sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Paquistão...

Paquistão sem Benazir, as ilusões do Ocidente

Tariq Ali

Quase todas as suposições de Bush, Negroponte e seus acólitos eram baseadas em fatos sistemática e seletivamente retocados, distorcidos ou exagerados, a fim de evitar qualquer responsabilidade ocidental na crise do Paquistão. Agora que Pervez Musharraf fracassou no seu papel de homem chave dos EUA, estes podem mudar de peão este ano e voltar a depositar as suas esperanças no general Ashfaq Kayani, que já substituiu Musharraf como chefe do exército.


"Os casamentos arranjados podem ser um problema complicado. Concebidos primordialmente como instrumento de acumulação de riquezas, eles não servem para superar indesejáveis discussões amorosas nem para evitar aventuras amorosas clandestinas. Se é notório que os contraentes se detestam mutuamente, só um pai desapiedado, de sensibilidade embotada pela perspectiva do lucro imediato, insistirá num processo, cujo infeliz desfecho conhece perfeitamente. Que isto também é válido na vida política, é coisa que foi cristalinamente revelado pela recente tentativa de Washington de unir Benazir Bhutto e Pervez Musharraf. Quem fez o papel de firme e decidido pai único foi um desesperado Departamento de Estado – com John Negroponte no papel de diabólico intermediário e Gordon Brown no de cortesã amuada – assaltado pelo medo de não conseguir se impor aos noivos potenciais e ficar demasiado velho para se reciclar."


Escrevi este parágrafo inicial no longo ensaio para a London Review of Books no começo de dezembro. Que a violência tenha chegado a este ponto não me surpreende. O choque inicial do assassinato de Benazir Bhutto vai ficando para trás e torna-se necessária avaliar desapaixonadamente as suas prováveis conseqüências, evitando a piedade que invade as páginas dos grandes meios de comunicação globais. Praticamente tudo o que se escreve nos jornais ou mostram as televisões é enganoso e dir-se-ia concebido para eludir a discussão do que verdadeiramente está em jogo.


Por que Bush, Negroponte e seus acólitos britânicos estavam tão decididos a aplicar precisamente esse remédio à crise paquistanesa? O que pensavam conseguir? Que "mundo novo" tinham fantasiado?


Quase todas as suas suposições eram baseadas em fatos sistemática e seletivamente retocados, distorcidos ou exagerados, a fim de evitar qualquer responsabilidade ocidental na atual crise. Na medida em que, com pequenas e insignificantes variações, vinham a repetir tudo até à exaustão nos meios de comunicação globais, não será ocioso examinar cada um dos principais argumentos esgrimidos:


a) O Paquistão é um Estado nuclear, o único país muçulmano com armas atômicas e que fez testes nucleares. Se os jihadistas-Al Qaeda pusessem as mãos nessas armas havia o risco de um holocausto nuclear. É preciso apoiar Musharraf porque ele se opõe vigorosamente a essa possibilidade.


Recorde-se que o Paquistão aperfeiçoou o seu armamento nuclear nos anos 80, durante a ditadura do general Zia ul Haq, incondicional aliado de Washington e peça central da então chamada guerra contra o Império do Mal (a URSS) no Afeganistão. Os EUA estavam a tal ponto obcecados com o conflito com os russos que resolveram organizar uma rede jihadista global para recrutar militantes para a guerra santa no Afeganistão e olhar para outro lado face à pouco dissimulada construção dos silos nucleares paquistaneses.


As instalações nucleares estão sujeitas a um controle militar muito rígido. Não há a menor possibilidade de que um grupo extremista possa escapar ao controle de um exército de meio milhão de soldados. O Pentágono e a CIA sabem muito bem que a estrutura de comando militar do Paquistão nunca foi derrotada e que os generais dependem do financiamento e do armamento militar norte-americanos. Mês após mês, o exército paquistanês presta contas ao Centcom da Flórida (Comando Central estadunidense para Operações no Estrangeiro) das suas atividades na fronteira afegã. O exército como instituição responde a essas exigências, e não apenas os generais. E Musharraf já não tem a menor legitimidade neste tema pois abandonou o uniforme. Daqui a insistência de Bush para que o processo eleitoral seguisse o seu curso, apesar do boicote massivo, dos processos judiciais paralisados, da caluda dos meios de comunicação, da existência de importantes políticos sob prisão domiciliar e da execução pública da senhora Bhutto. Se Benazir Bhutto tivesse decidido boicotar as eleições (o que significaria romper o acordo com Washington), continuaria viva.


b) O Paquistão é um Estado em bancarrota, à beira do colapso e rodeado de jihadistas decididos e furiosos à espreita. Daí a exigência de uma alternativa não religiosa e o papel de Benazir Bhutto: ajudar Musharraf a conseguir um pouco da legitimidade de que precisa urgentemente.


O Paquistão não é um "Estado fracassado" no sentido em que o são o Congo ou o Ruanda. É um Estado que funciona mal, e nessa condição se manteve durante quase quatro décadas. Às vezes a situação é melhor, às vezes pior. No cerne do seu mau funcionamento está o domínio do país pelo exército, e cada novo governo militar só fez piorar a situação. Foi isso que impediu a estabilidade política e tornou impossível o aparecimento de instituições estáveis. E nisso os EUA têm responsabilidade direta, visto que sempre consideraram – e continuam a considerar – o exército como a única instituição que pode tratar, o pedregulho que contém as agitadas águas da represa.


Economicamente, o país se baseia, desequilibradamente, numa elite corrupta e ultra-rica, mas isso é do agrado do consenso de Washington. Por isso o Banco Mundial sempre foi pródigo em elogios às políticas de Musharraf.


A última crise é a conseqüência direta da guerra e da ocupação do Afeganistão pelas forças da Otan, que desestabilizaram a fronteira noroeste do Paquistão, gerando uma crise de consciência no seio do exército. É triste ser pago para matar camaradas muçulmanos nas áreas tribais fronteiriças entre o Paquistão e o Afeganistão. A conduta arrogante e humilhante dos soldados da Otan não ajuda nada a resolver os problemas entre ambos os países. O envio de tropas estadunidenses para treinar os militantes paquistaneses na contra-insurreição muito provavelmente inflamará ainda mais os ânimos. O Afeganistão só poderá ser estabilizado através de um acordo regional que envolva a Índia, a Rússia, o Irã e o Paquistão e que seja acompanhado da retirada total das tropas da Otan. As tentativas dos EUA para evitar isso reforçam a crise em ambos os países.


Musharraf fracassou no seu papel de homem chave dos EUA no Paquistão. Sua incapacidade em proteger Benazir Bhutto foi mal recebida em Washington, que pode mudar de peão este ano e voltar a depositar as suas esperanças no general Ashfaq Kayani, que já substituiu Musharraf como chefe do exército. Mais difícil será substituir Benazir Bhutto. Os irmãos Sharif não são confiáveis, e estão demasiado próximos dos sauditas. As eleições serão grosseiramente manipuladas, o que lhes retirará qualquer credibilidade. A escura noite está muito longe do fim.


* Escritor e ensaista anglo-paquistanês, editor da New Left Review; este artigo foi originalmente publicado em Sin Permiso (http://www.sinpermiso.info)





Em 2008, sorrir lutando e lutar sorrindo



Pietro Lora Alarcón


Introspectivamente, o repensar sobre os acontecimentos, bem como o apontamento de perspectivas, sempre foi um exercício valioso. Certamente, a releitura daquilo que foi interpretado ao calor do fato, até analisando suas conseqüências, para além do equilíbrio que proporciona o repouso, permite visualizar o que deixou de ser feito, o que talvez poderia ter sido feito de melhor forma e aquilo que involuntariamente trouxe resultados positivos ou negativos.

Contudo, neste ano, antes do que fazer um balanço, parece-me importante pensar no futuro com otimismo. Digo isso porque, ao final, a qualquer momento, pode se dar a libertação de três pessoas privadas da sua liberdade em um cenário de guerra doloroso para os colombianos, e de maneira muito a contragosto do que esperava o governo de Álvaro Uribe. O fato abre novos caminhos para uma saída política negociada ao conflito social e armado nesse país, permite oxigenar o ar contaminado pela ingerência dos Estados Unidos na Colômbia, país que pretendem converter em ponta de lança para uma contra-ofensiva contra o movimento popular dos Estados vizinhos e os governos que empreendem, com grandes dificuldades, a trilha do desenvolvimento e da efetividade dos direitos sociais.

Certamente hão de haver alguns que dirão que não há motivos para comemorar, pois continua a intervenção no Iraque; Guantánamo persiste, em que pese a rejeição universal contra os tratamentos degradantes e a violação das garantias processuais; e, ainda, as políticas neoliberais privatizadoras continuam a ser promovidas, enquanto na América Latina alguns governos continuam tímidos demais diante da possibilidade de enfrentar o capital e, em outros, a reação se organiza para lucrar politicamente, acima dos erros táticos, das inconsistências e sob o amparo dos dólares e do terrorismo norte-americanos.

Se pensarmos na atual situação européia, para sair do nosso contexto imediato, observamos como esse mesmo neoliberalismo pretende acabar com o que resta do Estado Social. Em Portugal, o desemprego está acima dos 7,5%, enquanto na Espanha, na França e na Alemanha os direitos dos aposentados e trabalhadores são ameaçados constantemente. E poderíamos continuar a falar sobre dados e índices da Ásia ou África, onde, ao igual que nos outros continentes, o capital financeiro, hoje dominante, pretende que esqueçamos que existem valores éticos, morais e humanos e que concentremos a vida no dinheiro, na concorrência desleal e num individualismo vulgar. É, ademais, um capitalismo irresponsável com a preservação da vida no planeta e intolerante e discriminatório com as minorias étnicas e os setores mais desprotegidos.

Agora bem, se esta é uma das caras da moeda, também podemos virar e ver a outra: afirmar, por exemplo, que os Estados Unidos fazia tempo que não enfrentavam uma contestação tão dura e difícil no concerto de países da área latino-americana; que o governo colombiano se desgasta; e que podemos sentir a vitalidade dos processos políticos renovadores e, ainda, reconhecer o peso das dificuldades diante da coragem de alguns povos de caminhar sem artifícios dos impérios. Parece-me inquestionável, nessa linha, que existe uma reação na luta dos trabalhadores europeus contra o cerceamento dos direitos sociais.

Mas também podemos advertir que é inquestionável que, se não existir uma reflexão ou análise do estágio em que se encontra a luta de classes, se não se detectar quem é o inimigo fundamental e quais são os aliados táticos no dia a dia, não haverá condições de organização popular - haverá uma dispersão de forças e de esforços, e a possível unidade entre os diversos setores que podem agenciar as mudanças democráticas e as reformas econômicas e sociais não será possível, e a intensificação da luta será cada vez mais complicada.

Conste, não pretendemos ser prognosticadores nem adivinhos. Longe também pretender fazer pose de arrogantes ou de mestres, com a última palavra sobre aquilo que deve ser ou não feito. Apenas, com toda humildade, achamos que, diante das dificuldades e dos desafios, em 2008, o convite pode ser resumido nas três palavras que, seguidas a risca, são elemento chave para o sucesso na ação política - e que, como todos sabem, não são palavras nossas, eu mesmo as aprendi de alguém que as pronunciou quando, há alguns anos, comecei a tentar fazer algo útil na vida: educare, organizare e agitare. Primeiro, educar-se, ler, escutar, tentar captar dos outros tudo aquilo que de bom nos podem transmitir; logo, organizar, com persistência e tolerância; e, finalmente, agitar, gritando, movimentando as forças conscientemente e com a dose de prudência e confiança que o momento exige, mas gritar, protestar, e, assim, tentar aumentar a consciência cidadã.

No novo ano, há que prosseguir rodeando de solidariedade a Cuba socialista; há que aprofundar a democracia na Venezuela, na Bolívia, Nicarágua e Equador, democracia que, em nosso meio, tem um profundo conteúdo transformador; há que insistir na unidade com perspectiva revolucionária no Brasil, Argentina e Uruguai e continuar a abrir espaços em outros Estados, onde o contexto é mais difícil.

Não há caminhos pré-fabricados, mas há que aprender dos processos em curso, de vitórias e derrotas. A glória não é de indivíduos ou de setores de opinião, é dos povos, porque são eles os que inventam, criam as inéditas formas de luta que permitem superar os problemas e sustentam qualquer mudança. E sobretudo há que continuar a sorrir, e a sorrir lutando e a lutar sorrindo por uma nova cultura, de paz, vida e justiça.

Bom 2008 para todos!

Pietro Lora Alarcón, advogado colombiano, é professor da PUC-SP.

Ornete Coleman - New York is Now!

Ornette Coleman é conhecido como o saxofonista que libertou o jazz de sua estrutura convencional, ele foi o criador do estilo Free Jazz. Nascido em 9 de março de 1930 em Fort Worth, Texas, começou a tocar sax alto aos 14 anos. Na década de 50, formou em Los Angeles um grupo com o trompetista Don Cherry e o baterista Billy Higgins. Em 59, os três foram para Nova York, onde formaram um clássico quarteto com Charlie Haden no contrabaixo. Em 69, ele formou outro grupo com Haden, Blackwell, o saxofonista tenor Dewey Redman e seu filho Denardo Coleman. Durante alguns anos, pesquisou e gravou música indiana, africana e árabe. Em 75, formou a banda elétrica Prime Time, com duas guitarras, dois baixos e duas baterias. Começou a chamar atenção do público roqueiro, o que se consolidou com o LP "Song X", gravado com Pat Metheny em 85. Nos anos 80 e 90, ele escreveu, tocou e gravou peças sinfônicas. Nos últimos anos, vem produzindo menos. O CD mais recente, "Sound Grammar", de 2006, traz um quarteto de formação atípica: sax, percussão e dois contrabaixos.


Capa Original

Ornete Coleman - New York is Now!
1. The Garden Of Souls
2. Toy Dance
3. Broadway Blues
4. Broadway Blues (Alternate Take)
5. Round Trip
6. We Now Interrupt For A Comercial

Créditos: TrabalhoMental - Kryz


Para baixar: clique aqui

Wes Montgomery - Down Here On The Ground (1968)

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Wes Montgomery - Down Here On The Ground (1968)
MP3
320Kbps
Cover Scans
R.com: 80mb
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Wes Montgomery's guitar voice is one of the most distinctive in today's music. On this album Montgomery's talent ranges over a spectrum that encompasses movie themes, an old standard, a bossa nova, contemporary pop, and some of his own soulful originals.

Personnel:
Wes Montgomery - guitar
Ron Carter - bass
Grady Tate - drums
Herbie Hancock - piano

Tracks:
1. Wind Song
2. Georgia On My Mind
3. The Other Man's Grass Is Always Greener
4. Down Here On The Ground
5. Up And At It
6. Goin' On To Detroit
7. I Say A Little Prayer
8. When I Look in Your Eyes
9. I Know It All
10. The Fox

Download abaixo
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quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

The Phantom of the Opera, 1925






Tipo de Arquivo: RMVB
Tamanho: 334MB
Qualidade: Excelente
Audio: Mudo (com escritas em inglês e Musicas adicionadas em 1929)
Legenda: Português (embutida)

O Fantasma da Ópera (The Phantom of The Opera, EUA, 1925)

Diretor: Rupert Julian
Roteiro: Gaston Leroux
Produção: Carl Laemmle
Maquiagem: Lon Chaney
Elenco: Lon Chaney (Erik, O Fantasma), Mary Philbin (Christine Daae), Norman Kerry (Vicomte Raoul de Chagny), Arthur Edmund Carewe (Ledoux), Gibson Gowland (Simon Buquet), John St. Polis (Comte Philip de Chagny) e Mary Fabian (Carlotta)
Ano: 1925
Duração: 95min
Gênero: Clássico/Terror

Créditos: Forum - Gustavo Nightmare

Sinopse
Considerado por muitos como o primeiro grande filme de horror, e sem sombra de dúvidas, o melhor do período do cinema mudo. Esta é a versão do Fantasma da Ópera, estrelada por Lon Chaney, o Homem das Mil Faces. Chaney é Erik, o desfigurado e horrível fantasma que ameaça as pessoas nas catacumbas do Teatro da Ópera de Paris. Quando Erik se apaixona pela bela atriz Christine Daee, ele a seqüestra e a leva para o subsolo do teatro. Então, o destino lhe reserva um desfecho inesperado no confronto com o noivo Christine, Raoul, e a polícia.

LINKS
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Fotos
















CURIOSIDADES

Este filme quando lançado, causou um grande choque no público do mundo inteiro, muitas pessoas cardíacas infartaram, ao ver a terrível maquiagem de Chaney, feita por ele mesmo.

Esta versão permanece como um marco da "Golden Age of Hollywood", imbatível até hoje. Impressionante e belo, obra-prima indiscutível.

Considerado o primeiro grande sucesso dos estúdios Universal e um dos primeiros monstros do estúdio, sucedidos por Drácula, Frankenstein, Homem-Invisível, Múmia, Lobisomen e Monstro da Lagoa Negra.

Filmado em 1925, o filme foi relançado 4 vezes nos anos seguintes sempre com modificações, sendo a última, em 1929, sonorizada com algumas falas e música.

A cena do Teatro onde o Fantasma aparece com sua máscara de caveira foi colorizada quadro a quadro à mão na época.


1976 - Falso Brilhante





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Faixas:

1. Como nossos pais (Belchior)
2. Velha roupa colorida (Belchior)
3. Los hermanos (A.Yupanqui)
4. Um por todos (Aldir Blanc - João Bosco)
5. Fascinação (Fascination) (Feraudy - Marchetti)
6. Jardins de infância (Aldir Blanc - João Bosco)
7. Quero (Thomas Roth)
8. Gracias a la vida (Violeta Parra)
9. O cavaleiro e os moinhos (Aldir Blanc - João Bosco)
10. Tatuagem (Ruy Guerra - Chico Buarque)

Créditos: ElisDiscografia
A doença da pressa


Aos vinte anos ninguém se sente integralmente feliz. A plenitude de sua juventude é ofuscada pela ilusão de que os dias do futuro serão mais iluminados, e repletos de conquistas e de sucesso. Na juventude temos todos os sonhos do mundo. E todos estão projetados para os dias do porvir. Só quando chegam os cansaços da velhice, percebemos que só fomos felizes quando estivemos presentes naquilo que vivíamos, sentindo o sabor e a verdade de cada instante, sem nada lamentar ou desejar. Só então, ao acordar do pesadelo de só viver na irrealidade dos sonhos, nos damos conta de que aos vinte anos éramos felizes e não sabíamos.

Ao estendermos a mão para ligar a luz do entendimento, toda escuridão da ignorância se apaga. Então nos damos conta de que nossa ansiedade nos fez viver sempre no futuro, nunca no presente, em que a vida acontece. Desejar, projetar, vivendo em permanente insatisfação e expectativa, passou a ser o vício mortal de quem só vive no passado ou no futuro – jamais no Agora, o único tempo em que a vida pode ser vivida. O medo não seria o pão de pânico de cada dia, se o homem confiasse no homem “como um menino confia em outro menino”. Ou se não fosse nosso hábito insano e trágico de tomar as pessoas de assalto, com nossos desejos bárbaros de posse e de conquista. Poderíamos viver em profunda simplicidade, se não fossemos movidos por tantos desejos vazios, em um querer insaciável de pobres personas de espírito amputado.

“Onde você vai/com tanta pressa/com tanto medo/ com tanto ódio”. Assim diz a letra de uma canção popular, que tem como a doença da pressa, que a tantas trombadas e descaminhos nos leva. Sim, não há como negar: a doença da pressa nos envelhece porque nos amarra ao tempo ilusório da ansiedade inútil. Melhor então é cantar o fulgor do Agora, “enquanto os pássaros cantam, lá fora”. Henry David Thoreau nos deu, com o clássico Walden, lições de como se pode ser feliz, vivendo em profunda simplicidade.

E isto não implica em fazer cursos ou viagens dispendiosas, pois que consiste apenas em renunciar a tudo o que não é essencial à nossa existência. Estranhamente, quem receita para si a paz e a leveza dos simples, passa a viver em abundância – nada lhe falta, uma vez que pode prescindir de trivialidade e superfluidades que só nos entulham de coisas e objetos de que não precisamos; ao pensar que não poderíamos passar sem eles, apenas fomos iludidos por nossos desejos vazios. E assim passamos a viver em silencioso desespero, como os que empenham todas as suas energias em ganhar mais e mais dinheiro, para ter de gastá-lo depois com os profissionais de saúde.

Viver em simplicidade não significa viver em pobreza. A simplicidade é requintada e poderosa, uma vez que as pessoas que adotam este estilo de vida não vivem para a aprovação do olhar dos outros. Fazem o que gostam, e como gostam, sem cultivar falsas necessidades. No mundo inteiro vê-se pessoas deixando no caminho o saco de tijolos do sofrimento inútil, dentro do qual um dos itens que mais pesa é o da doença da pressa. Pressa em chegar primeiro em uma corrida em que o prêmio é a neurose, que antecede as doenças e a morte.




Brasigóis Felício, É goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.



Negação do Holocausto na Casa Branca


Com quanta força tombam os poderosos! O rei cruzado que apontaria sua espada contra as forças da Treva e do Mal, aquele que disse só existir "ou eles ou nós", que proclamou um conflito eterno contra o "mundo do terror" e em nosso benefício...mostrou ser, bem, um covarde. Um punhado de generais turcos e uma multimilionária campanha de relações públicas em favor dos negadores do Holocausto Armênio transformaram o leão em um cordeiro.


Por Robert Fisk*



Nem mesmo um cordeiro, pois por sua natureza esse animal é também um símbolo da inocência, mas um camundongo, essa diminuta criatura que só de longe pode ser confundida com um rato. Estou exagerando? Penso que não.


O "histórico do caso" é bem conhecido. Em 1915, as autoridades turco-otomanas promoveram um sistemático genocídio contra 1,5 milhão de cristãos armênios. Existem fotos, informes diplomáticos, documentação original otomana, todo o processo de um julgamento após a 1ª Guerra Mundial, um massudo relatório de Winston Churchill e Lloyd George ao Foreign Office britânico em 1915-1916 para provar que tudo é verdade.


Até um filme emerge agora – um arquivo de tomadas feitas por cameramen militares durante a 1º Guerra – para mostrar que o primeiro Holocausto do século 20 – perpetrado diante de oficiais alemães que mais tarde aperfeiçoariam os seus métodos para o extermínio de 6 milhões de judeus – foi tão real como proclamam os seus pouco numerosos sobreviventes.


Mas os turcos não nos deixam dizer isso. Eles chantageiam as potências ocidentais – entre eles o nosso governo britânico e agora também o dos Estados Unidos, para que avalizem suas desavergonhadas negativas. Isso inclui (cansei-me de repeti-lo, porém as agências e governos temem a fúria de Ancara) a quimera de que os armênios morreram "numa guerra civil", pois estavam colaborando com os inimigos russos da Turquia, que não morreram tantos armênios como se tem dito, que sucumbiu um igual número de turcos muçulmanos.


Agora o presidente Bush e o Congresso dos EUA seguem adiante com essas mentiras. Houve, brevemente, um momento em que Bush poderia ter se agigantado, quando a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes votou, no mês passado, pela condenação da chacina em massa de armênios como um ato de genocídio. Antigos sobreviventes armênio-americanos se concentraram em um debate na Casa para ouvir o debate. Porém assim que os fossilizados generais turcos começaram a ameaçar Bush eu soube que ele recuaria.


Ouçam, primeiro, o general Yasar Buyukanit, comandante das forças armadas turcas, numa entrevista para o jornal Milliyet. Ele disse que a aprovação da resolução na Câmara foi "triste e penosa", em vista dos "fortes vínculos" que a Turquia mantém com seus parceiros da Otan. E se a resolução passar pelo plenário da Câmara de Representantes, então "nossas relações militares com os EUA nunca mais serão como no passado... Os EUA, neste particular, deram um tiro no pé".


Agora escutem Bush reagir imediatamente diante do general turco. "Todos nós lamentamos profundamente o trágico sofrimento (sic) do povo armênio, mas essa resolução não é a resposta acertada para esses massacres em massa históricos. Sua aprovação causaria grande dano a nossas relações com um aliado-chave no plano da Otan e da guerra contra o terror."


Gostei do trecho final, sobre a "guerra contra o terror". Ninguém – exceto os judeus da Europa – sofreu mais "terror" que os rudes armênios da Turquia em 1915. Mas aí a Otan valeria mais que a integridade histórica. A Otan algum dia poderia vir a ser tão importante a ponto dos Bush relativizarem o Holocausto judeu, visando aplacar uma Alemanha militarmente ressurgida e m cuja cúpula pudesse haver brotos de inclinação revisionista.


Entre os homens que deveriam ocultar os rostos envergonhados estão aqueles que dizem estar vencendo a Guerra do Iraque. Estes incluem o cada vez mais desorientado general David Petraeus, comandante dos EUA no país ocupado, e o cada vez mais desiludido embaixador dos EUA em Bagdá, Ryan Crocker – ambos tendo advertido que a aprovação do projeto sobre o genocídio armênio iria "afetar o esforço de guerra no Iraque". E, não se enganem, existe dinheiro grosso por trás desse lastimável episódio da negação do Holocausto.


O ex-representante Robert L Livingston, um democrata de Louisiana, já abocanhara US$ 12 milhões dos turcos para sua campanha, por duas tentativas anteriores e bem-sucedidas de prevenir a causa da justiça moral, abrandando resoluções do Congresso. Ele escoltou pessoalmente os militares turcos à Colina do Capitólio, para que ameaçassem os congressistas. Eles foram direto ao ponto: caso a resolução prosperasse, negariam aos EUA o acesso à Base Aérea de Incirlik, por onde passa 70% do material enviado por via aérea dos EUA para o Iraque através da Turquia.

Na vida real isto se chama chantagem – e por isso Bush cedeu. O secretário de Defesa, Robert Gates, chegou a ser ainda mais pusilâmine, embora naturalmente sem se preocupar com os detalhes da história. Petraeus e Crocker, afirmou, "acreditam claramente que o acesso aos aeroportos e rodovias na Turquia seria submetido a sério risco caso essa resolução passe"...


Que terrível ironia cometeu Gates, pois foi por essas mesmas estradas que caminharam centenas de milhares de armênios em suas marchas da morte de 1915. Muitos eram forçados a subir em caminhões de gado que os conduziam à morte. Uma das linhas férreas onde eles viajaram passava a leste de Adana – até um ponto de concentração desses cristãos condenados ao extermínio na Armênia Ocidental, e a primeira estação de trem se chamava Incirlik, a mesma Incirlik que hoje abriga a grande base aérea que Bush tanto teme perder.


Caso o genocídio que Bush se nega a reconhecer não tivesse acontecido – como alegam os turcos –, os americanos estariam pedindo aos armênios para usar Incirlik. Ainda está viva – em Sussex, Inglaterra, se alguém se incomodar em procurá-la – uma anciã armênia sobrevivente dessa região, que relata os gendarmes turco-otomanos abrindo fogo contra uma pilha de bebês armênios da estrada perto de Adana. São as mesmas estradas que tanto preocupam o covarde Gates.


Mas não temam. Mesmo que os turcos tenham assustado Bush até a raiz dos cabelos, ele continua a querer exigir contas dos todo-poderosos persas. As pessoas, argumenta, deveriam se empenhar em impedir o Irã de adquirir conhecimentos quanto ao fabrico de artefatos nucleares, se é que estão "interessados em prevenir uma 3º Guerra Mundial", advertiu o presidente. Que disparate. Bush não tem sequer a coragem de dizer a verdade sobre a 1ª Guerra.


Quem haveria de pensar? O líder do Mundo Ocidental – ele que nos protegeria contra o "mundo do terror" – haveria de ser o David Irving da Casa Branca... ( David Irving, desmoralizado historiador britânico que negou o Holocausto judeu e cumpriu uma pena de prisão na Áustria por enaltecer o regime nazista).


* Correspondente em Beirute dos jornais Independent (Reino Unido) e La Jornada (México)





Uma outra Colômbia é possível

Emir Sader

Me lembro da preocupação de Garcia Marquez, quando via o que estava acontecendo na Argentina, por volta de 1977, de que a Colômbia não se transformasse numa outra Argentina. Ele ainda não havia recebido o Prêmio Nobel, elevando o nome do país à escala mundial, para que se desse conta do caminho em que havia enveredado a Colômbia.

Três décadas depois, a Colômbia continua a ser um dos epicentros da “guerra infinita” do governo Bush. Álvaro Uribe é produto dessa política, o aliado mais estreito, dos poucos com que conta a política belicista de Washington na América Latina. Uribe se elegeu com a promessa da famosa “mão dura”, a busca de uma solução “iraquiana”, “bushiana”, para a Colômbia, considerando que as tentativas dos presidentes anteriores de pacificação mediante negociações, haviam fracassado.

Um país cansado da violência, viu um presidente conivente com os grupos paramilitares e, através deles, com os cartéis do narcotráfico, concentrar os recursos militares colocados à sua disposição pelo governo estadunidense, em operações militares, supostamente como via de triunfo da democracia no país. O isolamento das guerrilhas favoreceu a consolidação de Uribe que – tal como outros presidentes neoiberais do continente, como Fujimori e Cardoso – mudou a Constituição do país durante seu mandato, para se reeleger – e agora tenta conseguir um terceiro mandato.

Fez uma política interna ortodoxamente neoliberal, sem se dar conta do seu esgotamento em todos os países do continente. Levou à prática uma política repressiva que afetou claramente os direitos democráticos da população, contando – como acontece com todas as políticas anti-populares no continente – com o apoio da grande mídia oligárquica. Isolou-se dos processos de integração regional, tentou assinar um tratado de livre comércio com os EUA, só nó conseguindo pelas restrições que o Partido Democrata levantou sobre as precaríssimas condições dos direitos humanos na Colômbia sob sua presidência.

Uribe não quer que se concretize a troca entre prisioneiros das Farc com prisioneiros do seu governo. Seu apoio interno depende da diabolizaçao das Farc, que lhe permite aparecer como o homem da “ordem”. Quando se reelegeu, Uribe teve como principal opositor a Carlos Gaviria, candidato do Polo Democrático, partido de esquerda, que desbancou os partidos Liberal e Conservador, apresentando-se como a maior ameaça à continuidade de Uribe. Nas recentes eleições municipais, de outubro, o governo perdeu nas principais cidades – como Bogotá, novamente conquistada pelo Polo Democrático, Medellin e Cali – para candidatos de esquerda. Revela-se assim como nas políticas governamentais em geral Uribe – que apoiou os candidatos perdedores – não conta com apoio popular, precisando da polarização com as guerrilhas para tentar se perpetuar na presidência do país. Uribe nasceu da violência e sabe que sua sobrevivência política depende de que a violência não termine.

A tentativa de desbloquear a proposta das Farc de troca de presos da guerrilha por presos do governo revela o papel de cada governo do continente, mostra quem quer soluções pacíficas, democráticas, para as crises e quem deseja perpetuar a espiral de violência na Colombia. A situação pôde ser desbloqueada graças à atuação do presidente da Venezuela, Hugo Chavez. Quando o processo avançava, Uribe usou um pretexto secundário para excluir a Chavez da negociação, sabendo que a intermediação deste já havia demonstrado a credibilidade necessária para que o acordo pudesse avançar. Conta com a confiança dos familiares dos presos, com interlocução com as Farc, com capacidade de iniciativa e com a simpatia de setores políticos democráticos da Colômbia e de muitos governos da região.

As Farc recolocaram o presidente venezuelano nas negociações, a contragosto de Uribe, dispondo-se a entregar três dos detidos a Chavez, como forma de desagravo a este, pela atitude arbitrária do presidente colombiano. Esse primeiro gesto, que abre caminho para que todos os presos possam ser trocados, permitiu que Chavez confirmasse toda sua capacidade de iniciativa política e de mobilização de apoios, revelando o papel de cada um no continente.

Enquanto o governo estadunidense, o colombiano e toda a grande imprensa oligárquica faziam tudo o que podiam para que as negociações fracassassem, os governos da Venezuela, do Brasil, da Argentina, da Bolívia, de Cuba, do Equador – com apoio de governos europeus -, participam ativamente do processo de pacificação e de libertação dos presos dos dois lados. (A cobertura da imprensa brasileira é vergonhosa, sem que nenhuma publicação escrita tivesse mandado jornalistas para fazer a cobertura direta na Colômbia.)

Nestor Kirchner e Marco Aurélio Garcia foram representar diretamente os governos dos seus países, fazendo-se merecedores do apoio da esquerda e de todos os setores democráticos que, no entanto, até aqui, assistem passivamente aos acontecimentos.

Revelando seu compromisso conseqüente com a pacificação da Colômbia, primeiro passo para que uma outra Colômbia – sem violência, sem narcotráfico, sem paramilitares, sem seqüestros – seja possível, Hugo Chavez se dispõe a dar seqüência às tratativas, apelando inclusive a operações clandestinas, com o objetivo de conseguir a liberdade dos presos.

Da sorte dessas negociações depende o destino e futuro da Colômbia. Um futuro de pacificação, soluções negociadas, democratização e integração continental ou a perpetuação do clima de violência e de guerra. Pela primeira alternativa está a grande maioria dos governos da região, que podem contar com a simpatia da maioria do povo colombiano, identificado com os familiares dos presos. Pela segunda, estão os EUA e o governo colombiano. Uma solução de libertação de todos os seqüestrados aponta para uma outra Colômbia possível e necessária, para seu povo e para todo o continente.

GEORGE HARRISON - Cloud Nine








Tracks
01 - Cloud Nine
02 - That's What It Takes
03 - Fish On The Sand
04 - Just For Today
05 - This Is Love
06 - When We Was Fab
07 - Devil's Radio
08 - Someplace Else
09 - Wreck Of The Hesperus
10 - Breath Away From Heaven
11 - Got My Mind Set On You

Créditos: JimiHendrixForever