à auto-organização e à uma nova ordem e assim à continuidade da vida num nível mais alto. Porque amamos as estrelas não temos medos da escuridão.

[Co-autor com Mark Hathaway de The Tao of Liberation. En Exploration of Ecology of Transformation, N. York, a sair em breve].


* Teólogo, filósofo e escritor

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A miseria nos USA...

Morrer como bichos
Correia da Fonseca “…Para a televisão portuguesa (e não só para ela, é certo), os Estados Unidos são uma espécie de Meca envolta num hálito de sacralidade. É de lá que vem a quase totalidade da ficção importada e que a TV nos fornece para nossa edificação. É lá que têm origem directa ou indirecta as grandessíssimas verdades que diariamente nos permitem ter uma certa ideia do que vai pelo mundo. Na verdade, quase se poderia dizer, recorrendo a uma expressão popular, que o que a televisão nos diz acerca dos Estados Unidos é uma escritura. Ainda assim, e para evitar exageros, diga-se apenas que as telenotícias acerca dos States estão acima de qualquer suspeita.

Correia da Fonseca* - Odiario.info

Foi com a televisão, que tal como acontece com a maioria dos portugueses é a minha principal fonte de informações, que eu soube destes números verdadeiramente terríveis: nos Estados Unidos da América, generalizadamente reconhecidos como a mais rica e poderosa nação do mundo, 46 milhões de cidadãos não têm qualquer esquema de protecção clínica em caso de doença e, o que é ainda mais impressionante, 16 mil norte-americanos morreram no ano passado sem quaisquer cuidados médicos. A gente ouve e custa-lhe a crer, mas não há a mínima margem para sequer suspeitarmos da isenção da fonte.

Na verdade, é sabido que para a televisão portuguesa (e não só para ela, é certo), os Estados Unidos são uma espécie de Meca envolta num hálito de sacralidade. É de lá que vem a quase totalidade da ficção importada e que a TV nos fornece para nossa edificação. É lá que têm origem directa ou indirecta as grandessíssimas verdades que diariamente nos permitem ter uma certa ideia do que vai pelo mundo. Na verdade, quase se poderia dizer, recorrendo a uma expressão popular, que o que a televisão nos diz acerca dos Estados Unidos é uma escritura. Ainda assim, e para evitar exageros, diga-se apenas que as telenotícias acerca dos States estão acima de qualquer suspeita.

O que motiva a situação chocante que aqueles números exprimem é o facto de todos os seguros contra a doença estarem nos Estados Unidos exclusivamente entregues à iniciativa privada e serem de tal modo caros que os tais 46 milhões de norte-americanos não têm, pura e simplesmente, dinheiro para os pagar. Esperam, naturalmente, que a doença não lhes bata à porta tão cedo e porventura que até lá possam reunir os dólares bastantes para a pagar. Os cerca de 16 mil que morreram sem poderem recorrer a um médico testemunham a fragilidade dessa expectativa.

Foi certamente para pôr fim ao escândalo e ao horror de haver milhares de cidadãos USA a morrerem, ano após ano, sem qualquer amparo médico, verdadeiramente como bichos, que animou Barack Obama a propor um sistema público de protecção na doença. Também a televisão nos informou sobre as consequências da iniciativa: de uma ponta a outra dos Estados Unidos deflagrou uma contestação que está a revelar-se de uma espantosa veemência. A RTP1, designadamente, mostrou-nos imagens de algumas manifestações contra o projecto: indignadas, quase à beira da violência e com todo o ar de serem populares.

Seria intrigante ver que gente com o aspecto de pertencerem às camadas médias/baixas da população se manifestassem assim contra uma anunciada medida de clara solidariedade social se não soubéssemos que muita daquela gente pode ter sido recrutada a troco de uns dólares, o que na Grande e Livre América se usa muito, e que uma outra grande parte terá o cérebro bem lavadinho para que repudie toda e qualquer medida que lhe cheire a «comunismo».

É que, pelo que se viu e ouviu, um sistema estatal de protecção na doença tem esse odor para os seus narizes «verdadeiramente americanos».

O desvario e a intoxicação são de tal ordem que, por querer avançar com uma protecção estatal, Obama está a ser acusado de totalitarizante e comparado a Hitler pelo menos num cartaz que a TV nos deu a ver. É mais um fruto, este imbecil, da infame simetria que lá como cá (ou, com mais rigor, cá como lá), «ensina» que comunismo e nazifascismo são equiparáveis e confundíveis.

O que consta ser certo é que o presidente Barack Obama está a cair nas sondagens de popularidade devido a esta iniciativa, e também é a televisão que no-lo diz. Quer dizer, a popularidade de Obama terá resistido à persistência da invasão do Iraque, ao agravamento da guerra no Afeganistão, à inoperância perante a tragédia da Palestina, mas afunda-se quando o presidente se torna suspeito de querer beliscar os grandes interesses que fazem negócio com a saúde dos cidadãos norte-americanos.

É, dizem, uma inaceitável infracção ao american way of life que tem como regras básicas a deificação da iniciativa privada e do individualismo radicalmente egoísta, do business que reduz a própria vida à condição de mercadoria que deve proporcionar lucros a uma empresa, a recusa da intervenção do Estado para reduzir verdadeiros crimes sociais.

Pelo que vimos e ouvimos, há gente nos Estados Unidos que à eventual ruptura dessa sagrada regra prefere que concidadãos morram à razão de muitos milhares por ano.

Sem cuidados médicos. Como bichos.


* Correia da Fonseca é amigo e colaborador de odiario.info

Do sitio vermelho

Ensino religioso em escolas públicas divide opiniões

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, acredita que o ensino religioso não é necessário para a formação do cidadão. Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), "uma educação integral envolve o aspecto da dimensão religiosa".

O ensino religioso que aborda uma doutrina específica pode gerar discriminação dentro das salas de aula, segundo o sociólogo da Universidade Estadual Paulista (Unesp), José Vaidergorn. “O ensino religioso identificado com uma religião não é democrático, pode ser considerado discriminatório”, disse em entrevista à Agência Brasil.

Segundo Vaidegorn, o ensino voltado para uma determinada religião pode constranger os alunos que não compartilham dessas ideias. O professor ressalta ainda a possibilidade de que, dependendo da maneira que forem ministradas, as aulas de religião podem incentivar a intolerância entre os estudantes.

As aulas de religião estão previstas na Constituição de 1988. No entanto, um acordo entre o governo brasileiro e o Vaticano, em tramitação no Congresso Nacional, estabelece o ensino católico e de outras doutrinas.

A inserção do elemento religioso no processo educacional pode, segundo Varidergorn, gerar conflitos. “Em vez da educação fazer o seu papel formador, o seu papel de suprir, dentro das suas condições, as necessidades de formação da população ela passa a ser também um campo de disputa política e doutrinária.”

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, contesta a justificativa apresentada na lei de que o ensino religioso é necessário para a formação do cidadão. “Não podemos considerar que a questão ética, a questão moral, o valores sejam privilégios das religiões”, ressaltou. A presença do elemento religioso não faz sentido na educação pública e voltada para todos os cidadãos brasileiros, segundo ele. “ A escola é pública, e a questão da fé é uma coisa íntima de cada um de nós”.

Ele indicou a impossibilidade de todos os tipos de crença estarem representados no sistema de ensino religioso. Segundo ele, religiões minoritárias, como os cultos de origem afro, não teriam estrutura para estarem presentes em todos os pontos do país.

Além disso, as pessoas que não têm religião estariam completamente excluídas desse tipo de ensino, como destacou o presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), Daniel Sottomaior. “Mesmo que você conseguisse dar um ensino religioso equilibradamente entre todos os credos você ia deixar em desvantagem os arreligiosos e os ateus.”

Sottomaior vê com preocupação a possibilidade de a fé se confundir com os conhecimentos transmitidos pelo sistema educacional.“Como o aluno pode distinguir entre a confiabilidade dos conteúdos das aulas de geografia e matemática e o conteúdo das aulas de religião?”

Para o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Geraldo Lyrio Rocha, a religião é parte importante no processo educacional. “Uma educação integral envolve também o aspecto da dimensão religiosa ao lado das outras dimensões da vida humana”, afirmou.

domingo, 23 de agosto de 2009

Quem é mais esperto? O governo ou a bancada ruralista?

Do Blog do Sakamoto, por ele mesmo,


O governo federal anunciou que divulgará – dentro de 15 dias - uma atualização dos índices de produtividade agrícola. O compromisso foi assumido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e pela Secretaria Geral da Presidência em reunião com o MST. A atualização é uma antiga reivindicação de quem luta pela reforma agrária no país.

Os índices atuais estão defasados (foram fixados com base no censo agropecuário de 1975) e desconsideram o avanço tecnológico que garantiu aumento da produtividade. Quem produz com essa defasagem (com exceção de situações de quebras de safra, desastres naturais…) pode estar subutilizando sua propriedade, muitas vezes visando apenas à especulação imobiliária, e poderia ser alvo de desapropriação. Há um bom tempo, setores progressistas do governo federal tentam fazer com que os índices acompanhem o aumento de produtividade, mas sempre encontram uma pesada resistência por parte dos ruralistas.

De acordo com a Agência Brasil, os índices de produtividade, que valerão a partir do próximo ano, serão fixados com base nos dados da Produção Agrícola Municipal feita pelo IBGE por microrregião a partir da média de produtividade entre 1996 e 2007. Dados do MDA apontam que, em diversas regiões, permanecerão os índices vigentes: no caso da soja, por exemplo, 66% dos municípios mantêm os índices atuais, 27% terão índices menores ou iguais à média histórica e 7% terão índice superior à média histórica.

Sobre a possibilidade de resistência da bancada ruralista no Congresso Nacional, o ministro do Desenvolvimento Agrário Guilherme Cassel disse reajustar índices de produtividade é “obrigação” do governo, estabelecida em lei, para assegurar que as terras agricultáveis sejam usadas.

Por enquanto. Em julho, talvez farejando mudanças, a bancada ruralista do Senado se refestelou de alegria ao aprovar um projeto de lei que submete ao Congresso qualquer proposta do Poder Executivo para alterar os índices de produtividade usados para desapropriar terras.

Considerando a força da bancada ruralista no Congresso Nacional, é de se esperar que a proposta passe também na Câmara dos Deputados e vá para a sanção presidencial. Uma dúvida: Lula vetará um ou dois pontos e deixará o grosso do problema virar lei – como fez com a medida provisória 458, a MP da Grilagem de Terras? O certo é que, se nada for feito, as próximas gerações irão pagar em qualidade de vida pela falta de firmeza do presidente e pela fraqueza (ou conivência) de sua base de governo.
Talvez a mudança não faça diferença para esta atualização, mas pode criar problemas no futuro.

Pois não é só uma questão de justiça social tirar a terra das mãos de quem não produz como deveria. As propriedades rurais mais atrasadas do ponto de vista tecnológico tendem a compensar essa diferença através de uma constante redução da participação do “trabalho” no seu custo total. Simulam dessa forma uma composição orgânica do capital de um empreendimento mais moderno, com a diminuição da participação do custo do trabalho através do desenvolvimento tecnógico. Em português claro: há fazendeiros atrasados que retiram o couro do trabalhador para poder concorrer no mercado. Outros se aproveitam dessa alternativa não para gerar competitividade, mas para juntar dinheiro durante um período de tempo (e depois trocar trabalhadores por colheitadeiras) ou aumentar sua margem de lucro.

A atualização dos índices é uma bela braçada a favor. Em uma correnteza que, infelizmente, empurra para a direção contrária.

Um tiro, muitos gatilhos



Por Ayrton Centeno

Outros tiros continuam viajando para encontrar suas presas. E muitos outros irão se juntar a eles. Aquele que se refestelou na carne e no sangue de Élton, 44 anos, dois filhos, deixou de viajar. Nas redações, muitas mãos têm resíduos de pólvora.

O tiro que partiu da boca da espingarda 12 rumo ao corpo do sem terra Élton Brum da Silva foi disparado muito antes da manhã triste de inverno no coração da Campanha gaúcha. A bala começou a voar em tempos pretéritos, antes até do também triste governo de Yeda Crusius ser inaugurado com a governadora desfraldando invertida a bandeira do Rio Grande do Sul na sacada do Palácio Piratini. E o lema estampado no brasão “Liberdade, Igualdade, Humanidade”, que vai beber na fonte da Revolução Francesa e dos direitos fundamentais do homem, ficou de cabeça para baixo. Era um mau presságio.

O tiro com sua bala vem viajando, na verdade, desde décadas mas apressou-se nos últimos anos. Seu apetite tornou-se mais urgente. A nomeação de um militar com o perfil psicológico do coronel Paulo Roberto Mendes para o comando da Brigada Militar garantiu-lhe um impulso extra. Esta figura extemporânea aportou no governo - curiosamente de um partido que se diz social e democrata - um duplo ódio às manifestações da sociedade na democracia. Tudo bem, as palavras são, com freqüência, um biombo atrás do qual se perpetram os crimes mais hediondos contra o seu sentido original e a social-democracia em questão é somente uma alegoria no nosso carnaval político, a comissão de frente da direita no Brasil. Mas, convenhamos, seria uma demonstração de elegância protocolar que, ao menos, as aparências fossem mantidas. Nada disso. Sob a égide do PSDB, a bala passou a voar mais celeremente em busca do seu alimento.

O tiro aligeirou-se mas ainda zanzava a procura de seu alvo. Durante seu reinado, Mendes, o Bravo, destruiu acampamentos e seus soldados não menos bravamente despejaram terra nas panelas de comida que alimentariam homens, mulheres e crianças. Fez sangrar manifestantes, do campo e da cidade, até ser despachado para uma sinecura no Tribunal Militar do Estado, uma instituição fora de tempo e lugar, altamente merecedora do oficial de notável saber jurídico que passou a integrá-la.

O tiro que tanto espaço percorrera para saciar sua fome achou, enfim, seu repasto na dia 21 de agosto, ao se encontrar com Élton. Mendes partira mas outro coronel, Lauro Binsfield, ficou na linha de frente da repressão. Denunciado à Organização dos Estados Americanos (OEA) por violação dos direitos humanos, foi mantido, mesmo assim, à testa das operações de guerra da BM no campo.

O tiro, peculiarmente, não foi deflagrado por apenas uma arma. Ele cumpriu seu fado sinistro porque muitos dedos apertaram muitos gatilhos. É ilusório pensar que o disparo só pertence a quem apontou a espingarda para desferí-lo.

O tiro não surgiu necessariamente como tiro. Nasceu, por exemplo, do entendimento de que a questão social é um caso de polícia e assim tem que ser tratada. Nasceu de uma caneta correndo sua tinta sobre o decreto de uma nomeação.

O tiro também partiu dos microfones, dos teclados, dos teleprompters. Da voz do dono e dos aquários. Brotou de uma ação ou mesmo de uma omissão. Na mídia, são muitos os dedos e os gatilhos que foram apertados. Uma imprensa para a qual a democracia não fosse somente uma palavra-biombo questionaria, por exemplo, a entrega do bastão do aparelho repressor a alguém desprovido das mínimas condições para empunhá-lo. Em vez disso, o que se viu foi um constrangedor capachismo dedicado à criação de mitologias reacionárias para afagar os sentimentos mais mesquinhos da classe média. Mas há torpezas piores. O fuzilamento sumário do MST nas manchetes, matérias, fotos, editoriais, artigos construiu um rancor belicoso no imaginário social contra famílias que reivindicam um pedaço de terra. E ocultou que os países importantes do mundo realizaram sua reforma agrária ainda no século 19 ou nos meados do século passado, medida que as elites brasileiras, até recorrendo ao golpe como aconteceu em 1964, impediram desde sempre.

O tiro viajou como outros viajaram no passado. Um dos filmes mais odiosos jamais feitos, O Eterno Judeu, de Franz Hippler, estreou em 1940, em Berlim, perante uma platéia sofisticada: artistas, cientistas, damas da sociedade e a fina flor do partido nazista. Na montagem alternam-se as cenas dos judeus, mostrados como preguiçosos, sujos e indignos, com moscas numa parede. É preciso convencer as pessoas de que aquilo é uma praga e precisa ser exterminada – mais tarde, um pesticida, o Ziklon B, será empregado na solução final. A arte de Hippler prepara o holocausto. Alguém dirá: mas esta é uma comparação extremada, vivemos em uma democracia! Sim, é verdade, apesar do coronel Binsfield. Mas não se pretende aqui, supor equivalentes a época, as partes, o tamanho da violência. O interesse está no processo. Quando a intenção é destruir o adversário – e isto se faz de diversas formas, como ao superexpor seus erros e/ou sonegar suas virtudes, usando do poder devastador dos conglomerados de mídia — o modus operandi é similar., Se o objetivo final, conscientemente ou não, é negar a humanidade do outro, tudo é possível. Porque o outro, então, está fora da proteção do arcabouço jurídico. Não é gente. E o passo seguinte pode ser sua eliminação, física inclusive.

Outros tiros continuam viajando para encontrar suas presas. E muitos outros irão se juntar a eles. Aquele que se refestelou na carne e no sangue de Élton, 44 anos, dois filhos, deixou de viajar. Nas redações, muitas mãos têm resíduos de pólvora.

Foto: Eduardo Seidl

sábado, 22 de agosto de 2009

Educação na Venezuela...

Socialistas respaldam Lei Orgânica de Educação nas ruas




Escrito por Camila Carduz


Imagen de muestra

Os integrantes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) defendem hoje nas ruas a recém aprovada Lei Orgânica de Educação, que garante um maior acesso dos cidadãos a todos os níveis do ensino.

Na marcha, os membros do PSUV condenarão a campanha contra a Lei, orquestrada pela oligarquia e pelos meios privados de comunicação, que buscam há três semanas uma forma de gerar incerteza na população, ocultando o alcance da lei.

Recentemente, um membro do Burô Político do PSUV, Rodrigo Cabezas, qualificou a lei como "humanista" e chamou os integrantes do partido a defender esta causa em todas as praças Simón Bolívar da nação sul-americana.

Cabezas destacou que "a direita venezuelana não tem feito nada senão mentir à Venezuela, transmitindo angústia à população, que deve saber que se trata de uma lei profundamente democrática, humanística".

Há 48 horas, o PSUV instalou "pontos de atenção" onde o povo recebe informação sobre a lei promulgada pelo presidente, Hugo Chávez.

Em declarações à Prensa Latina, a coordenadora da Frente de Profissionais e Técnicos do PSUV, Jacqueline Sosa, explicou que a iniciativa se realiza através de mesas de trabalho.

"A primeira delas foi instalada nesta quinta-feira no Quartel de San Carlos, nesta capital, onde o povo organizado, conselhos populares, professores, pais e etc. se informaram de maneira veraz sobre o conteúdo da Lei Orgânica de Educação".

"Os venezuelanos não devem continuar ignorando os fundamentos desta lei e nós, como membros do PSUV, damos nosso respaldo, explicando-a", enfatizou Sosa, agregando que as mesas de trabalho serão realizadas em todo o país.

"É lamentável" - afirmou a dirigente - "como os meios privados de comunicação em massa estão desinformando a nação".

Sosa qualificou como "absurda" a campanha da oposição e dos meios de comunicação privados, afirmando que essa cruzada contra a lei expressa a inconformidade de uma minoria, contrária à democratização da educação na nação sul-americana.

"Eles mentem abertamente, porque é mentira que a lei atente contra a autoridade dos pais sobre os filhos não emancipados, contra a autonomia universitária e contra a liberdade de credo", enfatizou Sosa, que exortou os detratores a lerem sobre o tema. "O PSUV respalda esta lei, que contribuirá para uma melhor formação das presentes e futuras gerações. A lei de educação anterior era dos anos 80 e já não se ajustava à realidade que vive o país", assinalou.

"A lei tem amplo sentido de inclusão, pois favorece crianças, adolescentes, jovens, adultos e deficientes", agregou.

Original em Prensa Latina

Que saudades do Raul....

Raul Seixas, sem barba, no clássico "Maluco Beleza"...