segunda-feira, 10 de março de 2008

Tim Maia & os cariocas - amigo do rei


Créditos:SomBarato


1.Ter Você É Ter Razão
2.Essa Tal Felicidade
3.Ela É Carioca
4.Lindeza
5.Amigo Do Rei
6.Não Quero Dinheiro, Só Quero Amar
7.Telefone
8.Samba Do Avião
9.Azul Da Cor Do Mar
10.Valsa De Uma Cidade

*contribuição de Paulo Eduardo

"Mate 100 turcos, e descanse…"

Uri Avnery**

Lembrei-me, esta semana, daquela velha história de uma mãe judia, separando-se do filho convocado para servir o exército do czar contra os turcos.

“Não exija demais de você mesmo”, aconselhava ela ao filho. “Mate um turco, e descanse. Mate outro turco, e descanse outra vez…”

“Mas, mamãe”, diz o filho, “E se o turco me matar?”

“Matar você?”, ela grita, indignada. “Por quê? Que mal você fez a ele?!”

Não é piada (e esta não é semana para piadas). Aí está uma lição de psicologia. Lembrei-me dela, ao ler que Ehud Olmert declarou que o que mais o enfureceu foi a explosão de alegria em Gaza, depois do ataque em Jerusalém, no qual foram mortos oito estudantes yeshiva.

Antes disto, semana passada, o exército de Israel matara 120 palestinos na Faixa de Gaza, metade dos quais civis, além de dúzias de crianças. Não foi “mate um turco, e descanse”. Foi “mate 120 turcos, e descanse”. Isto, Olmert não entende.

A GUERRA DOS CINCO DIAS em Gaza (como disse o líder do Hamás) foi mais um curto capítulo da luta entre israelenses e palestinos. Este monstro sanguinário nunca está satisfeito. Quanto mais come, mais sente fome.

Este capítulo começou com o “assassinato seletivo” de cinco altos militantes, dentro da Faixa de Gaza. A “resposta” foi uma chuva de foguetes e, desta vez, não só sobre Sderot, mas também sobre Ashkelon e Netivot. A “resposta” à “resposta” foi a incursão pelo exército de Israel e a matança.

O objetivo declarado foi, como sempre, fazer parar os foguetes. O meio: matar o maior número possível de palestinos, para dar-lhes uma lição. A decisão baseou-se num tradicional conceito vigente entre os israelenses: mate civis, mate e mate, até que os líderes caiam. Cem vezes Israel já tentou esta “solução”; cem vezes fracassou.

Como se faltasse algum exemplo da loucura dos que divulgam este conceito, lá estava, na televisão, o ex-general Matan Vilnai, para “declarar” que os palestinos “trazem a Shoah para eles mesmos”.

A palavra Shoah, em hebraico, só significa uma coisa, em todo o mundo, e só uma: é o holocausto dos judeus, pelos nazistas. A fala de Vilnai incendiou o mundo árabe e provocou uma onda de choque. Também eu recebi dúzias de telefonemas e mensagens de e-mail, de todo o mundo. Como convencer as pessoas de que, no hebraico coloquial, na fala diária, Shoah significa “apenas” uma catástrofe, um grande desastre, e que o General Vilnai, que já foi candidato a presidente, nunca foi o mais inteligente dos homens?

Há alguns anos, o presidente Bush convocou uma “Cruzada” contra o terrorismo. Não sabia que, para centenas de milhões de árabes, a palavra “cruzada” evoca um dos maiores crimes jamais perpetrados na história humana, o horrendo massacre de muçulmanos (e judeus) pelos primeiros “cruzados”, nas vielas de Jerusalém. Um concurso de inteligência, entre Bush e Vilnai, provavelmente, acabaria empatado.

VILNAI NÃO ENTENDE o que significa a palavra “Shoah”, para os diferentes dele; e Olmert não entende por que houve júbilo em Gaza depois do ataque à escola yeshiva, em Jerusalém. Sábios como estes dois dirigem o Estado, o governo e o exército. Sábios como estes dois controlam a opinião pública, porque controlam a mídia. O que há de comum entre todos estes sábios: a mesma insensibilidade, a mesma cegueira, que os impede de ver o que sentem os não-judeus, os não-israelenses. Desta cegueira nasce a incapacidade para entender a psicologia do outro lado; e, depois, tampouco entendem as conseqüências de suas palavras e atos.

A mesma cegueira explica a incapacidade para entender por que o Hamás declarou-se vitorioso na Guerra dos Cinco Dias. Que vitória? Feitas as contas, morreram só dois soldados e um civil israelenses, e foram mortos 120 palestinos, combatentes e civis.

Mas a batalha travou-se entre um dos mais poderosos exércitos do mundo, equipado com o armamento mais moderno que há no planeta, contra umas poucas centenas de combatentes de milícias, com armamento primitivo. A retirada – e este tipo de combate sempre termina em retirada – sempre é uma vitória para o lado mais fraco. Aconteceu na Segunda Guerra do Líbano e aconteceu na Guerra de Gaza.

(Binyamin Netanyahu é autor de uma das “declarações” mais estúpidas da semana; exigiu que o exército de Israel “esqueça os movimentos de atrito e decida o combate”. Numa luta como esta, não há como decidir coisa alguma.)

O resultado real deste tipo de operação não se manifesta em números, em quantidades: tantos mortos, tantos feridos, tais e tais prédios destruídos. O resultado, aí, só tem expressão psicológica, resultados que não podem ser medidos e, portanto, são incompreensíveis para cabeças de generais: quanto ódio acrescentou-se ao ódio existente, quantos novos homens-bomba surgiram, quantos mais juraram vingança e converteram-se em bombas vivas – como o jovem de Jerusalém que acordou uma manhã, esta semana, arranjou uma arma, andou até a escola Mercaz Harav yeshiva, aquele ninho de onde nascem todas as colônias e “assentamentos”, e matou a maior quantidade de israelenses que conseguiu matar.

Agora, as lideranças políticas e militares de Israel reúnem-se para discutir o que fazer, como “responder”. Não tiveram nem terão qualquer idéia nova, porque políticos e generais são incompetentes para gerar idéias novas. Só sabem repetir as idéias de sempre, o que já fizeram centenas de vezes, e fracassaram centenas de vezes e fracassarão sempre.

O PRIMEIRO PASSO para sair deste círculo de loucura é começar a questionar os conceitos e métodos que Israel tem usado nos últimos 60 anos. E recomeçar a pensar, do começo, desde o início.

Isto sempre é muito difícil. E é ainda mais difícil para Israel, porque as lideranças em Israel não têm liberdade para pensar – o pensamento, em Israel, está sempre amarrado ao que pensem os líderes norte-americanos.

Esta semana, foi publicado um documento chocante: o artigo de David Rose em Vanity Fair. Ali está contado como, nos últimos anos, funcionários dos EUA têm ditado cada passo de lideranças palestinas, nos mínimos detalhes. Embora o artigo não toque nas relações EUA-Israel (uma omissão que, de fato, é surpreendente) sabe-se, mesmo que não se leia, que a ação norte-americana, nos mínimos detalhes, é coordenada com o governo de Israel.

Por que chocante? Em termos gerais, não há novidades, no artigo: (a) os norte-americanos mandaram que Mahmoud Abbas mantivesse as eleições parlamentares, para que Bush aparecesse como aquele que levou a democracia ao Oriente Médio. (b) O Hamás foi eleito – o que não se esperava que acontecesse. (c) Os americanos impuseram um boicote aos palestinos, para ‘desconstruir’ o resultado das eleições. (d) Abbas afastou-se um passo da política que lhe foi ordenada, sob auspícios (e pressão) da Arábia Saudita; e fez um acordo como o Hamás. (e) Os americanos cortaram-lhe as asas e obrigaram Abbas a entregar todos os serviços de segurança a Muhammad Dahlan, escolhido pelos norte-americanos para o papel de homem-forte na Palestina. (f) Os americanos deram armas e dinheiro a Dahlan, treinaram seus homens e ordenaram que criasse um golpe militar contra o Hamás na Faixa de Gaza. (g) O governo eleito do Hamás abortou o movimento e respondeu, o próprio Hamás, com um contra-golpe armado.

Até aí não há novidades. Tudo isto já era sabido. A novidade é que esta mistura de noticiário, boatos e apostas inteligentes apareça condensada em relatório bem-informado, formulado a partir de documentos oficiais dos EUA. É prova da abissal ignorância dos EUA, só comparável à abissal ignorância de Israel, quanto aos processos internos da Palestina.

George Bush, Condoleezza Rice, o neoconservador sionista Elliott Abrams e os generais norte-americanos, que nada sabem sobre coisa alguma, competem com Ehud Olmert, Tzipi Livni, Ehud Barak e com os generais israelenses, que sabem, sobre a Palestina, o que caiba do fundo à ponta dos canhões de seus tanques.

Os norte-americanos, enquanto isto, já destruíram Dahlan porque o expuseram como seu agente, na linha do “é um filho-de-puta, mas é o nosso filho-de-puta”. Esta semana, além do mais, Condoleezza detonou um golpe mortal contra Abbas. Ele anunciou, de manhã cedo, que estava suspendendo as negociações (tempo perdido) de paz com Israel – o mínimo que podia fazer, depois das atrocidades que o exército de Israel cometeu em Gaza. Rice, que soube disto quando tomava café da manhã na estimulante companhia de Livni, imediatamente convocou Abbas e ordenou que desdissesse o que acabava de dizer. Abbas obedeceu e expôs-se, ele mesmo, nu em pêlo, ao seu próprio povo.


A LÓGICA não foi dada ao povo de Israel no Monte Sinai. Mas, sim, foi dada no Monte Olimpo, aos antigos gregos. Apesar desta dificuldade local, tentemos aplicar aqui, alguma lógica.

O que o governo de Israel está tentando conseguir, em Gaza? Quer derrubar o Hamás (e, marginalmente, também quer que parem os foguetes e morteiros contra Israel).

Israel já tentou obter o que quer mediante um bloqueio total contra a população palestina, na esperança de que, assim, a população levantar-se-ia contra o Hamás. O plano falhou. O “plano B” seria reocupar toda a Faixa de Gaza. Mas isto custará um alto preço em vidas de soldados, preço mais alto, talvez, do que a opinião pública em Israel está disposta a pagar. Além disto, de nada adiantará, porque o Hamás reaparecerá no momento em que as tropas de Israel se retirarem. (Mao Tse Tung ensinava, como primeira lição na guerra de guerrilhas: “Se o inimigo avança, retrocede. Se o inimigo retrocede, avança.")

O único resultado da Guerra dos Cinco Dias foi o fortalecimento do Hamás e o aumento do apoio que recebe do povo palestino – não só na Faixa de Gaza, mas na Cisjordânia e também em Jerusalém. O Hamás tinha, sim, o que celebrar, naquela festa da vitória. Os foguetes não pararam. E aumentaram a capacidade de fogo e o alcance.

Mas suponhamos que a política de Israel tivesse dado certo e que o Hamás tivesse sido derrotado. E daí? Abbas e Dahlan não podem voltar sobre a cabine dos tanques israelenses como sublocatários da ocupação. Nenhuma empresa de seguros de vida os aceitará como segurados. E, se não voltarem, será o caos, do qual emergirão forças tão extremistas que, hoje, ainda nem as podemos imaginar.

Conclusão: o Hamás está lá. Não pode ser ignorado. Temos de construir um cessar-fogo com o Hamás. Não a partir de uma oferta ridícula, do tipo “se eles pararem primeiro, nós paramos depois”. Cessar-fogo, como o tango, precisa de dois. É preciso que haja um acordo prévio e detalhado que inclua a cessação de todas as hostilidades, armadas e outras, em todos os territórios.

Nenhum cessar-fogo será efetivo se não houver negociações, conversações, que têm de começar logo, e que levem a um armistício de longo prazo (a “hudna”) e à paz. Estas negociações não podem acontecer com o Fatah, e sem o Hamás; nem com o Hamás, e sem o Fatah. Portanto, é preciso que se construa um governo palestino em que se reúnam os dois movimentos. É preciso convocar personalidades que gozam da confiança de todo o povo palestino; Marwan Barghouti, por exemplo.

Não há uma única voz, nem entre as lideranças em Israel nem entre as lideranças nos EUA que se atreva a declará-lo abertamente. Mas esta política é precisamente o avesso, o contrário, da política em curso, pensada por EUA-Israel, e que proíbe até que Abbas converse com o Hamás. Portanto, continuaremos a ver o que temos visto.

Mataremos 100 turcos, e descansaremos. E, vez ou outra, algum turco nos matará, alguns de nós.

Por quê, pelo amor de deus?! Que mal Israel fez a eles?!


**Uri Avnery,85 anos, é membro fundador do Gush Shalom (Bloco da Paz israelense). Adolescente, Avnery foi combatente no Irgun e mais tarde soldado no exército israelita. Foi três vezes deputado no Knesset (parlamento). Foi o primeiro israelense a estabelecer contato com a liderança da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1974. Foi durante quarenta anos editor-chefe da revista noticiosa Ha'olam Haze. É autor de numerosos livros sobre a ocupação israelense da Palestina, incluindo My Friend, the Enemy (Meu amigo, o inimigo) e Two People, Two States (Dois povos, dois Estados).


* URI AVNERY, 8/3/2008, "Kill a hundred Turks and rest…", na página de Gush Shalom [Grupo da Paz], em http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1205012429/

Brasil, 1968 (2): o assalto ao Céu, a descida ao Inferno

Mário Maestri - CorreioDaCidadania




A cultura é do povo



A explosão de criatividade invadiu as artes, sobretudo a música, o teatro, o cinema, a produção editorial nacionais. Uma estética radical de raízes tupiniquins garantia momentos de glória ao cinema nacional. Nélson Pereira dos Santos filmara o clássico "Vidas Secas", em 1963, e Anselmo Duarte conquistara Cannes com o "Pagador de Promessas", de 1962. O quase menino Glauber Rocha dirigira "Terra em Transe", em 1967, e concluiria, em 1969, "O dragão da maldade contra o santo guerreiro". Filmaria a grande mobilização carioca de 1968 para projeto cinematográfico jamais concretizado. Bertolt Brecht era uma constante nos teatros nacionais com "Os fuzis da senhora Carrar", "Galileu Galilei", "A ópera dos três vinténs", "Mãe coragem e seus filhos". A dramaturgia nacional plantava raízes próprias com "Liberdade, liberdade" e "Arena conta Zumbi", de 1965; "Arena conta Tiradentes", de 1967; e com encenações explosivas como "Roda-viva", de 1968, objeto de ataques de grupos paramilitares direitistas.



Em um país de poucos leitores, com a televisão ainda engatinhando, o combate cultural enfuriava quando se tratava da música popular. Apenas parcialmente inconscientes do papel que cumpriam, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Vanderléia e a turma da "Jovem Guarda" pregavam a despolitização e só pediam "que você me aqueça nesse inverno e que tudo mais vá para o inferno". A esquerda dominava totalmente o campo, com uma seleção que só aceitava craques: Caetano, Chico, Elis Regina, Jair Rodrigues, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Vinícius de Morais etc. Quando dos festivais da canção, a disputa politizada transformava-se em uma quase batalha campal.



Através da música, debatiam-se os projetos para o futuro do país. Em uma época sem cerimônias, iconoclasta, o público levantava-se contra os monstros sagrados que construía caso ousassem sair da linha, ou do que se pensava que fosse a linha. Em 28 de março de 1968, três dias antes do quarto aniversário do golpe, as polícias militares do Exército e da Aeronáutica invadem o restaurante do Calabouço, no Rio de Janeiro, e disparam à queima-roupa contra os estudantes, matando Édison Luís de Lima Souto, de 18 anos. No dia seguinte, sexta-feira, a antiga capital da República pára para que sessenta mil populares acompanhem a despedida ao secundarista. A resposta é violenta. Por diversos dias, a cidade tornou-se campo de acirrada batalha. De um lado, estudantes e populares. Do outro, polícia e exército. Universitários, secundaristas e populares são mortos. Ao deslocarem-se pelas ruas do Centro, os soldados protegem-se debaixo das marquises dos objetos atirados desde os edifícios. Um policial militar, a cavalo, morre ao receber na cabeça um pesado balde, ainda carregando cimento fresco, lançado desde um edifício em construção.



Cem mil contra a ditadura



A agitação estudantil alastra-se pelo Brasil, com manifestações nas principais capitais. Na quarta-feira, 26 de junho, o movimento alcança seu ápice. No Rio de Janeiro, cem mil manifestantes concentram-se na Cinelândia e desfilam pelo Centro, em uma demonstração permitida pelo governo. Cinqüenta mil pessoas protestam nas ruas de Recife. As grandes manifestações alcançam efeito inesperado. Dias mais tarde, uma comissão da "Passeata dos Cem Mil", do Rio de Janeiro, é recebida em Brasília pelo ditador Costa e Silva. Entre os membros da delegação, encontra-se um representante da UNE, entidade colocada na ilegalidade imediatamente após o golpe. Entretanto, o encontro não tem conseqüências.



A mobilização operária levara a oposição sindical a planejar um amplo movimento grevista para o fim do ano, quando da data-base de importantes categorias. A explosão das manifestações de junho aceleraria a greve. Em 16 de julho, José Ibrahim, presidente do sindicato dos metalúrgicos de Osasco, de 20 anos, ligado à organização militarista VPR, põe-se à frente de uma paralisação da COBRASMA, com ocupação da empresa e aprisionamento dos funcionários graduados, à qual aderem dez mil trabalhadores de outras indústrias. O movimento exige reajuste de 35%, reposição salarial cada três meses e outras reivindicações. A ditadura militar responde violentamente. Centenas de trabalhadores são presos e despedidos. A COBRASMA é invadida. José Ibrahim mergulhou na clandestinidade, de onde partiria mais tarde para o Chile e a seguir para a Bélgica. Zequinha, dirigente operário da COBRASMA, é preso e torturado. Após cinco dias, a greve quebrava-se. Uma segunda paralisação, em Contagem (MG), em outubro, é reprimida com facilidade. A greve geral do fim do ano jamais seria tentada.



No país, decresce a mobilização. Em 12 de outubro, o movimento estudantil, espinha dorsal da oposição, recebe forte golpe. Subestimando a repressão, a direção da UNE reúne, para seu 30° Congresso em um sítio em Ibiúna, cidadezinha do interior de São Paulo, milhares de delegados de todo o país. A prisão dos participantes permite a detenção das direções e o mapeamento das lideranças estudantis do norte ao sul da nação. No mesmo dia em que caía o congresso de Ibiúna, era varado pelas balas de um comando militar da VPR, diante de sua residência em São Paulo, o capitão estadunidense Charles Chandler, funcionário da CIA, ‘estudando’ Sociologia no Brasil.



Os dois acontecimentos ilustravam a orientação que viveria a resistência nos anos seguintes. Ações armadas de grupos de corajosos jovens militantes, isolados socialmente, pretendendo substituir o movimento de massas em refluxo. Em 2 de outubro, na capital mexicana, na Praça das Três Culturas, de duzentos a trezentos estudantes e populares foram massacrados pelo exército e policiais durante concentração, dez dias antes do início dos Jogos Olímpicos, que se realizaram sem quaisquer pruridos morais.



Sobretudo de 1969 a 1973, organizações de esquerda militaristas, inspiradas no foquismo guevarista, lançariam ações espetaculares - assaltos a bancos, seqüestros de embaixadores e de aviões, execuções de torturadores, guerrilhas rurais etc. - sem que os trabalhadores urbanos e rurais aderissem à proposta de luta armada imediata, milhões de anos-luz longe de suas consciências, necessidades e capacidade de organização na época. Isoladas, as organizações seriam dizimadas, uma após a outra, pela repressão, que se estenderia igualmente aos militantes voltados para a organização dos trabalhadores e classes populares. Por esses anos, automóveis da nova classe média ascendente invadiam as ruas, portando o autocolante "Brasil: ame-o ou deixe-o", distribuído pela repressão, simples tradução da consigna direitista estadunidense "America love it or leave it".



Para ler o primeiro artigo da série, clique aqui. Ou acesse via http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1497/47/



Mário Maestri édoutor em História pela UCL, Bélgica. É professor do curso e do programa de pós-Graduação em História da UPF. Esteve preso, em 1968, quando estudante, e viveu, como refugiado, no Chile e na Bélgica, de 1971 a 1977. E-mail: maestri@via-rs.netEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

domingo, 9 de março de 2008

Classe média

Vídeo de animação para a música "Classe média", do cantor brasileiro Max Gonzaga

Os negócios nebulosos do Grupo Abril

Entenda o que está por trás de Colômbia x Equador

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Os USA estão pouco se lixando para o narcotráfico e para as Farc. O objetivo deles é matar o Chávez para botar as mãos no petróleo venezuelano. As reservas de petróleo dos USA só duram por mais 8 anos. Os jornais O Globo, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, revista Veja, TV Band, TV Globo, SBT rádio CBN, apóiam a invasão colombiana.

Cláudio Tognolli

Entenda o que está por trás da invasão do Equador pelo exército colombiano, liderado pelos norte-americanos e o serviço secreto de Israel o Mossad, que matou mais de vinte pessoas entre elas o porta-voz das Farc que negociava a libertação de reféns.

1 - Não é a primeira vez que O governo colombiano entra em conflito com as Farc.

2 - Não é a primeira vez que UM governo colombiano entra em conflito com as Farc.

3 - Não é a primeira vez que as Farc entram em território do Equador, Brasil e Venezuela para se proteger e/ou abastecer, sem o conhecimento e o consentimento de seus respectivos governos.

4 - MAS É a primeira vez que o governo colombiano invade território estrangeiro para eliminar tropas das Farc.

5 - Por que agora? Qual a urgência? Por que justamente o líder das Farc mais favorável ao diálogo e aquele que dialogava com a França e com Chávez para a libertação dos reféns?

6 - Até agora, quem mentiu foi o governo colombiano. Disse que havia entrado no Equador em perseguição a uma coluna das Farc em fuga e reagido a tiros daquela. O que se viu no sítio foram sinais de execução de guerrilheiros que dormiam (todos estavam usando pijamas) e foram surpreendidos por tropas bem equipadas, inclusive por ataque aéreo, e treinadas para tal. ...

7 - A operação foi ato pensado e refletido e com retaguarda política de peso. Não havia justificativa para este extremo. As Farc de longe não têm poder para desafiar o governo. O governo não fazia operação para libertar reféns ou ganhar território. Era para eliminar liderança.

8 - Uribe vinha sendo seguidamente colocado contra a parede com as negociações entre Chávez, as Farc e o governo francês. Tinha que engolir o que não queria fazer. Encontrou um meio de acabar com isto em alto estilo. E os EUA? Mantêm Uribe sob proteção.

9 - Além de acabar com sua principal fonte de preocupação ultimamente, as conversações entre as Farc e Chávez, Uribe consegue unir o país em torno de si em momento de crise e retoma sua principal plataforma política, que é a solução militar contra as Farc.

10 - De quebra, pode eliminar também uma futura concorrente política, Ingrid betancourt, que poderia ser libertada e lhe fazer frente, com legitimidade para apresentar-se capaz de bancar um acordo político com as Farc, anulando a principal plataforma de campanha de Uribe.

11 - Os EUA têm na Colômbia de Uribe seu único porto seguro na América do Sul. Ver o aliado enfraquecido não é bom. Um acordo de paz com as Farc também não é bom. Retira dos EUA sua desculpa para permanecer na Colômbia...

12 - A crise política entre as nações é uma mão na roda para os EUA. Provoca instabilidade, torna Uribe ainda mais dependente dos americanos e é desculpa para reforçar sua presença no continente.

13 - O alvo principal dos americanos é a Venezuela. Os americanos não dão a mínima para a coca da Colômbia. Dependendo do desenrolar da crise, os americanos podem achar o que procuravam há muito para eliminar Chávez.

14 - Cabe ao governo brasileiro diagnosticar bem a situação e posicionar-se como mediador e tentar anular o passo americano. É uma grande oportunidade de exercer liderança. Nada de declarações apressadas. O momento é de conversa de bastidor...

Veja abaixo um trecho de texto de uma matéria da conceituada revista norte-americana Newsweek onde fala sobre um relatório da inteligência do Departamento de Defesa dos USA que diz que o Uribe, presidente da Colômbia, tinha e tem envolvimento com os narcotraficantes...continua...

As mídias do Brasil tentam fazer a gente aceitar que as Farc é que são ligadas aos traficantes da Colômbia. (quem for alienado que acredite)

“Da lista negra para uma lista
Uma vez julgado como mau garoto, Uribe é agora um aliado superior.

por Joseph Contreras e Steven Ambrus Newsweek

Edição de 9 de agosto de 2004

Um relatório da inteligência do Departamento de Defesa, datado setembro 1991, que era secreto, mas foi liberado para o público, indica quem é quem no comércio da cocaína da Colômbia.

A lista inclui o mestre do cartel de Medellin, Pablo Escobar, e mais de outros 100 entre assassinos, traficantes e advogados contratados pelo tráfico. No documento na página 82 diz: “Alvaro Uribe Vélez -- um político e senador colombiano se dedicou à colaboração com o cartel de Medellin em níveis elevados do governo.

Uribe foi ligado a um negócio envolvido em atividades do narcotráfico nos Estados Unidos.…. Uribe trabalhou para o cartel de Medellin e é um amigo pessoal próximo de Pablo Escobar Gaviria. “Escobar morreu em uma invasão pela polícia em 1993 . Dois anos atrás nesta semana, Uribe se tornou presidente da Colômbia...

Washington o ama. (The list was obtained by the National Security Archive, an independent U.S. research group.) (…)"

Os USA estão pouco se lixando para o narcotráfico e para as Farc. O objetivo deles é matar o Chávez para botar as mãos no petróleo venezuelano. As reservas de petróleo dos USA só duram por mais 8 anos.

Os jornais O Globo, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, revista Veja, TV Band, TV Globo, SBT rádio CBN, apóiam a invasão colombiana.

Quase todas essas mídias que citei acima trazem hoje como manchete o " suposto" e inverossímil envio para as Farc pelo Chávez de U$ 300 milhões de dólares, (INVENCIONICE) TUDO NÃO PASSA DE uma tentativa de desviar o foco dos leitores da questão principal que é a invasão de um país por outro o que é gravíssimo.

Tudo o que está escrito aqui, legitima tudo o que o Chávez vem fazendo para proteger a Venezuela, seu povo, se proteger e proteger a América do Sul dos USA...
http://www.newsweek.com/id/54793

Pergunto:
Se a Venezuela não tivesse petróleo será que os USA estariam de briga com o Chávez? NÃO.

Será que se o Afeganistão, Iraque e Irã não tivessem jazidas de petróleo e gás os USA, mesmo assim, teriam arrumado encrenca com esses países? NÃO.

A Arábia Saudita, que tem a maior jazida de petróleo fino do mundo e que é um dos aliados dos USA, e que é uma ditadura deveria também ser invadida pelos USA? Pela lógica acima = SIM.

Ultimamente os USA têm se relacionado como aliado ou inimigo de países que têm jazidas de petróleo e gás? Como aliado, lógico. Será coincidência?

Será que os interesses dos USA são os mesmos da Colômbia e da América do Sul?

Vejam abaixo, trecho do livro da biografia não autorizada do Uribe, feita pelo mesmo jornalista da Newsweek da matéria acima:

Uribe, o narcotraficante

O pai de Álvaro Uribe Velez, Alberto Uribe Sierra, foi narcotraficante detido com o objectivo de o extraditar para os Estados Unidos em 1982 mas, graças às manipulações de Álvaro Uribe filho, foi posto em liberdade, sendo depois, como o declara o mesmo Álvaro Uribe, morto pelas FARC-EP, assim o dizem, pelas suas acções narcoparamilitares.

O jornalista Joseph Contreras, no seu livro "O Senhor das Sombras", "Biografia de Álvaro Uribe", disse que é bem conhecido que o helicóptero que trasladou o cadáver de Alberto Uribe, pai do actual Presidente da oligarquia colombiana, da herdade familiar até Medellin era um aparelho que do Cartel de Medellin, de Pedro Escobar", especificamente.

Ao enterro do fazendeiro, segundo o jornalista Fábio Castillo, assistiu o então Presidente da Republica, Belisário Betancourt Cuartas e uma boa parte da nata da sociedade antioquenha, no meio de velados protestos dos que conheciam os vínculos de Uribe Sierra com a cocaína.

Algum tempo depois o helicóptero Huges 500 de matrícula colombiana HK2704X, propriedade da família de Álvaro Uribe, foi encontrado no maior laboratório de cocaína descoberto na Colômbia, chamado "Traquilandia". Ao ser interrogado sobre o assunto, Uribe, visivelmente acabrunhado, respondeu com a desculpa infantil, que tinham perdido o aparelhito e que se tinham esquecido de participar o desaparecimento.

O mais espantoso (e perigoso) para nós brasileiros é ver grande parte da mídia (GLOBO - SBT - BAND - ESTADÃO - VEJA - FOLHA) apoiarem essa invasão. Prova de que essas "organizações midiáticas" estão atreladas de forma "UNDERSECRET" ao Governo dos Estados Unidos.

Se quiser mais informação deste "narcotraficante e pelego do governo do Her Bush" leia a biografia não autorizada com 260 páginas, que é o resultado do trabalho de investigação de Joseph Contreras, correspondente da revista. Newsweek. Clicando aqui.
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A Barbárie também está no RS.....

Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul denuncia o impedimento, por parte da Brigada Militar, do exercício profissional de jornalistas na cobertura da ocupação, pelas mulheres da Via Campesina, da Fazenda Tarumã, em Rosário do Sul. Repórteres fotográficos e cinematográficos foram impedidos de registrar a agressão sofrida por mulheres e crianças que estavam na manifestação, inclusive tendo equipamentos profissionais apreendidos. Outra jornalista foi retirada do local pelos policiais.

Foto: Eduardo Seidl

Jornalista é conduzida pela BM

Vivemos em uma sociedade democrática de direito e não vamos aceitar as velhas práticas do período da ditadura militar. O Código de Ética dos Jornalistas, em seu artigo 2º, inciso V, aponta que "a obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação, a aplicação de censura e a indução à auto-censura são delitos contra a sociedade". O mesmo Código também identifica, no artigo 6º, ser "dever do profissional opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão".

Foto: Eduardo Seidl

Repórter tem equipamento apreendido

A Secretaria de Segurança do Estado deve explicações sobre esse fato não só aos jornalistas agredidos no seu direito de trabalhar, mas a toda a sociedade, que foi impedida de ser livremente informada. As constantes denúncias que chegam ao Sindicato revelam que ameaças aos jornalistas têm sido prática constante por parte da Brigada Militar.

Foto: Eduardo Seidl

Manifestante ferida é socorrida

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS está atento a esse tipo de comportamento e levará o caso à Federação de Periodistas da América Latina e Caribe que, já em sua Carta de Lima, Peru, de dezembro de 2007, exigia dos governos assumir a responsabilidade de garantir a todos os jornalistas o direito à vida, ao trabalho digno, à liberdade de expressão e o direito cidadão à informação.
* Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS

Publicado por Assessoria de Imprensa às 15:58
http://www.jornalistas-rs.org.br/

Tsotsi

Filmado no "township" (município) de Soweto, o filme conta a história de um "tsotsi" (durão) de 19 anos, que precisa tomar conta de um bebê encontrado no banco de trás de um carro que roubou após atirar na mãe da criança.

Uma co-produção entre Grã-Bretanha e África do Sul, o filme é a adaptação cinematográfica do livro homônimo do sul-africano Athol Fugard.

Depois de Yesterday, sobre a exclusão dos doentes de Aids, e de Carmen em Khayelitsha, rodado em um acampamento de "squatters" (ocupantes ilegais) na Cidade do Cabo, Tsotsi é o sucesso mais recente de uma indústria cinematográfica que aborda os problemas contemporâneos da "nova África do Sul".
Créditos:makingoff - parkyns
Gênero: Drama/Policial
Diretor: Gavin Hood
Duração: 90 minutos
Ano de Lançamento: 2005
País de Origem: África do Sul
Idioma do Áudio: Zulu / Xhosa / Afrikaans
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0468565/
Site Oficial: http://www.tsotsi.com/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 953 Kbps
Áudio Codec: MP3
Áudio Bitrate: 122
Resolução: 640 x 272
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 699 Mb
Legendas: Em anexo

- Academy Awards 2006: Best Foreign Language Film of the Year
- BAFTA 2006 Nomination: The Carl Foreman Award and Film Not In The English Language.
- Pan African Film and Arts Festival 2006 Award: Jury Prize for Best Feature
- Santa Barbara Film Festival 2006 Award: Audience Award
- Thessaloniki Film Festival 2005 Award: Independence Day section, Greek Parliament's Human Values Award
- Denver International Film Festival 2005 Award: Audience Award
- Cape Town World Cinema Festival 2005 Award: Critics Jury Award
- St. Louis International Film Festival 2005 Award: Audience Choice Award
- Los Angeles AFI Film Festival 2005 Award: Audience Award
- The Toronto International Film Festival 2005 Award: People's Choice Award
- The Edinburgh International Film Festival 2005 Award: The Michael Powell Award For Best New British Feature Film and Standard Life Audience Award
"Tsotsi" significa "rufia" ou "desordeiro" na linguagem das ruas de Soweto, um gueto negro nos subúrbios de Joanesburgo. Tsotsi (Presley Chweneyagae) tem 19 anos e é chefe de um grupo de gangsters: Boston (Mothusi Magano), Butcher (Zenzo Ngqobe) e Aap (Kenneth Nkosi). Tsotsi é o sociopata do grupo, transformando um assalto num assassínio, e espancando Boston quando este clama pelo valor da decência. Num bairro da classe média, Tsotsi atira sobre uma mulher (Nambitha Mpumlwana) para lhe roubar o carro. Uns metros mais à frente, Tsotsi repara que há um bebé no banco de trás. Um misto de emoções trespassa a sua expressão (numa convincente interpretação do estreante Chweneyagae), e dá-se início a uma viagem de transformação.

O mundo de Tsotsi define-se no mais básico: necessidades, desejos, oportunidades, obstáculos, perigos. A esperança não abunda e a tragédia espreita a cada esquina. A solidão, a raiva e a alienação são combatidos com agressividade e crueldade. Além do bebé, outros dois encontros servem de catalizador para a mudança e a curva de aprendizagem de Tsotsi vai-se fazendo por tentativa e erro. Mas o sorriso que nos surge quando vemos Tsotsi tentar cuidar da criança, com claro desconhecimento, mistura-se com o desconforto das reais dificuldades daquelas vidas.

A infância de Tsotsi, e os seus motivos, surgem em flashbacks que, mais do que desculpar qualquer uma das suas atitudes violentas, justificam as suas atitudes de crescente carinho para com aquela criança. Através dela, Tsotsi resgata o seu passado, as suas dores, e até a sua identidade. E a “decência” apregoada por Boston acaba por ser aquilo que Tsotsi encontra.

O tema do “homem mau” humanizado através do contato com um inocente não é novo, e o registo do filme lembra inevitavelmente “Cidade de Deus” (Fernando Meirelles e Kátia Lund, 2002). “Tsotsi” é, no global, um filme muito bem feito, para o que contribui também a fotografia de Lance Gewer, que capta a pobreza e desolação do gueto, com uma escuridão envolvente, cores quentes e suave iluminação.

A ação do romance do dramaturgo Athol Fugard (publicado nos anos 80), no qual “Tsotsi” se baseia, desenrolava-se durante os anos 50, no início do apartheid. A atualização foi feita para os nossos dias com a inclusão opressiva de outro flagelo, a AIDS, por todo o lado surgindo cartazes com a mensagem: “We are all AFFECTED by HIV and AIDS”. Os riscos mudam, mas não desaparecem, a vida para estes órfãos sem casa continua a ser assustadora. E a marca deste filme, quase apagada no meio da narrativa, são essas crianças, vivendo dentro de tubos de cimento.

O elenco é constituído por atores desconhecidos, o que ainda fortalece mais o enredo e nos faz pensar que, definitivamente, e especialmente em Hollywood, há atores que recebem muito dinheiro para a qualidade que têm.

Finalmente, um último destaque para a banda-sonora do filme- recheada de música "Kwaito" (a resposta sul-africana ao Hip Hop americano). Estamos perante um trabalho verdadeiramente emocionante.
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.
Downloads abaixo::
Arquivo anexado Tsotsi.DVDRip.XviD_HLS.MakingOff.Org.torrent ( 17.87KB ) filme
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Bush veta lei antitortura aprovada pelo Congresso dos EUA


Ao vetar a lei do Congresso americano que proibia uma forma de tortura – por afogamento – o presidente George W. Bush acrescentou um novo ponto deprimente a seu curriculo de homem público. Não se deve minimizar a decisão. A experiência ensina que o futuro da tortura depende do que acontece com o torturador. Além da impunidade, os torturadores receberam, agora, o apoio pelo alto.



Medieval: a tortura que Bush autorizou

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, vetou neste sábado (8) legislação aprovada pelo Congresso que proibiria a CIA de simular afogamento e outras técnicas controversas de interrogatório. Os legisladores incluíram a medida antitortura numa lei mais ampla sobre o que seria permitido nas atividades da inteligência americana.

'Como o perigo continua, nós temos que assegurar aos nossos funcionários da inteligência todas as ferramentas que eles precisem para conter os terroristas', disse Bush em sua fala semanal no rádio. Ele acrescentou que a legislação 'iria reduzir essas ferramentas vitais.'


A Câmara dos Deputados aprovou a legislação antitortura em dezembro e o Senado a confirmou em fevereiro apesar dos avisos da Casa Branca de que ela seria vetada.


O diretor da CIA Michael Hayden disse mês passado ao Congresso que interrogadores do governo simularam afogamento em três suspeitos capturados depois dos ataques de 11 de setembro.


A técnica de simulação de afogamento tem sido condenada por muitos integrantes do Congresso, grupos de direitos humanos e outros países como uma forma de tortura ilegal.


O manual do Exército norte-americano proíbe o afogamento e sete outros métodos de interrogatório, e sua proibição alinharia as prática da CIA às dos militares.


Em mensagem aos funcionários da CIA no sábado, após o veto de Bush, Hayden disse que a CIA continuaria a trabalhar estritamente dentro da lei, mas ressaltou que suas necessidades eram diferentes das do Exército e que a agência precisa seguir seus próprios procedimentos.


Em seus comentários, Bush não mencionou especificamente o afogamento, mas disse: 'A lei que o Congresso me enviou não baniria simplesmente um método particular de interrogatório, como alguns deduziram. Ao invés disso, ela eliminaria todas as alternativas que desenvolvemos para inquirir os mais perigosos e violentos terroristas do mundo.'

Com o veto de Bush, o mais recente debate americano sobre tortura encerra-se de modo melancólico. Parlamentares dos dois partidos haviam feito a lei que proibia o afogamento de prisioneiros como uma resposta as diversas denúncias de tortura surgidas na guerra do Iraque a partir das revelações sobre a masmorra de Abu Ghraib. O saldo deste episódio, no terreno jurídico, é absurdamente ruim. Até agora, treze militares americanos foram levados ao banco dos réus. Só o baixo escalão foi punido. Onze soldados foram condenados a penas variáveis. Dois oficiais de escalão médio sofreram penas disciplinares. Mas o coronel responsável pelos interrogatórios foi absolvido de todas acusações.

Barbárie antiga

O jornalista Paulo Moreira Leite recorda, em seu blog , que o afogamento é uma barbaridade antiga, registrada em documentos anteriores ao século XIX. Nos dias atuais, é considerada uma forma de tortura e como tal condenada pela maioria dos tratados internacionais e rejeitada como técnica legítima de interrogatório pelo próprio Exército dos Estados Unidos. O veto presidencial significa que a tortura por afogamento torna-se uma prática autorizada, já que deixa de existir uma lei que a definia como crime.

O afogamento foi empregado pelos soldados franceses durante a Guerra da Argelia. Em 1958, o jornalista Henri Alleg, membro do Partido Comunista Frances, escreveu um livro para denunciar que, aprisionado pelo Exército colonial, foi submetido a tortura por afogamento. Proibida de circular na França, a obra foi levada clandestinamente para outros países, e transformou-se numa denúncia de valor, provocando um escândalo comparável ao das imagens do presídio iraquiano de Abu Ghraib e seus prisioneiros de capuz, ameaçados por cachorros e soldados do Exército americano. Mais tarde, o afogamento seria exibido no filme A Batalha de Argel, obra-prima do cinema político.

Nos anos 60, essa forma de tortura seria usada pelos soldados americanos na guerra do Vietnã, também. A técnica consiste em provocar afogamentos sucessivos no prisioneiro, diminuindo a presença de oxigenio nos pulmões e no cérebro. A respiração torna-se cada vez mais difícil, o sofrimento psicológico aumenta e no estágio seguinte vem o horror e a perda de controle. Caso o afogamento não seja interrompido, ocorre a morte.

"Era a esse sofrimento a que George W. Bush se referiu ao explicar o veto. Ele disse que os Estados Unidos não podiam abrir mão de todos os recursos de combate ao terrorismo e a seus inimigos. Comparado com outras técnicas, o afogamento tem a característica de que não deixa marcas no corpo – sempre um inconveniente para quem pretende esconder provas de um crime", diz Leite.


Fonte: Reuters e blog do Paulo Moreira Leite


sábado, 8 de março de 2008

UM DEUS FEROZ E VINGATIVO

Luiz Carlos Azenha

WASHINGTON - Terror. Terror. Terror. A palavra terror associada a mulheres cobertas de preto ou com um véu protegendo os cabelos. A palavra terror associada a crianças vestidas de guerrilheiros. A palavra terror associada a homens com cinturões que simulam bombas. A desumanização do outro. A diabolização do diferente. A pregação do ódio para combater o ódio.

Na outra ponta do mesmo fenômeno estão os anúncios de grandes fabricantes de armas nos jornais americanos. Anúncios que falam das virtudes do novo caça, das vantagens do novo helicóptero. Como leitor de jornal, com raríssimas exceções, não tem dinheiro para comprar um Apache, fico imaginando qual é o público alvo. Imagino que o objetivo seja convencer a opinião pública americana de que vale a pena torrar o dinheiro dos impostos comprando aquelas armas.

Os americanos inventaram o Plano Colômbia, para combater o tráfico de drogas. O tráfico continua firme e forte. O Tesouro americano dá dinheiro à Colômbia para que ela compre armas americanas. É política de transferência de renda: sai do bolso do contribuinte americano, vai para a Colômbia e volta para o bolso do fabricante de armas. Com outro nome está em andamento o Plano México, para combater a imigração. Nos aeroportos americanos, equipamentos de última geração escaneiam as malas. Impressões digitais são recolhidas. Essa máquina de "segurança" veio para ficar e custa caro.

Estados Unidos, Rússia, França, Alemanha e Reino Unido são os grandes exportadores de armas. Quem ganha tem nome e endereço: Boeing, General Electric, General Dynamics, Honeywell, Lockheed-Martin, Northrop Grumman, Raytheon Corporation, United Technologies. Há milhares de empresas do ramo aqui e em outros países.

Propagar o medo é essencial, uma tarefa que fica por conta da mídia. O medo paralisa. O medo divide. Medo da Venezuela. Medo do Irã. Medo dos muçulmanos. Medo de Fidel Castro. É preciso atacar a emoção das pessoas. E é preciso evitar que parem para pensar. Se fizerem isso, vão se dar conta: qual é o risco que Cuba representa para os Estados Unidos e suas milhares de armas de destruição em massa? Michael Moore capturou bem essa idéia no filme Bowling for Columbine.

Robert Fisk captura toda a hipocrisia de árabes, judeus e americanos no livro The Great War for Civilization. Os guerreiros da liberdade - "freedom fighters" - que expulsaram os soviéticos do Afeganistão, com ajuda americana, são os mesmos que depois foram rebatizados de "terroristas". Líderes de Israel que mataram civis com bombas quando lutavam para expulsar os britânicos do território que agora ocupam denunciam como "terrorismo" os que combatem com as mesmas táticas a ocupação ilegal israelense de territórios palestinos. Líderes árabes que "abraçam" a causa palestina assassinaram milhares de palestinos em seus próprios países.

"Terrorismo é uma palavra que se tornou uma praga em nosso vocabulário, a desculpa e a razão e a permissão moral para violência patrocinada pelo estado - nossa violência - que é agora usada em inocentes do Oriente Médio de forma ultrajante e promíscua. Terrorismo, terrorismo, terrorismo. A palavra se tornou pontuação, uma frase, um discurso, um sermão, tudo que precisamos odiar para ignorar injustiça e ocupação e assassinato em grande escala. Terror, terror, terror, terror. É uma sonata, uma sinfonia, uma orquestra reproduzida em toda emissora de TV, estação de rádio e agência de notícia, a novela do Diabo, servida no horário nobre e destilada por comentaristas de extrema-direita na costa Leste dos Estados Unidos, pelo Jerusalem Post ou por intelectuais europeus", escreveu Fisk.

Essa novela do Diabo nos faz fechar os olhos para as nuances, para as injustiças contra cristãos, muçulmanos e judeus que devem ser denunciadas sem que nossos preconceitos embotem a capacidade de indignação. Um ex-correspondente da TV Globo se negou a seguir a orientação do chefe, que queria o uso da palavra "terrorista" sempre que se falasse em "palestino" no texto. Ele se negou. Foi substituído por outro "jornalista" que topou.

A idéia é essa, mesmo: esquecer a História, descontextualizar a informação, "selecionar" os fatos que servem à campanha de propaganda e subestimar o ouvinte, o telespectador e o leitor, tratá-lo como o Homer Simpson incapaz de lidar com assuntos complexos. Bate a preguiça de ser didático, de oferecer mais de um ponto-de-vista, de ilustrar as reportagens com mapas, de procurar as nuances.

Fui ao Marrocos, à Jordânia e ao Iraque nos últimos anos. Estive na Índia, em Serra Leoa e Ghana, onde também há milhões de muçulmanos. Fui às mesquitas, aos restaurantes, andei nas ruas. Conversei com motoristas de caminhão, jogadores de futebol e vendedores ambulantes. Não vi chifres, nem gente morando em cavernas. Testemunhei uma religião com forte apelo comunitário, que coloca o interesse coletivo acima do individual e que conforta milhões de fiéis economicamente deserdados.

Os ideólogos da guerra de civilizações não fazem mais que justificar o combate ao ódio com mais ódio, empurrando a vasta maioria dos muçulmanos para o colo dos que se sentiram agredidos pela presença militar ostensiva de soldados americanos em território que consideram sagrado - perto de Meca e Medina, na Arábia Saudita -, da mesma forma que os cristãos se sentiriam ofendidos pela presença de tropas muçulmanas estacionadas na praça de São Pedro, no Vaticano.

A pregação da intolerância não interessa à esmagadora maioria de terráqueos. Quem ganha com ela? Eu não ganho. Nem o Mazen, meu amigo palestino que é muçulmano praticante em Amã, na Jordânia; nem meu amigo Regis Nestrovski, que muito raramente vai à sinagoga. O Mazen está preocupado em dar educação aos três filhos. O Regis está preocupado com a prática do bom jornalismo.

Quem ganha? Os fabricantes de armas, com certeza. E os que de alguma forma se acreditam iluminados por um Deus particular, que requer a destruição alheia para sua satisfação. Esse Deus feroz e vingativo pode até estar escrito em algum livro, tábua ou pedra. É invenção do pior que existe no ser humano. Ou quer tirar o pior do ser humano que criou.