quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Crueldade


Crueldade

Bourdoukan

Mais de um milhão e meio de palestinos que vivem em Gaza estão sendo cruelmente punidos pelo “Estado Judeu”.

Pelo menos 800 mil pessoas estão no escuro. A catástrofe está afetando hospitais, clínicas, poços de água, casas, fábricas, enfim, todos os aspectos da vida.

Este ano o inverno está extremamente rigoroso e muita crianças e idosos deverão morrer de frio. É a pior punição coletiva de todo um povo de que se tem registro.


A ONU continua alertando que “o fechamento das fronteiras deve apenas aprofundar a crise que a região já atravessa. E que “a maior parte dos habitantes de Gaza já depende de ajuda humanitária para sobreviver”.

Ainda Segundo a ONU, “a suspensão das operações da principal usina elétrica de Gaza pode ter um impacto devastador sobre a população de cerca de 1,5 milhão de palestinos”.

Essa atitude da ONU comprova mais uma vez a falência da organização. Por muito menos ela aceitou a invasão do Afeganistão, por que não toma a mesma providência em relação a Israel?
FARC EP: UM CARÁTER POLÍTICO IRREFUTÁVEL

Iván Márquez-Integrante do Secretariado do Estado Maior das FARC EP.

TeleSUR

Esta luta vem desde o assassinato político de Jacobo Prías em Gaitania. Do sangue do líder Marquetaliano, tiroteado por agentes do Estado, vêm as FARC. A reclamação de justiça de seus companheiros, encabeçados por Manuel Marulanda Vélez, foi respondida pelo regime frente-nacionalista com o ataque militar a Marquetalia em 1964. E os gringos[1] participaram na agressão.

Desde sua gênese é inquestionável que as FARC surgem como resposta à violência exercida desde o Estado. Desde esse então brilha inextinguível, a causa política de seu alçamento.

Como uma constância histórica do caráter político de sua luta o Programa Agrário dos Guerrilheiros das FARC, proclamado em 20 de julho de 1964, corrigido e ampliado pela Oitava Conferência Nacional de Guerrilheiros, explica:

“Nós somos revolucionários que lutamos por uma mudança de regime. Mas, queríamos e lutávamos por essa mudança usando a via menos dolorosa para nosso povo: a via pacífica, a via democrática de massas. Essa via nos foi fechada violentamente com o pretexto fascista oficial de combater supostas “repúblicas independentes”, e como somos revolucionários que de uma ou outra maneira jogaremos o papel histórico que nos corresponde, tocou-nos procurar outra via: a revolucionária armada para a luta pelo poder”.

“...Por isso as FARC – EP constituíram-se numa organização política militar que recolhe as bandeiras bolivarianas e as tradições libertárias do nosso povo para lutar pelo poder e levar à Colômbia ao exercício de sua soberania nacional e fazer vigente a soberania popular. Lutamos pelo estabelecimento de um regime democrático que garanta a paz com justiça social, o respeito aos direitos humanos e um desenvolvimento econômico com bem-estar para todos aqueles que moramos na Colômbia”.

Com sua estratégia ao novo poder e o fogo de Bolívar na procura da felicidade do povo, as FARC podem proclamar com o Libertador que “a insurreição pela sua natureza é um ato legítimo” e que “quando o poder é opressor, a virtude tem direito a derrocá-lo”.

II

Como dizíamos, desde o começo esteve a Casa Branca. E segue hoje em escalada. Sempre com um pretexto, como um camaleão mimetizando em cada momento histórico sua cobiça colonial, seus cálculos matemáticos, assustando com “bichos papões” e espantalhos para justificar a intervenção, sua ingerência violenta no conflito interno da Colômbia. Na década de 60, a “ameaça comunista”. Depois, o “inimigo interno”.

Nos 80, a cocaína, o narcotráfico. E a partir de 2000, o terrorismo. Todos os subterfúgios, com um denominador comum: o espólio, o predomínio.

De fato impedir, uma nova Cuba no continente foi o pretexto para o envolvimento dos Estados Unidos na Operação Marquetalia que em 1964 marcara o surgimento das FARC. O Plano LASO (Latin American Security Operation), e a aliança para o Progresso, atuaram nesse contexto como cavalos de Tróia dos gringos.

A denominação “defesa hemisférica” só nos deixou sangue e saqueio. O continente foi infestado de ditaduras de morte, e desaparições por conta do “inimigo interno” e a “Segurança Nacional”. Já o tinha advertido o Libertador Simón Bolívar: “jamais uma política tem sido mais infame que a dos norte-americanos dirigida a nós”.

III

Utilizada como arma contra-insurgente, a cruzada anti-narcóticos é mentira, fraude, barulho de grandes meios, guerra suja. É um conto para ingênuos, uma campanha estéril que jamais poderá despojar de sua natural auréola política à guerrilha.Reafirma, sim. Um traço, talvez o mais destacado da política de Washington: a dupla moral.

Pareceria que os fios estivessem manejados pelo espírito de um renovado coronel Oliver North. Conjuga a repressão irracional dos narco-cultivos, na Colômbia, com o favorecimento impudico dos capangas gringos da distribuição, o livre comércio de seus precursores químicos e a criminosa aspersão do agente laranja da corporação Monsanto, infelizmente, com o beneplácito de governos estúpidos, sem sentido de pátria, que, além do mais, facilitam o posicionamento dos Estados Unidos para o assalto neocolonial al continente.

Da a impressão, que de acordo a como está a execução do “Plano Patriota” do Comando Sul contra as FARC, já não necessitam do tapa-rabo da luta anti-narcóticos para encobertar sua ingerência no conflito interno da Colômbia.

Esta percepção surge do ambiente de sossego em que se move hoje o cartel da moto-serra e cocaína de Ralito – o para-militarismo de Estado – que faz muito tempo relevou do negócio os cartéis de Medellín e Cáli.

O que realmente tem existido na Colômbia é uma “narco-cracia”, tal como o expressara faz alguns anos num arrebato de sinceridade, Joe Toff, funcionário da agência anti-drogas do governo dos Estados Unidos. O general Bonett era comandante da III Brigada do exército quando o cartel de Cáli estava na crista da onda, e o general Bedoya era o comandante da VII Brigada quando se estenderam os cultivos de coca pelas planícies orientais. E houve Presidentes e congressistas que emudeceram não por temor às balas que assassinaram Galán, mas, porque suas campanhas políticas tinham sido suculentamente financiadas com dinheiros da máfia.

E poderíamos falar de um Presidente que lhes abriu a “janelinha sinistra” do Banco da República para que legalizassem seus dólares e lhes permitiu como prisão um “hotel de cinco estrelas”. Ou do Presidente Uribe, que exercendo como diretor da Aerocivil lhes autorizou a operação de pistas remotas na selva, mas, faríamos como tantos detalhes um rosário.

Sim, definitivamente a luta anti-drogas na Colômbia é uma farsa. No marco da audiência pública internacional sobre cultivos ilícitos e meio-ambiente auspiciada pelas FARC e o governo de Pastrana, o Comandante em Chefe Manuel Marulanda Vélez, apresentou uma fundamentada proposta de substituição de cultivos de coca com planos de desenvolvimento e alternativas rentáveis para os camponeses, que sugeria o área de Cartagena del Chairá como município piloto para sua experimentação, e oferecia os bons ofícios de unidades guerrilheiras para que percorressem as zonas rurais persuadindo aos cultivadores das bondades do projeto, mas, o governo nunca aceitou, porque o que lhe importa não é a solução racional do problema, porém, manter uma desculpa artificiosa que lhe permita explicar a intromissão gringa no conflito da Colômbia.

IV

A partir do 11s, da pavorosa destruição do World Trade Center, e no meio do estrondo sem trégua da morte e as bombas estadunidenses no Iraque e Afeganistão, e dos berros histéricos dos falcões, Washington e Bogotá convieram qualificar de terrorista, sem fundamento e com perfídia, à insurgência colombiana.

O propósito imediato, justificar a intervenção militar aberta dos Estados Unidos na Colômbia sem máscaras e sem rodeios: uns para impor a re-colonização, os outros para manter-se no poder.

Por isso, agora se atua a cara descoberta com o “plano Patriota” ideado no Comando Sul.

Nenhuma autoridade tem o maior terrorista da história – o governo dos Estados Unidos – para desvirtuar causas políticas inconfundíveis. Por algo todos os anos em agosto, o mundo lembra a barbaridade de Truman no Japão.

O alçamento armado das FARC está amparado no direito universal que assiste a todos os povos do mundo de alçar-se contra a opressão e regimes injustos. Sua luta é por uma nova ordem, um novo Estado que garanta a justiça social, a paz, o exercício da democracia verdadeira, a soberania do povo, a independência. E nessa luta está o projeto de Bolívar reafirmando seu caráter político. E a isto jamais poderá se lhe chamar de terrorismo.

Que ninguém venha inverter nossos valores e tergiversar a história para favorecer a geopolítica de Washington erigida sobre o saqueio e o bussines! NÃO pode equiparar-se como o terrorismo uma luta altruísta que persegue o bem comum, um novo projeto de sociedade baseado na justiça.

O Plano estratégico das FARC denominado Campanha Bolivariana por uma Nova Colômbia alude a toma do poder. Não procura causar-lhe pânico ou terror à população pela que combate. No seu documento “Recomendações à População Civil” as FARC orientam evitar que os quartéis militares e de polícia sejam localizados perto de residências civis ou lugares de concentração pública. Impedir que militares e policiais usem seus veículos particulares ou de serviço público. Abster-se de abordar transportes militares de qualquer tipo. Conservar no mínimo uma distância de 500 metros respeito de veículos e caravanas militares. Não servir de guia a patrulhas da força pública, nem ingressar a guarnições militares ou de polícia ou dormir nelas. Que os veículos de imprensa e de organismos humanitários em zonas de combate transitem com distintivos perfeitamente visíveis e a mínima velocidade. Mais claro impossível.

Numa confrontação bélica como a que se livra na Colômbia o ataque à infra-estrutura do Estado não pode confundir-se com terrorismo porque isso tem sua explicação na afetação das fontes de financiamento da guerra do Estado contra o povo. A qualificação de terrorista à luta das FARC não deixa de ser uma bobagem que só empurra o conflito social e armado até um beco sem saída, sem solução diplomática.

O grave é que o regime da Colômbia está assimilando oposição com terrorismo, simpatia com o terrorismo, tropel estudantil com terrorismo, marcha de protesto com terrorismo. Por isso as redadas massivas, os assassinatos, as desaparições por conta de funcionários do Estado.

Ao tempo que vamos não é estranho que amanhã Bolívar seja proscrito ainda mais, e qualificado também como terrorista.

V

A luta que livram as FARC, que é o povo em armas, merece a solidariedade espiritual e material dos povos do mundo. Esta não pode ser paralisada por campanhas mediáticas fraudulentas ou por temor às represálias de Washington. Não há que esquecer que desde as lutas de nossa primeira independência a Casa Branca castigava com prisão os seus súbditos ou cidadãos que ajudassem às guerrilhas de Bolívar no seu enfrentamento contra Espanha. E isto não pode alongar-se indefinidamente.

As FARC, com sua plataforma de reconciliação e reconstrução nacional, com sua cobertura de todo o país e mando centralizado no seu Estado Maior, são uma força beligerante que deveria ter o reconhecimento de muitos governos do mundo, com a certeza de que seu gesto independente facilitaria pontes à solução política do conflito.

A guerrilha bolivariana das FARC necessita que as vozes dos povos se multipliquem exigindo: fora os gringos da Colômbia, fora assessores militares! Liberdade para Simón e Sonia, combatentes bolivarianos, prisioneiros do Império! Requer-se pressionar mais ao governo da Colômbia para que aceda à troca de prisioneiros, que se manifeste a solidariedade com a grande batalha que livra o povo da Colômbia pela justiça social, a independência e a dignidade.

Esta luta que vem desde Marquetalia prosseguirá com a ajuda dos povos até a vitória, e não descansará porque há muito por fazer e porque temos que concretizar entre todos o sonho da unidade, da integração dos povos do Libertador Simón Bolívar.

Nesta hora de decadência do império com seus pés de barro, verdes como o dólar, e de ascenção do sol bolivariano, deve iluminar-nos a irmandade e a solidariedade.

ABP

Marquetalia – zona rural da cordilheira colombiana que fica ao sul de Tolima.

Gringo – denominação pejorativa que os latinos hispano-falantes dão aos estadunidenses.

Versão em português: Raul Fitipaldi de América Latina Palavra Viva.

O Cachorro - El Perro

Argentina, época de crise. Para Juan Villegas, um senhor de 52 anos, recém-demitido de um posto de gasolina, onde trabalhava como mecânico, a vida está difícil como nunca, dividida entre a filha, os netos e o genro, que parece um vegetal. Ainda assim, é bastante grande a solidão existente entre Villegas e as facas que ele produz artesanalmente, para complementar a renda da família. Procurando novo emprego sempre que vai vendê-las, enquanto viaja em seu carro pelo país, este solitário senhor acaba por esbarrar no animal que vai lhe mudar o destino. Fonte
Créditos: makingoff - Distanásia

Gênero: Drama
Diretor: Carlos Sorin
Duração: 97 minutos
Ano de Lançamento: 2004
País de Origem: Argentina
Idioma do áudio: Espanhol
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0420548

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 890 Kbps
áudio Codec: MP3
áudio Bitrate: 112
Resolução: 480x272
Formato de Tela: Widescreen
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 703 Mb
Legendas: No torrent

Elenco:

Juan Villegas (Juan "Coco" Villegas)
Walter Donado (Walter Donado)
Gregorio (Le Chien Bombén)
Rosa Valsecchi (Susana)
Mariela Díaz (Filha de Coco)
Sabino Morales (Sabino)
Claudina Fazzini (Claudina)
Kita Ca (Mãe de Claudina)
Mais detalhes


- FIPRESCI Prize, San Sebastián International Film Festival
- Nomeado, Golden Seashell, San Sebastián International Film Festival
- Nomeado, Melhor Fotografia, Argentinean Film Critics Association Awards
- Nomeado, Melhor Diretor, Argentinean Film Critics Association Awards
- Nomeado, Melhor Filme, Argentinean Film Critics Association Awards
- Nomeado, Melhor Revelação Masculina, Argentinean Film Critics Association Awards
- Nomeado, Melhor Som, Argentinean Film Critics Association Awards
Mais detalhes


- O diretor Carlos Sorin, assim como havia feito anteriormente em Histórias Mínimas, preferiu trabalhar com pessoas sem formação em arte dramática. Desta forma foram realizadas seleçoes de atores em praticamente todas as províncias argentinas
- As filmagens ocorreram em cenários naturais da Patagônia, entre os meses de novembro e dezembro de 2003 Fonte
- Para ver mais screenshots do filme clique aqui

Apropriando-se de um orçamento modesto, O Cachorro é um filme que se vira com o pouco que tem ? e faz bem feito. As câmeras, quase sempre sem suporte, tornam-se aliadas constantes do diretor Carlos Sorín; ao se posicionarem sempre muito perto dos atores, dando grande enfoque para suas expressões, elas transmitem ao espectador a sinceridade das atuações e a bondade das personagens. As composições musicais de Nicolas Sorín entram e saem estrategicamente, simples, porém belas, disputando com momentos inteiros sem trilha sonora; aí, os momentos de silêncio sÃo, também, bastante expressivos. Mais detalhes

Downloads abaixo:

Arquivo anexado El.Perro.2004.Carlos.Sorin.DVDRip.XviD.MakingOff.Org.torrent ( 14.35KB )
Arquivo anexado El.Perro.2004.Carlos.Sorin.DVDRip.XviD.MakingOff.Org.sub.rar ( 31.8KB ) legenda


Fogo sobre o Camboja

Novas informações revelam: bombardeios dos EUA sobre o país, entre 1965 e 73, foram cinco vezes mais intensos que se supunha, e possivelmente os mais pesados da História. Brutalidade entregou população ao extremismo genocida do Khmer Vermelho — presságio do que pode ocorrer no Iraque

Taylor Owen , Ben Kiernan

Em novembro de 2000, vinte e cinco anos após o fim da guerra na Indochina, Bill Clinton tornou-se o primeiro presidente dos Estados Unidos, depois de Richard Nixon, a visitar o Vietnã. Enquanto a cobertura da viagem pela mídia tratava do paradeiro de cerca de dois mil soldados norte-americanos ainda classificados como desaparecidos em ação, um pequeno ato de grande significado histórico passou quase despercebido. Num gesto humanitário, Clinton liberou um amplo banco de dados da Força Aérea sobre a campanha de bombardeio promovida pelos Estados Unidos na Indochina entre 1964 e 1975. Gerado por um sistema de alta tecnologia desenvolvido pela IBM, o banco de dados proporciona informações abrangentes sobre as surtidas efetuadas no Vietnã, Laos e Camboja.

O presente de Clinton destinava-se a facilitar a busca de explosivos não-detonados deixados no rastro dos bombardeios de saturação que varreram a região. Espalhado pelo campo, frequentemente submerso em terrenos de cultivo alagados, esse material bélico continua a despertar graves preocupações de ordem humanitária. Ele tem causado mutilações e mortes entre os camponeses, além de tornar terras valiosas praticamente imprestáveis. As organizações de desenvolvimento e de remoção de minas fizeram bom uso dos arquivos da Força Aérea nos últimos seis anos, mas não chegaram a sondar toda a profundidade de suas abismais implicações.

O banco de dados, ainda incompleto (ele apresenta vários períodos “obscuros”), revela que, de 4 de outubro de 1965 a 15 de agosto de 1973, os Estados Unidos lançaram sobre o Camboja uma quantidade de bombas muito maior do que se estimava até agora: 2.756.941 toneladas, totalizando 230.516 surtidas sobre 113.716 locais. Mais de 10% desse bombardeio foi indiscriminado: 3.580 locais apresentavam alvos “desconhecidos” e 8.238, simplesmente não apresentavam alvos. O banco de dados revela, também, que o bombardeio começou durante a presidência de Lyndon Johnson e não de Richard Nixon – portanto, quatro anos antes do que geralmente se supunha.

O impacto do bombardeio, objeto de muita discussão nas últimas três décadas, mostra-se agora mais claro do que nunca. A matança de civis no Camboja jogou um povo exasperado nos braços de um movimento guerrilheiro que até então recebera um apoio relativamente limitado da população, provocando a expansão da guerra do Vietnã no interior do Camboja, um golpe de estado em 1970, a rápida ascensão do Khmer Vermelho e, em última instância, o genocídio cambojano.

Ponto comum com o Iraque: recurso ao poder aéreo para combater uma insurgência heterogênea e volátil

Os dados demonstram que a forma pela qual um país decide retirar-se de um conflito pode ter conseqüências desastrosas, consideração que também se aplica aos conflitos armados da atualidade, inclusive, as operações militares dos Estados Unidos no Iraque. Apesar de muitas diferenças, a guerra no Iraque e o conflito cambojano apresentam em comum um ponto crucial: o crescente recurso ao poder aéreo para combater uma insurgência heterogênea e volátil.

Em 9 de dezembro de 1970, o presidente Richard Nixon telefonou para o seu conselheiro em assuntos de segurança nacional, Henry Kissinger, a fim de discutir a campanha de bombardeio do Camboja, então em andamento. Teatro secundário da guerra do Vietnã, iniciada em 1965 durante a presidência de Johnson, o Camboja – um reino neutro até nove meses antes do telefonema de Nixon, quando o general pró-EUA Lon Nol tomou o poder – já tinha recebido quase meio milhão de toneladas de bombas naquela altura (475.515 t). A primeira série de bombardeios intensivos, a Operação Menu, desfechada contra alvos localizados nas proximidades da fronteira com o Vietnã – rotulados Breakfast, Lunch, Supper, Dinner, Dessert e Snack [1] pelos comandantes norte-americanos – tinha sido concluída em maio, pouco depois do golpe de estado que derrubou o príncipe Sihanouk.

Nixon enfrentava uma crescente oposição do Congresso às suas políticas para a Indochina. A invasão do Camboja por terra, realizada por uma força conjunta dos Estados Unidos e do Vietnã do Sul em maio-junho de 1970, fracassara em seu objetivo de destruir as forças comunistas vietnamitas e agora Nixon queria uma escalada secreta dos ataques aéreos, a fim de neutralizar o comando móvel do Viet Cong/Exército Norte-Vietnamita (VC/ENV) nas selvas cambojanas. Após ter dito a Kissinger que faltava espírito de iniciativa à Força Aérea, Nixon exigiu a escalada do bombardeio no interior do Camboja: “Eles têm de ir fundo, mas fundo mesmo... Mandem tudo o que possa voar para lá e arrebentem eles! Não há restrição de milhas, não há restrição de verbas. Ficou claro?”

Kissinger sabia que a ordem de Nixon atropelava a promessa feita por ele ao Congresso, de que os aviões dos EUA não iriam além de 18 milhas da fronteira vietnamita; as suas próprias assertivas à nação, de que nenhum alvo situado a menos de um quilômetro de qualquer povoado seria bombardeado, e o parecer de setores das forças armadas, segundo os quais os ataques aéreos equivaliam a cutucar uma caixa de marimbondos com uma vara. Titubeante, Kissinger respondeu: “O problema, senhor presidente, é que a Força Aérea foi organizada para travar uma batalha aérea contra a União Soviética. Ela não está preparada para esta guerra... na verdade, não está preparada para nenhuma das guerras que possivelmente teremos de lutar.”

"Ele [Nixon] quer uma campanha de bombardeio maciço no Camboja. É uma ordem, deve ser cumprida"

Cinco minutos depois de terminada a conversação com Nixon, Kissinger chamou o general Alexander Haig para transmitir-lhe as novas ordens do presidente: “Ele quer uma campanha de bombardeio maciço no Camboja. Ele não quer ouvir nada. É uma ordem, deve ser cumprida. Qualquer coisa que voe contra qualquer coisa que se mova. Entendeu bem?”. A resposta de Haig, a custo audível na gravação, soa como uma risada.

O bombardeio do Camboja pelos Estados Unidos continua sendo um tema polêmico e emblemático. Ele contribuiu para mobilizar os movimentos pacifistas e, ainda hoje, costuma ser mencionado como um exemplo dos crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos. Autores como Noam Chomsky, Christopher Hitchens e William Shawcross surgiram como intérpretes políticos influentes depois de terem condenado o bombardeio e a política externa que ele simbolizava.

Do final da guerra do Vietnã para cá, estabeleceu-se um certo consenso quanto à amplitude do envolvimento norte-americano no Camboja. Os detalhes são controvertidos, mas a história começa para valer em 18 de março de 1969, quando os Estados Unidos lançaram a operação Menu. Seguiu-se a ofensiva terrestre conjunta EUA-Vietnã do Sul. Nos três anos seguintes, os Estados Unidos continuaram com os ataques aéreos ordenados por Nixon, atingindo cada vez mais fundo o território do Camboja, inicialmente para destruir o VC/ENV, e, em seguida, para proteger o regime de Lon Nol contra um número crescente de forças comunistas cambojanas. O Congresso cortou o financiamento para a guerra e impôs a suspensão do bombardeio em 15 de agosto de 1973, em meio a pedidos de impeachment para Nixon por sua conduta fraudulenta ao ordenar a escalada da campanha.

Graças ao banco de dados, sabe-se, agora, que o bombardeio do Camboja começou em 1965, durante o governo Johnson, e não em 1969. Esse último ano assinalou não propriamente o início da campanha, mas a sua escalada sob a forma de bombardeios de saturação. Entre 1965 e 1968, os Estados Unidos já tinham lançado 2.565 surtidas e 214 toneladas de bombas no Camboja. Esses ataques iniciais tiveram provavelmente uma finalidade tática, de apoio às quase duas mil incursões terrestres realizadas em sigilo pela CIA e pelas Forças Especiais naquele período. A frota de B52 – bombardeiros de longo alcance, capazes de transportar uma potente carga de bombas – não foi acionada então, seja porque a sua utilização poderia pôr em risco vidas cambojanas e comprometer a neutralidade do país, seja porque a eficácia estratégica dos bombardeios de saturação era considerada limitada.

Nixon optou por um curso de ação diverso e, de 1969 em diante, a Força Aérea começou a enviar os B52 contra o Camboja. A nova justificativa apresentada para o bombardeio era a de que ele manteria as forças inimigas acuada durante o tempo suficiente para os Estados Unidos se retirarem do Vietnã. O general norte-americano Theodore Mataxis caracterizou a manobra como “uma ação de contenção... O grupo vai pela estrada, tendo os lobos no seu encalço; então, atiramos fora um troço qualquer e deixamos que eles mastiguem.” Como corolário, os cambojanos foram transformados em carne de canhão para proteger vidas norte-americanas.

Tiro pela culatra: os bombardeios dão ao pequeno Khmer Vermelho as condições para a chegada ao poder

A última fase da campanha, de fevereiro a agosto de 1973, teve por objetivo deter o avanço do Khmer Vermelho sobre a capital cambojana, Phnom Penh. Temendo a queda iminente do primeiro dominó do Sudeste Asiático, os EUA partiram para uma escalada da guerra aérea sem precedentes na história – um bombardeio maciço de B52 que se alastrou das cercanias densamente povoadas de Phnom Penh para quase todas as regiões do país. A verdadeira amplitude do bombardeio permanecia ignorada até agora.

Os dados liberados por Clinton mostram que a carga total de bombas lançadas durante o período em questão foi quase cinco vezes maior do que os números geralmente aceitos. A fim de situar em perspectiva o total retificado de 2.756.941 toneladas, os Estados Unidos lançaram pouco mais de 2 milhões de toneladas de bombas durante toda a II Guerra Mundial, incluídas as duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki (de 15 e 20 mil toneladas, respectivamente). O Camboja terá sido o país mais bombardeado em toda a história.

Um B52-D “Big Belly” comporta uma carga útil de até 108 bombas de 225 quilos, ou 42 bombas de 340 quilos, lançadas sobre um alvo de aproximadamente 500 x 1.500 metros. Em muitos casos, as aldeias cambojanas foram atingidas por dezenas de cargas durante horas a fio. O resultado foi a destruição quase total. Um oficial norte-americano afirmou na época: “Tinham-nos dito, como disseram a toda a gente... que os tapetes de bombas eram totalmente devastadores, que nada sobrevivia a um raide de B52.” Anteriormente, o total de vítimas civis provocadas pelo bombardeio era estimado entre 50 e 150 mil mortos. Diante, porém, da quintuplicação da tonelagem revelada pelo banco de dados, esse número foi seguramente maior.

A campanha de bombardeio do Camboja teve dois efeitos colaterais imprevistos que acabaram interagindo para produzir exatamente o efeito-dominó que a intervenção dos EUA no Vietnã pretendia impedir. Primeiro, ela obrigou os comunistas vietnamitas a embrenhar-se no Camboja, colocando-os em estreito contato com os insurgentes do Khmer Vermelho. Segundo, ela empurrou o povo cambojano para os braços do Khmer Vermelho, um movimento que a princípio parecia ter reduzidas chances de êxito revolucionário. O próprio Pol Pot [2] admitiu que o Khmer Vermelho se resumia então a “menos de cinco mil guerrilheiros mal armados... espalhados pelo território do Camboja, inseguros de sua estratégia, tática, lealdade e liderança.”

Anos depois do fim da guerra, o jornalista Bruce Palling perguntou a Chhit Do, um ex-comandante do Khmer Vermelho, se as suas forças tinham se utilizado do bombardeio para alimentar a propaganda anti-EUA. Chhit respondeu:

Depois de um bombardeio, eles sempre levavam a gente para ver as crateras, para ver como elas eram grandes e fundas, para ver como a terra ficava revolvida e estorricada... Às vezes, os pobres-diabos cagavam nas calças, literalmente, quando vinham as bombas e granadas mais pesadas. Eles simplesmente saíam do ar, ficavam mudos, andando sem destino durante três, quatro dias... Aterrorizado e um tanto abalado, o povo estava preparado para acreditar naquilo que lhe diziam. Foi por causa de sua revolta com o bombardeio que eles continuaram a colaborar com o Khmer Vermelho, a engrossar as suas fileiras, a mandar os filhos embora de casa para se apresentarem como voluntários... Quando as bombas caíam e matavam criancinhas de colo, seus pais aderiam em peso ao Khmer Vermelho.

O governo Nixon sabia que o Khmer Vermelho estava ganhando os camponeses para a sua causa. O Diretório de Operações da CIA, após investigações conduzidas ao sul de Phnom Penh, informou, em maio de 1973, que os comunistas estavam “utilizando os danos causados pelos ataques de B52 como peça principal de sua propaganda.” Mas esse fato parece não ter recebido prioridade nas considerações de ordem estratégica.

Impotência do Congresso: por meio da mentira, Nixon prolonga ataques e guerra durante anos anos

O governo Nixon manteve o bombardeio em segredo por tanto tempo, que as discussões sobre o seu impacto tiveram lugar tarde demais. Somente em 1973 o Congresso, irritado com a devastação causada pela campanha e com a fraude sistemática utilizada para acobertá-la, decretou a sua suspensão. Mas então, o estrago já tinha sido feito. O Khmer Vermelho, contando com mais de 200 mil soldados e milicianos por volta de 1973, tomou Phnom Penh dois anos depois. E não parou, submetendo o Camboja a uma revolução agrária maoísta e ao genocídio que matou mais de 1,7 milhão de pessoas.

A Doutrina Nixon partia do pressuposto de que os Estados Unidos poderiam suprir um regime aliado com os recursos necessários para enfrentar desafios internos ou externos, enquanto as suas tropas terrestres eram desengajadas ou, em certos casos, simplesmente se mantinham de prontidão nas proximidades. No Vietnã, ela implicou desenvolver a capacidade de combate do exército sul-vietnamita enquanto as unidades norte-americanas se retiravam gradualmente do terreno. No Camboja, Washington forneceu ajuda militar para sustentar o regime de Lon Nol de 1970 a 1975, enquanto a força aérea dos EUA executava a sua campanha de bombardeio maciço.

A estratégia dos Estados Unidos no Iraque poderá sofrer uma mudança de curso semelhante. Seymour Hersch, escrevendo na revista New Yorker em dezembro de 2005, notou que um aspecto fundamental dos planos de redução de tropas dos EUA seria a sua substituição pelo poder aéreo. “Pretendemos apenas modificar a proporção das forças empenhadas em combate – infantaria iraquiana com apoio dos Estados Unidos e maior utilização do poder aéreo,” afirmou Patrick Clawson, vice-diretor do Washington Institute for Near East Policy (WINEP).

Os críticos argumentam que a primazia do poder aéreo poderá causar um número ainda maior de vítimas civis, acabando por favorecer a insurgência no Iraque. Andrew Brookes, ex-diretor de estudos do poder aéreo da Escola do Estado-Maior da Real Força Aérea (RAF), disse a Hersch, “Não acho que o poder aéreo seja uma solução para os problemas enfrentados no Iraque, em absoluto. A substituição de tropas terrestres pela força aérea não funcionou no Vietnã, funcionou?”.

É verdade que os ataques aéreos são mais precisos hoje do que eram durante a guerra da Indochina — portanto, ao menos em teoria, alvos não-identificados seriam atingidos com menos freqüência e o número de vítimas civis tenderia a cair. No entanto, a morte de civis tem sido a norma nas campanhas do Iraque e do Afeganistão, e o mesmo se verificou durante o bombardeio do Líbano pelas forças de Israel em julho-agosto de 2006. Tal como sucedeu no Camboja, os prováveis beneficiários serão os movimentos de insurgência. Para citar um exemplo, em 13 de janeiro de 2006, um ataque desfechado por aviões teleguiados não-tripulados, Predator, contra uma aldeia situada na zona da fronteira paquistanesa matou dezoito civis, entre eles, cinco mulheres e cinco crianças. Essas mortes reverteram as expectativas favoráveis geradas pelos bilhões de dólares investidos naquela região do Paquistão após o terremoto devastador de meses antes. A questão vem a propósito: os bombardeios compensarão os riscos estratégicos?

Se a experiência do Camboja nos ensinou algo, foi que a subestimação da mortandade de civis resulta em parte de uma incapacidade de compreender como as insurgências se processam. Os motivos que levam a população local a colaborar com tais movimentos não se encaixam nas digressões estratégicas do tipo daquelas praticadas por Kissinger e Nixon. Aqueles que tiveram as suas vidas arruinadas não se preocupam com as razões de ordem geopolítica por trás dos ataques; eles tendem a responsabilizar os atacantes. O fracasso da intervenção dos Estados Unidos no Camboja reside não somente na mortandade de civis causada por uma campanha de bombardeio jamais vista em toda a história, mas também na sucessão de fatos que ela desencadeou, quando o regime do Khmer Vermelho se ergueu das crateras de bombas com trágicas conseqüências. A evolução dos acontecimentos no Iraque poderá tomar um rumo semelhante.

Tradução: Hugo Mader

Írio de Paula - Jazz-Samba Ao Vivo (1997)




download





Royal Philharmonic Of Orchestra - Magic Of The Proms

http://img72.imageshack.us/img72/2018/royalphilharmonicoforchvw8.jpg


01 - Royal Philharmonic Of Orchestra - Pomp & Circumstance No 1 (Land Of Hope & Glory)
02 - Royal Philharmonic Of Orchestra - Jupiter From The Planets (I Vow To Thee My Country)
03 - Royal Philharmonic Of Orchestra - Music For The Royal Fireworks (The Rejoicing)
04 - Royal Philharmonic Of Orchestra - Nimrod From The Enigma Variations
05 - Royal Philharmonic Of Orchestra - Jerusalem
06 - Royal Philharmonic Of Orchestra - Trumpet Voluntary
07 - Royal Philharmonic Of Orchestra - Rule Britannia
08 - Royal Philharmonic Of Orchestra - Crown Imperial
09 - Royal Philharmonic Of Orchestra - Fantasia On British Sea Songs
10 - Royal Philharmonic Of Orchestra - God Save The Queen
Uploader: bienlon

Download abaixo:
http://w15.easy-share.com/15514711.html

senha: www.softvnn.com

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

PERU - Musica Negra

http://farm2.static.flickr.com/1085/702932252_3fa42385e4_m.jpg


PERU - Musica Negra @ 320


01. Tio Goyo.mp3
02. Jarana.mp3
03. Toro Mata.mp3
04. Cuatro Tiempos Negros Jovenes.mp3
05. Cardo O Ceniza.mp3
06. Negro Como La Verdad.mp3
07. El Tamalito.mp3
08. Festejo 1990.mp3
09. Tondero Piurano.mp3
10. Cumananas A Mariategui Y Vallejo.mp3
11. Orope.mp3
12. Altibajos.mp3

Total Size: 125,19MB
Uploader: Ibiza

Downloads abaixo:

http://rapidshare.com/files/12659310/peru.part1.rar
http://rapidshare.com/files/12659958/peru.part2.rar


CANADÁ INCLUI EUA E ISRAEL EM LISTA DE PAÍSES QUE TORTURAM

TeleSUR

Os Estados Unidos e Israel foram incluídos numa lista oficial canadense de países onde os prisioneiros se arriscam a serem torturados, afirmou nesta quinta-feira a rede de televisão CTV.

Segundo CTV o documento menciona especialmente à base naval estadunidense de Guantânamo, aberta na ilha de Cuba em 2001 pelos Estados Unidos para recluir aos prisioneiros de sua “guerra contra o terrorismo”, como um dos centros onde se recorre a torturas.

O texto assinala “técnicas de interrogatório estadunidenses” que incluem “a nudez forçada, o isolamento e a privação de sonho”, acrescenta CTV.

A lista se utiliza em um curso destinado a diplomáticos canadenses que poderiam ter que visitar prisões estrangeiras, com o objetivo de sensibilizá-los ante os possíveis casos de torturas, assegurou a emissora.

Além dos Estados Unidos e Israel, entre os países onde se utiliza mais o recurso da tortura figuram também a Síria, o Irã, o Afeganistão e a China.
VENEZUELANOS SETE ESTRELAS

Por Carola Chávez.

Lembro até onde minha memória consegue lembrar, que sempre houve quem se sentisse incômodo por possuir a nacionalidade venezuelana que, segundo eles, é uma nacionalidade de terceira. Esses que fingem sotaques no exterior para serem confundidos com os nativos, eles que morriam de nojo frente a uma arepa[1] quando tinha tantos croissants, tantas quarter pounders, tantas deliciosas New York cheesecakes, e que agora, repentinamente, acreditam ter recuperado seu ser venezuelano.

Mais não se confundam, não se refere ao ser venezuelano do povo, aquele que cheira a terra molhada, a sabonete matinal dentro do ônibus, o ser que não se contém quando escuta um tambor, o salseiro, o festeiro, aquele que ri a gargalhadas cada vez que a vida lhe dá um motivo, o que encontra motivos para rir mesmo quando a vida os negue.

Eles descobriram um ser venezuelano sintetizado meio de aqui muito de lá. São venezuelanos envasados com ingredientes seletos trazidos das mais exóticas paragens maiameiras[2]. Vibram com o hino quando o escutam de longe, se amarram a bandeira ao pescoço como a capa do Superman, dançam ao som dos tambores em casamentos elegantíssimos e quando agonizam de amor pátrio cantam “Savaaaaaanaaaaaa!!!” e mais nada, porque nunca escutaram o restante da música.

Pensam que a Venezuela é um país que lhes fora usurpado a seus legítimos donos: eles. Por isso decidiram construir um país paralelo, com outra bandeira, com outro fuso horário, com outra moeda, com um presidente colombiano, com um rei que os mande calar, um exército de chicanos[3], negros e brancos pobres que lhes traga o sossego com suas bombas inteligentes.

Acontece que seu país não tem pretensões de soberania, para eles entregar o que pertence a todos para beneficio próprio é um ideal. O país que querem não tem dignidade, abririam as suas portas para que o pisotearam as botas de qualquer exército e se uniriam a elas para acabar com seus compatriotas não desejados. O país que eles querem não clama por justiça e a liberdade se leiloa ao melhor proponente.

Sonham com um país de escravos de distintas categorias, mas escravos todos de um poder voraz, que lhes deixa migalhas para que eles as recolham enquanto se sentem honrados por tal distinção.

Sonham com um país que conhecemos de perto porque existiu faz pouco tempo. Aquele, com sua bandeira de sete estrelas, seu hino, o mesmo que cantamos agora, mas que antes nos soava oco, triste, ultrajado. Com seu povo dormido pela desesperança e suas vinte barrigas de gravatas escondidas em baixo de papadas inchadas de gula e egoísmo.

Sonham com ter aquele país que sempre lhes envergonhou. A Venezuela de ladrões, a feia, aquela das crianças mortas de diarréia, da fome, a ignorante, aquela das esperanças rotas, a que só caminhava para trás. Sonham pesadelos enquanto dormem tão tranqüilos. Isso não é sonhar, isso não é pensar, isso não tem nome o pior ainda, ou tem sim: isso é ser apátridas.

Os apátridas não sei se chama-los de compatriotas, não é coerente, não queremos o mesmo, enquanto avançamos nos põem pedras esperando nos ver cair, nos odeiam, nos têm nojo, nos têm medo.

E claro que nos devem temer, não os culpo, nada como a mediocridade que eles semearam para se manter vivos. Medíocres eles que não souberam ver o momento em que povo acordava, medíocres eles que não têm idéia de como viver em un país livre.

Medíocres porque temem ao povo educado, consciente e disposto a lutar por sua pátria, a de todos, incluso a deles, os apátridas.

Venezuelanos de sete estrelas, isso são, que é o mesmo que não ser nada. Sofrem nossas conquistas como terríveis derrotas, celebram os ataques a nosso país como se não fosse o país deles e o fazem aos berros sem sentir a mais mínima vergonha. Não percebem o desprezíveis que são para nós e para nossos inimigos.

Na hora da submissão, hora que esperamos que nunca chegue, se dariam conta, tarde demais, que o sangue de todos nossos filhos se derramaria por igual, que para seus “gringos salvadores’’ os destroços que ocasionam em nome “da liberdade’’ são danos colaterais e mais nada.

Não sei se chamá-los compatriotas… pôxa...

Versão em português: Tali Feld Gleiser de América Latina Palavra Viva

Créditos: Desacato

[1] Arepa: f. amer. Pastel de milho seco que geralmente se serve com recheio de carne.

[2] De Miami.

[3] adj. e s. Do cidadão de origem mexicana que reside nos Estados Unidos de América ou relacionado con ele.

QUANTOS KM2 VALE A PAZ NA PALESTINA?

Por Tali Feld Gleiser.

As partes acordaram manter afastada à imprensa de suas negociações sobre um tratado de paz desproporcionado no qual, segundo transcendido, os palestinos terão que conformar-se com menos da metade do território que lhes atribuiu a ONU em 1948 e sem poder ver de retorno aos mais de quatro milhões de palestinos refugiados que têm fugido das agressões israelenses através da história.

Israel e a Autoridade Nacional Palestina (ANP) iniciaram na última segunda-feira sua primeira ronda de negociações, destinada a impulsionar os acordos alcançados no passado mês de novembro durante a Conferência sobre Oriente Médio que se realizou na cidade estadunidense de Annapolis, Maryland (este), e que procuram alcançar a paz entre duas nações enfrentadas faz mais de 60 anos.

A cita, encabeçada pela chefa da equipe negociadora de Israel, a ministra de Exteriores, Tzipi Livni, e Ahmed Qurea, seu interlocutor palestino e assessor do presidente da ANP, Mahmud Abbas, transcorreu com total hermetismo.

As partes acordaram nessa segunda, previamente à reunião que tiveram num hotel de Jerusalém, manter as negociações afastadas da imprensa, segundo explicou Livni antes do seu encontro com Qurea. (...)

Na sua visita da semana passada aos territórios israelenses e palestinos, Bush circunscreveu esse novo Estado Independente palestino a Jerusalém Oriental, Gaza e Cisjordânia, que Israel ocupa militarmente desde 1967, trás a chamada “Guerra dos Seis Dias”.

Estes três territórios somam em total 6 mil 200 quilômetros quadrados, frente aos perto de 15 mil do Estado árabe que, junto ao israelense, a ONU desenhou em 1947 numa partição do antigo Mandato britânico da Palestina.

Em 1947 a ONU aprovou o Plano de Partição da Palestina, que propunha sua divisão em dois Estados, um árabe e outro judeu, outorgando a maior parte aos sionistas.

À comunidade judia, com arredor de um 30 por cento da população que morava nesses territórios se lhe adjudicou 55% do território, enquanto que aos árabes, com uma população majoritária do 67% , apenas se lhe atribuiu o 45% restante, partição que foi rechaçada pelos palestinos, mas que se aplicou contra sua vontade.

Por todo isso, o plano que atualmente negociam Israel e a ANP é rejeitado pela grande maioria dos palestinos e pelos grupos de resistência, como Hamas, principal força política que ganhou as eleições legislativas de março de 2006 com mais do 70% do respaldo.

Além disso, no novo Estado palestino que procura aprovar, e que tem como prazo um ano, permaneceriam ao menos três grandes blocos de assentamentos judeus da Cisjordânia, onde há mais de 200 colonos que ocupam ilegalmente os poucos territórios que Israel lhe deixou aos palestinos trás sua ocupação.[5]

“O presidente palestino, Mahmud Abbas, indicou hoje (pelo 11/10/07) que está disposto a ceder uma extensão do território da Cisjordânia a Israel, se esse país lhe outorga em troca uma extensão de terra como resultado do processo de paz entre ambos os povos.

‘6.205 Km2 quadrados em Cisjordânia e Gaza. Queremos que seja assim indicou Abbas quando foi perguntado sobre a extensão e as características do futuro Estado palestino numa entrevista que transmitiu hoje a cadeia oficial palestina[6] ”.

A partir destas duas notícias nota-se uma rara coincidência entre o que Mr. Bush decretou que devia ser o estado palestino no encontro de Annapolis em novembro de 2007 e o “pedido” de Mr. Abbas de outubro do mesmo ano. Mr. Abbas diz que se conforma com os 6.200 km2 que configuram Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

Em quantos quilômetros quadrados se mede a paz na Palestina? Que paz pode haver nos 360 km2 de Gaza onde a densidade de população em 2005 era de 3.880 habitantes por quilômetro quadrado? Se é que é verdade que o governo de Israel aceita um estado palestino (com as condições que eles e EE.UU. impõem), como se unirão Gaza e Cisjordânia territorialmente?

E Jerusalém que seria “administrada” pela ONU segundo a resolução de 1947, que status terá? Segundo a lei de Jerusalém de 1980[7] , Israel não aceita outra condição para sua capital que não seja a de ficar completamente com o domínio dessa cidade. E todas suas ações conduzem a isto. “Jerusalém é uma cidade cada vez mais judia. Não se contratam pessoas não judias, quer dizer: cristãos e muçulmanos basicamente, não se renovam licenças de residência para os palestinos que por algum motivo, leia-se doença ou estudos, tiveram que deixar o país por uma temporada cumprida, se nega a permissão de reabilitação das casas palestinas com o objetivo de derrubá-las alegando motivos de segurança por mal estado ou que os donos estão reabilitando a casa sem permissão (...)”.[8] Em relação aos recursos naturais, de aonde vai extrair Palestina a água necessária já que o aqüífero de Gaza cada vez menos água porque se lhes permitiu aos colonos que perfuraram seus próprios poços? E o 95% dos recursos de água originários da Cisjordânia, são usados em Israel e nos assentamentos judeus dos territórios ocupados da Palestina, o que deixa apenas um 5% de água, cada vez mais salobra, para os palestinos.

Essa é a paz proposta por Bush e sua colônia Israel que o “representante” palestino aceita? E por que Hamas não tem nenhuma representação quando ganharam legitimamente as eleições parlamentarias que o mundo ocidental exigia na Palestina?

Qual é a “reparação” que quer dar uma parte de uma das vítimas diretas dos nazistas? Se essa reparação existe, certamente, não é a de um estado num território infinitamente mais reduzido que o original no qual habitavam parte das vítimas indiretas do nazismo. O povo palestino deve voltar ao seu território original co-existindo com a população israelense que ali se encontra com todos os direitos que isso implica. Difícil? Dificílimo, porém, mais do que justo.

P.S.: Você conseguiu ler este artigo? Que sorte. Em Gaza não se pode.Não tem luz porque o bloquieo de Israel deixou o território sem energia elétrica. A única central ficou sem combustível para funcionar. (20 de janeiro).

Versão em português: Raul Fitipaldi de América Latina Palavra Viva.

1] www.telesurtv.net

[2] EFE - Jerusalem - 11/10/2007 00:50.

[3] Lei de Jerusalem: Foi aprovada pelo Parlamento israelense em 30 de julho de 1980 e proclamou a cidade de Jerusalem, «inteira e unificada», como capital de Israel. O município estava unificado de fato desde a Guerra dos Seis Día (1967) em que Israel tinha conquistado os bairros orientais (Jerusalem Leste) e a Cidade Velha de Jerusalem, que tinham permanecido desde 1948 sob administração jordana. http://es.wikipedia.org/wiki/Ley_de_Jerusal%C3%A9n.

[4] A judaização de Jerusalem. Lidón Soriano.Rebelión. 05-01-2008.