Em
vigor há dois anos, uma nova regulamentação europeia permitiu 0,9% de
organismos geneticamente modificados nos produtos orgânicos e o
adiamento da aplicação de leis referentes ao uso de agrotóxicos. Aliada à
produção em grande escala e por empresas do setor alimentício, a medida
colocou em xeque a própria definição
|
por Phillipe Baque no LeMonde-Brasil |
Em junho de 2009, um técnico da cooperativa Terres du Sud, no sudoeste
da França, organizava uma jornada de visitas às criações intensivas de
frangos orgânicos. O desempenho das instalações, entregues prontas para o
uso, assim como os créditos e o apoio público propostos visavam
converter os agricultores convidados. Para garantir o fornecimento aos
grandes distribuidores e às empresas de alimentação1, as poderosas
cooperativas agrícolas mergulham, agora, numa concorrência selvagem para
a criação de frangos acima de qualquer suspeita. Elas se beneficiam da
nova regulamentação europeia, que permite ao criador produzir até 75 mil
frangos de corte orgânicos por ano e não limita o tamanho das criações
orgânicas de galinhas poedeiras.
Essas cooperativas perceberam que poderiam ganhar muito dinheiro com um
tipo de agricultura que, por muito tempo, elas haviam criticado. “Os
produtores perderam toda a autonomia”, conta Daniel Florentin, membro da
Confédération Paysanne [Confederação Camponesa], ex-criador de aves
orgânicas, que trabalhou com a cooperativa Maïsadour. “Eles estão
endividados por pelo menos 20 anos e devem fornecer toda a sua produção
para a cooperativa que se comprometer a comprá-la, sem preço
predeterminado.”
Desde 1999, devido a problemas de saúde e relacionados ao meio
ambiente, o consumo de produtos alimentares orgânicos vem crescendo 10%
ao ano na França. Em 2009, apesar da crise, o volume de negócios de
produtos orgânicos aumentou 19%.2 Este mercado, por muito tempo
marginal, tornou-se relevante e foi ocupado pelos grandes
distribuidores, que respondem atualmente por mais de 45% das vendas.
Entretanto, em 2009, apenas 2,46% da superfície agrícola usada era
destinada a produtos orgânicos. Para atender à demanda dos consumidores,
os atores que dominam o mercado escolheram duas soluções: um apelo
maciço às importações e o desenvolvimento de uma agricultura orgânica
industrial e intensiva.
A noção de agricultura orgânica nasceu na Europa em reação à
agricultura química e produtivista que se generalizou após a Segunda
Guerra Mundial. No início dos anos 1960, uma rede de pequenos
agricultores orgânicos e de consumidores criou a Nature & Progrès
(N&P). A associação atraiu grande parte das populações urbanas, que
decidiu voltar à terra e tecer relações com os diferentes movimentos
ecologistas e políticos, como o sindicato Paysans-travailleurs
(Camponeses-trabalhadores) nos anos 1970 e a Confederação Camponesa e os
antiOGM (Organismos Geneticamente Modificados) a partir dos anos 1990.
Feito isso, a Nature et Progrès adotou alguns princípios: rejeição a
produtos sintéticos, tratamentos naturais, diversificação e rotação das
culturas, autonomia das explorações, energias renováveis, defesa dos
pequenos camponeses, biodiversidade, sementes orgânicas etc. Para dar um
novo sentido ao consumo e recriar relações sociais, a venda dos
produtos orgânicos é assegurada por mercados locais, feiras e grupos de
compras que formaram a rede Biocoop3. A carta da Nature et Progrès
inspirou a da Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura
Orgânica (Ifoam), datada de 1972, que associava aos critérios
agronômicos, objetivos ecológicos, sociais e humanistas.
Coerência
Mas o movimento camponês ligado a este tipo de cultura sofre para
encontrar coerência interna. Nos anos 1980, a declaração oficial de
finalidade da Nature et Progrès coabitava com uma quinzena de outras,
criadas por diferentes movimentos. Em 1991, Bruxelas impôs uma definição
de escopo para o conjunto da União Europeia, cuja aplicação pelo Estado
francês fornece o selo nacional AB. Encarregados de fiscalizá-lo, os
organismos certificadores, privados e comerciais, entram em confronto
com o controle participativo realizado até então pelas comissões de
produtores, consumidores e beneficiadores.
A Natute et Progrès vive uma grave crise. Alguns membros decidiram
boicotar o selo. Outros, tentados por um mercado certificado em plena
expansão, deixaram a associação. “A certificação favoreceu os grandes
distribuidores em detrimento das redes solidárias”, explica Jordy Van
Den Akker, ex-presidente da Nature et Progrès. “A ecologia e o social,
que para nós são valores importantes, não estão mais associados ao
econômico. O selo e a regulamentação europeia permitiram o
desenvolvimento de um mercado internacional, facilitando a livre
circulação dos produtos, o comércio e a concorrência.”
Em vigor a partir de 1o de janeiro de 2009, uma nova regulamentação
europeia permitiu, entre outras coisas, 0,9% de organismos geneticamente
modificados nos produtos orgânicos e o adiamento da aplicação de leis
referentes ao uso de agrotóxicos.4 “O orgânico é incompatível com os
organismos geneticamente modificados”, reagiu Guy Kastler, criador do
departamento de Hérault e militante da N&P. “Nós continuamos
exigindo 0% de OGM! A nova regulamentação definiu normas e não se
preocupa mais com as práticas agrícolas. Passaram de uma obrigação de
meios – qual método de cultura utilizado? – a uma obrigação de resultado
– qual resíduo é recuperado no produto final? É a porta aberta para a
generalização de uma agricultura orgânica industrial.”
As cooperativas agrícolas estão no auge. Graças, em particular, à
alimentação das aves que elas produzem e fornecem aos agricultores, suas
margens de lucro são consideráveis. A antiga regulamentação francesa
impunha ao criador de orgânicos a produção de 40% da alimentação animal
em suas terras. Essa ligação com o solo não existe mais na nova
regulamentação europeia. O criador compra das cooperativas a totalidade
dos alimentos, entre os quais a soja é um dos componentes principais. Em
2008, na França, a produção de aves orgânicas teve um aumento de 17%,
enquanto a de soja orgânica caiu 28%. A soja importada, muito mais
barata, se impôs.
Frutas e legumes
A França importa mais de 60% das frutas e legumes orgânicos que
consome. A ProNatura é a líder francesa de comercialização nas lojas
especializadas e supermercados. Em menos de dez anos, esta empresa do
sudeste da França multiplicou seu volume de negócios por dez e absorveu
quatro outras sociedades. Um quarto de seus produtos provém da França,
mas o resto é importado da Espanha (18%), do Marrocos (13%), da Itália
(10%) e de cerca de 40 outros países. A ProNatura foi a primeira
sociedade a comercializar frutas e legumes orgânicos fora das estações.
Isso não impede que seu fundador, Henri de Pazzis, preconize o respeito à
terra, ao meio ambiente, ao camponês e ao consumidor.
Mas a lei ditada pelas empresas distribuidoras está bem longe desses
princípios. “Elas adotam para o orgânico os mesmos mecanismos de compra
destruidores que usam no convencional”, explica Pazzis. “Elas encorajam a
concorrência de um modo agressivo. Alguns de nossos produtos são
retirados do mercado, pois outros fornecedores propõem preços muito
inferiores aos nossos.” Nessa guerra de preços, da qual a ProNatura e as
outras empresas de importação e exportação escolheram participar, o
social e o respeito ao meio ambiente têm bem pouco espaço.
Há 12 anos, a ProNatura importa morangos orgânicos da Espanha,
produzidos pela sociedade Bionest. Os donos, Juan e Antônio Soltero,
possuem 500 hectares de estufas que, à primeira vista, não se
diferenciam em nada das milhares de estufas convencionais que cobrem a
região de Huelva, prejudicada por uma monocultura de morangos
particularmente poluidora e exploradora de mão de obra. Como outras
empresas, a Bionest situa-se no seio do parque natural de Doñana,
inscrito no Patrimônio Mundial da Unesco (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura5. Segundo a WWF-Espanha, as
estufas se multiplicam de maneira mais ou menos ilegal no parque,
prejudicando o meio ambiente e ameaçando principalmente as reservas de
água6.
A Bionest não respeita a biodiversidade – as poucas variedades de
morangos utilizadas são as mesmas das estufas convencionais –, pratica a
monocultura e aplica fertilizantes nas plantas através de um sistema de
irrigação por gotejamento. Seus métodos de cultura não são radicalmente
diferentes dos usados pelas estufas convencionais de Huelva. Apenas os
insumos certificados lhes garantem o selo orgânico. Para a colheita, a
Bionest emprega centenas de romenas, polonesas e filipinas, com uma
relação trabalhista precária. O assunto é muito delicado e os donos da
Bionest recusam-se a receber jornalistas para dar explicações.
Essas mulheres vêm todo ano para a Espanha, diretamente recrutadas em
seus países pelas organizações patronais, com contratos e vistos de
duração limitada. Não conhecendo seus direitos, elas ficam totalmente
submissas aos empregadores, que as exploram à vontade.7 Francis Prieto,
membro local do Sindicato dos Trabalhadores dos Campos (SOC), improvisa
uma visita aos acampamentos das trabalhadoras da Bionest. Totalmente
isoladas no meio das estufas, elas devem se submeter a um regulamento
rigoroso: proibição de visitas, saídas controladas, passaportes
confiscados. “Elas são aterrorizadas por seus patrões”, explica Francis
Prieto, “e sofrem a mesma exploração que os outros empregados
temporários de Huelva, com condições de trabalho particularmente
difíceis.”
A Bionest não é um caso isolado na Andaluzia. Nos arredores de Almería,
a AgriEco produz, embala e comercializa, de setembro até o final de
junho, mais de 11 mil toneladas de tomates, pimentões e pepinos
orgânicos. Nas estufas dotadas de tecnologias de ponta, os insumos são
certificados como “eco” e as trabalhadoras temporárias são romenas e
marroquinas. Miguel Cazorla, dirigente sorridente e afável, prevê com
orgulho uma nova expansão da sociedade. Transportados em caminhões para
todas as lojas especializadas em produtos orgânicos da Europa, os
legumes da AgriEco estão concorrendo diretamente com os produtos das
estufas “orgânicas” da Itália, do Marrocos e de Israel. No circuito do
Mediterrâneo, a guerra comercial tornou-se acirrada para o proveito dos
intermediários.
Bem longe dessa profusão de produtos orgânicos industriais, a pequena
cooperativa agrícola La Verde, na serra de Cadix, foi criada nos anos
1980 por trabalhadores membros do SOC que conduziram, no final do
franquismo, lutas para obter terras. Seis famílias cultivam ali legumes e
frutas e criam algumas vacas e carneiros em 14 hectares. Elas
comercializam toda a sua produção na Andaluzia por meio de outra
cooperativa, a Pueblos Blancos, que agrupa 22 pequenos agricultores e
cooperativas. “Nós fomos os primeiros a nos lançar na agricultura
orgânica”, lembra Manolo Zapata. “Ela se assemelhava à agricultura de
nossos bisavós e ia ao encontro da nossa luta. Se a agricultura orgânica
não conseguir restabelecer a justiça, a autonomia, a autossuficiência e
a soberania alimentar, ela não terá sentido algum. E os certificadores
não nos ajudam. Um agricultor que diversifica suas culturas e cultiva
muitas variedades será mais pesadamente taxado que aquele que pratica a
monocultura intensiva.”
Por ter denunciado publicamente o apoio do principal organismo
certificador espanhol – o Comitê Andaluz de Agricultura Ecológica (CAAE)
– às grandes empresas do “biobusiness”, a La Verde sofreu uma avalanche
de inspeções. Enquanto seus membros criaram o mais importante banco de
sementes orgânicas da Espanha, que lhes permitiu garantir sua cultura e
abastecer todos os pequenos produtores de orgânicos da região, eles
temem que a repressão caia sobre eles. “Existem leis e normas que
reprimem o direito ancestral de reproduzir sementes e que nos impedem de
certificar essas variedades antigas que nós preservamos.” A
regulamentação europeia de agricultura orgânica impõe de fato ao
agricultor utilizar sementes certificadas orgânicas. Se elas não
existem, ele deve recorrer às sementes convencionais do mercado
autorizadas. “Por enquanto, tudo se passa no limite da legalidade, mas
se amanhã a venda de nossos produtos for proibida, seremos obrigados a
usar as sementes orgânicas vendidas pela Monsanto8.” Tomando como
exemplo alguns camponeses da Nature et Progrès, os membros da La Verde
pensam em se retirar da certificação orgânica.
Exemplos como o da La Verde se multiplicam atualmente, na Colômbia,
Bolívia, Brasil, Índia, Itália e França. A resistência ao biobusiness
organiza-se em todo o planeta. Cada vez mais camponeses, comunidades
rurais e pequenas cooperativas de produtores defendem uma agricultura
tradicional e tipos de culturas agroecológicas que privilegiem a
produção com uma dimensão humana, respeitando a biodiversidade e a
soberania alimentar. Muitos rejeitam as certificações e praticam os
sistemas participativos de garantia fundados numa relação de troca e
confiança entre produtores e consumidores. Redes de defesa das sementes
orgânicas se desenvolvem para impor o direito dos camponeses de produzir
e comercializar suas próprias sementes.
Na França, as associações para a manutenção da agricultura tradicional
(Amap), que estabelecem trocas diretas entre produtores e consumidores
sem passar pelo mercado, vivem tal euforia que não conseguem dar conta
da demanda. A associação Terre de Liens coleta, com sucesso, fundos
solidários para possibilitar o estabelecimento de jovens agricultores de
orgânicos. Para se distinguir da regulamentação europeia, a Federação
Nacional da Agricultura Biológica (FNAB) criou uma nova marca: a
Bio-Cohérence. Ela complementará a certificação oficial, exigindo o
respeito a metas muito mais rigorosas e a adesão a princípios inspirados
naqueles adotados pela Ifoam em 1972. À parte da regulamentação, a
Nature et Progrès segue defendendo a agricultura orgânica tradicional.
A integração, ou não, dos valores sociais e ecológicos no centro das
preocupações dos produtores, intermediários e consumidores dos orgânicos
determinará seu futuro. Tornar-se-á uma simples face do mercado,
submissa aos únicos interesses do liberalismo econômico? Ou será ainda
mensageira de uma alternativa a esse liberalismo?
Phillipe Baque
é jornalista, coordenador do projeto do livro De la bio alternative aux
derives du “bio”-business, quel sens donner à la bio?, que será lançado
no final de 2011; site: alterravia.com
1 Para atingir um dos objetivos fixados
pela Grenelle de l’Environnement [Grenelle do Meio Ambiente], o Estado
pretende introduzir, até 2012, 20% de mercadorias provenientes da
agricultura orgânica no cardápio dos restaurantes das administrações e
estabelecimentos públicos.
2 A maioria das cifras citadas provém do dossiê de imprensa da Agence Bio “Les chiffres de la bio sont au vert”, serviço de imprensa da Agence Bio, 2010, e da obra Agriculture biologique, chiffres clés, Agence Bio, Montreuil-sous-Bois, edição 2009. 3 Pascal Pavie e Moutsie, Manger Bio. Pourquoi? Comment? Le guide du consommateur éco-responsable, Edisud, Aix-en-Provence, 2008. 4 “Bio/OGM: o voto dos deputados europeus em detalhes”, 21 de maio de 2009, www.terra-economica.info 5 Ler “Importer des femmes pour exporter du bio?” [Importar mulheres para exportar orgânicos?], Silence, n° 384, novembro de 2010. 6 Communicado da WWF: “Fraises espagnoles: exigeons la traçabilité” [Morangos espanhóis, exijamos a identificação da origem], 23 de março de 2007. 7 Emmanuelle Hellio, “Importer des femmes pour exporter des fraises (Huelva)” [Importar mulheres para exportar morangos], Etudes rurales, Paris, julho-dezembro de 2008. 8 “A qui profite la récolte? La politique de certification des semences biologiques” [Quem se beneficia com a colheita? A política de certificação das sementes orgânicas], relatório da Grain, Barcelona, janeiro de 2008; www.grain.org |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sábado, 30 de abril de 2011
Um novo sentido para os produtos orgânicos
Mantida por Dilma, política de publicidade cria disputas 'intestinas'
Ampliação da lista de veículos pagos em troca de propaganda oficial incomoda adversários políticos do governo e cria dificuldade para entidades representantes de empresas administrar interesses conflitantes dos sócios.
André Barrocal no CARTA MAIOR
BRASÍLIA – A política que desde a última
década democratiza a verba publicitária federal, destinando-a a um
número crescente de veículos espalhados hoje por metade do Brasil, tem
sido até agora preservada pela presidenta Dilma Rousseff, mesmo sob
críticas e alguma desconfiança. Os adversários do PT acham que se trata
da “compra” de órgãos de imprensa pequenos sem fôlego para resistir à
sedução. Já entidades representantes das empresas estão, no geral, de
acordo, mas precisam lidar com uma questão que às vezes opõe associados.
Para a recém criada Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular, a política publicitária federal merece ser preservada. “Tem que descentralizar tudo na comunicação. Comunicação é um direito humano”, afirma a coordenadora-geral da Frente, deputada Luíza Erundina (PSB-SP).
A Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom), que congrega órgãos de comunicação menores, sobretudo da internet, apoia a descentralização. Condena, no entanto, o uso da “mídia técnica” como critério definidor do rumo do dinheiro. Acredita que dar verba só para quem já está no mercado, e de acordo com o alcance de cada um, impede o desenvolvimento de novos veículos e daqueles de menor porte.
“O critério anterior à mídia técnica era elitista e tecnicamente injustificável, muito mais subjetivo e muito mais político”, diz o vice-presidente da Altercom, Renato Rovai. “Mas o investimento federal ainda é muito pequeno. E o governo trata de forma igual os desiguais. Devia investir mais nos veículos pequenos, é muito importante para democratizar a comunicação.”
De 2000 a 2010, o gasto do governo federal com propaganda, descontada a inflação, cresceu a um ritmo equivalente à metade do avanço da economia. E, quando as estatais entram na conta, ficaram 20% aquém da inflação.
Internet versus jornal
Celeiro de uma infinidade de pequenos veículos e da maioria dos sócios da Altercom, a internet fica atualmente com 3% da verba destinada à publicidade pelo governo. Cerca de R$ 15 milhões anuais, sem estatais. Mas, ao lado de cinemas, outdoors e mídia estrangeira, a internet representa mais de 30% dos oito mil órgãos de comunicação a receber dinheiro de propaganda do governo. Antes de 2002, quando não tinha o peso de hoje como fonte de informação, levava uma parcela irrisória da publicidade, inferior a meio por cento.
O avanço da internet no bolo publicitário federal, de três pontos percentuais, se deu em cima dos jornais de papel, cuja fatia diminuiu quase na mesma magnitude. Aos impressos, destinam-se hoje R$ 30 milhões por ano, 6% do total. No início da década passada, antes do governo Lula, eles recebiam R$ 19 anuais, 10% do total. Além de perder espaço, ocorreu desconcentração no segmento. Se antes havia menos de 200 jornais a receber verba oficial, hoje são mais de 2 mil. Resultado da expansão dos jornais populares e dos jornais regionais, por meio dos quais o governo federal atinge mais pessoas, quando quer divulgar informações sobre políticas públicas.
Esse é um problema para os veículos maiores que a Associação Nacional dos Jornais equilibra-se para tentar administrar. Por meio da assessoria de imprensa, a entidade diz que defende o uso da mídia técnica e de critérios transparentes pelo governo, na distribuição do dinheiro de propaganda. Afirma ainda reconhecer que havia problemas para se medir o alcance dos jornais menores, mas que fez um acordo com o Instituto de Verificação de Circulação (IVC) para criar método simplificado de aferição das tiragens deles. Espera, em troca, que aqueles jornais filiem-se ao instituto e aceitem auditagens. O IVC é a referência para o governo aplicar mídia técnica no segmento impresso.
Emissoras versus emissoras
Na radiodifusão, também acontece disputa intestina pela verba publicitária oficial. E onde houve o mais significativo rearranjo interno nos últimos tempos, uma vez que é o tipo de mídia que mais movimenta dinheiro. Em número de veículos que contam com publicidade oficial, as emissoras de rádio e TV representam 40%. Mas, dado o alcance junto à população, ficam com mais de 70% do dinheiro, há mais de uma década. As TVs receberam R$ 288 milhões no ano passado e as rádios, R$ 141 milhões. Nos dois casos, de 2000 a 2010, a verba destinada a cada tipo de mídia mais ou menos dobrou. O número de emissoras atendidas, no entanto, subiu bem mais - vinte vezes entre as TVs e dez entre as rádios. Consequência: a briga pelo quinhão acirrou-se.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) prefere não comentar a política oficial. No governo Lula, o então presidente da entidade, Daniel Slaviero, era publicamente a favor. Carta Maior apurou que, por ora, o novo presidente da Abert, Emanuel Carneiro, compartilha da posição do antecessor, que considerava importante regionalizar e democratizar a distribuição da verba. A maior parte dos associados da Abert é formada de emissoras pequenas, que se beneficiam de tal política, ao contrário das grandes.
Até 2007, por exemplo, a principal TV brasileira tinha audiência no patamar de 50% e recebia mais de 70% dos recursos publicitários federais. Hoje, os dois números aproximaram-se e estabilizaram-se em torno de 45%.
Já o segmento “revistas” recebe cerca de R$ 30 milhões anuais de propaganda oficial, sem contar as estatais. A cifra é quase o dobro daquela de 2000 (R$ 14 milhões) e o triplo da de 2002 (R$ 10 milhões). Na última década, a participação deste tipo de mídia no bolo da publicidade oficial oscilou sempre na casa dos 7%. Já a quantidade de revistas atendidas, ao menos no governo Lula, caiu de 3% para 2%. Procurada, a Associação Nacional dos Editores de Revistas (ANER) não se manifestou.
Para a recém criada Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular, a política publicitária federal merece ser preservada. “Tem que descentralizar tudo na comunicação. Comunicação é um direito humano”, afirma a coordenadora-geral da Frente, deputada Luíza Erundina (PSB-SP).
A Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom), que congrega órgãos de comunicação menores, sobretudo da internet, apoia a descentralização. Condena, no entanto, o uso da “mídia técnica” como critério definidor do rumo do dinheiro. Acredita que dar verba só para quem já está no mercado, e de acordo com o alcance de cada um, impede o desenvolvimento de novos veículos e daqueles de menor porte.
“O critério anterior à mídia técnica era elitista e tecnicamente injustificável, muito mais subjetivo e muito mais político”, diz o vice-presidente da Altercom, Renato Rovai. “Mas o investimento federal ainda é muito pequeno. E o governo trata de forma igual os desiguais. Devia investir mais nos veículos pequenos, é muito importante para democratizar a comunicação.”
De 2000 a 2010, o gasto do governo federal com propaganda, descontada a inflação, cresceu a um ritmo equivalente à metade do avanço da economia. E, quando as estatais entram na conta, ficaram 20% aquém da inflação.
Internet versus jornal
Celeiro de uma infinidade de pequenos veículos e da maioria dos sócios da Altercom, a internet fica atualmente com 3% da verba destinada à publicidade pelo governo. Cerca de R$ 15 milhões anuais, sem estatais. Mas, ao lado de cinemas, outdoors e mídia estrangeira, a internet representa mais de 30% dos oito mil órgãos de comunicação a receber dinheiro de propaganda do governo. Antes de 2002, quando não tinha o peso de hoje como fonte de informação, levava uma parcela irrisória da publicidade, inferior a meio por cento.
O avanço da internet no bolo publicitário federal, de três pontos percentuais, se deu em cima dos jornais de papel, cuja fatia diminuiu quase na mesma magnitude. Aos impressos, destinam-se hoje R$ 30 milhões por ano, 6% do total. No início da década passada, antes do governo Lula, eles recebiam R$ 19 anuais, 10% do total. Além de perder espaço, ocorreu desconcentração no segmento. Se antes havia menos de 200 jornais a receber verba oficial, hoje são mais de 2 mil. Resultado da expansão dos jornais populares e dos jornais regionais, por meio dos quais o governo federal atinge mais pessoas, quando quer divulgar informações sobre políticas públicas.
Esse é um problema para os veículos maiores que a Associação Nacional dos Jornais equilibra-se para tentar administrar. Por meio da assessoria de imprensa, a entidade diz que defende o uso da mídia técnica e de critérios transparentes pelo governo, na distribuição do dinheiro de propaganda. Afirma ainda reconhecer que havia problemas para se medir o alcance dos jornais menores, mas que fez um acordo com o Instituto de Verificação de Circulação (IVC) para criar método simplificado de aferição das tiragens deles. Espera, em troca, que aqueles jornais filiem-se ao instituto e aceitem auditagens. O IVC é a referência para o governo aplicar mídia técnica no segmento impresso.
Emissoras versus emissoras
Na radiodifusão, também acontece disputa intestina pela verba publicitária oficial. E onde houve o mais significativo rearranjo interno nos últimos tempos, uma vez que é o tipo de mídia que mais movimenta dinheiro. Em número de veículos que contam com publicidade oficial, as emissoras de rádio e TV representam 40%. Mas, dado o alcance junto à população, ficam com mais de 70% do dinheiro, há mais de uma década. As TVs receberam R$ 288 milhões no ano passado e as rádios, R$ 141 milhões. Nos dois casos, de 2000 a 2010, a verba destinada a cada tipo de mídia mais ou menos dobrou. O número de emissoras atendidas, no entanto, subiu bem mais - vinte vezes entre as TVs e dez entre as rádios. Consequência: a briga pelo quinhão acirrou-se.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) prefere não comentar a política oficial. No governo Lula, o então presidente da entidade, Daniel Slaviero, era publicamente a favor. Carta Maior apurou que, por ora, o novo presidente da Abert, Emanuel Carneiro, compartilha da posição do antecessor, que considerava importante regionalizar e democratizar a distribuição da verba. A maior parte dos associados da Abert é formada de emissoras pequenas, que se beneficiam de tal política, ao contrário das grandes.
Até 2007, por exemplo, a principal TV brasileira tinha audiência no patamar de 50% e recebia mais de 70% dos recursos publicitários federais. Hoje, os dois números aproximaram-se e estabilizaram-se em torno de 45%.
Já o segmento “revistas” recebe cerca de R$ 30 milhões anuais de propaganda oficial, sem contar as estatais. A cifra é quase o dobro daquela de 2000 (R$ 14 milhões) e o triplo da de 2002 (R$ 10 milhões). Na última década, a participação deste tipo de mídia no bolo da publicidade oficial oscilou sempre na casa dos 7%. Já a quantidade de revistas atendidas, ao menos no governo Lula, caiu de 3% para 2%. Procurada, a Associação Nacional dos Editores de Revistas (ANER) não se manifestou.
CONTRA OS CHEFES, CONTRA AS OLIGARQUIAS
O
nome dado ao livro com algumas entrevistas de Richard Rorty é bastante
perspicaz para estabelecer algo que não está na plataforma dos governos
petistas, mas que deveria ser um dos primeiros tópicos de qualquer
“reforma política” que não fosse apenas uma mudança formal sem
capacidade de mover o que especificamente merece ser movido.
Grande parte dos “escândalos” noticiados pela mídia envolvem o nome
de Roseana Sarney. E no entanto sabemos que se trata de uma aliada do
Governo Federal. Trata-se da aliança mais espúria e repugnante que o PT
realizou ao longo dos últimos anos. Para mim e para tantos outros, com
essa aliança o PT (enquanto projeto) simplesmente acabou. Se o Governo Dilma não fosse eminentemente uma tecnocracia de esquerda, saberia que o primeiro tema da política nacional deveria ser atacar chefes e oligarquias, dentre as quais a mais forte de todas – a Sarney.
Retomar a política não significa simplesmente se reduzir ao
discurso moralista do combate à corrupção, como se tudo estivesse
correto e o problema fosse do caráter individual. A corrupção no Brasil é
endêmica não por ser abastecida por alguns indivíduos de correção
duvidosa, mas porque ela consiste na privatização da esfera pública,
ou seja, da democracia como fachada para o governo pactuado das
oligarquias. Lula não tocou um dedo nisso nem parece que Dilma irá
tocar. Ao contrário: ambos, aderindo a uma visão maquiavélica (no
sentido técnico) de política, pactuaram com os fatores reais de
poder que, como Lassalle sabia e os juristas fazem questão de esconder,
são a verdadeira Constituição do nosso país.
Enfrentar as oligarquias em seu poder que produz miséria,
desigualdade, violência e dominação nos lugares onde elas estão situadas
significa aderir a uma política de alto nível, isto é, atacar
verdadeiramente o poder que atinge nossas formas-de-vida. A luta contra a
oligarquia Sarney, portanto, não é uma cruzada anticorrupção (como o
jornalismo conservador gostaria de fazer crer, sacrificando um bode
expiatório a fim de manter o resto como está), mas um conflito em nome
da justiça para a vida nua que está sujeita ao poder descomunal de tais
oligarquias, geralmente imposto com violência e não raro crueldade em
seus domínios. Com isso, transformar-se-ia a “política” de baixo nível
que frequenta o noticiário – a política dos acordos, das negociatas, das
barganhas por cargos, das fofocas e dos diz-que-me-diz-que (o que faz o
jornalismo político ser indissociável da Revista Caras) – numa
verdadeira política, em que cujo centro não pode estar outra coisa se não o estado de exceção em que todos vivemos.
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Desigualdade de tratamento para a promoção de equidade social
Editorial do Sul21
Ainda que alguns possam considerar demagógica a recepção oferecida pelo
governador Tarso Genro no Galpão Crioulo do Palácio Piratini às lideranças
sindicais gaúchas em comemoração
ao 1º de Maio, o fato é que o ato foi oportuno e revestiu-se de
significado importante para o futuro do estado e da sociedade gaúcha. Além da
comemoração, o governador aproveitou para apresentar e pedir apoio ao Programa
de Sustentabilidade Financeira do Rio Grande do Sul, abordando de modo mais
detalhado as mudanças na Previdência Social estadual.
Ainda que não tenham sido finalizadas, mudanças profundas deverão ser propostas pelo governo visando reformular o modelo previdenciário adotado no RS. O apoio dos sindicalistas será muito importante para que essas alterações venham a ser realizadas. Segundo diversos estudos, a mudança do perfil demográfico no Brasil e principalmente no Rio Grande do Sul, de um lado, e os desequilíbrios entre a arrecadação das contribuições e a forma de concessão dos benefícios, de outro, em pouco tempo tornarão insustentável a situação atuarial do estado.
Diversas entidades sindicais e diferentes segmentos políticos, inclusive da base governista, contestam os estudos que apontam os déficits e são contrários a que se promovam quaisquer mudanças na previdência social, seja dos servidores públicos ou dos trabalhadores da iniciativa privada. Por este motivo, o Cpers-sindicato, em nome dos professores estaduais, recusou-se a participar do encontro no Piratini e liderou manifestação, no mesmo horário, na praça em frente ao palácio governamental.
Mesmo que as propostas ainda não tenham sido concluídas e, por este motivo, não tenham sido apresentadas em sua integralidade, mesmo que os estudos sobre o sistema previdenciário necessitem aprofundamento e mesmo que se tenha como preocupação a defesa dos direitos e vantagens conquistados pelos trabalhadores, o fato é que o princípio enunciado pelo governador Tarso Genro como orientador do Programa de Sustentabilidade Financeira e da reforma da Previdência no RS merece elogios.
Segundo as palavras do governador, “para viabilizar a previdência social pública no estado do RS, teremos que ter um fundo. Para isto, quem recebe mais terá que pagar mais”. O princípio que rege este raciocínio se assenta sobre o ideário socialdemocrata. É coerente com a plataforma de campanha do governador, com as propostas de seu partido e de todos os partidos que integram a base governista.
Para se promover a igualdade, rezam os fundamentos democráticos e da justiça contemporânea, os diferentes têm que ser tratados de forma diferente. Nesta lógica, os que recebem mais devem pagar mais e os que recebem menos devem pagar menos. Se todos receberem tratamento igual, pagando igualmente, a desigualdade social se aprofundará continuamente.
Este mesmo raciocínio, aliás, deveria ser empregado para a construção da matriz tributária estadual e nacional. O grande imposto deveria ser o imposto de renda, com alíquotas crescentes para atingir os grandes ganhos de capital não reinvestido, mantendo-se isentos de tributação os salários mais baixos e promovendo-se, além disso, uma profunda desoneração fiscal sobre a produção e o consumo.
Ainda que não tenham sido finalizadas, mudanças profundas deverão ser propostas pelo governo visando reformular o modelo previdenciário adotado no RS. O apoio dos sindicalistas será muito importante para que essas alterações venham a ser realizadas. Segundo diversos estudos, a mudança do perfil demográfico no Brasil e principalmente no Rio Grande do Sul, de um lado, e os desequilíbrios entre a arrecadação das contribuições e a forma de concessão dos benefícios, de outro, em pouco tempo tornarão insustentável a situação atuarial do estado.
Diversas entidades sindicais e diferentes segmentos políticos, inclusive da base governista, contestam os estudos que apontam os déficits e são contrários a que se promovam quaisquer mudanças na previdência social, seja dos servidores públicos ou dos trabalhadores da iniciativa privada. Por este motivo, o Cpers-sindicato, em nome dos professores estaduais, recusou-se a participar do encontro no Piratini e liderou manifestação, no mesmo horário, na praça em frente ao palácio governamental.
Mesmo que as propostas ainda não tenham sido concluídas e, por este motivo, não tenham sido apresentadas em sua integralidade, mesmo que os estudos sobre o sistema previdenciário necessitem aprofundamento e mesmo que se tenha como preocupação a defesa dos direitos e vantagens conquistados pelos trabalhadores, o fato é que o princípio enunciado pelo governador Tarso Genro como orientador do Programa de Sustentabilidade Financeira e da reforma da Previdência no RS merece elogios.
Segundo as palavras do governador, “para viabilizar a previdência social pública no estado do RS, teremos que ter um fundo. Para isto, quem recebe mais terá que pagar mais”. O princípio que rege este raciocínio se assenta sobre o ideário socialdemocrata. É coerente com a plataforma de campanha do governador, com as propostas de seu partido e de todos os partidos que integram a base governista.
Para se promover a igualdade, rezam os fundamentos democráticos e da justiça contemporânea, os diferentes têm que ser tratados de forma diferente. Nesta lógica, os que recebem mais devem pagar mais e os que recebem menos devem pagar menos. Se todos receberem tratamento igual, pagando igualmente, a desigualdade social se aprofundará continuamente.
Este mesmo raciocínio, aliás, deveria ser empregado para a construção da matriz tributária estadual e nacional. O grande imposto deveria ser o imposto de renda, com alíquotas crescentes para atingir os grandes ganhos de capital não reinvestido, mantendo-se isentos de tributação os salários mais baixos e promovendo-se, além disso, uma profunda desoneração fiscal sobre a produção e o consumo.
O que falta para o pleno emprego? Educação, ora…
Brizola Neto no TIJOLACO
Foi mais que providencial o lançamento, ontem, do Programa Nacional de Ensino Técnico, o Pronatec,
pela Presidenta Dilma Rousseff. E, coincidentemente, a publicação de um
estudo do IPEA que analisa a relação entre emprego, experiência e
qualificação profissionais.
Dilma afirmou que o Brasil está, hoje, próximo ” do pleno emprego” e
enfrenta “grande demanda de mão de obra qualificada”. Em alguns casos,
disse ele, ” falta mão de obra qualificada, em outros, sobra mão de obra
sem a qualificação necessária”.
O estudo do IPEA
dá números concretos a esta afirmação da Presidente: para o estoque de
desempregados estimado em 7,3 milhões de trabalhadores, “somente 2
milhões (27%) tendem a apresentar qualificação e experiência
profissional , enquanto dos 1,5 milhão de novos ingressantes no mercado
de trabalho, estima-se que apenas 762 mil (51%) devam possuir
qualificação e experiência profissional para o pronto exercício do
trabalho”.
E, de outro lado, São Paulo e a Região Sul deverão apresentar déficits de mão de obra com qualificação, sobretudo na indústria.
“O sistema de capacitação profissional brasileiro já não corresponde às necessidades do país e às dimensões de nossa economia.”.
É absoluta verdade. Embora seja vital administrar a emergência das
pessoas que já integram a população economicamente ativa com cursos
rápidos, que possam ser quase simultâneos à sua alocação ou realocação
ao mercado de trabalho, não podemos mais ter um sistema de ensino
profissional fundado na “emergência”.
Não se pode pensar em educação técnica dissociada de formação geral,
porque precisamos de algo muito além de “adestramento” profissional. É a
economia moderna que pede essa base, para que sobre ela possam vir a
inovação, a criatividade e a modernização da produção e do trabalho.
É animador que o programa tenha foco nos investimentos em ampliação
da rede de escolas técnicas – e sua ampliação para o mundo virtual – e
contemple a formação de profissionais de alto nível, com as 75 mil
bolsas de extensão no estrangeiro, naturalmente com compromissos de
multiplicação aqui do conhecimento absorvido.
E o Tijolaço, claro, não pode tratar deste tema sem bater na sua
tecla: o Rio de Janeiro tem de ganhar, ontem, uma Escola Técnica de
Petróleo e Gás. A cadeia produtiva do petróleo – além da extração e do
refino, propriamente, a indústria naval, a de máquinas e equipamentos,
os serviços correlatos à operação das plataformas – vai, literalmente,
devorar mão de obra qualificada.
Temos conhecimento acumulado na Petrobras e nas universidades para
fazer deslanchar isso rapidamente. E recurso, nos roylaties e no Fundo
Social do Pré-sal, para bancar este esforço.
Vale o que Dilma falou, ao lançar o Pronatec: “nosso país aprendeu a
se respeitar e a se fazer respeitar internacionalmente” e será “do
tamanho daquilo que cada um de nós fizermos por ele”.
Façamos, e já.
Verissimo e a revolta da classe média
Altamiro Borges em seu blog
Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.
- É nisso que deu, oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior - tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.
- A nova classe média nos descaracterizou?
- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada...
- Buuu para o Lula, então?
- Buuu para o Lula!
- E buuu para o Fernando Henrique?
- Buuu para o... Como, "buuu para o Fernando Henrique"?!
- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?
- Sim. Não. Quer dizer...
- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.
- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.
- Por quê?
- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.
- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?
- Acho, mas...
Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.
- É nisso que deu, oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior - tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.
- A nova classe média nos descaracterizou?
- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada...
- Buuu para o Lula, então?
- Buuu para o Lula!
- E buuu para o Fernando Henrique?
- Buuu para o... Como, "buuu para o Fernando Henrique"?!
- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?
- Sim. Não. Quer dizer...
- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.
- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.
- Por quê?
- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.
- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?
- Acho, mas...
Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Altamiro Borges: “Casamento real” e os súditos da mídia
A busca por audiência não deve ser a única justificativa para a
overdose midiática na cobertura do “Casamento Real”. Revistonas dão
capas melosas para a união do príncipe William com a “plebéia” Kate.
Jornalões gastam papel com fofocas e futricas. O pior, porém, ocorre nas
emissoras de televisão – em todas elas, sem exceção. Blocos e blocos
nos telejornais para divulgar banalidades.
por Altamiro Borges, em seu blog
A mídia corporativa parece adorar a vassalagem. É servil diante das
monstruosidades imperiais dos EUA, assim como é vassala diante da
monarquia decadente da Grã-Bretanha. A mídia dominante reproduz a
ideologia das classes dominantes. Criminaliza os pobres e reverencia os
ricaços – inclusive as ostentações e sandices da decrépita “família
real”.
Monarquia decadente e parasitária
Na difusão dos valores “morais” da aristocracia, a imprensa sensacionalista deixa de lado até as agruras do capitalismo no país. No primeiro trimestre deste ano, o PIB britânico cresceu apenas 0,5% – após uma contração, também de meio por cento, nos últimos três meses de 2010. Milhões de trabalhadores estão sem emprego e salário, mas a mídia só fala no tal “casamento real”.
A decadente monarquia agradece tanta vassalagem. Com as festanças, ela tenta sair do atoleiro. No ano passado, a “família real” foi obrigada a cortar 12,2% das despesas oficiais com sua vida parasitária. Mesmo assim, a realeza custou mais de 46,1 milhões de euros para os contribuintes britânicos – seis vezes mais do que outra monarquia decadente, a da Espanha.
Monarquia decadente e parasitária
Na difusão dos valores “morais” da aristocracia, a imprensa sensacionalista deixa de lado até as agruras do capitalismo no país. No primeiro trimestre deste ano, o PIB britânico cresceu apenas 0,5% – após uma contração, também de meio por cento, nos últimos três meses de 2010. Milhões de trabalhadores estão sem emprego e salário, mas a mídia só fala no tal “casamento real”.
A decadente monarquia agradece tanta vassalagem. Com as festanças, ela tenta sair do atoleiro. No ano passado, a “família real” foi obrigada a cortar 12,2% das despesas oficiais com sua vida parasitária. Mesmo assim, a realeza custou mais de 46,1 milhões de euros para os contribuintes britânicos – seis vezes mais do que outra monarquia decadente, a da Espanha.
Ato público unifica trabalhadores na defesa de direitos
O dia nacional de luta contra a retirada de direitos
– 28 de abril, no Rio Grande do Sul, foi marcado pela realização
de um ato público unitário em frente ao Palácio Piratini,
sede do governo gaúcho.
“Não somos nós que vamos pagar a
conta, resolver com nossos salários, os problemas financeiros do
estado”, declarou a presidente do CPERS/Sindicato Rejane de Oliveira,
em crítica dirtea à proposta do governo de alterar a previdência
estadual.
O movimento começou logo no início da tarde,
quando educadores se reuniram no CPERS/Sindicato e, em caminhada, se deslocaram
até o Largo Glênio Peres, onde encontraram servidores de
outras categorias e trabalhadores da iniciativa privada.
Do Glênio Peres, também em caminhada, os
manifestantes se dirigiram ao Palácio Piratini.
Antes do deslocamento, João Ezequiel, da direção
do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre, criticou a demissão
de trabalhadores contratados pela Fugast, fundação que teve
o contrato de prestação de serviços com o governo
do estado rompido. “Os trabalhadores estão pagando por um
erro do governo. Estes trabalhadores sequer estão recebendo suas
rescisões contratuais”, denunciou o sindicalista.
Os manifestantes também deixaram claro que não
aceitarão nenhum calote no pagamento das Requisições
de Pequeno Valor (RPVs). Ao optar pela RPV, o servidor já ja abre
mão de um direito, que é o de receber os seus precatórios.
O governo deve cortar privilégios de grandes empresas,
que se beneficiam de recursos públicos quando são isentas
de pagar o ICMS. Esse montante faz falta para a saúde, educação
e segurança.
Durante a manifestação, os educadores cobraram
a imediata implantação do piso nacional. No ano passado,
ano eleitoral, muito foi falado e prometido. Agora a categoria está
cobrando as promessas.
Se o pacote preparado pelo governo atingir direitos dos
trabalhadores, a praça da Matriz será novamente ocupada.
A advertência é das entidades que integram o Fórum
dos Servidores Públicos Estaduais, organização que
foi fundamental no enfrentamento aos ataques praticados pelo governo passado.
João dos Santos e Silva, assessor
de imprensa do CPERS/Sindicato
fonte: CPERS
Tarso abre Palácio aos trabalhadores e pede apoio ao Programa de Sustentabilidade Financeira
Rachel Duarte no Sul21
Para comemorar o Dia do Trabalhador (1º de Maio), o governador do Rio
Grande do Sul, Tarso Genro (PT), convidou as centrais sindicais gaúchas
para um churrasco no Galpão Crioulo, do Palácio Piratini, nesta
quinta-feira (28). Mais de 20 entidades compareceram ao almoço e
sentaram à mesa com o chefe do executivo estadual. O gesto do governador
— reconhecido pelos representantes sindicais — tinha uma segunda
intenção, além de comemorar o 1º de Maio: Tarso pediu o apoio dos
sindicalistas e da imprensa ao Programa de Sustentabilidade Financeira.
Ele explicou os princípios que norteiam a proposta de reforma
previdenciária que o governo enviará à Assembleia Legislativa.
O cerimonial permitiu que Tarso cumprimentasse todos os
representantes das centrais sindicais. Emocionada, a coordenadora do
Movimento dos Trabalhadores Desempregados, Eliane de Moura, lembrou o
esforço dos trabalhadores para erguer palácios como o que a acolhia
naquele momento. “Sãos os trabalhadores que constroem estes palácios.
E, muitas vezes, não são convidados a entrar”, lembrou.
Recebidos com a música Cio da Terra, de Milton Nascimento, os
primeiros sindicalistas a entrarem do Galpão Crioulo entregaram ao
governador alimentos produzidos por pequenos agricultores. Os demais
ofereceram as bandeiras de suas entidades, colocadas por Tarso sobre uma
mesa à frente da qual estavam cinco banners com as palavras de ordem:
soberania, solidariedade, desenvolvimento, sustentabilidade e
democracia.
Proposta para a previdência
Ao falar sobre o Programa de Sustentabilidade Financeira e, mais
especificamente, sobre a proposta de mudança na Previdência estadual,
Tarso reafirmou o que disse em outras ocasiões: “Ainda está em fase de
estudo a possibilidade de propor o aumento da contribuição
previdenciária dos servidores estaduais”. Reforçou os princípios nos
quais os técnicos do governo estão se baseando para apresentar a
proposta. “Vamos viabilizar a previdência pública no estado do RS.
Teremos que ter um Fundo. Para isso, quem recebe mais terá que pagar
mais”, falou sobre o aumento da alíquota previdenciária sobre os
salários mais elevados. O governador afirmou que as alíquotas ainda não
estão definidas.
Desde o começo da gestão, Tarso defende a criação de um Fundo para a
previdência. “Precisamos de um fundo público para não permitir que os
servidores da base (85%) financiem as aposentadorias de cima”, afirma o
governador. “Alguma modificação terá que ocorrer. A paridade
contributiva eu já defendi inúmeras vezes. Mas ela não pode ser aplicada
de maneira indiscriminada, se não vai continuar gerando desigualdades.
Vamos fazer isso conversando com os trabalhadores”, prometeu.
A criação do fundo se torna necessária, devido ao compromisso de
Tarso em não aumentar impostos e não repetir gestos que oneram ainda
mais os servidores. Ele lembrou que a sua gestão já diminui impostos
para micro e pequenas empresas. Indiretamente, respondeu as críticas da
oposição, que classificou os projetos, que compõe o Programa de
Sustentabilidade Financeira, de meramente “arrecadatórios”. “Certo
governador, quando assumiu, disse que o estado estava em crise. O que
ele fez? Propôs arrocho salarial e plano de demissão voluntária. Nós não
vamos fazer isso. Vamos valorizar o serviço público”, disse.
Inspeção veicular
Sobre a proposta de inspeção veicular, Tarso lembrou que ela não é
uma criação do governo estadual, mas uma lei federal, que o Estado
passará a cumprir. Alertou que a administração fará “um movimento para
arrecadar mais”. Vai atuar “contra quem sonega, contra quem não está
pagando”. Ressaltou que o seu governo tem uma visão diferenciada sobre a
sonegação. “A maior parte das sonegações — disse Tarso — é
involuntária, por desconhecimento da burocracia ou erros de natureza
técnica. Vamos credenciar o estado para educar, para informar e, assim,
aumentar nossa receita”.
RPVs
O programa, que busca equilibar as contas do Estado e amenizar a
previsão de déficit de R$ 550 milhões em 2011, proporá uma mudança no
pagamento das Requisições de Pequeno Valor (RPVs), que acumularam, ao
longo dos anos, um volume elevado, que deverá ser pago pelo atual
governo. “Estas dívidas do Estado, inclusive a dos precatórios, são
dívidas cumulativas. Por descumprimento de obrigações legais, por
governantes que não eram da mesma orientação política nossa. Agora nós
vamos enfrentá-las”, disse.
Aos jornalistas, Tarso Genro não precisou com quais hipóteses o
governo trabalha para pagar as RPVs. “Os estudos estão sendo feitos, mas
não há nenhuma definição nossa sobre isso”, disse.
Protesto
Mesmo que o governo ainda não tenha divulgado a íntegra dos projetos
que serão votados pelos deputados, algumas entidades se opuseram ao
almoço oferecido pelo governo e foram para as ruas manifestar o
descontentamento.
A caminhada foi organizada pelo sindicato dos professores, o Cpers,
que reuniu o maior número de integrantes no ato. A marcha saiu às 13
horas da sede da entidade e formou um grande bloco no Largo Glênio
Peres, no centro de Porto Alegre. Com carro de som e cartazes contra as
mudanças nas RPVs e na Previdência, as entidades se dirigiram, a partir
das 14 horas, à Praça da Matriz. Em frente ao Palácio Piratini, chamavam
a atenção do governador sobre as suas reivindicações. A principal delas
era contra a reforma da previdência, estudada pelo governo. “O governo
não pode é querer aumentar a receita e resolver os problemas financeiros
do estado colocando a conta nos nossos ombros”, disse a presidente do
Cpers, Rejane de Oliveira.
O protesto reuniu tanto trabalhadores da iniciativa privada quanto
servidores públicos, de 10 entidades, entre elas o Cpers, movimentos
estudantis, centrais sindicais e metalúrgicos. O ato encerrou por volta
das 16 horas.
Durante o almoço, Tarso Genro disse que compreendia o gesto dos
trabalhadores que foram às ruas, uma vez que eles “sempre foram
maltratados em outros governos”. Ele avaliou a mobilização como um
processo natural e importante para que o governo informe melhor suas
intenções. Segundo ele, com a proposta que o governo irá apresentar
“nenhum professor será atingido”.
Celebrar 1º de Maio hoje significa lutar pela retomada da organização autônoma dos trabalhadores
Escrito por a Força, a UGT, CGTB, CTB | |
Com o início da industrialização, lá por volta de 1775, com a criação da
máquina a vapor, surgem duas classes sociais distintas: o Empresariado
Industrial e a Classe Operária.
Aproveitando-se da forte migração campo-cidade da época em busca de
trabalho assalariado, os empresários passaram a exigir dos seus
empregados jornadas longas, que chegavam a 16 e até 18 horas diárias. Os
descansos dos fins de semanas eram raros. Os salários baixos, o que
levava a que muitas donas de casa fossem para as fábricas, assim como
crianças, visando a melhora do rendimento para o lar.
A jornada prolongada fazia com que muitos adoecessem, sofressem
acidentes graves e provocou muitas mortes. Foi daí que começaram as
reações dos operários (os que operam as máquinas). As reações iniciais
foram individuais, isoladas, o que permitiu a repressão patronal. Essas
derrotas individuais forçaram o aprendizado de que era necessário
organizar a luta coletiva. Encontros internacionais de trabalhadores
decidiram organizar movimentos pela redução da jornada em todos os
países industrializados: oito horas de trabalho, oito horas de descanso e
oito horas para convívio familiar, atividades sociais e culturais.
No dia 1º de Maio de 1886, nos Estados Unidos, grande greve paralisou
mais de um milhão de operários. Mais de 100 mil pararam a cidade de
Chicago. Ali houve forte repressão policial, com gente ferida e mortes.
Quatro dias depois uma greve ainda maior, nova repressão, outras mortes e
a prisão de oito dirigentes daquela manifestação. Num julgamento a
"toque de caixa" e com "cartas marcadas", os jurados decidiram pela
condenação dos oito como os responsáveis pelos acontecimentos. Dois
foram condenados à prisão perpétua e um a 15 anos de prisão (Miguel
Schwab, Oscar Neeb e Samuel Fielden). Os outros cinco foram condenados à
morte pela forca em praça pública: August Spies, Albert Parsons, Adolph
Fischer, George Engel e Luiz Lingg - este último preferiu o suicídio na
cela.
As lutas se intensificaram em todos os países e, aos poucos, as oito
horas foram sendo conquistadas, assim como condições específicas para o
trabalho das mulheres e menores e tantos outros benefícios.
Passados 125 anos, o Capital desfecha novos golpes contra a classe
trabalhadora em todo o mundo capitalista, roubando direitos conquistados
com muita luta e muito sangue derramado. No Brasil não é diferente. Os
empresários querem o fim da jornada de 44 horas.
Na prática, obrigam seus trabalhadores a jornadas mais longas,
superiores até a 10 horas, inclusive aos sábados, domingos e feriados.
Exigem reformas da Previdência para que os trabalhadores se aposentem
após 65 anos (mulheres aos 60) de idade, e um mínimo de 35 anos de
contribuição. Com a rotatividade no emprego, o desemprego e os trabalhos
precários, poucos chegarão à aposentadoria: morrerão trabalhando.
Querem o fim do 13º salário, diminuição das férias, eliminação da
licença gestação/maternidade e a livre negociação por empresas para
facilitar o achatamento dos salários e quebrar de vez o papel
representativo dos sindicatos.
Quantos outros direitos já não vêm sendo surrupiados aos trabalhadores,
disfarçadamente? Um exemplo: a contratação para trabalhar sem registro
por experiência ou temporariamente.
Nossas esperanças foram depositadas na formação da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), em 1983. O momento político da época e o avanço da
consciência da classe trabalhadora foram determinantes para esse novo
passo do conjunto do movimento sindical.
Entretanto, o empresariado não estava dormindo. Buscou novos aliados e
provocou o racha no movimento dos trabalhadores. Da união do peleguismo
comandado por Joaquinzão com a direção do então PCB, do PC do B e do
MR-8, nasce a divisionista CGT para combater as greves por categorias
profissionais ou mesmo gerais, como vinha acontecendo. Era o esforço
para dividir a classe operária, colocando-a a serviço dos interesses
patronais.
Contrariados com os fracos resultados dessa divisão, os homens do
capital patrocinaram a formação de mais uma central: A Força Sindical
(ou Farsa sindical?). O "sindicalismo de resultados", troca dos dedos
por alguns anéis, levou à capitulação progressiva da direção cutista. Já
nos anos 90 percebia-se que a direção da CUT não estava mais
interessada em defender os interesses dos trabalhadores. Sua meta era
outra: levar Lula à presidência da República, a qualquer preço. E esse
preço incluía a passividade do movimento sindical.
Hoje, estamos assistindo à mais vergonhosa capitulação das centrais
sindicais tradicionais aos interesses do capital nacional e
internacional. Sobretudo a CUT e a Força Sindical - verdadeiras inimigas
entre si nos anos 90 -, tornaram-se cúmplices da entrega dos nossos
direitos ao capital e se unem para abafar a consciência e a memória
histórica dos trabalhadores. Em São Paulo, estão unidas na promoção do
show no dia 1º de maio, a Força, a UGT, CGTB, CTB (esta correia de
transmissão do PC do B) e Nova Central. Show financiado por empresas
estatais (Petrobras, Caixa, Eletrobrás) e muitas empresas particulares
(Brahma, Carrefour, Casas Bahia, Pão de Açúcar, BMG, Banco Itaú,
Bradesco*), que financiarão também 20 carros a serem sorteados durante o
show.
O que é, então, celebrar o 1º de Maio, hoje, 125 anos depois dos
acontecimentos de Chicago? É retomar a organização autônoma dos
trabalhadores, a começar pelos locais de trabalho (fábricas, comércio,
hospitais, escolas, unidades públicas e também nas comunidades), para
reforçar os sindicatos que continuam comprometidos com os trabalhadores;
é fazer novas experiências de organização e de lutas visando a
construção de um outro instrumento de lutas, que não repita os desvios
ideológicos como vem acontecendo nos últimos 20 anos; é entrar nas lutas
em defesa dos nossos direitos, pelas 40 horas semanais, contra as
reformas que visam eliminar direitos conquistados e que estão circulando
no Congresso Nacional, entre tantas outras importantes.
Participe dos atos em memória dos nossos mártires! É urgente somar
forças com os setores do movimento sindical e popular que ainda resistem
aos ataques do capital e renovar o compromisso de lutar em defesa dos
nossos direitos.
Em São Paulo, ato na Praça da Sé, a partir das 10,00 horas
Atividades culturais, memória dos 125 anos de lutas e apresentação da
pauta de lutas da Classe Trabalhadora. Patrocínio das Pastorais Sociais,
de parcela do movimento social, dos sindicatos ligados à Conlutas e
Intersindical, Consulta Popular e partidos da esquerda (PSOL, PCB,
PSTU).
* Fonte: Folha de 24/04, página A10.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
|
Rebeliões: destruindo os estereótipos das mulheres árabes
Entre esta nova geração de proeminentes mulheres árabes, a
maioria escolhe usar o hijab. Urbanizadas e educadas, elas não são
menos confiantes e carismáticas que suas irmãs “desveladas”.
As revoluções árabes não somente estão abalando as estruturas da
tirania até suas mais profundas fundações, como estão destruindo muitos
dos mitos a respeito da região árabe que têm se acumulado por décadas.
No topo desta lista de mitos dominantes estão aqueles das mulheres
árabes como enjauladas, silenciadas, e invisíveis. Estes não são os
tipos de mulheres que apareceram na Tunísia, Egito, ou mesmo no
ultraconservador Iêmen nas últimas semanas e meses.
Não apenas as mulheres participaram ativamente nos movimentos de
protestos enfurecidos nestes países, como desempenharam também papeis
fundamentais. Elas organizaram protestos e piquetes, mobilizaram muitos
cidadãos, e eloquentemente expressaram suas exigências e aspirações por
mudanças democráticas.
Como Israa Abdel Fatteh, Nawara Nejm e Tawakul Karman, a maioria das
mulheres está na faixa dos 20 ou 30 anos. Há ainda casos inspiradores
de ativistas mais velhas: Saida Saadouni, uma mulher com seus 70 anos
na Tunísia, enrolou a bandeira nacional em seus ombros e participou dos
protestos de Qasaba, que conseguiram derrubar o governo provisório de
M. Ghannouchi. Tendo protestado por duas semanas, ela disseminou um
espírito revolucionário único entre os milhares que se reuniram a sua
volta para escutar seus discursos incendiários. “Eu resisti à ocupação
francesa. Eu resisti às ditaduras de Bourguiba e Ben Ali. Não
descansarei enquanto nossa revolução não chegar ao fim, por vocês, meus
filhos e filhas, não por mim,” disse Saadouni.
Seja nos campos de batalha virtuais da internet ou nos protestos
físicos nas ruas, as mulheres têm se provado como reais incubadoras de
lideranças. Isto é parte de um fenômeno mais amplo característico destas
revoluções. A política aberta das ruas fez nascer e amadurecer futuras
líderes. Elas crescem organicamente nos campos, muito mais do que
sendo impostas de cima por organizações políticas, grupos religiosos ou
imposições de gênero.
Outro estereótipo sendo desconstruído neste movimento é a associação
da burca com a passividade, submissão e segregação. Entre esta nova
geração de proeminentes mulheres árabes, a maioria escolhe usar o hijab.
Urbanizadas e educadas, elas não são menos confiantes e carismáticas
que suas irmãs “desveladas”. Elas são uma expressão da complexa formação
da cultura muçulmana, com processos de modernização e globalização
sendo a marca fundamental da sociedade árabe contemporânea.
Este novo modelo de líderes mulheres criadas em suas terras natais,
nascidas de levantes revolucionários, representa um desafio a duas
narrativas, as quais, embora diferentes nos detalhes, são similares em
referência ao mito da singularidade cultural árabe; ambos destituem a
figura da mulher árabe como criatura inerte e sem força de vontade.
A primeira narrativa – que é dominante nos círculos muçulmanos
conservadores – sentencia as mulheres a uma vida de reprodução e criação
das crianças; mulheres são feitas para viver nos estreitos confins de
suas casas com a permissão de seus maridos e parentes homens. Sua
presença deve se limitar em torno de noções de pureza sexual e honra
familiar; interpretações reducionistas da religião são procuradas para
justificar isto.
A outra visão é abraçada por euro-americanos neoliberais, que veem as
mulheres árabes e muçulmanas através do estreito prisma do modelo
Talibã: objetos miseráveis de pena que precisam de uma intervenção
benevolente de intelectuais, políticos ou mesmo militares. Mulheres
árabes aguardam a libertação da jaula escura do velamento para um jardim
prometido de iluminação.
As mulheres árabes estão se rebelando contra ambos modelos: elas
estão tomando para si as rédeas dos próprios destinos libertando a si
mesmas, ao passo em que libertam suas sociedades das ditaduras. O modelo
de emancipação que estão conformando com suas próprias mãos é definido
por suas próprias necessidades, escolhas e prioridades – e de ninguém
mais.
Embora possa haver resistência a este processo de emancipação, a
Praça Tahrir e Qasaba agora são parte da psiquê e da cultura das
mulheres árabes. De fato, elas finalmente têm voz para gritar seus há
muito silenciados anseios por libertação do autoritarismo – tanto
político quanto patriarcal.
* Tradução de Cainã Vidor.
* Publicado originalmente no site da Al Jazeera, em português no Envolverde.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Banda larga, avanços e impasses
Altamiro Borges em seu blog
O ano começou agitado para quem se interessa pelo debate de ampliação do
acesso à internet. O Ministério das Comunicações acelerou a implantação
do Plano Nacional de Banda Larga. Junto com a Anatel, o ministério
também discute a terceira versão do Plano Geral de Metas de
Universalização e consequentes mudanças nos contratos das empresas de
telefonia fixa, que devem ser revistos até 30 de junho. Por sua vez, o
Congresso Nacional discute mudanças na lei do Fundo de Universalização
dos Serviços de Telecomunicações.
Infelizmente, tamanho agito não se reflete necessariamente em boas notícias para aqueles preocupados com o interesse público. Em todas essas iniciativas, estão sendo tomadas decisões silenciosas que reorganizam o setor e derrubam pilares que sustentam o aspecto de serviço público nas telecomunicações. Acende-se a luz amarela e é hora de soar o alarme.
As boas e as más notícias
O acesso à banda larga no Brasil é caro, ruim e para poucos. Com isso concordam Ministério das Comunicações e a Anatel. Frente a esse cenário e à inação da gestão anterior do ministério, cerca de um ano e meio atrás, o gerenciamento das políticas de ampliação da banda larga e inclusão digital foi deslocado para o núcleo central do Governo Federal, e em maio de 2010 foi lançado o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Com a mudança de governo, mudou também a gestão do Ministério das Comunicações, que voltou a ser o centro formulador e implementador dessas políticas e do PNBL.
Na virada do ano, as notícias indicavam disposição do governo em enfrentar os interesses particulares das concessionárias de telecomunicações, principais responsáveis pelo quadro do acesso à internet no Brasil. De fato, o PNBL congrega propostas importantes em diferentes frentes (medidas regulatórias, políticas de investimento em infraestrutura, incentivos fiscais e tributários, fortalecimento de tecnologia nacional etc.), e sua implementação tem sido tratada com a urgência necessária.
O problema surgiu na negociação com as empresas concessionárias de telefonia fixa – Oi, Telefônica e Embratel. Depois de elas entrarem com processos contra o governo e a Telebrás, inclusive no Supremo Tribunal Federal, e questionarem as propostas iniciais do PGMU-III, o quadro mudou, e os resultados da negociação com o governo e a Anatel podem levar aos seguintes resultados negativos:
• Espectro gratuito – deve ser cedida, sem licitação e sem ônus, a faixa de 450-470MHz para as operadoras de telefonia fixa cumprirem as metas da telefonia rural. Essa faixa é capaz de suportar múltiplos acessos em banda larga e interessa à Telebrás por possibilitar melhores condições de promoção da inclusão digital. Numa doação de espectro por parte do Estado, as empresas ganharão esta faixa sem que se respeite a obrigatoriedade de licitação para a transferência de bens e recursos públicos.
• Obrigações privadas com dinheiro público – hoje as empresas devem pagar, a cada dois anos, 2% de sua receita operacional líquida como forma de pagamento pela concessão. A Anatel considera a possibilidade de os custos necessários para o cumprimento das obrigações de universalização previstas no novo PGMU serem descontadas desse valor.
• Sem obrigações de backhaul – backhauls são as ligações de internet das grandes redes para os municípios, a partir do qual se distribui o sinal para as redes que chegam para prover banda larga nas residências. Na versão anterior do PGMU-III, havia obrigações de as operadoras de telecomunicações instalarem backhauls em todas as localidades com mais de 1.000 habitantes. Naquele momento, houve críticas da sociedade civil a esta medida pela inclusão de metas de internet no plano de telefonia fixa, o que é proibido por lei e levaria ao subsídio cruzado entre os serviços, com o custeamento da banda larga pela telefonia fixa, quando o correto seria prever metas de universalização específicas à internet. De outro lado, houve críticas das empresas, que não queriam arcar com o investimento. Provavelmente não haverá qualquer menção a essa obrigação na versão final, mas também não está prevista a definição de metas próprias para a banda larga. Em resumo, prevaleceu a posição das empresas.
• Sem concorrência da Telebrás no varejo – o decreto de criação da Telebrás dizia que ela iria atuar na oferta direta ao usuário final onde inexistisse oferta ‘adequada’ pelas operadoras privadas. Agora, o Governo Federal diz que espera que as operadoras privadas deem conta dessa tarefa e que, em princípio, a Telebrás só vai atuar no atacado.
• Sem serviço público – a banda larga segue sendo tratada como serviço prestado apenas em regime privado, sem obrigações de universalização, sem controle de tarifas e sem uma série de garantias típicas de serviço público.
A fundo perdido
Não bastassem todos esses pontos, o Congresso Nacional está em vias de aprovar um projeto de lei que modifica a lei do FUST, permitindo que o fundo possa ser utilizado não apenas para universalização, mas para qualquer investimento em serviços de telecomunicações, prestados em regime público ou privado. Aquilo que pode parecer uma boa notícia pode se configurar, na verdade, em uma gigantesca doação de recursos públicos para as empresas privadas expandirem seu patrimônio.
Isso porque as contrapartidas exigidas ficam totalmente em aberto, não sendo nem mesmo obrigatórias na versão atual do projeto. Além disso, não há reversibilidade dos bens adquiridos com o dinheiro do FUST, ou seja, as empresas ficarão eternamente de posse de todos os bens adquiridos com esse recurso público, mesmo que deixemde prestar o serviço.
Se todos concordamos que é urgente ampliar o acesso à banda larga no país, a reivindicação é que isto se faça por meio do reconhecimento da internet como um serviço essencial, a ser prestado em regime público. Com isto, a lei do FUST permaneceria como está, impedindo mudança que resulte em transferência da renda dos consumidores às empresas de telecomunicações, já bastante beneficiadas. Mais do que ampliado, o acesso à banda larga deve ser universalizado, o que o PNBL não estabelece nem como meta. De toda forma, nem mesmo o desafio da massificação pode ser enfrentado sem que haja um papel ativo do Estado – não apenas como gerente ou fiscal das políticas, mas como agente econômico e executor do serviço.
Os fatos demonstram a necessidade de se voltar os olhos com urgência às políticas de acesso à banda larga no país. Este serviço é essencial e é dever do Estado garantir sua universalização, com políticas pautadas no interesse público. A Campanha "Banda Larga é um Direito Seu! Uma ação pela internet barata, de qualidade e para todos" defende o acesso à internet em banda larga como direito fundamental e se organiza para pressionar por seu reconhecimento nestes termos.
Para debater esses assuntos e lançar publicamente a campanha foram programadas em várias cidades atividades para a noite do dia 25 de abril, segunda-feira (mais informações no site campanhabandalarga.org.br). É preciso que organizações da sociedade civil e movimentos sociais estejam atentos e mobilizados, e que sejam entendidas como interlocutoras neste debate, da mesma forma que são os representantes de concessionárias e provedores.
Infelizmente, tamanho agito não se reflete necessariamente em boas notícias para aqueles preocupados com o interesse público. Em todas essas iniciativas, estão sendo tomadas decisões silenciosas que reorganizam o setor e derrubam pilares que sustentam o aspecto de serviço público nas telecomunicações. Acende-se a luz amarela e é hora de soar o alarme.
As boas e as más notícias
O acesso à banda larga no Brasil é caro, ruim e para poucos. Com isso concordam Ministério das Comunicações e a Anatel. Frente a esse cenário e à inação da gestão anterior do ministério, cerca de um ano e meio atrás, o gerenciamento das políticas de ampliação da banda larga e inclusão digital foi deslocado para o núcleo central do Governo Federal, e em maio de 2010 foi lançado o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Com a mudança de governo, mudou também a gestão do Ministério das Comunicações, que voltou a ser o centro formulador e implementador dessas políticas e do PNBL.
Na virada do ano, as notícias indicavam disposição do governo em enfrentar os interesses particulares das concessionárias de telecomunicações, principais responsáveis pelo quadro do acesso à internet no Brasil. De fato, o PNBL congrega propostas importantes em diferentes frentes (medidas regulatórias, políticas de investimento em infraestrutura, incentivos fiscais e tributários, fortalecimento de tecnologia nacional etc.), e sua implementação tem sido tratada com a urgência necessária.
O problema surgiu na negociação com as empresas concessionárias de telefonia fixa – Oi, Telefônica e Embratel. Depois de elas entrarem com processos contra o governo e a Telebrás, inclusive no Supremo Tribunal Federal, e questionarem as propostas iniciais do PGMU-III, o quadro mudou, e os resultados da negociação com o governo e a Anatel podem levar aos seguintes resultados negativos:
• Espectro gratuito – deve ser cedida, sem licitação e sem ônus, a faixa de 450-470MHz para as operadoras de telefonia fixa cumprirem as metas da telefonia rural. Essa faixa é capaz de suportar múltiplos acessos em banda larga e interessa à Telebrás por possibilitar melhores condições de promoção da inclusão digital. Numa doação de espectro por parte do Estado, as empresas ganharão esta faixa sem que se respeite a obrigatoriedade de licitação para a transferência de bens e recursos públicos.
• Obrigações privadas com dinheiro público – hoje as empresas devem pagar, a cada dois anos, 2% de sua receita operacional líquida como forma de pagamento pela concessão. A Anatel considera a possibilidade de os custos necessários para o cumprimento das obrigações de universalização previstas no novo PGMU serem descontadas desse valor.
• Sem obrigações de backhaul – backhauls são as ligações de internet das grandes redes para os municípios, a partir do qual se distribui o sinal para as redes que chegam para prover banda larga nas residências. Na versão anterior do PGMU-III, havia obrigações de as operadoras de telecomunicações instalarem backhauls em todas as localidades com mais de 1.000 habitantes. Naquele momento, houve críticas da sociedade civil a esta medida pela inclusão de metas de internet no plano de telefonia fixa, o que é proibido por lei e levaria ao subsídio cruzado entre os serviços, com o custeamento da banda larga pela telefonia fixa, quando o correto seria prever metas de universalização específicas à internet. De outro lado, houve críticas das empresas, que não queriam arcar com o investimento. Provavelmente não haverá qualquer menção a essa obrigação na versão final, mas também não está prevista a definição de metas próprias para a banda larga. Em resumo, prevaleceu a posição das empresas.
• Sem concorrência da Telebrás no varejo – o decreto de criação da Telebrás dizia que ela iria atuar na oferta direta ao usuário final onde inexistisse oferta ‘adequada’ pelas operadoras privadas. Agora, o Governo Federal diz que espera que as operadoras privadas deem conta dessa tarefa e que, em princípio, a Telebrás só vai atuar no atacado.
• Sem serviço público – a banda larga segue sendo tratada como serviço prestado apenas em regime privado, sem obrigações de universalização, sem controle de tarifas e sem uma série de garantias típicas de serviço público.
A fundo perdido
Não bastassem todos esses pontos, o Congresso Nacional está em vias de aprovar um projeto de lei que modifica a lei do FUST, permitindo que o fundo possa ser utilizado não apenas para universalização, mas para qualquer investimento em serviços de telecomunicações, prestados em regime público ou privado. Aquilo que pode parecer uma boa notícia pode se configurar, na verdade, em uma gigantesca doação de recursos públicos para as empresas privadas expandirem seu patrimônio.
Isso porque as contrapartidas exigidas ficam totalmente em aberto, não sendo nem mesmo obrigatórias na versão atual do projeto. Além disso, não há reversibilidade dos bens adquiridos com o dinheiro do FUST, ou seja, as empresas ficarão eternamente de posse de todos os bens adquiridos com esse recurso público, mesmo que deixemde prestar o serviço.
Se todos concordamos que é urgente ampliar o acesso à banda larga no país, a reivindicação é que isto se faça por meio do reconhecimento da internet como um serviço essencial, a ser prestado em regime público. Com isto, a lei do FUST permaneceria como está, impedindo mudança que resulte em transferência da renda dos consumidores às empresas de telecomunicações, já bastante beneficiadas. Mais do que ampliado, o acesso à banda larga deve ser universalizado, o que o PNBL não estabelece nem como meta. De toda forma, nem mesmo o desafio da massificação pode ser enfrentado sem que haja um papel ativo do Estado – não apenas como gerente ou fiscal das políticas, mas como agente econômico e executor do serviço.
Os fatos demonstram a necessidade de se voltar os olhos com urgência às políticas de acesso à banda larga no país. Este serviço é essencial e é dever do Estado garantir sua universalização, com políticas pautadas no interesse público. A Campanha "Banda Larga é um Direito Seu! Uma ação pela internet barata, de qualidade e para todos" defende o acesso à internet em banda larga como direito fundamental e se organiza para pressionar por seu reconhecimento nestes termos.
Para debater esses assuntos e lançar publicamente a campanha foram programadas em várias cidades atividades para a noite do dia 25 de abril, segunda-feira (mais informações no site campanhabandalarga.org.br). É preciso que organizações da sociedade civil e movimentos sociais estejam atentos e mobilizados, e que sejam entendidas como interlocutoras neste debate, da mesma forma que são os representantes de concessionárias e provedores.
Espiritualidade pós-moderna
Frei Betto | |
O que caracteriza os tempos pós-modernos em que vivemos, segundo
Lyotard, é a falta de resposta para a questão do sentido da existência.
Por enquanto, estamos na zona nebulosa da terceira margem do rio.
A modernidade agoniza, solapada por esse buraco aberto no centro do
coração pela cultura da abundância. Nunca a felicidade foi tão
insistentemente ofertada. Está ao alcance da mão, ali na prateleira, na
loja da esquina, publicizada em todo tipo de mercadoria.
No entanto, a alma se dilacera, seja pela frustração de não dispor de
meios para alcançá-la, seja por angariar os produtos do fascinante mundo
do consumismo e descobrir que, ainda assim, o espírito não se sacia...
A publicidade repete incessantemente que todos temos a obrigação de ser
felizes, de vencer, de nos destacarmos do comum dos mortais. Sobre esses
recai o sentimento de culpa por seu fracasso. Resta-lhes, porém, uma
esperança, apregoam os que deslocam a mensagem evangélica da Terra para o
Céu: o caráter miraculoso da fé. Jesus é a solução de todos os
problemas. Inútil procurá-la nos sindicatos, nos partidos, na
mobilização da sociedade.
Vivemos num universo fragmentado por múltiplas vozes, frente a um
horizonte desprovido de absolutos, com a nossa própria imagem mil vezes
distorcida no jogo de espelhos. Engolida pelo vácuo pós-moderno, a
religião tende a reduzir-se à esfera do privado; olvida sua função
social; ampara-se no mágico; desencanta-se na auto-ajuda imediata.
Nesse mundo secularizado, a religião perde espaço público, devido à
racionalidade tecnocientífica, ao pluralismo de cosmovisões, à
racionalidade econômica. Sobretudo, deixa de ser a única provedora de
sentido. Seu lugar é ocupado pelo oráculo poderoso da mídia; os dogmas
inquestionáveis do mercado; o amplo leque de propostas esotéricas.
A crise da modernidade favorece uma espiritualidade adaptada às
necessidades psicossociais de evasão, da falta de sentido, de fuga da
realidade conflitiva. Espiritualidade impregnada de orientalismo, de
tradições religiosas egocêntricas, ou seja, centradas no eu, e não no
outro, capazes de livrar o indivíduo da conflitividade e da
responsabilidade sociais.
Agora, manipula-se o sagrado, submetendo-o aos caprichos humanos. O
sobrenatural se curva às necessidades naturais. A solução dos problemas
da Terra reside no Céu. De lá derivam a prosperidade, a cura, o alívio.
As dificuldades pessoais e sociais devem ser enfrentadas, não pela
política, mas pela auto-ajuda, a meditação, a prática de ritos, as
técnicas psico-espirituais.
Reduzem-se, assim, a dimensão social do Evangelho e a opção pelos
pobres. O sagrado passa ser ferramenta de poder, para controle de
corações e mentes, e também do espaço político. O Bem se identifica com a
minha crença religiosa. Bin Laden exige que o Ocidente se converta à
sua fé, não ao bem, à justiça, ao amor.
Essa religião, mais voltada à sua dilatação patrimonial que ao
aprimoramento do processo civilizatório, evita criticar o poder político
para, assim, obter dele benefícios: concessão de rádio e TV etc. Ajusta
a sua mensagem a cada grupo social que se pretende alcançar.
Sua ideologia consiste em negar toda ideologia. Assim, ela sacraliza e
fortalece o sistema cujo valor supremo, o capital, se sobrepõe aos
direitos humanos. Como observava Comblin, as forças que hoje dominam são
infinitamente superiores às das ditaduras militares.
Aos pobres, excluídos deste mundo, resta se entregarem às promessas de
que serão incluídos, cobertos de bênçãos, no outro mundo que se
descortina com a morte. Frente a essa "teologia" fica a impressão de que
a encarnação de Deus em Jesus foi um equívoco. E que o próprio Deus
mostra-se incapaz de evitar que sua Criação seja dominada pelas forças
do mal.
Felizmente, nas Comunidades Eclesiais de Base, nas pastorais sociais,
nos grupos de leitura popular da Bíblia, fortalece-se a espiritualidade
de inserção evangélica. A que nos induz a ser fermento na massa e crê na
palavra de Jesus, de que ele veio "para que todos tenham vida e vida em
abundância" (João 10, 10).
Fomos criados para ser felizes neste mundo. Se há dor e injustiça, não
são castigos divinos, resultam de obra do ser humano e por ele devem ser
erradicadas. Como diz Guimarães Rosa, "o que Deus quer ver é a gente
aprendendo a ser capaz de ficar alegre e amar, no meio da tristeza. Todo
caminho da gente é resvaloso. Mas cair não prejudica demais. A gente
levanta, a gente sobe, a gente volta".
Frei Betto é escritor, autor de "Um homem chamado Jesus" (Rocco), entre outros livros.
Página e Twitter do autor:www.freibetto.org - twitter:@freibetto
|
Governo do RS já esboçou o projeto para pagar as RPVs. Agora, espera a avaliação da base aliada
Rachel Duarte no Sul21
Na manhã desta terça-feira (27), o governo gaúcho e os líderes de
partidos da base aliada na Assembleia Legislativa (PT, PSB, PCdoB, PTB e
PDT) se reuniram pela primeira vez. Os deputados foram informados sobre
os projetos que compõem o Programa de Sustentabilidade Financeira. O
Palácio Piratini enviará o pacote para a Assembleia Legislativa no mês
de maio. Entre os projetos em elaboração e à espera da apreciação da
base aliada está o que trata do pagamento dos precatórios e das
Requisições de Pequeno Valor (RPV). O Porgrama também foi discutido em
reunião do governador Tarso Genro com os secretários. Ao final da
reunião, o governador afirmou: “A reunião do secretariado foi excelente.
Um debate qualificado das medidas de sustentabilidade financeira do Rio
Grande do Sul.”
O pagamento das Requisições de Pequeno Valor é um dos dilemas
enfrentados, atualmente, pelo Governo Tarso. O volume — segundo a líder
do governo na Assembleia, deputada Miriam Marroni — triplicou nos
últimos sete meses. Isto levou o governo a estudar uma forma de pagar a
dívida, sem esvaziar ainda mais o cofre público. O Executivo, no
entanto, mantém silêncio sobre o que pretende propor para viabilizar o
pagamento de cerca de R$ 11 milhões referentes às RPVs, equivalentes aos
precatórios renegociados, em que o Estado paga o teto de 40 salários
mínimos. A maior parte desta dívida é com funcionários aposentados e
pensionistas, que entraram na Justiça reivindicando o pagamento da
chamada Lei Brito.
A Emenda Constitucional nº 62, publicada em 10 de dezembro de 2009,
determina que o governo disponibilize o equivalente a 1,5% da Receita
Corrente Líquida — RCL para o pagamento dos precatórios. Os valores
definidos por lei são depositados mensalmente pelo Tesouro do Estado em
duas contas correntes. Em 2010, foram pagos R$ 498 milhões. Para este
ano, a previsão é de que serão pagos R$ 314 milhões.
De acordo com a Emenda Constitucional, 50% dos recursos se destinam
ao pagamento dos precatórios, que deve ser feito em ordem cronológica,
dando preferência aos idosos (mais de 60 anos) e a portadores de doenças
graves. Os outros 50% vão para conciliações, leilões e pagamento por
ordem crescente de valor.
Nos últimos setes meses cresceu o número de precatoristas que
passaram a negociar o valor de seus créditos, entrando na fila dos que
aceitam, em vez do valor total a que têm direito, o equivalente a 40
salários minimos. Com isso, deveriam receber o que o Estado lhes deve no
prazo máximo de 60 dias. Ricardo Bertelle, assessor jurídico do
Sindicato dos Servidores Aposentados e Pensionista do RS, o Sinapers,
afirma que a negociação tornou-se uma alternativa para os beneficiários
poderem receber os valores a que têm direito ainda em vida, já que os
precatórios não vêm sendo pagos desde 1999.
“Os precatórios têm que ser inscritos até 1º de julho de cada ano
para terem previsão orçamentária no ano seguinte. As RPVs não. São
decididas pela Justiça e devem ser pagas em até 60 dias pela Fazenda”,
ressalta Bertelle. Expirado este prazo, sem pagamento, o Poder
Judiciário pode sequestrar os valores das contas do estado. Segundo
Bertelle, no entanto, mesmo as RPVs estão com pagamento atrasado. “Levam
de seis meses a um ano e meio para serem pagos”, disse.
A anomalia da dívida
O número de RPVs — decididas pela Justiça de acordo com a decisão do
credor em negociar com o Estado — não pode ser previsto, ao contrário
do de precatórios. No entanto, a Secretaria Estadual da Fazenda
trabalha, atualmente, com dois números: R$ 800 milhões, relativos à
dívida com RPVS, e R$ 300 milhões a serem pagos, este ano, em
precatórios.
O dilema do governo Tarso Genro é como pagar os RPVs no curto espaço
de tempo, determinado pela legislação, tendo em vista um déficit
orçamentário de R$ 1 bilhão. Nenhuma autoridade se dispõe a revelar o
que o governo pretende fazer para superar este problema. Afirmam apenas
que a intenção é pagar a dívida.
A líder do governo na Assembleia, deputada estadual Miriam Marroni
(PT), disse que há a necessidade de normatizar a legislação, e, assim,
encontrar uma forma de o estado cumprir com as obrigações para com os
funcionários. Sem precisar quais as linhas gerais da proposta do governo
e o limite que pretende propor para o pagamento desta dívida, Miriam
disse que, nesta quarta-feira (27), começará a dialogar com a base
aliada para coletar contribuições dos parlamentares. “Nós aumentamos a
receita do estado, mas os valores de RPVs triplicaram nos últimos sete
meses. Precisamos ver como iremos resolver isso. Mas, nós vamos pagar”,
garantiu.
Os demais líderes consultados pelo Sul21 adotaram o
mesmo poscionamento da líder do governo. Todos confirmaram que os
precatórios e as RPVs estiveram na pauta da reunião desta terça-feira,
mas não deram qualquer detalhe. “Ficou de ser detalhado melhor na
próxima semana ou na outra ainda”, disse o deputado Adroaldo Loureiro,
líder da bancada do PDT.
As intenções do governo
O secretário da Fazenda, Odir Tonollier, esteve na reunião com os
líderes dos partidos da base, na Casa Civil, mas, nem ele nem o chefe da
Casa Civil, Carlos Pestana, falaram sobre o assunto, apesar de o esboço
do projeto já estar pronto. A orientação é falar apenas quando a
proposta estiver concluída.
Em declarações já dadas à imprensa, o governo deixou transparecer o
desejo de diminuir o valor das RPVs para 20 salários mínimos e aumentar o
prazo de pagamento para 120 dias. A pré-proposta foi, imediatamente,
repudiada pelas categorias dos servidores.
Segundo a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, os precatórios só
existem por falha no cumprimento dos direitos dos trabalhadores por
parte do estado ao longo dos anos. Portanto, ela defende, em nome da
entidade, que “é impossível pedir mais sacrifícios à categoria”. Rejane
disse ainda que, ao não pagar os precatórios, o governo já obrigou os
trabalhadores a abrirem mão dos valores a que tinham direito em troca
das Requisições de Pequeno Valor (RPV). “Somos contra qualquer alteração
no pagamento das RPVs, porque já abrimos mão uma vez”, reforçou.
Nas mais recentes declarações de representantes do governo Tarso
surgiu a intenção de definir um montante anual para o pagamento das
RPVs, seguindo o definido pela Emenda Constitucional 62, no que diz
respeito ao pagamento de precatórios. Os que não fossem pago este ano,
por exemplo, entrariam na fila do próximo ano. Mais uma vez, a sugestão
do governo não agradou aos gaúchos.
“Isto é uma afronta aos direitos dos trabalhadores. Já nos foi
retirado o direito de receber o valor integral (dos precatórios). Agora,
querem uma medida para empurrar mais uma vez com a barriga?”, critica a
presidente do Cpers Rejane de Oliveira.
A posição do Sinapers (Sindicato dos Servidores Aposentados e
Pensionista do RS) é a mesma. “Não é bom porque hoje não tem uma fila de
RPVs. Elas entram e têm que ser pagas. Ao estabelecer este percentual
de 1,5% da Receita Líquida, forma uma nova fila. Assim terá outro
calote. Além do calote dos precatórios, terá o calote das RPVs”, compara
o assessor jurídico do Sinapers, Ricardo Bertelle. Para ele, um pouco
de boa vontade política poderia dar outro desfecho para o problema da
dívida dos precatórios e RPVs. “A Constituição Federal, no artigo 100,
parágrafo 16, diz que a União poderá assumir a dívida de precatórios e
renegociá-la com o estado”, afirmou, lembrando a afinidade partidária
entre os governos federal e estadual, o que, segundo Bertelle,
fortaleceria a alternativa.
Na visão do presidente da Comissão Especial dos Precatórios Judiciais
no RS, na Assembleia Legislativa gaúcha, deputado Frederico Antunes
(PP), uma possibilidade seria o governo repensar sua posição sobre as
Parcerias Público Privadas (PPPs) para encaminhar as grandes obras do
governo. Com isso, diz ele, sobrariam mais recursos para pagamento de
dívidas como as de precatórios e RPVs. “Eu disse para a Miriam (Marroni)
que não podemos mexer no volume que tem hoje desta dívida. O estado
deve cumprir as suas obrigações com recursos além do Orçamento. Vou
apresentar o debate sobre as PPPs novamente à Comissão de Serviços
Públicos”, falou.
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