sábado, 5 de janeiro de 2008

E ainda falam mal de Cuba...

Mortalidade infantil cubana foi menor que a dos EUA em 2007


Cuba concluiu 2007 com uma taxa de mortalidade infantil de 5,3 menores de um ano falecidos por cada mil nascidos vivos, cifra que coloca o país como o mais avançado da América Latina nesse quesito. Esse número representa o menor índice atingido pela ilha e só é comparável no continente americano à obtida pelo Canadá.


De acordo com estatísticas expostas no Estado Mundial da Infância 2007, publicado pelas Nações Unidas, a taxa de mortalidade infantil a nível mundial é de 52 e a de América Latina 26, enquanto a dos Estados Unidos coloca-se em 6.


Os números anteriores contrastam com as 108 mortes por cada mil nascimentos vivos que se produziram na África ocidental. A partir de dados oferecidos pelo Programa de Atenção Materno Infantil e do Ministério da Saúde Pública, o jornal Granma assinala que seis das 14 províncias cubanas atingiram uma taxa abaixo da média nacional. Lugar preferencial tiveram Sancti Spíritus com 4,1 e Camagüey com 4,2.


A publicação acrescenta que 21 municípios da ilha fecharam no ano anterior com zero mortalidade infantil. Do total de nascidos – 1.102 a mais que em 2006 –, houve 592 falecidos devido fundamentalmente a afecções pré-natais, anomalias congênitas e infecções, indicaram as fontes.


Além da baixa taxa de mortalidade infantil, em Cuba durante o 2007 só morreram 21 mães por cada 100 mil nascimentos – no mundo foram anunciadas 400 em igual quantidade de partos.


Os baixos índices de mortalidade infantil e materna sustentam-se no estabelecimento de um sistema de saúde acessível e gratuito para toda a população, sem exceções, desde o início da Revolução de 1º de janeiro de 1959.


Em Cuba, de forma programada os meninos sãos são vistos na consulta de Puericultura 12 vezes no ano, contam com os exames de um geneticista e recebem imunização contra 12 doenças previsíveis.


Fonte: Agência Cubana de Notícias

Clara Nunes - Clara Clarice Clara - 1972 - Vinil


1-Sempre Mangueira
(Geraldo Queiroz - Nelson Cavaquinho)
2-Seca do nordeste
(Gilberto Andrade - Waldir de Oliveira)
3-Alvorada no morro
(Carlos Cachaça - Cartola - Hermínio Bello de Carvalho)
4-Tempo à bessa
(João Nogueira)
5-Morena do mar
(Dorival Caymmi)
6-Ilu aye [Terra da vida]
(Norival Reis - Cabana)
7-Opção
(Gisa Nogueira)
8-Anjo moreno
(Candeia)
9-Tributo aos Orixás
(Ruben Tavares - Mauro Duarte)
10-Último pau-de-arara
(J.Guimarães - Venâncio - Corumba)
• Vendedor de caranguejo
(Gordurinha)
11-Clarice
(Capinan - Caetano Veloso)
12-Sou fiho do rei
(Fernando Lobo - João Mello)
13-Tempo de partir
(Sergio Knapp)
14-Ave Maria dos Retirantes
(Alcivando Luz - Carlos Coqueijo)
15-Visão geral
(César Costa Filho - Ronaldo Monteiro - Ruy Maurity)

Créditos: CápsulaDaCultura

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Fahrenheit 451, François Truffaut






Formato: rmvb
Áudio: Inglês
Legendas: Português/BR
Duração: 1:52
Tamanho: 446 MB
Dividido em 05 Partes
Servidor: Rapidshare


Créditos: Fórum - Eudes Honorato


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Sinopse: em um Estado totalitário em um futuro próximo, os "bombeiros" têm como função principal queimar qualquer tipo de material impresso, pois foi convencionado que literatura é um propagador da infelicidade. Mas Montag (Oskar Werner), um bombeiro, começa a questionar tal linha de raciocínio quando vê uma mulher preferir ser queimada com sua vasta biblioteca ao invés de permanecer viva.

Baseado em livro de Ray Bradbury.


Elenco:

Oskar Werner (Guy Montag)
Julie Christie (Linda / Clarisse)
Cyril Cusack (Capitão)
Anton Diffring (Fabian)
Anna Palk (Jackie)
Ann Bell (Doris)
Caroline Hunt (Helen)
Jeremy Spenser
Bee Duffell
Alex Scott
Michael Balfour


Screen Shots:







Jimi Henrix- Live at Woodstock '69

Pat Metheny - Parallel Universe (2001)

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Pat Metheny - Parallel Universe (2001)
MP3
320Kbps
Covers
RS.com: 87mb
Uploader: redbhiku

Pat Metheny and the Heath Brothers, live.

Personnel:
Pat Metheny / Guitar, Guitar Synth, Guitar (Electric)
Percy Heath / Bass
Albert "Tootie" Heath / Drums
Jimmy Heath / Sax (Tenor)

Tracks:
1. Guitar Improvisation
2. All The Things You Are
3. Move To The Groove
4. Sassy Samba
5. Artherdoc

Download abaixo:
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Casuarina - Certidão (2007)




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sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Filme nacional

O Assalto ao Trem Pagador, Roberto Farias




Formato: rmvb
Áudio: Português
Legendas: S/L
Duração: 1:42
Tamanho: 641 MB
Dividido em 08 Partes
Servidor: Rapidshare


Créditos: Fórum - Eudes Honorato



Sinopse: gangue de bandidos liderada pelo temível Tião Medonho organiza e executa um roubo a um trem (comboio) de pagamentos. Enquanto a polícia chega a suspeitar de uma quadrilha de bandidos internacionais pela ousadia do plano, os assaltantes se misturam à realidade da pobreza e da violência brasileiras.

Baseado num caso real ocorrido no Rio de Janeiro em 1960. O bando do Tião Medonho atacou e assaltou o trem pagador da Central do Brasil, entre Japeri e Paes Leme, explodindo os trilhos com dinamite. Armados de revólveres e metralhadoras, seis assaltantes levaram 27 milhões de cruzeiros e mataram um homem.


Elenco:

* Reginaldo Faria .... Grilo Peru
* Grande Otelo .... Cachaça
* Eliezer Gomes .... Tião Medonho
* Jorge Dória .... delegado
* Ruth de Souza .... Judith
* Luiza Maranhão .... Zulmira
* Helena Ignez .... Marta
* Átila Iório .... Tonho
* Ruth de Souza .... Judith
* Miguel Rosenberg .... Edgar
* Dirce Migliaccio ....esposa de Edgar
* Clementino Kelé .... Lino



Screen Shots:









Eduardo Galeano...

O paradoxo andante

por Eduardo Galeano

Cada dia, ao ler os diários, assisto a uma aula de história. Os diários ensinam-me pelo que dizem e pelo que calam. A história é um paradoxo andante. A contradição move-lhe as pernas. Talvez por isso os seus silêncios dizem mais que suas palavras e muitas vezes as suas palavras revelam, mentindo, a verdade.

Dentro em breve será publicado um livro meu chamado Espejos. É algo assim como uma história universal, e desculpem o atrevimento. "Posso resistir a tudo, menos à tentação", dizia Oscar Wilde, e confesso que sucumbi à tentação de contar alguns episódios da aventura humana no mundo do ponto de vista dos que não saíram na foto. Pode-se dizer que não se trata de fatos muito conhecidos. Aqui resumo alguns, apenas uns poucos.

Quando foram desalojados do Paraíso, Adão e Eva mudaram-se para África, não para Paris.

Algum tempo depois, quando seus filhos já se haviam lançado pelos caminhos do mundo, foi inventada a escrita. No Iraque, não no Texas.

Também a álgebra foi inventada no Iraque. Foi fundada por Mohamed al Jwarizmi , há mil e duzentos anos, e as palavras algoritmo e algarismo derivam do seu nome.

Os nomes costumam não coincidir com o que nomeiam. No British Museum, por exemplo, as esculturas do Partenon chamam-se "mármores de Elgin", mas são mármores de Fídias. Elgin era o nome do inglês que as vendeu ao museu.

As três novidades que tornaram possível o Renascimento europeu, a bússola, a pólvora e a imprensa, haviam sido inventadas pelos chineses, que também inventaram quase tudo o que a Europa reinventou.

Os hindus souberam antes de todos que a Terra era redonda e os maias haviam criado o calendário mais exato de todos os tempos.

Em 1493, o Vaticano presenteou a América à Espanha e obsequiou a África negra a Portugal, "para que as nações bárbaras sejam reduzidas à fé católica". Naquele tempo a América tinha quinze vezes mais habitantes que a Espanha e a África negra cem vezes mais que Portugal. Tal como havia mandado o Papa, as nações bárbaras foram reduzidas. E muito.

Tenochtitlán, o centro do império azteca, era de água. Hernán Cortés demoliu a cidade pedra por pedra e, com os escombros, tapou os canais por onde navegavam duzentas mil canoas. Esta foi a primeira guerra da água na América. Agora Tenochtitlán chama-se México DF. Por onde corria a agua, agora correm os automóveis.

O monumento mais alto da Argentina foi erguido em homenagem ao general Roca, que no século XIX exterminou os índios da Patagônia.

A avenida mais longa do Uruguai tem o nome do general Rivera, que no século XIX exterminou os últimos índios charruas.

John Locke, o filósofo da liberdade, era acionista da Royal Africa Company , que comprava e vendia escravos.

No momento em que nascia o século XVIII, o primeiro dos bourbons, Felipe V, estreou o seu trono assinando um contrato com o seu primo, o rei da França, para que a Compagnie de Guinée vendesse negros na América. Cada monarca ficava com 25 por cento dos lucros.

Nomes de alguns navios negreiros: Voltaire, Rousseau, Jesus, Esperança, Igualdade, Amizade.

Dois dos Pais Fundadores dos Estados Unidos desvaneceram-se na névoa da história oficial. Ninguém se recorda de Robert Carter nem de Gouverner Morris . A amnésia recompensou os seus atos. Carter foi a única personalidade eminente da independência que libertou seus escravos. Morris, redator da Constituição, opôs-se à cláusula estabelecendo que um escravo equivalia às três quintas partes de uma pessoa.

"O nascimento de uma nação" , a primeira super-produção de Hollywood, foi estreado em 1915, na Casa Branca. O presidente, Woodrow Wilson, aplaudiu-a de pé. Ele era o autor dos textos do filme, um hino racista de louvação à Ku Klux Klan.

Algumas datas: Desde o ano 1234, e durante os sete séculos seguintes, a Igreja Católica proibiu que as mulheres cantassem nos templos. As suas vozes eram impuras, devido àquele caso da Eva e do pecado original.

No ano de 1783, o rei da Espanha decretou que não eram desonrosos os trabalhos manuais, os chamados "ofícios vis", que até então implicavam a perda da fidalguia.

Até o ano de 1986 foi legal o castigo das crianças, nas escolas da Inglaterra, com correias, varas e porretes.

Em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, em 1793 a Revolução Francesa proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

A militante revolucionária Olympia de Gouges propôe então a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã . A guilhotina cortou-lhe a cabeça.

Meio século depois, outro governo revolucionário, durante a Primeira Comuna de Paris, proclamou o sufrágio universal. Ao mesmo tempo, negou o direito de voto às mulheres, por unanimidade menos um: 899 votos conta, um a favor.

A imperatriz cristã Teodora nunca disse ser uma revolucionária, nem nada que se parecesse. Mas há mil e quinhentos anos o império bizantino foi, graças a ela, o primeiro lugar do mundo onde o aborto e o divórcio foram direitos das mulheres.

O general Ulisses Grant , vencedor da guerra do Norte industrial contra o Sul escravocrata, foi a seguir presidente dos Estados Unidos. Em 1875, respondendo às pressões britânicas, respondeu: –Dentro de duzentos anos, quando tivermos obtido do protecionismo tudo o que ele nos pode proporcionar, também nós adotaremos a liberdade de comércio. Assim, pois, nos de 2075, o país mais protecionista do mundo adotará a liberdade de comércio.

"Botinzito" foi o primeiro cão pequinês que chegou à Europa. Viajou para Londres em 1860. Os ingleses batizaram-no assim porque era parte do botim extorquido à China no fim das longas guerras do ópio . Vitória, a rainha narcotraficante, havia imposto o ópio a tiros de canhão.
A China foi convertida num país de drogados, em nome da liberdade, a liberdade de comércio.

Em nome da liberdade, a liberdade de comércio, o Paraguai foi aniquilado em 1870. Ao cabo de uma guerra de cinco anos, este país, o único das Américas que não devia um centavo a ninguém, inaugurou a sua dívida externa. Às suas ruínas fumegantes chegou, vindo de Londres, o primeiro empréstimo. Foi destinado a pagar uma enorme indenização ao Brasil, Argentina e Uruguai. O país assassinado pagou aos países assassinos, pelo trabalho que haviam tido a assassiná-lo.

O Haiti também pagou uma enorme indenização. Desde que, em 1804, conquistou a sua independência, a nova nação arrasada teve que pagar à França uma fortuna, durante um século e meio, para espiar o pecado da sua liberdade.

As grandes empresas têm direitos humanos nos Estados Unidos. Em 1886, a Suprema Corte de Justiça estendeu o direitos humanos às corporações privadas, e assim continua a ser. Poucos anos depois, em defesa dos direitos humanos das suas empresas, os Estados Unidos invadiram dez países, em diversos mares do mundo.

Mark Twain, dirigente da Liga Antiimperialista, propôs então uma nova bandeira, com caveirinhas em lugar de estrelas. E outro escritor, Ambroce Bierce, confirmou: –A guerra é o caminho escolhido por Deus para nos ensinar geografia.

Os campos de concentração nasceram na África. Os ingleses iniciaram o experimento, e os alemães desenvolveram-no. Depois disso Hermann Göring aplicou na Alemanha o modelo que o seu papa havia ensaiado, em 1904, na Namíbia. Os professores de Joseph Mengele haviam estudado, no campo de concentração da Namíbia, a anatomia das raças inferiores. As cobaias eram todas negras.

Em 1936, o Comitê Olímpico Internacional não tolerava insolências. Nas Olimpíadas de 1936, organizadas por Hitler, a seleção de futebol do Peru derrotou por 4 a 2 a seleção da Áustria, o país natal do Führer. O Comitê Olímpico anulou a partida.

A Hitler não lhe faltaram amigos. A Rockefeller Foundation financiou investigações raciais e racistas da medicina nazi. A Coca-Cola inventou a Fanta, em plena guerra, para o mercado alemão. A IBM tornou possível a identificação e classificação dos judeus, e essa foi a primeira façanha em grande escala do sistema de cartões perfurados. (...)

O original encontra-se em http://www.pagina12.com.ar/diario/sociedad/3-96843-2007-12-30.html
Este excerto encontra-se em http://resistir.info/
Créditos:BlogDoBourdoukan

Bethlehem Christmas cancelled: The Wall must fall

Paquistão...

Paquistão sem Benazir, as ilusões do Ocidente

Tariq Ali

Quase todas as suposições de Bush, Negroponte e seus acólitos eram baseadas em fatos sistemática e seletivamente retocados, distorcidos ou exagerados, a fim de evitar qualquer responsabilidade ocidental na crise do Paquistão. Agora que Pervez Musharraf fracassou no seu papel de homem chave dos EUA, estes podem mudar de peão este ano e voltar a depositar as suas esperanças no general Ashfaq Kayani, que já substituiu Musharraf como chefe do exército.


"Os casamentos arranjados podem ser um problema complicado. Concebidos primordialmente como instrumento de acumulação de riquezas, eles não servem para superar indesejáveis discussões amorosas nem para evitar aventuras amorosas clandestinas. Se é notório que os contraentes se detestam mutuamente, só um pai desapiedado, de sensibilidade embotada pela perspectiva do lucro imediato, insistirá num processo, cujo infeliz desfecho conhece perfeitamente. Que isto também é válido na vida política, é coisa que foi cristalinamente revelado pela recente tentativa de Washington de unir Benazir Bhutto e Pervez Musharraf. Quem fez o papel de firme e decidido pai único foi um desesperado Departamento de Estado – com John Negroponte no papel de diabólico intermediário e Gordon Brown no de cortesã amuada – assaltado pelo medo de não conseguir se impor aos noivos potenciais e ficar demasiado velho para se reciclar."


Escrevi este parágrafo inicial no longo ensaio para a London Review of Books no começo de dezembro. Que a violência tenha chegado a este ponto não me surpreende. O choque inicial do assassinato de Benazir Bhutto vai ficando para trás e torna-se necessária avaliar desapaixonadamente as suas prováveis conseqüências, evitando a piedade que invade as páginas dos grandes meios de comunicação globais. Praticamente tudo o que se escreve nos jornais ou mostram as televisões é enganoso e dir-se-ia concebido para eludir a discussão do que verdadeiramente está em jogo.


Por que Bush, Negroponte e seus acólitos britânicos estavam tão decididos a aplicar precisamente esse remédio à crise paquistanesa? O que pensavam conseguir? Que "mundo novo" tinham fantasiado?


Quase todas as suas suposições eram baseadas em fatos sistemática e seletivamente retocados, distorcidos ou exagerados, a fim de evitar qualquer responsabilidade ocidental na atual crise. Na medida em que, com pequenas e insignificantes variações, vinham a repetir tudo até à exaustão nos meios de comunicação globais, não será ocioso examinar cada um dos principais argumentos esgrimidos:


a) O Paquistão é um Estado nuclear, o único país muçulmano com armas atômicas e que fez testes nucleares. Se os jihadistas-Al Qaeda pusessem as mãos nessas armas havia o risco de um holocausto nuclear. É preciso apoiar Musharraf porque ele se opõe vigorosamente a essa possibilidade.


Recorde-se que o Paquistão aperfeiçoou o seu armamento nuclear nos anos 80, durante a ditadura do general Zia ul Haq, incondicional aliado de Washington e peça central da então chamada guerra contra o Império do Mal (a URSS) no Afeganistão. Os EUA estavam a tal ponto obcecados com o conflito com os russos que resolveram organizar uma rede jihadista global para recrutar militantes para a guerra santa no Afeganistão e olhar para outro lado face à pouco dissimulada construção dos silos nucleares paquistaneses.


As instalações nucleares estão sujeitas a um controle militar muito rígido. Não há a menor possibilidade de que um grupo extremista possa escapar ao controle de um exército de meio milhão de soldados. O Pentágono e a CIA sabem muito bem que a estrutura de comando militar do Paquistão nunca foi derrotada e que os generais dependem do financiamento e do armamento militar norte-americanos. Mês após mês, o exército paquistanês presta contas ao Centcom da Flórida (Comando Central estadunidense para Operações no Estrangeiro) das suas atividades na fronteira afegã. O exército como instituição responde a essas exigências, e não apenas os generais. E Musharraf já não tem a menor legitimidade neste tema pois abandonou o uniforme. Daqui a insistência de Bush para que o processo eleitoral seguisse o seu curso, apesar do boicote massivo, dos processos judiciais paralisados, da caluda dos meios de comunicação, da existência de importantes políticos sob prisão domiciliar e da execução pública da senhora Bhutto. Se Benazir Bhutto tivesse decidido boicotar as eleições (o que significaria romper o acordo com Washington), continuaria viva.


b) O Paquistão é um Estado em bancarrota, à beira do colapso e rodeado de jihadistas decididos e furiosos à espreita. Daí a exigência de uma alternativa não religiosa e o papel de Benazir Bhutto: ajudar Musharraf a conseguir um pouco da legitimidade de que precisa urgentemente.


O Paquistão não é um "Estado fracassado" no sentido em que o são o Congo ou o Ruanda. É um Estado que funciona mal, e nessa condição se manteve durante quase quatro décadas. Às vezes a situação é melhor, às vezes pior. No cerne do seu mau funcionamento está o domínio do país pelo exército, e cada novo governo militar só fez piorar a situação. Foi isso que impediu a estabilidade política e tornou impossível o aparecimento de instituições estáveis. E nisso os EUA têm responsabilidade direta, visto que sempre consideraram – e continuam a considerar – o exército como a única instituição que pode tratar, o pedregulho que contém as agitadas águas da represa.


Economicamente, o país se baseia, desequilibradamente, numa elite corrupta e ultra-rica, mas isso é do agrado do consenso de Washington. Por isso o Banco Mundial sempre foi pródigo em elogios às políticas de Musharraf.


A última crise é a conseqüência direta da guerra e da ocupação do Afeganistão pelas forças da Otan, que desestabilizaram a fronteira noroeste do Paquistão, gerando uma crise de consciência no seio do exército. É triste ser pago para matar camaradas muçulmanos nas áreas tribais fronteiriças entre o Paquistão e o Afeganistão. A conduta arrogante e humilhante dos soldados da Otan não ajuda nada a resolver os problemas entre ambos os países. O envio de tropas estadunidenses para treinar os militantes paquistaneses na contra-insurreição muito provavelmente inflamará ainda mais os ânimos. O Afeganistão só poderá ser estabilizado através de um acordo regional que envolva a Índia, a Rússia, o Irã e o Paquistão e que seja acompanhado da retirada total das tropas da Otan. As tentativas dos EUA para evitar isso reforçam a crise em ambos os países.


Musharraf fracassou no seu papel de homem chave dos EUA no Paquistão. Sua incapacidade em proteger Benazir Bhutto foi mal recebida em Washington, que pode mudar de peão este ano e voltar a depositar as suas esperanças no general Ashfaq Kayani, que já substituiu Musharraf como chefe do exército. Mais difícil será substituir Benazir Bhutto. Os irmãos Sharif não são confiáveis, e estão demasiado próximos dos sauditas. As eleições serão grosseiramente manipuladas, o que lhes retirará qualquer credibilidade. A escura noite está muito longe do fim.


* Escritor e ensaista anglo-paquistanês, editor da New Left Review; este artigo foi originalmente publicado em Sin Permiso (http://www.sinpermiso.info)