terça-feira, 16 de setembro de 2008

Em época de eleições...

Cântico negro

José Régio


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

Juca Chaves - As Músicas Proibidas de Juca Chaves (1968)




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Créditos: UmQueTenha

A invasão bárbara

No ensino, ao contrário do que sempre ocorreu, o professor terá de partir partir do mundo real para o pedagógico. Isso significa que a escola começa se alimentar da inteligência coletiva que emerge da rede. Uma revolução não-televisionada, que rompe os muros da educação

Hernani Dimantas


A palavra "bárbaro" provém do grego antigo, e significa "não grego". Era como os gregos designavam os estrangeiros e os povos cuja língua materna não era a sua. Porém, foi no Império Romano que a expressão passou a ser usada com a conotação de "não-romano" ou "incivilizado". O preconceito em relação aos povos que não compartilhavam os mesmos hábitos e costumes é natural dos habitantes dos grandes centros econômicos, sociais e culturais. Atualmente, uma das acepções da expressão "bárbaro" equivale a não civilizado, brutal ou cruel.

No uso informal, "bárbaro" também qualifica pessoas ou coisas com atributos positivos: muito bonito, ótimo, muito afável, compreensivo, uma idéia muito interessante, segundo o dicionário Houaiss.

Eu creio que ainda é uma questão civilizatória. Ou seja, o mundo está em transformação. Tudo está se modificando de forma rápida. Não seria diferente no âmbito da educação.

Uma fala importante do professor Gumercindo de Andrade, da rede pública de ensino, nos faz pensar. Ele diz, inspirado em Paulo Freire, que "o professor, hoje, não vai mais partir do pedagógico para o mundo real. Ele vai partir do mundo real para o pedagógico". Isso significa que a escola começa se alimentar da inteligência coletiva que emerge da rede. Uma revolução não-televisionada que rompe os muros da educação.

Somos estrangeiros no nosso próprio mundo. Imigrantes do conhecimento, aqueles que atingem seus objetivos com trabalho e resiliência. E é certo que venceremos

Na verdade, essa barreira já foi destruída. "Os limites que separam nossas conversações parecem o Muro de Berlim hoje, mas eles realmente são apenas uma amargura. Nós sabemos que eles cairão. Nós iremos trabalhar de ambos os lados para derrubá-los (...) As conversações em rede podem parecer confusas, podem soar confusas. Mas nós estamos nos organizando mais rápido que eles. Nós temos ferramentas melhores, novas idéias, nada de regras para nos fazer mais lentos" [1]. Independentemente de querermos ou não, a cultura de rede está rompendo as sólidas estruturas concretadas desde a modernidade. Não podemos mais explicar o mundo a partir da ótica cartesiana. Descartes não dá mais conta de atender à complexidade do caos. As relações em rede formam multidões que atuam sem controle central, na concretude de um outro paradigma. Ninguém sabe aonde essa transformação vai chegar. Mas sabemos que nada será como antes.

Relembremos Pierre Levy: "ainda que as pessoas aprendam em suas experiências profissionais e sociais, ainda que a escola e a universidade estejam perdendo progressivamente seu monopólio de criação e transmissão do conhecimento, os sistemas de ensino públicos podem ao menos dar-se por nova missão a de orientar os percursos individuais no saber e contribuir para o reconhecimento do conjunto de know-how das pessoas, inclusive os saberes não-acadêmicos. As ferramentas do ciberespaço permitem considerar amplos sistemas de testes automatizados acessíveis a todo o momento e redes de transação entre a oferta e a demanda de competência. Ao organizar a comunicação entre empregadores, indivíduos e recursos de aprendizado de todas as ordens, as universidades do futuro estariam contribuindo para a animação de uma nova economia do conhecimento". Essa é a hora de fomentar incertezas, pois incertezas trazem nas entrelinhas uma descoberta, a busca pelo aprendizado.

Isso tudo é bárbaro! Somos estrangeiros no nosso próprio mundo. Imigrantes do conhecimento. Somos aqueles que atingem seus objetivos com trabalho e resiliência. E é certo que venceremos. Somos a invasão bárbara.

A defensiva estratégica socialista




Wladimir Pomar

A defensiva estratégica socialista teve início nos anos 1970. Mas a maior parte da esquerda, no mundo todo, teve pouca percepção de que a vitória vietnamita era o ápice do grande impulso da luta de classes em todo o mundo e que, a partir dela, o que ocorreu foi uma redução gradativa, mas forte, dos movimentos massivos e das guerras revolucionárias que haviam marcado os anos precedentes.

Embora movimentos guerrilheiros ainda tenham se mantido em alguns países, quem quer que faça um balanço cuidadoso dos anos que se seguiram à derrota norte-americana no Vietnã vislumbrará facilmente uma curva descendente. Isto, por si só, já seria suficiente para fazer com que os socialistas revissem suas estratégias e considerassem a necessidade de colocar-se em defensiva.

Ao lado disso, a União Soviética e os países socialistas do leste europeu esgotavam suas tentativas de construir o socialismo "puro", vendo-se constrangidos a buscar novos caminhos. Os primeiros sinais dessa crise apareceram no início dos anos 1960, e daí em diante só se agravaram. A China, por seu turno, em meados dessa mesma década, ingressou na mais radical tentativa de desenvolver suas forças produtivas através da participação coletiva massiva.

Quando os anos 1970 findaram, a União Soviética e os países socialistas do leste europeu, assim como Cuba e Vietnã, já haviam entrado em estagnação econômica e social. E a China, tendo esgotado o empuxo da Revolução Cultural, entrava num intenso processo de reformas para desenvolver-se, incluindo a retomada da economia de mercado.

Por outro lado, nesse mesmo período, os países imperialistas da América e da Europa ingressaram numa reestruturação profunda, para tentar superar sua tendência de queda da taxa média de lucro, agravada pelo surgimento de novos concorrentes capitalistas, como o Japão e os Tigres Asiáticos. Beneficiados pela guerra da Coréia e pelos planos norte-americanos de ajuda financeira e econômica para conter a expansão chinesa, o Japão se tornara uma nova potência econômica, enquanto os Tigres demonstravam uma competitividade inusitada.

Portanto, durante os anos 1970, seja pelo declínio das lutas de massas e revolucionárias, seja pelo esgotamento das tentativas de desenvolver as forças produtivas por meio do uso exclusivo da propriedade social, seja ainda pelo novo padrão de expansão capitalista, o socialismo já havia entrado em profunda defensiva estratégica.

O não reconhecimento desse fato, tanto econômico quanto social e político, levou comunistas e socialistas a adotarem políticas erráticas e a realizarem aventuras dos mais diferentes tipos, à esquerda e à direita, tanto nos países socialistas quanto nos capitalistas. O que contribuiu, em grande medida, para a vergonhosa derrocada dos regimes socialistas, na União Soviética e no leste europeu.

Assim, bem vistas as coisas, a defensiva estratégica do socialismo tem causas objetivas bem visíveis, fincadas no declínio momentâneo da luta de classes, na derrota do tipo soviético de construção socialista e na reestruturação que começou a levar o capitalismo a uma nova etapa de seu desenvolvimento.

Wladimir Pomar é analista político e escritor.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Ianques de Merda


A atitude de Evo e Chávez é um exemplo. Por Pedro Echeverría.

1. O governo do índio Evo Morales na Bolívia acaba de expulsar o embaixador ianque por apoiar os setores racistas de Santa Cruz, Tarija, Pando e Beni, departamentos onde as campanhas de ódio dos terra tenentes e os ricos contra o governo central, os levou até a pedir sua independência. O governo dos EUA, desde que Morales tomou posse do governo em janeiro de 2006 não param de sabotá-lo e de procurar a melhor oportunidade para derrocá-lo. Durante quase três anos o governo de Evo tem pretendido negociar com a oposição para estabelecer a paz, mas os interesses desses setores, estimulados pelo embaixador ianque, determinaram o divórcio entre os governadores desses departamentos que praticam a oposição racista.

2. Para apoiar com toda sua força a atitude de grande valentia de Evo se levanta a figura do presidente venezuelano Hugo Chávez que da forma mais conseqüente possível também pediu que o embaixador ianque abandonasse o território venezuelano mandando “à merda o governo gringo de Bush”. Esse exemplo de Chávez parece ter se entendido até a Nicarágua e Honduras. Embora aquelas infaustas e ilusas declarações de Chávez e Castro sobre a guerrilha das FARC tenham causado desânimo entre a esquerda radical, esta atitude do presidente venezuelano o reivindica. Estas coisas não acontecem por linhas retas nem conforme os desejos, senão que obedecem a realidades concretas. Mas nem sempre temos que ser críticos.

3. É elementar esclarecer que norte-americanos ou estadunidenses são os habitantes dos EUA que sofrem, como todos os povos da América, a exploração e a repressão de seu governo. Pelo contrário, os ianques ou gringos são essa minoria de poderosos empresários e governantes que além de submeter o povo de seu próprio país (EUA), ordenam as invasões, os saqueios e os assassinatos nas nações que submetem. Ao povo desse país, o único que pode se criticar, é que não tenha sido capaz de frear seus governos assassinos, mas são respeitados; pelo contrário, seus governantes e grandes empresários são repudiados no mundo todo, com exceção de alguns governantes submetidos que se arrastam como lacaios frente a eles.

4. Fidel Castro, foi o primeiro governante que desde 1960, sem pelos na língua, se enfrentou abertamente ao governo ianque e Cuba o primeiro povo que massivamente apoiou seu governante quantas vezes este o convocou para se defender das agressões gringas. Não foi nada simples que desde uma ilha de 10 milhões de habitantes, bloqueada política e economicamente por toda parte, em longos discursos de 3 a 6 horas frente a dezenas de milhares de cubanos, se falasse da situação dos povos da América e o mundo e do papel guerreirista e explorador do império estadunidense. Os discursos de Castro e pelo menos seus primeiros oito anos de governo, foram verdadeiras lições de educação política para os cubanos e o mundo.

5. A partir de 1998, para recuperar nosso ânimo, aparece no governo da Venezuela o coronel Hugo Chávez. Achávamos que seria um governo burguês militarista; porém, como aconteceu com Fidel Castro em 1959, as condições concretas de exploração e saqueio ianque nesses países da nossa América, os obrigou a tomarem medidas para poder servir seus povos. Foi então quando Chávez se transformou no melhor continuador da obra de Fidel Castro na América Latina. Na Cuba de Fidel é explicável essa confrontação porque estava saindo de uma profunda revolução armada, muito violenta, em que o povo mantinha uma grande exigência das demandas pelas que tinha lutado. Mas na Venezuela?

6. Nem Fidel nem Chávez eram marxistas ou socialistas quando assumiram o governo, embora não se possa negar que muitos companheiros deles eram. Foram as condições concretas de cada país, em que os investidores ianques saqueavam abertamente as riquezas enquanto suas populações viviam na maior miséria, fato que os transformou. Mas, como todos sabemos, essas são as mesmas condições em que vivem quase todos os países da América Latina, da África e a Ásia e as mudanças que se requerem não surgem como em Cuba, Venezuela, Bolívia ou o Equador. Isto quer dizer que nossas análises devem ser mais profundas e cuidadosas. O que aconteceu por exemplo com Lula no Brasil, Tabaré do Uruguai e Bachelet do Chile, conhecidos como socialistas?

7. A realidade é que o comportamento de Evo Morales e de Hugo Chávez frente ao poderoso assassino mundial que ocupa a Casa Branca, é um exemplo para outros governos e para os povos da América. Quantas décadas mais de medo, covardia e dependência teriam passado se Fidel Castro (em nome de um pequeno país, de uma ilha empobrecida a umas quantas milhas do maior império da história) não nos tivesse ensinado a dignidade e a valentia, apesar de ameaças, invasões e um grande bloqueio econômico? Fidel demonstrou na prática que “sim, se pode” lutar contra o monstro, enquanto outros países (como o México e da América Central) morrem de medo de levantar a voz ou por fazer uma breve declaração que ofenda o governo ianque.

8. Mas o arremate de Chávez foi ainda mais radical. Disse que apoiaria inclusive um movimento armado, uma guerrilha, se o presidente Morales fosse derrocado pelo governo de Bush. Me parece que essa declaração por si mesma é uma advertência ao imperialismo dos EUA. Essas palavras poderiam pôr em guarda os governos da Nicarágua, Equador, os mesmos bolivianos ao se demonstrar até onde querem chegar os EUA e seus aliados racistas de Santa Cruz e outros departamentos. Não creio que os ianques queiram se aventurar mais uma vez quando no Iraque e o Afeganistão estão sendo varridos pelas forças rebeldes. No México e vários países a oposição de esquerda começou a despertar realizando protestos em embaixadas e consulados gringos. Devemos fortalecê-las.

9. Os governos da Colômbia, México e Peru são os mais incondicionais aos interesses do presidente Bush. Tanto Uribe como Calderón e García conformam um grupo duro disposto a defender como der a política dos EUA na região. Por isso os meios de (des)informação dedicam diariamente muitas horas para fazer campanhas contra Chávez e Morales. No México não se pode esperar outra coisa dos grandes monopólios televisivos e radiofônicos. Com a assessoria de ianques e espanhóis, os meios de (des)informação, em nome da liberdade de expressão, desataram enormes campanhas contra as lutas de justiça e liberdade dos povos. Por esse motivo, os meios e homens livres, embora com espaços limitados, temos a obrigação de levantar a voz para ajudar o povo.

Créditos: Alquimia.org

Versão em português: Tali Feld Gleiser de América Latina Palavra Viva.


Diário de uma Garota Perdida
(Tagebuch einer Verlorenen)

sinopse:

Thymian (Louise Brooks) é uma jovem e bela garota, que literalmente não vive um "conto de fadas". Sua governanta, Elizabeth, é despedida grávida, e logo depois encontrada morta por afogamento. No mesmo dia que soube da tragédia, seu pai contrata uma nova governanta, Meta. Meinert, um farmacêutico oportunista engravida Thymian. Quando ela recusa o casamento, o bebê é afastado, e Thymian é colocada em um rígido reformatório para meninas.
A partir destes fatos, sua vida se transforma num pesadelo sem fim, com muitas reviravoltas, entre garota de bordel a uma respeitada Condessa.
Diário de uma Garota Perdida é o segundo e último trabalho de uma das melhores parcerias já criadas no cinema, atriz/diretor: G.W. Pabst e Louise Brooks. Juntamente com A Caixa de Pandora (1928), Diário confirmou a genialidade Pabst, como um dos maiores cineastas do período silencioso, e estabeleceu Brooks como uma atriz brilhante e de uma sensualidade, nunca vista até então.

Creditos: makingoff - mfcorrea


Informações sobre o filme e release

Gênero: Drama
Diretor: Georg Wilhelm Pabst
Duração: 106 minutos
Ano de Lançamento: 1929
País de Origem: Alemanha
Idioma do Áudio: Mudo - Intertítulos Alemão
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0020475/

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: MPEG-4 Visual
Vídeo Bitrate: 1499 Kbps
Áudio Codec: mp3 CBR
Áudio Bitrate: 96
Resolução: 640 x 496
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 1,20 Gb
Legendas: Em anexo


Elenco:

Louise Brooks, Fritz Rasp, André Roanne, Josef Ravensky, Franziska Kinz, Edith Meinhard, Vera Pawlowa, Arnold Korff, Jaro Fuerth, Michael von Newlinsky,

Crítica:

Um dos dois grandes filmes que o diretor alemão fez com a atriz americana Louise Brooks, uma mulher fascinante que não conseguiu se adaptar ao pseudo-moralismo de Hollywood e escolheu fazer carreira na Europa. Vale a pena conhecer a biografia dessa atriz, sonho de homens e mulheres: foi amante, entre outros(as), de Charles Chaplin e de Greta Garbo.

A única crítica ao filme em português que achei na net é do Rubens Ewald Filho, que repete os mais óbvios clichês.

Downloads abaixo:

Filme postado no KG por owheeler e transferido para tracker público.

O torrent:

Arquivo anexado Diary_of_a_Lost_Girl__Tagebuch_einer_Verlorenen____Pabst.4392245.TPB.torrent


A legenda, ripada do DVD nacional por ddonato (eliminei os créditos para poder acertá-la):

Arquivo anexado Diary_of_a_Lost_Girl_br.rar




A legenda para essa versão (diferente da do torrent):

Arquivo anexado Diary_of_a_Lost_Girl_1929_.rar


Ato de solidariedade ao governo Evo Morales


A Secretaria de Relações Internacionais do PT-RS promove nesta terça-feira (16) um ato de solidariedade ao governo Evo Morales, a partir das 19 horas, no plenarinho da Assembléia Legislativa, em Porto Alegre. A atividade conta com o apoio da CUT, Via Campesina, MTD, Federação dos Metalúrgicos, Federação dos Bancários, Semapi, Sindsepe, Associação Cultural José Marti e outras entidades sindicais e populares do Estado.

domingo, 14 de setembro de 2008

Matéria do Estadão....

Ex-militares confirmam torturas no Araguaia


Marcelo Auler


Dez ex-recrutas do Exército que participaram da Guerrilha do Araguaia entre 1972 e 1975 confirmaram, em depoimentos à Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a execução de guerrilheiros pelos militares, assim como a prática de tortura não apenas contra os inimigos, mas também de civis. Nos depoimentos, esses ex-soldados denunciaram ter sofrido maus-tratos e sevícias nos treinamentos recebidos.

Falaram ainda da cooptação de índios pelas Forças Armadas para localizar membros do PC do B na selva. Mas não esclareceram o maior mistério do caso: a localização dos corpos dos guerrilheiros mortos.

"Trata-se de um fato diferenciado, que é a confissão de agentes do próprio Estado", diz o presidente nacional da OAB, Cezar Britto, sobre os documentos que a Ordem encaminhou, em março passado, ao Superior Tribunal Militar (STM). "Não são depoimentos de vítimas do ato, mas de quem confessa ter praticado, ainda que sob ordens, fatos graves. É uma diferença substancial. Daí porque a OAB reivindica que se apure a veracidade das declarações que, se verdadeiras, dão certo cunho de oficialidade ao que era negado."

Os depoimentos são de alguns dos 315 ex-soldados que ingressaram com 116 ações solicitando a reintegração às Forças Armadas no quadro da reserva remunerada. Alegam ter sofrido danos físicos e morais no combate à guerrilha, na região conhecida como Bico do Papagaio, no sul do Pará e, na época, norte de Goiás (hoje Tocantins). Das ações já protocoladas na Justiça Federal de Brasília, ao menos 275 são de sócios da Associação Brasileira dos Ex-combatentes da Guerrilha do Araguaia, segundo seu presidente, Dorimar Gomes Soares.

Ex-soldado, o hoje taxista Gomes Soares licenciou-se do cargo na associação para concorrer à Câmara Municipal de Marabá (PA) pelo PT. Ele explica a dificuldade para a localização dos corpos: "É uma questão que as Forças Armadas guardam a sete chaves. Fizeram muitas ações na região, que era uma mata selvagem e hoje a mata já não existe mais. Realizaram a operação limpeza, recolhendo cadáveres e ossadas."

Alguns dos ex-recrutas apontaram a Serra das Andorinhas, nas margens do Rio Araguaia, no sul do Pará, como local para onde os militares levaram os inimigos. A conselheira da OAB Herilda Balduíno, da Comissão de Direitos Humanos que ouviu os ex-soldados em 2006, lembra que essa versão da Serra das Andorinhas já circulava antes dos depoimentos.

BURACO

"O local onde foram jogados vários guerrilheiros ainda vivos era chamado de buraco grande da Serra das Andorinhas, de difícil acesso", afirma o ex-enfermeiro Adailton Vieira Bezerra. Ele fala em "pelo menos oito pessoas, incluindo uma guerrilheira grávida", atiradas nesse buraco. Alega ter sido informado disso "pelos mateiros, entre eles Arlindo da Silva, e também por sargentos e oficiais daquela base".

No alto escalão do governo há reservas sobre as informações dos ex-soldados, como explicou um ministro ao Estado: "Nos contatos deles conosco, de vez em quando, logo transparece um certo componente de troca: se ajudarmos nas indenizações, eles ajudam a localizar. Assim fica muito difícil. Uma autoridade pública tem de manter longa distância de qualquer coisa que cheire a chantagem", comenta, pedindo para não ser identificado.

O ex-secretário de Direitos Humanos Nilmário Miranda esteve no Araguaia com um desses ex-soldados e garante: "Não deixamos nada sem verificar, mas as informações deles eram imprecisas."

A conselheira Herilda alerta ser preciso encarar os depoimentos com precaução, por serem de quem reivindica compensação por seqüelas supostamente geradas na guerrilha. Mas, admite, as declarações "devem ter algum grau de sinceridade, pois eles estavam no palco das operações e presenciaram os fatos".

ÍNDIOS

O ex-soldado Eduardo Xavier dos Santos Oliveira revelou, por exemplo, que as Forças Armadas cooptaram indígenas para ajudar a localizar os guerrilheiros. Oliveira afirma que várias vezes conduziu para os helicópteros caixas que continham munições que eram distribuídas para os índios suruís. "Eles eram os melhores mateiros e recebiam por cada pessoa capturada entre 10 mil e 14 mil cruzeiros", conta. O livro Operação Araguaia, de Taís Morais e Eumano Silva, relata que, na busca pelos cadáveres, a Comissão de Desaparecidos Políticos, em 2005, encontrou na Reserva Indígena Suruí restos de pernas de duas pessoas, nove dentes e projéteis.

O conselheiro da OAB Nélio Machado, que estudou o caso, também defende cautela com as revelações. "Os depoimentos devem ser considerados por terem sido prestados de forma solene. O assunto nunca foi devidamente apurado, quer em relação à violência que provocou, quer em relação àqueles que de alguma forma foram vítimas de uma subordinação que praticamente inviabilizou a divergência, até mesmo no plano ético. Eles se achavam praticamente em estado de coação e sofreram seqüelas que não devem ser desconsideradas. Há muita dor dos dois lados."

O Judiciário a serviço das velhas oligarquias

Cristóvão Feil


Porto Alegre (RS) -
Hoje eu quero comentar com vocês sobre o Poder Judiciário no Brasil. As velhas oligarquias conservadoras do país foram, como todos sabemos, afastadas do poder executivo com a eleição de Lula - pelo menos, nominalmente. Pois essas mesmas oligarquias estão buscando novamente um lugar ao sol através do Poder Judiciário.


Como assim?, alguém pode perguntar. Pois eu digo: o Poder Judiciário no Brasil está sendo usado politicamente pelos conservadores para que eles imponham uma nova agenda ao país. Ou seja, o Judiciário está fazendo disputa política com o executivo.

Vamos a um caso concreto. Dias atrás, o Superior Tribunal de Justiça fez algo que pode desacreditar completamente as instituições, especialmente o próprio judiciário. Pois o STJ anulou as condenações de dois criminosos recentemente julgados. Tratam-se de dois empresários que foram acusados de cometerem 245 crimes. Eu disse, 245 crimes, e foram condenados respectivamente a 45 anos e 49 anos de prisão, cada um deles.

Os dois criminosos de colarinho branco foram beneficiados mesmo estando foragidos da Justiça. Mas o que mesmo alegou o STJ para que houvesse uma modificação tão drástica na vida desses dois criminosos? Eu vou contar.

Quando da instrução do processo, a polícia efetuou escutas telefônicas com a devida autorização judicial. As escutas duraram dois anos, mais ou menos, o tempo que a polícia levou para investigar os 245 crimes dos dois empresários. Pois agora o STJ anulou as provas colhidas nas escutas telefônicas justificando o absurdo com outro absurdo: de que os empresários tiveram suas privacidades invadidas pela Polícia Federal.

Vejam bem: os empresários cometem 245 crimes, são condenados a 45 e 49 anos respectivamente de prisão, agora estão soltos e o STJ acha que eles tiveram a privacidade violada. Ou seja, indiretamente o STJ está desmoralizando a investigação policial. As provas agora nada valem, mesmo que eles tenham cometido 245 crimes, inclusive o de subornar agentes da Receita Federal com altas propinas e o de terem remetido ilegalmente para o exterior cerca de R$ 21 mi, além de sonegação fiscal de R$ 60 mi e por aí vai a ficha criminosa dos dois empresários.

Vejam pois, meus queridos ouvintes, o perigo que isso representa. A anulação de provas feita por juízes do STJ abre um precedente muito perigoso, porque pode propiciar com que outros réus do colarinho branco também aleguem que tiveram suas privacidades violadas. Mas e os crimes que cometeram e que a polícia provou que cometeram? Por isso eu repito o que disse no início desse comentário: o Judiciário está exorbitando das suas funções para satisfazer réus das oligarquias endinheiradas, que se recusam a cumprir a lei e se negam ao julgamento justo como os demais cidadãos brasileiros.

Nós todos já sabíamos que no Brasil a Justiça praticamente só condena pobre e gente de pouca instrução. Mas agora, a coisa está indo muito além da conta e não sabemos aonde o Judiciário quer ir.

Pensem nisso, enquanto eu me despeço.

Até a próxima!


Cristóvão Feil é sociólogo e editor do blog Diário Gauche (www.diariogauche.blogspot.com)
Somos todos pós-modernos?




Frei Betto

A resposta é sim se comungamos essa angústia, essa frustração frente aos sonhos idílicos da modernidade. Quem diria que a revolução russa terminaria em gulags, a chinesa em capitalismo de Estado e tantos partidos de esquerda assumiriam o poder como o violinista que pega o instrumento com a esquerda e toca com a direita?

Nenhum sistema filosófico resiste, hoje, à mercantilização da sociedade: a arte virou moda; a moda, improviso; o improviso, esperteza. As transgressões já não são exceções, e sim regras. O avanço da tecnologia, da informatização, da robótica, a gloogletização da cultura, a telecelularização das relações humanas, a banalização da violência, são fatores que nos mergulham em atitudes e formas de pensar pessimistas e provocadoras, anárquicas e conservadoras.

Na pós-modernidade, o sistemático cede lugar ao fragmentário, o homogêneo ao plural, a teoria ao experimental. A razão delira, fantasia-se de cínica, baila ao ritmo dos jogos de linguagem. Nesse mar revolto, muitos se apegam às "irracionalidades" do passado, à religiosidade sem teologia, à xenofobia, ao consumismo desenfreado, às emoções sem perspectivas.

Para os pós-modernos a história findou, o lazer se reduz ao hedonismo, a filosofia a um conjunto de perguntas sem respostas. O que importa é a novidade. Já não se percebe a distinção entre urgente e importante, acidental e essencial, valores e oportunidades, efêmero e permanente.

A estética se faz esteticismo; importa o adorno, a moldura, e não a profundidade ou o conteúdo. O pós-moderno é refém da exteriorização e dos estereótipos. Para ele, o agora é mais importante que o depois.

Para o pós-moderno, a razão vira racionalização, já não há pensamento crítico; ele prefere, neste mundo conflitivo, ser espectador e não protagonista, observador e não participante, público e não ator.

O pós-moderno duvida de tudo. É cartesianamente ortodoxo. Por isso não crê em algo ou em alguém. Distancia-se da razão crítica criticando-a. Como a serpente Uroboros, ele morde a própria cauda. E se refugia no individualismo narcísico. Basta-se a si mesmo, indiferente à dimensão social da existência.

O pós-moderno tudo desconstrói. Seus postulados são ambíguos, desprovidos de raízes, invertebrados, sensitivos e apáticos. Ao jornalismo, prefere o shownalismo.

O discurso pós-moderno é labiríntico, descarta paradigmas e grandes narrativas, e em sua bagagem cultural coloca no mesmo patamar Portinari e Felipe Massa; Guimarães Rosa e Paulo Coelho; Chico Buarque e Zeca Pagodinho.

O pós-modernismo não tem memória, abomina o ritual, o litúrgico, o mistério. Como considera toda paixão inútil, nem ri nem chora. Não há amor, há empatias. Sua visão de mundo deriva de cada subjetividade.

A ética da pós-modernidade detesta princípios universais. É a ética de ocasião, oportunidade, conveniência. Camaleônica, adapta-se a cada situação.

A pós-modernidade transforma a realidade em ficção e nos remete à caverna de Platão, onde nossas sombras têm mais importância que o nosso ser e as nossas imagens que a existência real.

Frei Betto é escritor, autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros.