terça-feira, 30 de setembro de 2008



A honra da terceira idade






A ONU consagra o 1º de outubro como Dia Internacional das Pessoas Idosas. Em todo o mundo, propõe que se reflita sobre os direitos e a missão própria das pessoas das chamadas "terceira e quarta idade". As pesquisas revelam que, em todo o mundo, a taxa de nascimentos tem diminuído, assim como o progresso da medicina tem evitado mortes, antes comuns. O resultado é que nos últimos 30 anos, mais do que dobrou o número das pessoas acima dos 60. No mundo, ultrapassam a cifra de 600 milhões e, no Brasil, 15% da população (27 milhões) tem mais de 65 anos.

As sociedades tradicionais como, comunidades indígenas e negras valorizam profundamente os anciãos, como detentores de uma sabedoria interior que se acumula à medida que as forças físicas vão diminuindo. As pessoas mais velhas são consideradas como portadoras privilegiadas do Espírito. Por isso, estas comunidades reservam sempre funções próprias para as pessoas mais velhas.Nas sociedades ditas modernas, organizadas em torno da produção e do lucro, quem não está mais no mercado se sente marginalizado e tende a envelhecer mais rapidamente. A família vive em torno das atividades e horários diferentes de cada um. Cada vez mais, o destino dos idosos é o asilo. Ali, as pessoas mais velhas recebem comida e cuidados básicos, mas, na maioria das vezes, se sentem isoladas e mesmo abandonadas. Uma pesquisa recente, feita por sociólogos da Universidade de Caxias do Sul, constatou que o sentimento de mais de 80% das pessoas idosas é de solidão e abandono.

Não adianta a medicina vencer doenças e conseguir que as pessoas vivam mais, se não se garantir qualidade de vida e verdadeira inserção dos idosos nos diversos níveis e tarefas da sociedade.

No romance Ninguém escreve ao coronel, de Gabriel Garcia Marques, o velho coronel, personagem principal do livro, espera, em vão, uma carta do governo lhe dando aposentadoria e pensão. A cada manhã, o coronel se olha no espelho, veste sua roupa mais pomposa e se põe à espera de uma correspondência que nunca chega. Todos sabem que não virá, inclusive sua mulher. Mas essa é a forma dele se manter vivo. Através daquele ritual de espera e ilusão, ao imaginar que a pensão continua sendo adiada, ele sente como se estivesse protelando a própria velhice.

Em seu clássico livro sobre a velhice, Simone de Beauvoir mostra, entre outras coisas, que o inconsciente não tem idade e que temos forte tendência a nos comportar, na velhice, como se jamais fôssemos velhos. Isso agrava o sofrimento de quem não se sente velho e percebe que os outros lhe vêem como idoso. Já na Roma antiga, em seu famoso tratado De Senectute (Da velhice), Cícero escrevia: "Tu envelheces quando começas a te considerar como uma pessoa velha". São raras as pessoas que, aos 60 anos, se consideram nessa condição. Mesmo depois dos 80 anos, muitos se sentem como se tivessem 50. Simone conclui: "Todo mundo quer viver por muito tempo, mas ninguém quer envelhecer". Os atuais cuidados e possibilidades de plásticas e terapias corporais aumentam ainda mais esta tendência. Entretanto, seja como for, ninguém escapa deste processo.

Uma amiga que mora em João Pessoa me contou que, nas eleições passadas, entrou na fila que havia na porta da seção eleitoral. De repente, um senhor saiu e, com a cultura de nordestino do interior que não disfarça as duras verdades da vida, falou claro e em uma linguagem que, hoje, não se costuma usar: "Atenção, velhinhos e velhinhas, podem passar à frente!". Sintomaticamente, ninguém se mexeu. Foi, então, que o homem apontou para a minha amiga: "A senhora não escutou? Pode vir!". Ela me contou isso, concluindo: "Assim, naquele dia, fiquei sabendo que era uma velhinha".

Há alguns anos, Ivan Lessa, jornalista brasileiro em Londres, conta em uma crônica que, aos 65 anos, a pessoa recebe do governo inglês o CV que não é o curriculum vitae e sim "Certificado de Velhice", ou a "Carteira de Velhinho", para o qual os ingleses "usam um eufemismo: 'Freedom Pass'. Passe da liberdade. Apesar de que dá direito a andar gratuitamente em transportes públicos e assegura a prioridade em certas filas desagradáveis, muitos preferem não recebê-lo. Não querem ser vistos como velhos. Outra amiga minha não tem nenhum problema com isso. Nem vê motivos para ter. Aos 88, essa grande educadora e mulher maravilhosa continua trabalhando incansavelmente na educação humana e artística das crianças de rua. Recentemente, me procurou com um novo projeto de vida e de trabalho. Ela imaginou a UPA, Universidade Popular das Artes e se sente feliz em organizar este novo trabalho.

Cada pessoa tem seu jeito de ser e de lidar com o cansaço da vida. O importante é descobrir que nunca é tarde para amar e para se consagrar a uma causa fundamental para a humanidade e para o planeta Terra. Toda a sociedade precisa valorizar os seus cidadãos mais idosos e receber deles o testemunho de sua sabedoria. No mundo antigo, já se sentindo idoso e em uma prisão por causa da fé, Paulo escreveu: "Combati o bom combate, concluí a minha carreira e mantive firme a fé" (Cf. 2 Tm 4, 7).


* Monge beneditino e escritor

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Reforma Ortográfica - Mudanças após o GreNal!

Texto de autoria desconhecida e postada no Orkut por Luciano Jalfim.

Hoje será assinada a reforma ortográfica da língua portuguesa, portanto prestem atenção: O "c" mudo que os portugueses usavam não mais será utilizado, por exemplo: O certo é GALÁTICOS e não GALÁCTICOS.

O apóstrofo continua em vigor, por exemplo: É D'Alessandro e não Dale Alessandro.
O k, y e o w são incorporados no nosso alfabeto, especialmente em nomes; como por exemplo: Poderia ser Nylmar, mas se foi batizado como NILMAR, assim continua sendo.
Da mesma forma a pessoa pode pedir um Kilo de Chocolate, mas não é correto dizer cuatro quilos, ou 4 kylos de chocolate.
O til sobre a letra N não é admitida no nosso idioma. Portanto GUIÑAZU não existe. É sonho... ou assombração para os outros.
O ch e o x seguem sendo usados, devendo ser observada a grafia correta: CHOCOLATE é com ch. CHOCOLATE COM QUATRO é considerado uma crueldade, sendo até admitido o uso do xis. O "x" no final do nome segue em vigor, ex.: Alex.
O acento no início das palavras paroxítonas terminadas em ditongo continuam sendo acentuadas: Exemplo: ÍNDIO. Embora aquele acento no alto possa parecer a supremacia do indígena quando salta entre alguns palermas.
Por tudo isso, seja você um professor ou um operário, deve aprender as mudanças no nosso idioma. Anunciam-se dois fatos importantes: O clássico do Operário do Mato Grosso x Operário da Azenha.
A última é ligada à crise do setor financeiro americano. Em vez de usar o cifrão $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$, que é expressão do problema financeiro, sugerimos usar a mesma tecla, porém na minúscula e tudo se resolve, vejam só:
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OGM perde espaço em MT

Alto custo do glifosato e logística em favor das regiões oeste e noroeste do Estado fazem variedade retroceder na lavoura a cada safra. Tecnologia OGM que já foi vista como ‘salvação da lavoura’ se revela agora em MT, uma variedade cheia de ‘poréns’

Vedete das lavouras nas safras de 2004, 2005 e 2006, os transgênicos ou OGMs (organismos geneticamente modificados) começam a perder espaço para a soja convencional em Mato Grosso, principalmente na região oeste e noroeste, em lavouras localizadas em Campos de Júlio e Sapezal, por exemplo, onde a presença do grão OGM recua para cerca de 5% da área plantada. A elevação de até 70% nos preços do litro do glifosato – químico específico para este tipo de variedade – e a logística favorecida por meio dos portos de Itacoatiara e Santarém, fizeram com que os sojicultores retrocedessem no planejamento da cultura e optassem pela soja convencional, a isenta de trangenia.

Os portos que embarcam soja para Europa, localizados no Amazonas e Pará, respectivamente, só movimentam variedade convencional, obedecendo a exigência do seu mercado consumidor.

Por conta destes fatores, a soja geneticamente modificada vem sendo gradativamente substituída pela convencional, fenômeno que há dois anos não se observava em Mato Grosso. Hoje, apenas 5% do plantio na região oeste/noroeste são de soja transgênica. Nas regiões norte e leste, este percentual chega a 40% e, no sul, 75%.

“O produtor está fazendo as contas antes de plantar e está chegando à conclusão de que trabalhar com OGMs hoje sai muito caro”, aponta o diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Marcelo Duarte Monteiro.

Aliada a este fator está a estratégia das tradings responsáveis pelo escoamento da produção das regiões oeste e noroeste de Mato Grosso – a Amaggi e a Cargill – que possuem um nicho de mercado bem pontual: o europeu, que via de regra, paga um pouco mais pela soja convencional a estas empresas exportadoras. Entretanto, o produtor não vê a cor do ‘dinheiro a mais’ pago pelos europeus. Quem ganha mesmo são as tradings, que criaram um sistema de escoamento próprio para o transporte da soja convencional. Normalmente, essas empresas não compram produtos OGMs para não misturá-los aos não-transgênicos (convencionais) e, assim, evitar a contaminação e o comprometimento da carga.

A via de escoamento, denominada “Corredor de Exportação Noroeste”, sai da região do Parecis por caminhão até Porto Velho (RO) e vai de balsa até ao porto de Itacoatiara, no Amazonas.

Os portos de Itacoatiara, da Amaggi, e Santarém, controlado pela Cargill, por exemplo, são exclusivos para o transporte de soja não-transgênica. Por isso, quem tem terra nas regiões oeste e noroeste de Mato Grosso acaba optando pelo plantio de não-transgênicos e vendendo para essas duas empresas, pela facilidade de escoamento.

Segundo dados da Aprosoja/MT, através desse corredor são transportados cerca de três milhões de toneladas por safra, para atender basicamente o mercado europeu, que tem preferência pela soja não-transgênica. Nesta transação, a trading recebe um ‘prêmio’ de US$ 60 a US$ 80 por tonelada, ‘faturamento extra’ de até US$ 240 milhões por safra. Mas o produtor não tem qualquer participação nesta diferença paga às empresas. Muito pelo contrário: se a soja for transgênica, o produtor é que tem de pagar um deságio de US$ 2 por saca às tradings.

A reportagem procurou a Cargill e a Amaggi, mas as tradings se negaram a dar informações, alegando ‘questões estratégicas’. A Amaggi, via assessoria de imprensa, informou que o presidente do grupo, Pedro Jacyr Bongiolo, “não gostaria de falar sobre este assunto, pois são informações estratégicas do Grupo que não podemos divulgar”.

Fatores

Para o presidente da Aprosoja/MT, Glauber Silveira, o cultivo de soja transgênica depende de três fatores básicos: preço do glifosato, variedades adaptadas à região e produtividade. “Os produtores estão colocando tudo isso na balança”, conta, apontando que a transgenia é vantagem do ponto de vista da operacionalidade, pois facilita o controle e manejo da lavoura. “Mas o problema é na hora de comprar o glifosato”.

Glauber informou que apesar do alto custo do glifosato, 40% da soja produzida em Mato Grosso é transgênico. “Mato Grosso ainda é um dos poucos estados que têm grande área de plantio de soja convencional. No Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, mais de 90% das áreas utilizam sementes transgênicas”.


Por Marcondes Maciel, da reportagem do Diário de Cuiabá, Domingo, 28 de setembro de 2008http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=328264

Chocolate galáctico: Inter 4x1 Grêmio (Brasileirão)

domingo, 28 de setembro de 2008

Wall Street, descanse em paz:

o fim de uma era




Wall Street. Duas palavras simples que, assim como Hollywood e Washington, conjuram um mundo. Um mundo de grandes egos. Um mundo onde pessoas adoram apostar com dinheiro emprestado. Um mundo de negócios realizados na corda-bamba, impulsionados por computadores.

Em busca de retornos cada vez maiores -e iates maiores, carros mais rápidos e coleções de arte mais caras para seus altos executivos- as firmas de Wall Street reforçaram suas mesas de negociação e contrataram gênios da física quântica para desenvolver programas à prova de falhas.

Os fundos hedge colocavam os mercadores no vermelho (a alta da coroa dinamarquesa) ou no preto (a queda do PIB da Tailândia). E firmas de private equity reuniam fundos gigantes e saíam em uma onda de compras, adquirindo empresas como se fossem uma segunda esposa comprando sapatos Jimmy Choo em liquidação.

Este mundo está em grande parte chegando ao fim.

O imenso pacote de resgate que está sendo debatido no Congresso poderá ter sucesso em estabilizar os mercados financeiros. Mas é tarde demais para ajudar firmas como Bear Stearns e Lehman Brothers, que já desapareceram. O Merrill Lynch, cujo touro de sua marca registrada simbolizava Wall Street para muitos americanos, está sendo absorvido pelo Bank of America, localizado a centenas de quilômetros de Nova York, em Charlotte, Carolina do Norte.

Para a maioria dos financistas que permanecem, com a exceção de alguns poucos superastros, os dias de dinheiro fácil e bônus gigantes são coisa do passado. O boom do crédito que levou ao crescimento explosivo de Wall Street secou. Os reguladores que ficaram de lado por muito tempo agora estão ávidos para refrear os bad boys de Wall Street e as práticas que se proliferaram nos últimos anos.

"Os dias aventureiros nos negócios das firmas de Wall Street, basicamente transformando a si mesmas em fundos hedge gigantes, acabaram. A verdade é que não eram tão bons", disse Andrew Kessler, um ex-administrador de fundo hedge. "Você não mais verá pessoal de nível médio ganhando um número de sete dígitos ou múltiplos números de sete dígitos que ninguém conseguia entender exatamente como conseguiram aquilo."

O início do fim é sentido mesmo nos corredores do elitista e conservador Goldman Sachs, que, entre seus pares de Wall Street, resumia e definia a cultura de alto risco, alto retorno.

O Goldman é uma firma que as outras firmas de Wall Street adoram odiar. Ele conta com alguns dos maiores fundos hedge e de private equity do mundo. Seus banqueiros de investimento são os mais inteligentes. Seus corretores, os melhores. São eles que ganham mais dinheiro em Wall Street, dando à firma o apelido de Goldmine (mina de ouro) Sachs. (Seus 30.522 funcionários ganharam em média US$ 600 mil no ano passado -uma média que inclui tanto secretárias quanto corretores.)

Apesar dos executivos de outras firmas torcerem secretamente para que o Goldman cometesse pelo menos um grande erro, ao mesmo tempo eles se esforçavam ao máximo para copiá-la.

Apesar do Goldman permanecer excelente na prestação de consultoria para fusões e na intermediação do lançamento de ações no mercado, o que ele faz melhor do que qualquer outra firma de Wall Street é negociar bens mobiliários. Isso envolve o uso de seus próprios fundos, assim como uma pilha de dinheiro emprestado, para fazer grandes apostas globais.

Outras firmas tentaram seguir seu exemplo, acumulando risco e mais risco, na tentativa de capturar uma pitada da mágica do Goldman e de seus lucros estelares trimestre após trimestre.

Ninguém chegou perto.

Enquanto a crise de crédito tomava Wall Street ao longo do ano passado, levando o Merrill, Citigroup e Lehman Brothers a sofrerem prejuízos pesados em grandes apostas em ativos ligados a hipotecas, o Goldman continuava navegando sem grandes problemas.

Em 2007, no mesmo ano em que o Citigroup e o Merrill demitiram seus presidentes-executivos, o Goldman registrou receita e lucros recordes e pagou a seu chefe, Lloyd C. Blankfein, US$ 68,7 milhões -o maior valor pago a um presidente-executivo de Wall Street.

Mas até mesmo o menino de ouro de Wall Street não conseguiu suportar a turbulência que sacudiu o sistema financeiro nas últimas semanas. Após os problemas no Lehman e no American International Group (AIG), e do Merrill ter acertado às pressas sua compra pelo Bank of America há duas semanas, as ações do Goldman sofreram um golpe.

A crise do AIG foi particularmente problemática. O Goldman era o maior parceiro de negócios do AIG, segundo várias pessoas ligadas à seguradora, que pediram anonimato por causa dos acordos de confidencialidade. O Goldman assegurou aos investidores que sua exposição ao AIG era imaterial, mas clientes e investidores nervosos abandonaram a firma, temerosos de que os bancos de investimento -mesmo um tão estimado quanto o Goldman- poderiam não sobreviver.

"O que aconteceu confirmou meu sentimento de que o Goldman Sachs, independente de quão bom fosse, não estava imune à sorte", disse John H. Gutfreund, o ex-presidente-executivo do Salomon Brothers.

Assim, no último fim de semana, diante de poucas opções, o Goldman Sachs engoliu a pílula amarga e se transformou, entre todas as coisas, em algo simples e ordinário: um banco de depósitos.

A ação não significa que o Goldman dará, tão cedo, torradeiras como brinde pela abertura de uma conta em uma agência em Wichita. Mas a mudança é um ataque à cultura do Goldman e ao âmago de seus lucros excepcionais nos últimos anos.

Nem todos acham que a máquina de fazer dinheiro do Goldman ficará totalmente restrita. Na semana passada, o Oráculo de Omaha, Warren E. Buffett, fez um investimento de US$ 5 bilhões no banco, e o Goldman levantou outros US$ 5 bilhões em uma oferta separada de ações.

Ainda assim, dizem muitas pessoas, diante de mudanças tão amplas, o Goldman Sachs poderá perder o que o tornava tão especial. Mas, até aí, poucas coisas permanecerão as mesmas em Wall Street.

Créditos:Vermelho

Fonte: The New York Times
Julie Creswell e Ben White
Tradução: Tradução: George El Khouri Andolfato
UOL Mídia Global

sábado, 27 de setembro de 2008

A carne é fraca?


Sim, a dieta vegetariana faz bem à saúde. Para isso, é preciso ter muita informação e suplementação adequada

Giuliana Reginatto

Banir o bife do prato, encher a geladeira de maçãs, alface e legumes. À primeira vista, o vegetarianismo parece ser apenas isso: uma dieta simples, cujo sucesso depende só de resistir às tentações da carne. Ser vegetariano, contudo, é uma opção mais complexa. Palavra de especialista. “Tirar a carne do cardápio não é garantia de alimentação saudável”, diz o nutricionista George Guimarães, pesquisador do tema.

Para preservar a saúde, o vegetariano deve se informar sobre o valor nutritivo dos alimentos, sozinho ou por meio de profissionais, de modo que consiga balancear sua refeição. “É trabalhoso, mas perfeitamente viável para todos: de atletas a executivos”, garante Guimarães. Experiência no assunto não lhe falta. Vegetariano desde os quatro anos, criou os filhos Lucas, 9 anos, e Lucius, 8, na mesma linha.

Os meninos da família Guimarães seguiram a linha vegana, uma das mais restritivas entre os vegetarianos, até os quatro anos: esse cardápio exclui, além das carnes, ovos e produtos à base de leite. “Por decisão da mãe, motivada pelo aspecto social, hoje eles são ovolactovegetarianos. Passaram a surgir situações complicadas: como ignorar o bolo da festinha do amigo, o queijo no macarrão na casa do colega?”, indaga.

Para Guimarães, crianças são mais sensíveis à questão. “Quando me dei conta de que comia bichos mortos, fiquei confuso”, lembra. O entretenimento infantil, aliás, já detectou esse viés emocional. No desenho Procurando Nemo há até um tubarão vegetariano. Em A Fuga das Galinhas, é impossível não vibrar quando as penosas vão à forra contra uma cruel exploradora de aves. Para os crescidinhos, vale a postura de Lisa, a pequena notável de Os Simpsons, que se recusa a comer ‘bichos mortos’.

Mesmo para um especialista em nutrição, apto a executar combinações certeiras entre os alimentos, há tarefas desafiadoras quando se trata de vegetarianismo. A principal delas é garantir o suprimento da vitamina B12. “Recomendamos, sobretudo ao vegano, fazer a suplementação da vitamina. Quanto ao ferro, feijão, melado de cana e castanhas são boas fontes.”

A orientação dietética de Guimarães encontra respaldo nas conclusões de vários profissionais da área médica: é consenso entre eles que a manutenção da saúde não depende do consumo de carne. Vegetarianos bem-informados costumam ser, aliás, menos suscetíveis a doenças cardiovasculares, diabete e certos tipos de câncer do que carnívoros. (leia mais no box na página seguinte).

Aliado à motivação nutricional, o argumento ecológico embutido na abstenção de carne tem ajudado a esverdear o prato de muita gente. Acusado de incentivar a devastação florestal e o efeito estufa, o comércio de carne tem recebido ataques até da ONU. No início do mês, a BBC divulgou um pronunciamento de seu principal cientista climático, Rajendra Pachauri, sobre o tema: “Comam menos carne. As pessoas estão reduzindo as jornadas de carro, ansiosas sobre suas pegadas de carbono, mas não percebem que mudar o que está no prato pode ter efeito maior”, disse.

No Brasil, o estilo verde tem despertado interesse. Segundo dados do grupo francês Ipsos, líder em pesquisas de opinião, 28% das pessoas entrevistadas no País disseram que “têm procurado comer menos carne”. Se o consumidor quer, o mercado oferece. O Carrefour, por exemplo, investe na linha Viver, com alimentos orgânicos, dietéticos ou à base de soja. Criada em 2006 com 80 produtos, dispõe hoje de 290 itens. Marcas famosas, como Sadia e Perdigão, já têm versões naturebas de suas delícias: de lasanhas sem queijo a hambúrguer de soja.

Veteranos do vegetarianismo, que descobriram o poder da comida da terra muito antes de a dieta cair nas graças de artistas e virar moda, comemoram o crescimento da onda verde. É o caso da cantora Patrícia Marx, que se interessou pelo assunto há 17 anos. “Há cinco anos não tinha isso tudo, ser vegetariano era mais difícil. O que me tocou, no início, foi o sofrimento dos animais, mas apesar da minha convicção, não fico fazendo sermão. Conto, porém, dos benefícios, inclusive estéticos: perdi sete quilos que jamais recuperei ao adotar essa dieta. Minha digestão melhorou, as dores de estômago sumiram”, relata.

Patrícia aderiu ao vegetarianismo de modo gradual. Aboliu primeiro a carne vermelha e, há nove anos, quando engravidou de Arthur, excluiu também aves e peixes. “Ficou mais fácil ser vegetariano. Encontro dezenas de restaurantes, há sanduíches vegetarianos até no supermercado. Esse estilo de vida vem conquistando o Brasil. Em 2002, quando morei em Londres, já havia até peito de peru feito de soja!”, lembra.

A ONU estima que 10% dos ingleses sejam vegetarianos. Para o Brasil, faltam dados específicos sobre o mundo verde. Há, porém, indicativos do crescente interesse pelo tema. “Recebo cerca de 5 mil visitas diárias em meu
site, o vegetarianismo. Vejo uma demanda cada vez maior por informações”, diz a socióloga Marly Winckler, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).

Marly é gaúcha e aboliu a proteína animal há 25 anos, mas conta que antes foi até churrasqueira. “Tenho marca de cortes nos dedos. Quando mudei a dieta, vivia tendo de justificar minha escolha, me sentia um ET. Hoje é diferente: as pessoas é que tentam explicar porque ainda comem animais.”

Para evitar discussões indigestas, Marly escreveu em 1997 um livro introdutório ao assunto: Vegetarianismo - Elementos para uma conversa sobre. “Não gosto de patrulha. É preciso respeitar os demais. As pessoas já estão percebendo que há mais boi que gente no mundo. São 200 milhões! Falta conhecerem outros dados. Em estudos da SBV vimos, por exemplo, que o bandejão vegetariano traria uma economia de 30% para as empresas.”

No lar da apresentadora Fernanda Lima, o cardápio é meio a meio. “Só eu sou vegetariana. Meus filhos já começam a comer papinha de legumes cozidos em caldo de carne, mais tarde poderão escolher como querem se alimentar. Não é fácil ser vegetariano quando o sistema empurra você para o consumo exagerado de carnes. Essa foi uma das razões que me levaram a abrir o restaurante Maní, com 50% de opções vegetarianas e outros 50% de pratos com carnes”, conta.

Gaúcha, Fernanda é vegetariana há cinco anos e ainda se esforça para resistir aos prazeres da carne. “Foi difícil abandonar antigos hábitos. Gosto de churrasco e quando sinto o cheirinho me dá tanta vontade! O que incomoda é não saber quanto de hormônio é colocado nas carnes e quantas vezes aquilo já foi congelado e descongelado até chegar ao prato. Ao engravidar, senti muito desejo de carne e comi bastante. Aí, passava o dia sentindo um peso indigesto”, lembra. Ela percebeu, então, que a carne já passou do ponto em sua vida. “Sem carnes a digestão fica rápida e o intestino funciona perfeitamente”, conclui.

Para vegetarianos mais recentes, como Luis Godoy, 21 anos, que aderiu ao estilo há três anos, a geladeira sem carnes simboliza mais que uma dieta. Trata-se de um estilo de vida. “Vai além da tortura animal. O vegano colabora com o meio ambiente e com seu próprio corpo. Sinto a diferença na respiração, disposição e até no crescimento pessoal. Basta querer: hoje há muita informação.”

Amigos do publicitário Fábio Chaves, 26 anos, podem obter dados instantâneos sobre vegetarianismo. “Trago no bolso um folheto que fiz com dados da ONU. Não fico constrangido com piadas, o humor traz a chance de iniciar o assunto. Quando me perguntam sobre o porquê de não comer animais, eu rebato com outra questão: afinal, por que comê-los?”


OVOLACTOVEGETARIANO

A maior parte dos vegetarianos se enquadra nessa categoria. Inclui ovos e derivados de leite, o que diminui o risco de a pessoa vir a ter deficiência de proteína e cálcio. Há também o grupo dos lactovegetarianos, que admitem o consumo de derivados de leite, mas não incluem ovos na dieta. Já dentro da linha do ovovegetarianismo, o consumo de ovos é considerado permitido pelos adeptos.

FRUGÍVOROS
No frugivorismo, é permitido comer só frutas, nozes e alguns legumes. Há uma preocupação em não matar as plantas, consumindo só o que elas podem repor facilmente: os frutos. Existem ainda os simpatizantes do crudivorismo. Neste caso, nenhum dos alimentos, principalmente os brotos, são cozidos acima de 40ºC, ponto a partir do qual as enzimas dos vegetais começariam a ser destruídas.

VEGETARIANO RESTRITO
Não comem alimentos de origem animal em nome da saúde. Entre eles há os veganos, os mais radicais. Rejeitam carne, ovo, derivados de leite e produtos que imponham algum sacrifício ao animal: de mel a blusas lã - e até extratos à base de gordura animal presentes em certos cosméticos. Mais que dieta, veganismo é um estilo de vida. Alguns sequer vão ao cinema pois a película contém gelatina.

MACROBIÓTICA
Baseia-se na filosofia chinesa das forças complementares: yin e yang. O ‘yin’ é a força feminina e representa a tranqüilidade. O ‘yang’ é o lado masculino, a agressividade. Juntas, formam um todo equilibrado. Açúcar, chá, álcool, café e leite são alimentos ‘yin’. Entre os ‘yang’ estão queijos duros, peixe, ovos. Há alimentos com equilíbrio entre as forças: cereais integrais, frutas, sementes e legumes.

VERMELHO
Cardiologista e nutrólogo do Hospital do Coração, Daniel Magnoni confirma que a dieta vegetariana reduz a exposição a doenças cardiovasculares e diabete, mas alerta: “Carnes fornecem ferro, zinco e selênio em maior quantidade”, diz. Segundo ele, “dependendo do conhecimento científico do vegetariano, há grande risco de anemia e desnutrição.” Doutora em ciência dos alimentos pela USP e presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação, Silvia Cozzolino não indica a dieta para crianças. “A carne é essencial no crescimento. A criança com genética para medir 1m80 pode estacionar no 1m65, por exemplo. Além disso, o sistema imune fica mais vulnerável na falta de zinco. Para quem exclui leite, vale saber que ele é a melhor fonte de cálcio. Em adultos vegetarianos, fizemos estudos sobre níveis de zinco e ferro. Metade das mulheres mostraram carência nesses minerais. Por outro lado, sabemos que o churrasco libera substâncias cancerígenas. O bom é comer carne com moderação .”

VERDE
Coordenador do departamento de medicina da Sociedade Vegetariana Brasileira, Eric Slywitch garante que o único nutriente que pede atenção na falta de carne é a vitamina B12. “A falta dela existirá em toda dieta desequilibrada, com ou sem carne”, diz. Em compensação, os benefícios proporcionados pelos vegetais, segundo ele, compensam o cuidado com a B12. “O vegetariano tem diminuído em 88% o risco de câncer de intestino grosso e em 54% no caso do câncer de próstata”, afirma. Sobre a crítica contra a carência de ferro , Slywitch acredita haver exageros. “A carne tem cerca de 40% de ferro-eme, que é melhor absorvido pelo corpo, mas ela perde muito dele em seu congelamento e preparo. O ferro não-eme, de vegetais como feijão, é de absorção mais difícil, mas isso pode melhorar com boas combinações. Se o ferro for ingerido com vitamina C, há mais absorção; se for com chá preto há menos”, ensina. Mais dicas constam no livro dele: ‘Como combinar alimentação sem carne’, de 2006.

Congresso Vegetariano
Mais que aprender sobre nutrição, o vegetariano ganha dotes culinários espontaneamente. Afinal, para fugir do alface com tomate não raro é preciso ter doses de criatividade para cozinhar a própria comida. Este é o caso de Maria Laura Packer (foto), vegetariana há 27 anos. No 2º Congresso Vegetariano Brasileiro, que neste ano está sediado no Campus do Centro Universitário de Belo Horizonte e começa na próxima quinta-feira, ela traz receitas surpreendentes, com direito a tortas e brigadeiro - tudo sem leite ou ovos, já que Maria Laura, 49 anos, é vegana.

Autora do livro Vegetarianismo - Sustentando a Vida, Laura ministra cursos sobre ioga e vegetarianismo há 20 anos. “Não é só uma dieta, o veganismo envolve uma visão sociocultural do mundo, leva a novos interesses, traz uma busca espiritual muito grande. Nós nos transformamos naquilo que comemos. Se como algo fruto da crueldade, isso repercute na minha matéria mental. Não é à toa que o mundo anda tão violento e reativo. Pelo bem-estar pessoal, por ecologia ou pelos animais, o vegetarianismo é um ato de compaixão”, conclui. O congresso termina no próximo domingo.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

NÃO À CONCESSÃO DA REDE GLOBO...

Lamentável que nosso governo dito de "esquerda" renovou a concessão dessa rede de tv que discrimina, conspira e defende seus próprios interesses e do capital internacional em detrimento de nosso povo manipulado por programas imbecis como esse casseta e planeta e as novelas que mascaram a realidade...

GLOBO É PROCESSADA POR DISCRIMINAÇÃO

Por Eduardo Sá, da redação

Nesta terça-feira (16), o programa Casseta & Planeta apresentou um quadro chamado “Otário Eleitoral Gratuito”, cujo conteúdo levou o Grupo de Ação pela Cidadania de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais a abrir um processo na Procuradoria Regional dos Diretos dos Cidadãos de São Paulo contra a TV Globo de São Paulo por discriminação às pessoas deficientes.

Nesse quadro, um dos candidatos, apresentado com o nome “Tinoco, o homem toco”, retratado por um personagem sem braços nem pernas, declara: “Você me conhece: eu sou o Tinoco, o homem toco. Vote em mim, que eu não vou meter a mão; e se eu roubar não vou conseguir fugir”, de modo a debochar genericamente não só dos políticos, mas também das pessoas com deficiências físicas.

Veja o vídeo aqui.

Por se tratar de um programa transmitido em horário nobre numa emissora que obtém alto índice de audiência no país, a entidade fez a denúncia e entrou com processo devido à ofensa porque uma “chacota de uma pessoa com deficiência agride não apenas a imensa população deste segmento de nossa sociedade, mas todas e todos que lutam contra qualquer forma de discriminação”.

Nestas condições, a entidade recorreu à Constituição da República Federativa evidenciando que a emissora infringiu os artigos 1º, 3º e 5º nos incisos III, IV e XLI, nos quais são garantidos a dignidade humana, o não preconceito/discriminação e as liberdades fundamentais, respectivamente.

Grupo de Ação pela Cidadania de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais também recorreu ao artigo 17 da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficência, promulgada pela ONU, que diz: “todo deficiente tem o direito a que sua integridade física e mental seja respeitada, em igualdade de condições com as demais pessoas”.

O Coordenador-Adjunto de Direitos Humanos do grupo, Paulo Tavares Mariante, requer a instauração de um inquérito civil público para apuração das denúncias, um ofício expedido à emissora para esta lhe enviar uma cópia do programa em questão e que ao final do inquérito seja realizada uma ação civil para servir de reparação “à afronta dos direitos humanos de pessoas com deficiências e sirva como superação a qualquer forma de discriminação”.

É importante destacar que os esportistas brasileiros com deficiência tiveram seu melhor desempenho na história do país nas para-olimpíadas nesta que acabou de ser realizada em Pequim, onde os atletas conquistaram ao todo 47 medalhas, dentre elas 16 de ouro (contra apenas 3 de ouro dos atletas não-deficientes), e mesmo assim praticamente não tiveram espaço para transmissão de suas competições nas emissoras brasileiras, inclusive na Globo.

Bourdoukan explica...

Bourdoukan, em seu blog, explica questão sobre "nação árabe"...muito esclarecedor...

NÃO EXISTE UMA "NAÇÃO ÁRABE"

Leitores querem saber porque os “países árabes” não ajudam os palestinos.
Eu já expliquei aqui e já escrevi na Revista Caros Amigos que não existe uma nação árabe, assim como não existe uma nação portuguesa.

Explico: existem países de língua árabe, assim como existem países de língua portuguesa. E mais: há muita mais semelhança entre os países de língua portuguesa do que entre os países de língua árabe.

Até na culinária os países de língua portuguesa são mais semelhantes entre si do que os países de língua árabe. Um exemplo é a feijoada, que pode ser apreciada em Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Brasil, etc.

Já o mesmo não se pode afirmar em relação aos países de língua árabe. Vocês já imaginaram um beduíno apreciando um quibe frito no deserto? Com certeza correria risco de vida.

Portanto, aqueles que insistem em falar na existência de uma única nação árabe, ou não conhecem História e Geografia, ou são mal intencionados.

É verdade que vez ou outra dirigentes de países árabes pontuam seus discursos em nome de uma suposta “nação árabe”. Alguns o fazem com sinceridade, mas para a maioria, não passa de uma fórmula demagógica para desviar a atenção sobre problemas diários que eles são incapazes de resolver.

Em geral, tais dirigentes não passam de ditadores que não medem brutalidade para oprimir seu povo. E são esses mesmos ditadores que abominam qualquer movimento democrático e estão sempre culpando um inimigo externo.

Por isso, quem supõe que os países de língua árabe podem ajudar os palestinos, engana-se. Os palestinos representam a antítese desses governantes. Os palestinos são o que há de mais novo que surgiu no Oriente Médio, razão pela qual eles assustam não somente o governo de Israel como também os governos “árabes”.

Supor que reis, príncipes, ditadores e, vá lá, presidentes que governam países árabes podem ajudar os palestinos, é o mesmo que acreditar que um empresário vai dividir sua empresa com os operários ou um latifundiário vai dividir suas terras com o MST.

Essa é a realidade. O resto... bem, o resto é o resto!
Voltarei ao assunto.

A CAPA DA "VEJA" E PADRE VIEIRA

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Luiz Carlos Azenha


A capa da Veja pressupõe que Tio Sam tenha salvado mesmo àqueles que não precisavam de salvação. Eu, por exemplo, que não ganhei dinheiro com a especulação de Wall Street. Ou você que me lê.

O argumento é mais ou menos o seguinte: mesmo que você não se importe com isso ou que não acredite nisso, foi salvo pelos Estados Unidos. O dedo na cara do leitor é uma forma de intimidação intelectual muito cara aos neocons norte-americanos. Lá na metrópole eles estão desmoralizados, mas aqui resistem bravamente e intimam o leitor: "Acredite em mim ou você vai se dar mal!"

O jornalismo de Veja é o equivalente brasileiro do realismo socialista ou do realismo fantástico. Nele tudo o que Evo Morales fizer representa atraso; tudo o que vier de Washington representa avanço. Verdade factual? Quem quer saber dela se podemos fabricar nossa própria verdade? Luís Nassif definiu como parajornalismo, que é do que se trata: a criação de uma realidade paralela, em que Daniel Dantas é um empresário perseguido pelas forças maléficas do Estado brasileiro, Gilmar Mendes é o defensor dos fracos e oprimidos, os petralhas vagam pelas avenidas feito chupa-cabras.

É tão divertido -- para não dizer trágico -- quanto o padre Vieira, ao justificar o tráfico de escravos entre a África e o Brasil, com o qual os jesuítas faziam dinheiro: "Oh, se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus, e a sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!" (De um de meus livros de cabeceira, o Trato dos Viventes, de Luiz Felipe de Alencastro).

O dia que eu tiver tempo gostaria de explorar o que há em comum na crença dos jesuítas, dos trotskistas e dos neocons -- inclusive a versão mais vulgar representada por Reinaldo Azevedo e a turma da Veja -- na infalibilidade intelectual dos convertidos. Eles falam e escrevem com tanta certeza que parecem iluminados por alguma divindade.


BILLIE HOLIDAY
THE BEST OF LADY DAY -2000