domingo, 9 de março de 2008

Tsotsi

Filmado no "township" (município) de Soweto, o filme conta a história de um "tsotsi" (durão) de 19 anos, que precisa tomar conta de um bebê encontrado no banco de trás de um carro que roubou após atirar na mãe da criança.

Uma co-produção entre Grã-Bretanha e África do Sul, o filme é a adaptação cinematográfica do livro homônimo do sul-africano Athol Fugard.

Depois de Yesterday, sobre a exclusão dos doentes de Aids, e de Carmen em Khayelitsha, rodado em um acampamento de "squatters" (ocupantes ilegais) na Cidade do Cabo, Tsotsi é o sucesso mais recente de uma indústria cinematográfica que aborda os problemas contemporâneos da "nova África do Sul".
Créditos:makingoff - parkyns
Gênero: Drama/Policial
Diretor: Gavin Hood
Duração: 90 minutos
Ano de Lançamento: 2005
País de Origem: África do Sul
Idioma do Áudio: Zulu / Xhosa / Afrikaans
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0468565/
Site Oficial: http://www.tsotsi.com/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 953 Kbps
Áudio Codec: MP3
Áudio Bitrate: 122
Resolução: 640 x 272
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 699 Mb
Legendas: Em anexo

- Academy Awards 2006: Best Foreign Language Film of the Year
- BAFTA 2006 Nomination: The Carl Foreman Award and Film Not In The English Language.
- Pan African Film and Arts Festival 2006 Award: Jury Prize for Best Feature
- Santa Barbara Film Festival 2006 Award: Audience Award
- Thessaloniki Film Festival 2005 Award: Independence Day section, Greek Parliament's Human Values Award
- Denver International Film Festival 2005 Award: Audience Award
- Cape Town World Cinema Festival 2005 Award: Critics Jury Award
- St. Louis International Film Festival 2005 Award: Audience Choice Award
- Los Angeles AFI Film Festival 2005 Award: Audience Award
- The Toronto International Film Festival 2005 Award: People's Choice Award
- The Edinburgh International Film Festival 2005 Award: The Michael Powell Award For Best New British Feature Film and Standard Life Audience Award
"Tsotsi" significa "rufia" ou "desordeiro" na linguagem das ruas de Soweto, um gueto negro nos subúrbios de Joanesburgo. Tsotsi (Presley Chweneyagae) tem 19 anos e é chefe de um grupo de gangsters: Boston (Mothusi Magano), Butcher (Zenzo Ngqobe) e Aap (Kenneth Nkosi). Tsotsi é o sociopata do grupo, transformando um assalto num assassínio, e espancando Boston quando este clama pelo valor da decência. Num bairro da classe média, Tsotsi atira sobre uma mulher (Nambitha Mpumlwana) para lhe roubar o carro. Uns metros mais à frente, Tsotsi repara que há um bebé no banco de trás. Um misto de emoções trespassa a sua expressão (numa convincente interpretação do estreante Chweneyagae), e dá-se início a uma viagem de transformação.

O mundo de Tsotsi define-se no mais básico: necessidades, desejos, oportunidades, obstáculos, perigos. A esperança não abunda e a tragédia espreita a cada esquina. A solidão, a raiva e a alienação são combatidos com agressividade e crueldade. Além do bebé, outros dois encontros servem de catalizador para a mudança e a curva de aprendizagem de Tsotsi vai-se fazendo por tentativa e erro. Mas o sorriso que nos surge quando vemos Tsotsi tentar cuidar da criança, com claro desconhecimento, mistura-se com o desconforto das reais dificuldades daquelas vidas.

A infância de Tsotsi, e os seus motivos, surgem em flashbacks que, mais do que desculpar qualquer uma das suas atitudes violentas, justificam as suas atitudes de crescente carinho para com aquela criança. Através dela, Tsotsi resgata o seu passado, as suas dores, e até a sua identidade. E a “decência” apregoada por Boston acaba por ser aquilo que Tsotsi encontra.

O tema do “homem mau” humanizado através do contato com um inocente não é novo, e o registo do filme lembra inevitavelmente “Cidade de Deus” (Fernando Meirelles e Kátia Lund, 2002). “Tsotsi” é, no global, um filme muito bem feito, para o que contribui também a fotografia de Lance Gewer, que capta a pobreza e desolação do gueto, com uma escuridão envolvente, cores quentes e suave iluminação.

A ação do romance do dramaturgo Athol Fugard (publicado nos anos 80), no qual “Tsotsi” se baseia, desenrolava-se durante os anos 50, no início do apartheid. A atualização foi feita para os nossos dias com a inclusão opressiva de outro flagelo, a AIDS, por todo o lado surgindo cartazes com a mensagem: “We are all AFFECTED by HIV and AIDS”. Os riscos mudam, mas não desaparecem, a vida para estes órfãos sem casa continua a ser assustadora. E a marca deste filme, quase apagada no meio da narrativa, são essas crianças, vivendo dentro de tubos de cimento.

O elenco é constituído por atores desconhecidos, o que ainda fortalece mais o enredo e nos faz pensar que, definitivamente, e especialmente em Hollywood, há atores que recebem muito dinheiro para a qualidade que têm.

Finalmente, um último destaque para a banda-sonora do filme- recheada de música "Kwaito" (a resposta sul-africana ao Hip Hop americano). Estamos perante um trabalho verdadeiramente emocionante.
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.
Downloads abaixo::
Arquivo anexado Tsotsi.DVDRip.XviD_HLS.MakingOff.Org.torrent ( 17.87KB ) filme
Arquivo anexado Tsotsi.DVDRip.XviD_HLS.MakingOff.Org.rar ( 14.61KB ) legendas


Bush veta lei antitortura aprovada pelo Congresso dos EUA


Ao vetar a lei do Congresso americano que proibia uma forma de tortura – por afogamento – o presidente George W. Bush acrescentou um novo ponto deprimente a seu curriculo de homem público. Não se deve minimizar a decisão. A experiência ensina que o futuro da tortura depende do que acontece com o torturador. Além da impunidade, os torturadores receberam, agora, o apoio pelo alto.



Medieval: a tortura que Bush autorizou

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, vetou neste sábado (8) legislação aprovada pelo Congresso que proibiria a CIA de simular afogamento e outras técnicas controversas de interrogatório. Os legisladores incluíram a medida antitortura numa lei mais ampla sobre o que seria permitido nas atividades da inteligência americana.

'Como o perigo continua, nós temos que assegurar aos nossos funcionários da inteligência todas as ferramentas que eles precisem para conter os terroristas', disse Bush em sua fala semanal no rádio. Ele acrescentou que a legislação 'iria reduzir essas ferramentas vitais.'


A Câmara dos Deputados aprovou a legislação antitortura em dezembro e o Senado a confirmou em fevereiro apesar dos avisos da Casa Branca de que ela seria vetada.


O diretor da CIA Michael Hayden disse mês passado ao Congresso que interrogadores do governo simularam afogamento em três suspeitos capturados depois dos ataques de 11 de setembro.


A técnica de simulação de afogamento tem sido condenada por muitos integrantes do Congresso, grupos de direitos humanos e outros países como uma forma de tortura ilegal.


O manual do Exército norte-americano proíbe o afogamento e sete outros métodos de interrogatório, e sua proibição alinharia as prática da CIA às dos militares.


Em mensagem aos funcionários da CIA no sábado, após o veto de Bush, Hayden disse que a CIA continuaria a trabalhar estritamente dentro da lei, mas ressaltou que suas necessidades eram diferentes das do Exército e que a agência precisa seguir seus próprios procedimentos.


Em seus comentários, Bush não mencionou especificamente o afogamento, mas disse: 'A lei que o Congresso me enviou não baniria simplesmente um método particular de interrogatório, como alguns deduziram. Ao invés disso, ela eliminaria todas as alternativas que desenvolvemos para inquirir os mais perigosos e violentos terroristas do mundo.'

Com o veto de Bush, o mais recente debate americano sobre tortura encerra-se de modo melancólico. Parlamentares dos dois partidos haviam feito a lei que proibia o afogamento de prisioneiros como uma resposta as diversas denúncias de tortura surgidas na guerra do Iraque a partir das revelações sobre a masmorra de Abu Ghraib. O saldo deste episódio, no terreno jurídico, é absurdamente ruim. Até agora, treze militares americanos foram levados ao banco dos réus. Só o baixo escalão foi punido. Onze soldados foram condenados a penas variáveis. Dois oficiais de escalão médio sofreram penas disciplinares. Mas o coronel responsável pelos interrogatórios foi absolvido de todas acusações.

Barbárie antiga

O jornalista Paulo Moreira Leite recorda, em seu blog , que o afogamento é uma barbaridade antiga, registrada em documentos anteriores ao século XIX. Nos dias atuais, é considerada uma forma de tortura e como tal condenada pela maioria dos tratados internacionais e rejeitada como técnica legítima de interrogatório pelo próprio Exército dos Estados Unidos. O veto presidencial significa que a tortura por afogamento torna-se uma prática autorizada, já que deixa de existir uma lei que a definia como crime.

O afogamento foi empregado pelos soldados franceses durante a Guerra da Argelia. Em 1958, o jornalista Henri Alleg, membro do Partido Comunista Frances, escreveu um livro para denunciar que, aprisionado pelo Exército colonial, foi submetido a tortura por afogamento. Proibida de circular na França, a obra foi levada clandestinamente para outros países, e transformou-se numa denúncia de valor, provocando um escândalo comparável ao das imagens do presídio iraquiano de Abu Ghraib e seus prisioneiros de capuz, ameaçados por cachorros e soldados do Exército americano. Mais tarde, o afogamento seria exibido no filme A Batalha de Argel, obra-prima do cinema político.

Nos anos 60, essa forma de tortura seria usada pelos soldados americanos na guerra do Vietnã, também. A técnica consiste em provocar afogamentos sucessivos no prisioneiro, diminuindo a presença de oxigenio nos pulmões e no cérebro. A respiração torna-se cada vez mais difícil, o sofrimento psicológico aumenta e no estágio seguinte vem o horror e a perda de controle. Caso o afogamento não seja interrompido, ocorre a morte.

"Era a esse sofrimento a que George W. Bush se referiu ao explicar o veto. Ele disse que os Estados Unidos não podiam abrir mão de todos os recursos de combate ao terrorismo e a seus inimigos. Comparado com outras técnicas, o afogamento tem a característica de que não deixa marcas no corpo – sempre um inconveniente para quem pretende esconder provas de um crime", diz Leite.


Fonte: Reuters e blog do Paulo Moreira Leite


sábado, 8 de março de 2008

UM DEUS FEROZ E VINGATIVO

Luiz Carlos Azenha

WASHINGTON - Terror. Terror. Terror. A palavra terror associada a mulheres cobertas de preto ou com um véu protegendo os cabelos. A palavra terror associada a crianças vestidas de guerrilheiros. A palavra terror associada a homens com cinturões que simulam bombas. A desumanização do outro. A diabolização do diferente. A pregação do ódio para combater o ódio.

Na outra ponta do mesmo fenômeno estão os anúncios de grandes fabricantes de armas nos jornais americanos. Anúncios que falam das virtudes do novo caça, das vantagens do novo helicóptero. Como leitor de jornal, com raríssimas exceções, não tem dinheiro para comprar um Apache, fico imaginando qual é o público alvo. Imagino que o objetivo seja convencer a opinião pública americana de que vale a pena torrar o dinheiro dos impostos comprando aquelas armas.

Os americanos inventaram o Plano Colômbia, para combater o tráfico de drogas. O tráfico continua firme e forte. O Tesouro americano dá dinheiro à Colômbia para que ela compre armas americanas. É política de transferência de renda: sai do bolso do contribuinte americano, vai para a Colômbia e volta para o bolso do fabricante de armas. Com outro nome está em andamento o Plano México, para combater a imigração. Nos aeroportos americanos, equipamentos de última geração escaneiam as malas. Impressões digitais são recolhidas. Essa máquina de "segurança" veio para ficar e custa caro.

Estados Unidos, Rússia, França, Alemanha e Reino Unido são os grandes exportadores de armas. Quem ganha tem nome e endereço: Boeing, General Electric, General Dynamics, Honeywell, Lockheed-Martin, Northrop Grumman, Raytheon Corporation, United Technologies. Há milhares de empresas do ramo aqui e em outros países.

Propagar o medo é essencial, uma tarefa que fica por conta da mídia. O medo paralisa. O medo divide. Medo da Venezuela. Medo do Irã. Medo dos muçulmanos. Medo de Fidel Castro. É preciso atacar a emoção das pessoas. E é preciso evitar que parem para pensar. Se fizerem isso, vão se dar conta: qual é o risco que Cuba representa para os Estados Unidos e suas milhares de armas de destruição em massa? Michael Moore capturou bem essa idéia no filme Bowling for Columbine.

Robert Fisk captura toda a hipocrisia de árabes, judeus e americanos no livro The Great War for Civilization. Os guerreiros da liberdade - "freedom fighters" - que expulsaram os soviéticos do Afeganistão, com ajuda americana, são os mesmos que depois foram rebatizados de "terroristas". Líderes de Israel que mataram civis com bombas quando lutavam para expulsar os britânicos do território que agora ocupam denunciam como "terrorismo" os que combatem com as mesmas táticas a ocupação ilegal israelense de territórios palestinos. Líderes árabes que "abraçam" a causa palestina assassinaram milhares de palestinos em seus próprios países.

"Terrorismo é uma palavra que se tornou uma praga em nosso vocabulário, a desculpa e a razão e a permissão moral para violência patrocinada pelo estado - nossa violência - que é agora usada em inocentes do Oriente Médio de forma ultrajante e promíscua. Terrorismo, terrorismo, terrorismo. A palavra se tornou pontuação, uma frase, um discurso, um sermão, tudo que precisamos odiar para ignorar injustiça e ocupação e assassinato em grande escala. Terror, terror, terror, terror. É uma sonata, uma sinfonia, uma orquestra reproduzida em toda emissora de TV, estação de rádio e agência de notícia, a novela do Diabo, servida no horário nobre e destilada por comentaristas de extrema-direita na costa Leste dos Estados Unidos, pelo Jerusalem Post ou por intelectuais europeus", escreveu Fisk.

Essa novela do Diabo nos faz fechar os olhos para as nuances, para as injustiças contra cristãos, muçulmanos e judeus que devem ser denunciadas sem que nossos preconceitos embotem a capacidade de indignação. Um ex-correspondente da TV Globo se negou a seguir a orientação do chefe, que queria o uso da palavra "terrorista" sempre que se falasse em "palestino" no texto. Ele se negou. Foi substituído por outro "jornalista" que topou.

A idéia é essa, mesmo: esquecer a História, descontextualizar a informação, "selecionar" os fatos que servem à campanha de propaganda e subestimar o ouvinte, o telespectador e o leitor, tratá-lo como o Homer Simpson incapaz de lidar com assuntos complexos. Bate a preguiça de ser didático, de oferecer mais de um ponto-de-vista, de ilustrar as reportagens com mapas, de procurar as nuances.

Fui ao Marrocos, à Jordânia e ao Iraque nos últimos anos. Estive na Índia, em Serra Leoa e Ghana, onde também há milhões de muçulmanos. Fui às mesquitas, aos restaurantes, andei nas ruas. Conversei com motoristas de caminhão, jogadores de futebol e vendedores ambulantes. Não vi chifres, nem gente morando em cavernas. Testemunhei uma religião com forte apelo comunitário, que coloca o interesse coletivo acima do individual e que conforta milhões de fiéis economicamente deserdados.

Os ideólogos da guerra de civilizações não fazem mais que justificar o combate ao ódio com mais ódio, empurrando a vasta maioria dos muçulmanos para o colo dos que se sentiram agredidos pela presença militar ostensiva de soldados americanos em território que consideram sagrado - perto de Meca e Medina, na Arábia Saudita -, da mesma forma que os cristãos se sentiriam ofendidos pela presença de tropas muçulmanas estacionadas na praça de São Pedro, no Vaticano.

A pregação da intolerância não interessa à esmagadora maioria de terráqueos. Quem ganha com ela? Eu não ganho. Nem o Mazen, meu amigo palestino que é muçulmano praticante em Amã, na Jordânia; nem meu amigo Regis Nestrovski, que muito raramente vai à sinagoga. O Mazen está preocupado em dar educação aos três filhos. O Regis está preocupado com a prática do bom jornalismo.

Quem ganha? Os fabricantes de armas, com certeza. E os que de alguma forma se acreditam iluminados por um Deus particular, que requer a destruição alheia para sua satisfação. Esse Deus feroz e vingativo pode até estar escrito em algum livro, tábua ou pedra. É invenção do pior que existe no ser humano. Ou quer tirar o pior do ser humano que criou.

DIA INTERNACIONAL DA MULHER



Rosangela Bion de Assis

Vem mulher,
que é hora de cruzar a última fronteira
e levar nossa delicadeza e nossos rompantes
aos confins do poder.

Vem mulher,
deixa para depois a limpeza,
não deixa para amanhã o livro,
não deixa para depois o beijo.

Vem mulher,
que já somos tantas e já sonhamos muito,
vamos caminhar pela floresta secreta
e ocupar os primeiros lugares.

Vem mulher,
que já treinamos o suficiente,
estudamos o necessário
e agora o mundo precisa da nossa doçura
e da nossa força.

Vem mulher,
do escritório e do campo,
levanta a tua voz,
precisamos nos apresentar ao comando.

Créditos: Pobres & nojentas

Mal Waldron - Left Alone (1959)

http://i28.tinypic.com/sfdtdy.jpg


Mal Waldron - Left Alone (1959)



Personagens:
Jackie McLean, alto sax;
Mal Waldron, piano;
Julian Euell, bass;
Al Dreares, drums

Faixas:
1. Left Alone
2. Catwalk
3. You Don't Know What Love Is
4. Minor Pulsation
5. Airegin
6. Mal Waldron: The Way He Remembers Billie Holiday



Uma pequena homenagem...

Mulheres


José Eduardo Degrazia



A visão da história se repete
E designa simples mortais,
Heróis, armaduras e batinas,
Mulheres santas, cafetinas,
Brancas das Ilhas, mulatas da Bahia,
Negras de Angola,
Italianas da Lombardia,
Alemãs da Pomerânia,
Mulheres lindas e vadias,
Levando odres de vinho,
Ouvindo dobres de sino
Batendo na freguesia.
Mulheres agüentando machos
Em seus corpos e sesmarias,
Mulheres de tantas cores
Parindo na ventania.
Mulheres índias fazendo cestos,
Fazendo filhos no meio do mato,
Rezando para o deus dos vencidos,
Mulheres índias mascando inhame
Para a chicha dos guaranis.

Mulheres de tantas cores
Palmilhando campo e história,
Mulheres esquecidas lavando panos e memórias,
Mulheres guerreiras de faca e pistola,
Mulheres montando potros
Plantando milho e vitórias.
Mulheres sangrando lua nas terras ainda sem dono.

Mulheres levando bivaques
Acompanhando batalhas,
Para enterrar os mortos,
Outras para saqueá-los.
Mulheres levando fronteiras nas aspas dos touros,
Mulheres sendo princesas de perdidos mouros.

Mulheres fazendo terra,
Tremendo os horizontes,
Mulheres amamentando
Machos e fêmeas
Bezerros e bizontes.

Mulheres são Ana Terra,
Heroínas de romances,
Mulheres são santificadas
Como Marias-degoladas.

Mulheres são Marias
E são Madalenas,
São puras e são matreiras,
São virgens
Namoradeiras.

Mulheres vão povoando
Os campos, as sesmarias,
Vão levando seus maridos,
Seus amantes, seus quebrantos.

Mulheres foram tantas
E fizeram tempo e história,
Mulheres dóceis e valentes,
Parindo guerreiros e gentes.

Mulheres e mais mulheres,
De todas as etnias,
Mulheres de fartos seios amamentando
O futuro que se anuncia

sexta-feira, 7 de março de 2008

Beto Guedes - A Página do Relâmpago Elétrico (1977)




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Brasil, 1968 (1): o assalto ao Céu, a descida ao Inferno





Mário Maestri

Os inícios dos anos 1960 haviam sido contraditórios para as lutas sociais no mundo. Em 1964, sob a orientação colaboracionista do Partido Comunista, o movimento popular brasileiro fora derrotado sem lutar. Em 1965-66, a mesma política facilitara o massacre de um milhão e meio de comunistas e a consolidação da ditadura na Indonésia. O assassinato do líder marroquino socialista Ben Barka, na França, em outubro de 1965, e a deposição de Ben Bella, por Boumedienne, na Argélia, em junho do mesmo ano, registravam também os limites da luta pela emancipação social, sob a direção de classes burguesas nacionais tidas como progressistas.

A década iniciara-se também sob signos auspiciosos. Nas barbas do gigante imperialista, em 1959, a partir da Sierra Maestra, um grupo de jovens revolucionários galvanizara a população da pequena ilha e vergara a ditadura odiada. Dois anos mais tarde, a revolução cubana assumia caráter claramente socialista. Em abril de 1961, o fiasco da invasão imperialista da baía dos Porcos aumentara a humilhação estadunidense. Sobretudo na Indochina, avançava incessantemente a luta armada das forças populares vietnamitas, apesar dos ingentes recursos militares empregados pelos EUA.

A derrota brasileira

A derrota no Brasil pesara fortemente sobre a conjuntura mundial. No início da década de 1960, amplos setores populares e médios haviam aderido às propostas de difusas reformas de base que, prometia-se, resgatariam os marginais das cidades e dos campos e relançariam o industrialismo, que modernizara relativamente nas três décadas anteriores a anacrônica estrutura rural da nação. Em 1964, o projeto nacional-reformista fora abortado violentamente. Em nome das classes proprietárias do país, os militares impuseram a ditadura, reprimindo duramente o movimento popular. A derrota fora ainda mais frustrante porque ocorrera sem qualquer resistência, precisamente quando muitos se julgavam a um passo da vitória.

Os grandes líderes populistas — Jango, Brizola e Arraes — abandonaram o país sem resistirem. Brizola propusera, inutilmente, oposição de última hora, rejeitada terminantemente pelo presidente João Goulart, seu cunhado. O Partido Comunista Brasileiro, a grande organização da esquerda, de orientação pró-soviética, mantivera até o triste fim do governo constitucional seu atrelamento ao populismo nacionalista, emperrando a organização autônoma dos trabalhadores. Após o golpe de 1964, o Partidão reafirmou sem qualquer autocrítica sua política colaboracionista.

Porém, no Brasil, a euforia dos vencedores seria curta. Através do mundo, a crise capitalista mundial, que se insinuaria nas principais economias mundiais em 1967, pela primeira vez após longos anos de crescimento ininterrupto, exigia que trabalhadores e assalariados apertassem os cintos, para que o grande capital tirasse suas castanhas do fogo. Desde abril de 1964, os militares brasileiros intervieram nos sindicatos; parlamentares populares tiveram os direitos políticos cassados; militares democratas foram reformados; conquistas sociais foram confiscadas; a renda da classe média e dos trabalhadores despencou devido à violenta política recessiva ditada pelo grande capital ao governo subserviente do ditador Castelo Branco (1964-67).

O desemprego aumentava. A inflação crescia. As classes médias passavam desiludidas para a oposição, após haverem marchado em março de 1964 com Deus, pela pátria e pela família, convocadas pelo imperialismo, pela Igreja e pelos partidos de direita, preparando a intervenção militar que salvaria o país da "ditadura sindicalista". Políticos anti-populares, ou que haviam apoiado o golpe, como Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek, marginalizados do poder, uniram-se a João Goulart em uma efêmera "Frente Ampla", em fins de 1966, ao compreender que os militares pretendiam eternizar-se no poder.

Poder Negro

A situação internacional era tensa e dinâmica. Após o fiasco dos regimes árabes conservadores, com destaque para o Egito, a Síria e a Jordânia, na Guerra dos Seis Dias contra Israel, de inícios de junho 1967, a guerrilha palestina assumia a luta anti-sionista em lugar das direções conservadoras desmoralizadas. Com a crise econômica chegando aos EUA, em boa parte devido aos gastos de guerra, que antes haviam apenas garantido lucros ao grande capital, o movimento pacifista estadunidense questionava duramente a intervenção no Vietnã e os valores do american way of life. O imperialismo yankee era golpeado no próprio ventre. Malcolm X fora assassinado em fevereiro de 1965, em Nova York, mas o black power fortalecia-se e os bairros negros ardiam sob o fogo do ódio da população humilhada. Os hispano-estadunidenses e as próprias populações ameríndias levantavam também a cabeça. No Vietnã, em 30 de janeiro 1968, morreriam os sonhos de vitória militar, com a ofensiva do Ano Ted, durante a qual os vietcongs atacaram mais de trinta cidades sul-vietnamitas e a própria embaixada norte americana, em Saigon. Entretanto, a classe operária estadunidense mantinha-se imóvel sob a hegemonia do grande capital.

De 31 de julho a 10 de agosto de 1967, produzia-se em Havana, Cuba, o primeiro encontro internacional da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS). Após teorizar sumária e superficialmente a experiência vivida na ilha, a direção cubana propunha claramente a generalização incondicional da luta guerrilheira rural. "Criar um, dois, mil Vietnãs". Ainda que de forma confusa e voluntarista, a OLAS rompia o monopólio político soviético, que defendia, na América Latina e através do mundo, a colaboração e subordinação do movimento popular às burguesias nacionais, apresentadas como progressistas. A presença de Carlos Marighella no encontro da OLAS, noticiada amplamente, ao ser conhecida no Brasil levou à expulsão do conhecido militante comunista do PCB. A captura e morte de Guevara, em 8 de outubro de 1967, na selva boliviana, foi vista com um duro percalço no longo caminho a ser trilhado, e não como resultado das inconseqüências da proposta de início da luta armada por pequenos grupos à margem das lutas e da consciência reais dos trabalhadores.

No Brasil, como na França, na Itália, na Alemanha Federal, no Japão, no México e em tantas outras regiões do mundo, 1968 abrir-se-ia sob o signo da resistência já explícita. A crise econômica de 1967 levara a que o movimento operário brasileiro, lutando contra o arrocho salarial, se recuperasse, minimamente, dos golpes sofridos. Em 16 de abril, mil e duzentos operários da siderúrgica Belgo-Mineira cruzavam os braços em Contagem, Minas Gerais. Logo, dezesseis mil trabalhadores encontravam-se em greve. O movimento encerrou-se no início do mês seguinte, com um abono salarial de 10%. No 1° de maio de 1968, outra importante vitória. O governador Abreu Sodré e sua comitiva, convidados por sindicalistas pelegos e do PCB para subir ao palanque da praça da Sé, foram vaiados, escorraçados e obrigados a refugiar-se na catedral paulistana. Os participantes do comício queimaram o palanque e partiram em passeata. No mês seguinte, eclodiram breves paralisações nas montadoras de São Bernardo.

Paris brûle-t-il?

Em maio, fortíssimos ventos europeus avivavam o braseiro nacional. A cidade de Paris, e a seguir a França, foi convulsionada pelo estudantado universitário enragé. Muito logo, o movimento operário iniciou dura e longa greve geral. O governo De Gaulle recuou, a ordem burguesa tremeu, falou-se em governo popular, antes que o Partido Comunista Francês canalizasse a mobilização da rua e as ocupações de fábrica para a luta institucional, enterrando-as sob um estrondoso fracasso eleitoral. O maio francês galvanizou o mundo, colocando quase nas sombras as lutas estudantis e operárias igualmente muito duras na Itália e na própria Alemanha Federal, avivada neste último país pelo atentado ao líder estudantil Rudi Dutschke, em 11 de abril de 1968. No mesmo mês era assassinado Martin Luther King, em Memphis, Tennessee. Na França, lutara-se contra o autoritarismo, contra a discriminação, contra os privilégios, pelo socialismo operário e democrático. Uma geração de líderes de vinte anos conquistava a juventude do mundo com seu radicalismo, inconformismo, desprendimento, coerência. Daniel Cohn-Bendit, Alain Krivine, Jacques Sauvageot etc.

A vitória cubana impusera o princípio de que a revolução se iniciaria pela ação exemplar de alguns guerrilheiros. Em 1967, o foquismo seria teorizado em "Revolução na revolução?", pelo jovem francês Regis Debrey, intelectual de rápida vocação guerrilheira de pouco sucesso. Se o foco não pudesse ser lançado no campo, seria iniciado na cidade. Desde janeiro de 1967, o ativismo dos Guardas Vermelhas contra a restauração capitalista, hoje plenamente vitoriosa, prestigiava o maoísmo, sobretudo entre os jovens católicos radicalizados. A ação das organizações trotskistas na França propagandeou o marxismo-revolucionário, o anti-stalinismo, o anti-burocrático, tornando a seguir Ernest Mandel figura pública mundial.

Fragilizado pela derrota de 1964, o PCB explodia em uma constelação de grupos radicalizados. Jovens chegados em boa parte da Juventude Universitária Católica (JUC) e da Juventude Operária Católica (JOC) aderiam à luta anti-imperialista e anti-capitalista. Então, o Brasil conhece uma multiplicidade de pequenas organizações revolucionárias (ALN, PCBR, AP, POLOP, VAR-Palmares, POC, Fração Bolchevique-Trotskista, MRT etc.) com algumas centenas de militantes, mais comumente de 17 a 25 anos, e abrangência em geral regional. A juventude universitária e secundarista abraçava a luta política, cultural e ideológica, com destemor, magnanimidade e impaciência. Saía às ruas pichando – literalmente, pois, na época, não havia o spray – "Mais verbas e menos canhões"; "Um, dois, mil Vietnãs", "O povo unido derruba a ditadura"; "Viva a aliança operário-estudantil". Conscientes que não há prática sem teoria, os jovens militantes liam sem cessar, sobretudo história, economia, sociologia — A revolução russa, de Trotsky; O diário na Bolívia, de Guevara; Os três Profetas, de Isaac Deutscher; A revolução brasileira, de Caio Prado Júnior; O livro vermelho, de Mao; os Poemas do Cárcere, de Ho Chi Minh.

Em 1968, por primeira vez no Brasil, a Civilização Brasileira publicava O capital, de Kark Marx. Militantes imberbes devoravam os grossos volumes, de fio a pavio, página por página, sem compreenderem muito. Estudavam-se e debatiam-se os mínimos detalhes da revolução russa, chinesa e cubana, ainda que fosse bem menor o interesse sobre a história do Brasil, sobretudo do período anterior a 1930, durante o qual as categorias da sociologia do capitalismo não eram plenamente funcionais. Pelo país afora, discutia-se e polemizava-se duramente. O futuro estava ao alcance da mão. Abraçavam-se as nuvens, em um assalto aos céus.

Mário Maestri é doutor em História pela UCL, Bélgica. É professor do curso e do programa de Pós-Graduação em História da UPF. Esteve preso, em 1968, quando estudante, e viveu, como refugiado, no Chile e na Bélgica, de 1971 a 1977. E-mail: maestri@via-rs.netEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email


Encontro com Milton Santos ou: O Mundo Global visto do lado de cá

A partir de uma entrevista feita com o intelectual Milton Santos em 4 de janeiro de 2001 é discutido o tema da globalização e seus efeitos nos países e cidades do planeta.


Créditos: Makingoff - Tuk

Gênero:
Documentário
Diretor: Silvio Tendler
Duração: 89 minutos
Ano de Lançamento: 2006
País de Origem: Brasil
Idioma do Áudio: Português
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: DivX
Vídeo Bitrate: 163 Kbps
Áudio Codec: LameMP3
Áudio Bitrate: 1280 Kbps
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Ganhou o Candango de Melhor Filme - Júri Popular, no Festival de Brasília 2006.
O diretor Sílvio Tendler conheceu Milton Santos em 1995, enquanto dirigia Josué de Castro - Cidadão do Mundo.

- A entrevista gravada com Milton Santos foi a última audiovisual por ele concedida. Em junho do mesmo ano ele faleceu, devido a um câncer.

O festival de Brasília existe há 39 anos e sua principal marca é a da ousadia. Tem como amálgama a paixão do seu público que reage movido pela emoção sem preconceitos. Foi o caso do festival que se encerrou esta semana

Primeiro preconceito: documentário não é cinema. O júri oficial descartou os filmes documentários da premiação para melhor filme. O público que gosta de cinema votou em dois documentários (curta e longa metragem) para melhor filme.

Segundo preconceito: coisa séria enche e cansa. O júri popular votou em dois filmes "papo cabeça".

O curta de Anna Azevedo, O Homem-Livro, trata de um pedreiro que, numa modesta casa de subúrbio do Rio de Janeiro constrói uma biblioteca. A modéstia pára por aí. O pedreiro já tem um acervo de 42 mil livros que ocupam todos os espaços de sua casa. Ao vivo, durante uma entrevista a que assistia pela televisão, pede ao arquiteto Oscar Niemeyer que lhe ajude a construir uma biblioteca. O arquiteto aceita.

A força do personagem contagia a platéia que ovaciona o filme. No meio da torrente de obras tecnicamente bem realizadas desprovidas de conteúdo, o filme destaca-se, juntamente com outras três ou quatro honrosas exceções, por sua simplicidade e singeleza técnicas que evidenciam a força do personagem.

Melhor longa metragem, o público votou no meu "Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá". Difícil argumentar em causa própria mas, também não desperdiçaria o espaço e a ocasião para partilhar minhas emoções. Fiz, o que chamo, um panfleto necessário sobre a globalização. Nestes tempos de consumo voraz apresentei um diagnóstico do processo civilizatório que, segundo o escritor uruguaio Eduardo Galeano, um dos entrevistados no filme, "está consumindo o planeta". O filme discute ainda ética, justiça e democracia. Foi isso que o público quis. E votou.

Acredito no cinema político e no seu potencial transformador. Se não acreditasse não estaria hoje trabalhando com comunicação, não estaria agora varando a madrugada escrevendo este artigo... Não acredito na neutralidade da informação. Não sou objetivo, tenho objetivos com minha arte engajada. O mais nobre deles é de tentar ajudar a construir um mundo melhor, mais solidário. Por isso fiz Milton Santos, uma parceria com este filósofo e geógrafo que proporciona um outro olhar sobre o mundo e apresenta alternativas a este que aí está. Proponho através da ótica cinematográfica ajudar a construir uma outra ética para a humanidade. Ë ver para crer. O público de Brasília viu e aplaudiu. O cinema pode ser, como diz o professor Milton Santos, outra coisa.

Silvio Tendler é cineasta, autor dos filmes Os Anos JK - Uma Trajetória Política (1980); Jango (1984); Castro Alves - Retrato do Poeta (1990) e Glauber, o filme, labirinto do Brasil (2001).

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RECESSÃO AMERICANA TERÁ GRAVE IMPACTO NA AMÉRICA LATINA, MAS NO BRASIL SERÁ MENOR

Luiz Carlos Azenha

O CEPR, Center for Economic and Policy Research, de Washington, é dedicado a estudar a relação política e econômica entre os Estados Unidos e a América Latina. Em estudo recém-divulgado, assinado por Mark Weisbrot, John Schmitt e Luis Sandoval, avalia o impacto econômico de uma recessão americana na região.

Vocês sabem que os Estados Unidos importam tudo. Do suco de laranja brasileiro a brinquedos eletrônicos chineses. O déficit comercial americano bateu em 5.8% do PIB em 2006. "Deficits dessa magnitude levaram a um grande crescimento da dívida externa dos Estados Unidos", dizem os autores, lembrando que ela chegou a U$ 2,9 trilhões no final de 2006, ou 19,7% do PIB.

Eles argumentam que a situação é insustentável. E acreditam que, a partir da redução do crescimento americano - ou mesmo de uma recessão - o déficit comercial americano será ajustado, caindo de 5.2% do PIB em 2007 para 3% em 2010.

"Alguns países são mais dependentes do mercado americano do que outros. Por exemplo, 77% das exportações do México vão para o mercado americano e essas exportações representaram cerca de 21% do PIB em 2007. Outros países onde as exportações para os Estados Unidos constituem uma parcela significativa do PIB incluem Honduras (37%), Nicarágua (26%), Canadá (23%) e vários outros países da América Central e do Caribe", diz o texto.

Já na América do Sul, as exportações para o mercado americano representam "apenas" 2.9% do PIB do Brasil e 1.6% do PIB da Argentina. "As exportações da Venezuela para os Estados Unidos representam 15% do PIB, mas 95% disso é petróleo. Nos cálculos que seguem consideramos que as exportações de petróleo, gás e produtos relacionados não cairão por causa da redução do crescimento econômico dos Estados Unidos. Isso reduz o efeito da crise americana no Canadá, Colômbia, Equador e Venezuela."

Os economistas projetaram dois cenários. Um considera um pequeno ajuste no déficit comercial dos Estados Unidos. Outro, um ajuste profundo.

A redução do PIB brasileiro por conta disso, segundo o estudo, ficaria entre 0.2 e 0.4% do PIB.

A do Canadá ficaria entre 2.8 e 4% do PIB.

A do México ficaria entre 2.9 e 4.1% do PIB.

A da Venezuela ficaria entre 0.1 e 0.2% do PIB.

A de Honduras ficaria entre 5.9 e 8.3% do PIB.

A da Bolívia entre 0.3 e 0.5%.

A da Colômbia entre 0.4 e 0.5%.

A do Equador entre 0.6 e 0.8%.

A do Chile entre 0.9 e 1.2%.

"Os países que vão sofrer mais como resultado da redução de importações americanas são aqueles com os quais os Estados Unidos fizeram tratados de 'livre comércio' em décadas recentes, inclusive o NAFTA entre EUA, Canadá e México, o Tratado de Livre Comércio da América Central com a República Dominicana e o CAFTA, que inclui Estados Unidos, Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Nicarágua, Honduras e a República Dominicana", diz o estudo.

Os autores não consideraram outros efeitos da redução da atividade econômica nos Estados Unidos, como nas remessas de dinheiro. Menos atividade econômica, menos emprego, queda das remessas.

As remessas representam 31% do PIB do Haiti, 17% na Nicarágua, 16% em El Salvador, 16% na Jamaica e 11% na Guatemala. Nem todo o dinheiro vem dos Estados Unidos, mas com certeza é a maior fatia.

A partir do estudo podemos tirar várias conclusões.

Existe justificativa para que países da região, especialmente os exportadores de energia, procurem outros mercados e façam parcerias com o Irã, a Rússia, a China e a Índia. Não há nada de revolucionário nisso, apesar do que dizem o governo Bush e a TV Globo. É uma questão de sobrevivência econômica.

Países como a Nicarágua, por exemplo, vão ficar mais dependentes de quem pode lhes facilitar a vida - Hugo Chávez e os bilhões que ele controla com o barril de petróleo a 100 dólares.

Vem aí uma crise econômica grave, com efeitos na segurança pública e na política, em países importantes como o México - onde já assistimos à militarização do governo para combater a imigração ilegal e os movimentos sociais. O México já desloca tropas para segurar, na fronteira com a Guatemala, o fluxo de imigrantes ilegais da América Central que estão a caminho dos Estados Unidos.

Teremos desespero econômico em países como Honduras, Guatemala e Haiti - os militares brasileiros que se preparem para uma explosão política de fundo social no Haiti. A Guatemala, de governo novo, está de olho em reforçar os laços econômicos especialmente com o Brasil.

Os imigrantes servirão de bode expiatório para problemas econômicos estruturais e dependência excessiva do mercado americano. Já acontece na Costa Rica, onde o "problema" são os imigrantes que chegam da Nicarágua; e na República Dominicana, onde a "culpa" é de quem vem do Haiti.

Podemos esperar maior imigração entre países da América Latina, com as consequências econômicas e políticas resultantes disso.

Como a soberania política está intimamente ligada à soberania econômica, assistiremos à ascensão relativa de países com recursos naturais - Venezuela, Equador, Bolívia, Colômbia e Brasil.

É uma oportunidade de ouro para que o Brasil faça avançar seus interesses econômicos e políticos até o México.

A paz verdadeira na América Latina, com a eliminação política - e não militar - das FARC faz todo sentido para a integração econômica, especialmente na América do Sul.

Quem seria o maior ganhador de um mercado continental e da integração física através de estradas, ferrovias, ligações aéreas e trocas de mercadorias?

Que tal o Brasil?

Qual é a maior dificuldade para que isso aconteça?

Seria a instabilidade política?

A quem interessa desmobilizar as FARC de forma pacífica, através de um acordo político?

A quem interessa evitar a partilha da Bolívia, através de uma saída diplomática?

A quem interessa mandar bala nas FARC?

A quem interessa partilhar a Bolívia?

Eu gostaria de ouvir as respostas. Mas sem a papagaiada do Ali Kamel e congêneres.