terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Reflexões de Fidel


A verdade do que aconteceu na Cimeira(encontro de cúpula)
(Extraído de Cubadebate)


• AOS jovens lhes interessa o futuro mais do que a ninguém. 
Até há bem pouco discutia-se sobre o tipo de sociedade em que viveríamos. Hoje se discute se a sociedade humana sobreviverá. 
Não se trata de frases dramáticas. Devemos acostumar-nos aos factos reais. A última coisa que podem perder os seres humanos é a esperança. Com a verdade na mão, homens e mulheres de todas as idades, nomeadamente os jovens, levaram a cabo na Cimeira uma batalha exemplar, oferecendo ao mundo uma grande lição. 
Agora o principal é fazer com que se conheça no mais possível em Cuba e no mundo o acontecido em Copenhage. A verdade possui uma força que supera a inteligência mediatizada e muitas das vezes desinformada daqueles que têm nas suas mãos os destinos do mundo.  
Se na capital dinamarquesa se conseguiu alguma coisa importante, foi que através da mídia a opinião mundial pôde observar o caos político criado e o tratamento humilhante a Chefes de Estado e de Governo, Ministros e milhares de representantes de movimentos sociais e instituições, que cheios de ilusões e de esperanças viajaram à sede da Cimeira em Copenhage. A brutal repressão contra manifestantes pacíficos pela força pública, fazia lembrar a conduta das tropas de assalto dos nazistas que ocuparam a vizinha Dinamarca em Abril de 1940. O que ninguém podia imaginar é que, em 18 de Dezembro de 2009, último dia da Cimeira, ela seria suspendida pelo governo dinamarquês ―aliado da NATO e associado à chacina do Afeganistão― para entregar a sala principal da Conferência ao Presidente Obama, onde ele e um grupo selecto de convidados, 16 no total, teriam o direito exclusivo de falar. Obama proferiu um discurso enganoso e demagógico, cheio de ambiguidades, que não implicava compromisso vinculatório algum e ignorava o Convénio Marco de Quioto. Saiu da sala pouco depois de escutar mais alguns oradores. Entre os convidados a fazer uso da palavra estavam os países mais industrializados, vários das economias emergentes e alguns dos mais pobres do planeta. Os líderes e representantes de mais de 170, só tinham direito a escutar. 
Ao findar o discurso dos 16 escolhidos, Evo Morales, com toda a autoridade da sua origem índia aimara, recém-eleito por 65% dos votos e o apoio das duas terceiras partes da Câmara e do Senado da Bolívia, solicitou a palavra. O Presidente dinamarquês não teve outra alternativa do que outorgá-la perante a demanda das outras delegações. Quando Evo concluiu as suas sábias e profundas frases, o dinamarquês teve que ceder-lhe a palavra a Hugo Chávez. Ambos os pronunciamentos passarão à história como exemplos de discursos breves e oportunos. Cumprida cabalmente a tarefa, os dois partiram rumo os seus respectivos países. Mas quando Obama fez silêncio pelo foro, ainda não tinha cumprido a sua tarefa no país sede da Cimeira. 
Desde a noite de 17 e a madrugada de 18, o Primeiro-ministro da Dinamarca e altos representantes dos Estados Unidos da América se reuniam com o Presidente da Comissão Europeia e os líderes de 27 países para lhes propor em nome de Obama, um projecto de acordo, em cuja elaboração não participaria nenhum dos restantes líderes do resto do mundo. Era uma iniciativa antidemocrática e virtualmente clandestina, que ignorava milhares de representantes dos movimentos sociais, instituições científicas, religiosas e demais convidados à Cimeira. 
Durante toda a noite de 18 até as três da madrugada de 19, quando já muitos Chefes de Estado tinham partido, os representantes dos países estiveram esperando o reinício das sessões e o encerramento do evento. Todo o dia 18, Obama teve reuniões e conferências de imprensa. Mesma coisa fizeram os líderes da Europa. Depois foram embora.   
Então aconteceu uma coisa insólita: às três da madrugada de 19, o Primeiro-ministro da Dinamarca convocou uma reunião para o encerramento da Cimeira. Restavam apenas representando os seus países ministros, funcionários, embaixadores e pessoal técnico. 
Contudo, foi assombrosa a batalha que levou a cabo nessa madrugada um grupo de representantes de países do Terceiro Mundo, que impugnavam a tentativa de Obama e dos mais ricos do planeta de apresentar como acordo por consenso da Cimeira o documento imposto pelos Estados Unidos. 
A representante da Venezuela, Claudia Salerno, com energia impressionante mostrou a sua mão direita, da que saia sangue, pela força com que bateu na mesa para exercer o seu direito a fazer uso da palavra. O tom da sua voz e a dignidade dos seus argumentos não poderão ser esquecidos. 
O  Ministro de Relações Exteriores de Cuba, proferiu um enérgico discurso de aproximadamente mil palavras, do qual escolho vários parágrafos que desejo incluir nesta Reflexão:  
"O documento que você várias vezes afirmou que não existia, senhor Presidente, aparece agora. […] temos visto versões que circulam de maneira sub-reptícia e que são discutidas em pequenos conciliábulos secretos…" 
"…Lamento profundamente a maneira em que você tem conduzido esta conferência." 
 "…Cuba considera extremamente insuficiente e inadmissível o texto deste projecto apócrifo. A meta de 2 graus centígrados é inaceitável e teria consequências catastróficas incalculáveis…" 
"O documento que você, infelizmente, apresenta não tem nehum compromisso de redução de emissões de gases de efeito estufa." 
"Conheço as versões anteriores que também, através de procedimentos questionáveis e clandestinos, foram negociadas em corrilhos fechados…" 
"O documento que você apresenta agora, omite, precisamente, as já magras e insuficientes frases chave que aquela versão continha…" 
"…para Cuba, resulta incompatível com o critério científico universalmente reconhecido, que considera urgente e iniludível garantir níveis de redução de, pelo menos, 45% das emissões para o ano 2020, e não inferiores a 80% ou 90% de redução para 2050." 
"Todo delineamento acerca da continuação das negociações para adoptar, no futuro, acordos de redução de emissões, deve incluir, inevitavelmente, o conceito da vigência do Protocolo de Quioto […] O seu papel, senhor Presidente, é a acta de defunção do Protocolo de Quioto que a minha delegação não aceita." 
"A delegação cubana deseja fazer ênfase na preeminência do princípio de ‘responsabilidades comuns, mas diferenciadas’, como conceito central do futuro processo de negociações. O seu papel não diz uma palavra disso." 
"Este projecto de declaração omite compromissos concretos de financiamento e transferência de tecnologias para os países em desenvolvimento como parte do cumprimento das obrigações contraídas pelos países desenvolvidos sob a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática […] Os países desenvolvidos, que impõem os seus interesses mediante o seu documento, senhor Presidente, evadem qualquer compromisso concreto." 
"…Aquilo que você chama, senhor Presidente, de ‘um grupo de líderes representativos’ é, para mim, uma grosseira violação do princípio de igualdade soberana que consagra a Carta das Nações Unidas…" 
"Senhor Presidente, solicito-lhe formalmente que esta declaração seja recolhida no relatório final sobre os trabalhos desta lamentável e vexante 15 Conferência das Partes." 
Apenas concederam-lhes uma hora aos representantes dos Estados para emitir opiniões, o que conduziu a situações complicadas, vergonhosas e desagradáveis. 
Então aconteceu um longo debate em que as delegações dos países desenvolvidos exerceram uma forte pressão para tentar que a Conferência adoptasse esse documento como resultado final das suas deliberações. 
Um reduzido número de países insistiu com firmeza nas sérias omissões e ambiguidades do documento impulsionado pelos Estados Unidos, particularmente na ausência de compromisso dos países desenvolvidos no relativo à redução de emissões de carbono e ao financiamento para adoptar medidas de mitigação e adaptação dos países do Sul. 
Após uma longa e extremamente tensa discussão, prevaleceu a posição dos países da ALBA e do Sudão, como Presidente do Grupo dos 77, de que o documento em questão era inaceitável para ser adoptado pela Conferência. 
Perante a evidente falta de consenso, a Conferência limitou-se a "tomar nota" da existência desse documento como a posição de um grupo de ao redor de 25 países.  
Trás essa decisão adoptada às 10h30, hora da Dinamarca, Bruno ―depois de discutir junto de outros representantes da ALBA amistosamente com o Secretário da ONU e expressar-lhe a disposição de continuar a lutar junto das Nações Unidas para impedir as terríveis consequências da mudança climática― partiu na companhia do Vice-presidente cubano Esteban Lazo rumo ao nosso país para participar da reunião da Assembléia Nacional, dando por finalizada a sua tarefa. Em Copenhage ficavam alguns membros da delegação e o embaixador para participar nos trâmites finais. 
Hoje à tarde informaram o seguinte: 
"…tanto aos que participaram na elaboração do documento, quanto aos que ―como o Presidente dos EE.UU.― anteciparam-se a anunciar a sua adopção pela Conferência… como não podiam rejeitar a decisão de se limitar a ‘tomar nota’ do suposto ‘Acordo de Copenhage, tentaram propor um procedimento para que outros países Partes que não tinham estado neste conluio se somassem a ela, declarando a sua adesão, com o que tentavam outorgar-lhe um carácter legal a esse acordo, que de facto podia prejulgar o resultado das negociações que deverão continuar."  
"Esta tentativa tardia recebeu de novo uma firme oposição de Cuba, da Venezuela e da Bolívia, que advertiram que este documento que a Convenção não tinha feito seu não tinha nenhum carácter legal, não existia como documento das Partes e não podia se estabelecer nenhuma  regra  para a sua suposta adopção…" 
"É neste estado que concluem as sessões de Copenhage, sem que se tenha adoptado o documento que tinha sido preparado sub-repticiamente durante os últimos dias, com uma clara condução ideológica da administração americana…" 
Amanhã a atenção estará centrada na Assembléia Nacional. 
Lazo, Bruno e o resto da delegação chegarão hoje na meia-noite. O Ministro de Relações Exteriores de Cuba poderá explicar na segunda-feira, com os detalhes e a precisão necessária, a verdade do acontecido na Cimeira. 
  
Fidel Castro Ruz

QUANTO AO OBAMA...

Por Fausto Brignol


Quando o lixo da Europa foi para a América do Norte formar o que hoje conhecemos como Estados Unidos, o mundo ficou de sobreaviso. Aquele povo, formado por bandoleiros, traficantes, piratas e escravagistas, logo após a sua independência se sentiu livre para saquear e assassinar os demais povos.


   Começaram por dilacerar todas as suas nações indígenas. Depois invadiram o México e tomaram quase dois terços do seu território. Com isso, conseguiram vastos campos de petróleo, ouro e outras riquezas. Empregaram essas riquezas para aumentar as suas Forças Armadas e tentar dominar os demais povos do sul – América Central e América do Sul. Deram-se conta de que era mais fácil “prosperar” através do terror e da pillhagem do que com o trabalho honesto, e gostaram da idéia.
   Ao mesmo tempo, usavam a escravidão como forma de enriquecimento. Com a industrialização, perceberam que era mais barato ter assalariados do que grandes quantidades de escravos. O assalariado tem que manter-se por si mesmo com a miséria que recebe, enquanto o escravo demandava grandes gastos. Fizeram a guerra contra os estados do sul, que não concordavam com essa idéia e dependiam de seus escravos para a manutenção de suas grandes plantações de algodão. Com a vitória na Guerra da Secessão, aumentaram ainda mais a divisão entre pobres e ricos, formaram uma nova elite – que já se propunha um plano de dominação mundial – e posaram de heróis para o mundo.
   Instigaram as duas grandes guerras européias, e delas participaram com o único objetivo de auferirem grandes lucros. Expandiram as suas empresas e dominaram o mercado mundial. Com o fim da União Soviética, aumentaram ainda mais o seu domínio.
   Enquanto isso, construíram uma grande máquina massificadora. Através do cinema e dos demais meios de comunicação tentavam convencer os povos de que todas as suas ações eram justificadas, “em nome da democracia e da liberdade”. Suas agências de notícias vendem informações para todo o mundo, as informações que eles desejam que sejam veiculadas. Com isso, conseguiram formar uma massa imbecilizada de bilhões de pessoas.
   Recentemente, invadiram o Iraque e o Afeganistão. Não somente para roubar as riquezas daqueles países, mas para ocupar uma estratégica posição com os seus exércitos. O próximo alvo é o Irã, depois, virá o Tibete, a China...

   Nunca se preocuparam com a Natureza. Ao contrário, a sua política sempre foi a de “dominar” a Natureza e não respeitá-la. O resultado estamos vendo agora.
   Na recente Conferência sobre o Clima, em Copenhague, negaram-se, mais uma vez, a auxiliar o planeta. E as pessoas se perguntam: “Mas são burros? São suicidas?” Talvez. Mas o mais provável é que já tenham pronto um plano para salvar as suas elites quando as grandes catástrofes aumentarem. Talvez seja um bom negócio para eles, que só pensam no lucro, gerenciar somente alguns milhões de pessoas, e não seis bilhões.


   Quanto ao Obama...

Sobre drogas e sua legalização....

O texto abaixo foi publicado no jornal Le Monde Diplomatique de setembro e é de autoria do comandante John Grieve, da Unidade de Inteligência Criminal da Scotland Yard. Eu (André Lux)concordo plenamente com tudo que está escrito nele.

10 Razões para Legalizar as Drogas

por John Grieve, da Unidade de Inteligência Criminal da Scotland Yard*
 
1 - ENCARAR O VERDADEIRO PROBLEMA

Os burocratas que constroem as políticas sobre drogas têm usado a proibição como uma cortina de fumaça para evitar encarar os fatores sociais e econômicos que levam as pessoas a usar drogas. A maior parte do uso ilegal e do uso legal de drogas é recreacional. A pobreza e o desespero estão na raiz da maioria do uso problemático da droga, e somente dirigindo-se a estas causas fundamentais é que poderemos esperar diminuir significativamente o número de usuários problemáticos.

2 - ELIMINAR O MERCADO DO TRÁFICO

O mercado de drogas é comandado pela demanda e milhões de pessoas demandam drogas atualmente ilegais. Se a produção, suprimento e uso de algumas drogas são criminalizados, cria-se um vazio que é preenchido pelo crime organizado. Os lucros neste mercado são de bilhões de dólares. A legalização força o crime organizado a sair do comércio de drogas, acaba com sua renda e permite-nos regular e controlar o mercado (isto é prescrever, licenciar, controle de venda a menores, regulação de propaganda, etc .. ).

3 - REDUÇÃO DRÁSTICA DO CRIME

O preço de drogas ilegais é determinado por um mercado de alta demanda e não regulado. Usar drogas ilegais é muito caro. Isto significa que alguns usuários dependentes recorrem ao roubo para conseguir dinheiro (corresponde a 50% do crime contra a propriedade na Inglaterra e é estimado em 5 bilhões de dólares por ano). A maioria da violência associada com o negócio ilegal da droga é causada por sua ilegalidade. A legalização permitiria regular o mercado e determinar um preço muito mais baixo acabando com a necessidade dos usuários de roubar para conseguir dinheiro.Nosso sistema judiciário seria aliviado e o número de pessoas em prisões seria reduzido drasticamente, economizando-se bilhões de dólares. Por causa do preço baixo, os fumantes de cigarro não têm que roubar para manter seu hábito. Não há também violência associada com o mercado de tabaco legal.

4 - USUÁRIOS DE DROGA ESTÃO AUMENTANDO

As pesquisas na Inglaterra mostram que quase a metade de todos os adolescentes entre 15 e 16 anos já usou uma droga ilegal. Cerca de 1,5 milhão de pessoas usa ecstasy todo fim de semana. Entre os jovens, o uso ilegal da droga é visto como normal. Intensificar a guerra contra as drogas não está reduzindo a demanda. Na Holanda, onde as leis do uso da maconha são muito menos repressivas, o seu uso entre os jovens é o mais baixo da Europa. A legalização aceita que o uso da droga é normal e que é uma questão social e não uma questão de justiça criminal. Cabe a nós decidirmos como vamos lidar com isto. Em 1970, na Inglaterra, havia 9.000 condenações ou advertências por uso de droga e 15% de novas pessoas tinham usado uma droga ilegal. Em 1995 os números eram de 94.000 e 45%. A proibição não funciona.

5 - POSSIBILITAR O ACESSO A INFORMAÇÃO VERDADEIRA E A RIQUEZA DA EDUCAÇÃO

Um mundo de desinformação sobre drogas e uso de drogas é engendrado pelos ignorantes e preconceituosos burocratas da política e por alguns meios de comunicação que vendem mitos e mentiras para benefício próprio. Isto cria muito dos riscos e dos perigos associados com o uso de drogas. A legalização ajudaria a disseminar informação aberta, honesta e verdadeira aos usuários e aos não-usuários para ajudar-lhes a tomar decisões de usar ou não usar e de como usar. Poderíamos começar a pesquisar novamente as drogas atualmente ilícitas e descobrir todos seus usos e efeitos - positivos e negativos.

6 - TORNAR O USO MAIS SEGURO PARA O USUÁRIO

A proibição conduziu à estigmatização e marginalização dos usuários de drogas. Os países que adotam políticas ultra-proibicionistas têm taxas muito elevadas de infecção por HIV entre usuários de drogas injetáveis. As taxas de hepatite C entre os usuários no Reino Unido estão aumentando substancialmente. No Reino Unido, nos anos 80, agulhas limpas para usuários e instrução sobre sexo seguro para jovens foram disponibilizados em resposta ao medo do HIV. As políticas de redução de danos estão em oposição direta às leis de proibição.

7 - RESTAURAR NOSSOS DIREITOS E RESPONSABILIDADES

A proibição criminaliza desnecessariamente milhões de pessoas que, não fosse isso, seriam pessoas normalmente obedientes às leis. A proibição tira das mãos dos que constroem as políticas públicas a responsabilidade da distribuição de drogas que circulam no mercado paralelo e transfere este poder na maioria das vezes para traficantes violentos. A legalização restauraria o direito de se usar drogas responsavelmente e permitiria o controle e regulação para proteger os mais vulneráveis.

8 - RAÇA E DROGAS

As pessoas da raça negra correm dez vezes mais risco de serem presas por uso de drogas que as pessoas brancas. As prisões por uso de droga são notoriamente discriminatórias do ponto de vista social, alvejando facilmente um grupo étnico particular. A proibição promoveu este estereótipo das pessoas negras. A legalização remove um conjunto inteiro de leis que são usadas desproporcionalmente no contato de pessoas negras com o sistema criminal da justiça. Ajudaria a reverter o número desproporcional de pessoas negras condenadas por uso de droga nas prisões.

9 - IMPLICAÇÕES GLOBAIS

O mercado de drogas ilegais representa cerca de 8% de todo o comércio mundial (em torno de 600 bilhões de dólares ano). Países inteiros são comandados sob a influência, que corrompe, dos cartéis das drogas. A proibição permite também que os países desenvolvidos mantenham um amplo poder político sobre as nações que são produtoras com o patrocínio de programas de controle das drogas. A legalização devolveria o dinheiro perdido para a economia formal, gerando impostos, e diminuiria o alto nível de corrupção. Removeria também uma ferramenta de interferência política das nações estrangeiras sobre as nações produtoras.

10 - A PROIBIÇÃO NÃO FUNCIONA

Não existe nenhuma evidência para mostrar que a proibição esteja resolvendo o problema. A pergunta que devemos nos fazer é: Quais são os benefícios de criminalizar qualquer droga? Se após analisarmos todas as evidências disponíveis concluirmos que os males superam os benefícios, então temos de procurar uma política alternativa. A legalização não é a cura para tudo, mas nos permite encarar os problemas criados com o uso da droga e os problemas criados pela proibição. É chegada a hora de uma política pragmática e eficaz sobre drogas.

*Channel 4, 27 de outubro de 1997; traduzido por Luis Verza.

E ainda falam mal de Cuba....

Unicef confirma que Cuba tem 0% de desnutrição infantil 
da Agência Adital 

A existência no mundo em desenvolvimento de 146 milhões de crianças menores de cinco anos abaixo do peso, contrasta com a realidade das crianças cubanas, reconhecidas mundialmente por estarem alheias a este mal social. Essas preocupantes cifras apareceram em um recente reporte do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), sob o título de Progresso para a Infância, Um balanço sobre a nutrição, divulgado na sede da ONU. De acordo com o documento, as porcentagens de crianças abaixo do peso são de 28% na África Subsaariana, 17% no Oriente Médio e África do Norte, 15% na Ásia Oriental e no Pacífico, e 7% na América Latina e no Caribe. A lista fica completa com a Europa Central e do Leste, com 5%, e outros países em desenvolvimento, com 27%. Cuba não tem esses problemas. É o único país da América Latina e do Caribe que eliminou a desnutrição infantil severa, graças aos esforços do Governo para melhorar a alimentação da população, especialmente daqueles grupos mais vulneráveis. As cruas realidades do mundo mostram que 852 milhões de pessoas padecem de fome e que 53 milhões delas vivem na América Latina. Apenas no México existem 5 milhões e 200 mil pessoas desnutridas e no Haiti três milhões e 800 mil, enquanto que em todo o planeta morrem de fome a cada ano mais de cinco milhões de crianças. De acordo com estimativas das Nações Unidas, não seria muito custoso oferecer saúde e nutrição básica para todos os habitantes do Terceiro Mundo. Bastaria, para alcançar essa meta, 13 bilhões de dólares anuais adicionais ao que agora se destina, uma cifra que nunca se conseguiu e que é exígua se se compara com o bilhão que a cada ano se destina à publicidade comercial, aos 400 bilhões em drogas entorpecentes ou inclusive aos 8 bilhões que se gasta com cosméticos nos Estados Unidos. Para satisfação de Cuba, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) também reconheceu que esta é a nação com mais avanços na América Latina na luta contra a desnutrição. O Estado cubano garante uma cesta básica alimentícia que permite a nutrição de sua população ao menos nos níveis básicos- mediante a rede de distribuição de produtos básicos. De igual forma, são feitos reajustes econômicos em outros mercados e serviços locais para melhorar a alimentação do povo cubano e atenuar o déficit alimentar. Especialmente mantém-se uma constante vigilância sobre o sustento dos meninos, meninas e adolescentes. Assim, a atenção à nutrição começa com a promoção de uma melhor e natural forma de alimentação da espécie humana. O tema desnutrição cobra grande importância na campanha da ONU para conseguir em 2015 as Metas de Desenvolvimento do Milênio, adotadas na Cúpula de chefes de Estado e de Governo celebrada em 2000, e que têm entre seus objetivos eliminar a pobreza extrema e a fome para essa data. Não isenta de deficiências, dificuldades e sérias limitações por um bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos há mais de quatro décadas, Cuba não mostra desesperadores nem alarmantes índices de desnutrição infantil. Nenhuma das 146 milhões de crianças menores de cinco anos abaixo do peso que vivem hoje no mundo são cubanas.

A notícia é de Imprensa Latina

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Liberdade na imprensa???






Vídeo produzido pelo Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social com o apoio da Fundação Friedrich Ebert Stiftung remonta o curta Ilha das Flores de Jorge Furtado com a temática do direito à comunicação. A obra faz um retrato da concentração dos meios de comunicação existente no Brasil. Roteiro, direção e edição: Pedro Ekman

Créditos: vivababel

Duas visões de mundo se confrontam em Copenhague




Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo. Mas estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana. O artigo é de Leonardo Boff.


Em Copenhague nas discussões sobre as taxas de redução dos gases produtores de mudanças climáticas, duas visões de mundo se confrontam: a da maioria dos que estão fora da Assembléia, vindo de todas as partes do mundo e a dos poucos que estão dentro dela, representando os 192 estados. Estas visões diferentes são prenhes de conseqüências, significando, no seu termo, a garantia ou a destruição de um futuro comum.

Os que estão dentro, fundamentalmente, reafirmam o sistema atual de produção e de consumo mesmo sabendo que implica sacrificação da natureza e criação de desigualdades sociais. Crêem que com algumas regulações e controles a máquina pode continuar produzindo crescimento material e ganhos como ocorria antes da crise.

Mas importa denunciar que exatamente este sistema se constitui no principal causador do aquecimento global emitindo 40 bilhões de toneladas anuais de gases poluentes. Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo.

Ocorre que estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana.

Não passa pela cabeça dos representantes dos povos que a alternativa é a troca de modo de produção que implica uma relação de sinergia com a natureza. Reduzir apenas as emissões de carbono mas mantendo a mesma vontade de pilhagem dos recursos é como se colocássemos um pé no pescoço de alguém e lhe dissésemos: quero sua liberdade mas à condição de continuar com o meu pé em seu pescoço.

Precisamos impugnar a filosofia subjacente a esta cosmovisão. Ela desconhece os limites da Terra, afirma que o ser humano é essencialmente egoista e que por isso não pode ser mudado e que pode dispor da natureza como quiser, que a competição é natural e que pela seleção natural os fracos são engolidos pelos mais fortes e que o mercado é o regulador de toda a vida econômica e social.

Em contraposição reafirmamos que o ser humano é essencialmente cooperativo porque é um ser social. Mas faz-se egoísta quando rompe com sua própria essência. Dando centralidade ao egoísmo, como o faz o sistema do capital, torna impossível uma sociedade de rosto humano. Um fato recente o mostra: em 50 anos os pobres receberam de ajuda dois trilhões de dólares enquanto os bancos em um ano receberam 18 trilhões. Não é a competição que constitui a dinâmica central do universo e da vida mas a cooperação de todos com todos. Depois que se descobriram os genes, as bactérias e os vírus, como principais fatores da evolução, não se pode mais sustentar a seleção natural como se fazia antes. Esta serviu de base para o darwinismo social. O mercado entregue à sua lógica interna, opõe todos contra todos e assim dilacera o tecido social. Postulamos uma sociedade com mercado mas não de mercado.

A outra visão dos representantes da sociedade civil mundial sustenta: a situação da Terra e da humanidade é tão grave que somente o princípio de cooperação e uma nova relação de sinergia e de respeito para com a natureza nos poderão salvar. Sem isso vamos para o abismo que cavamos.

Essa cooperação não é uma virtude qualquer. É aquela que outrora nos permitiu deixar para trás o mundo animal e inaugurar o mundo humano. Somos essencialmente seres cooperativos e solidários sem o que nos entredevoramos. Por isso a economia deve dar lugar à ecologia. Ou fazemos esta virada ou Gaia poderá continuar sem nós.

A forma mais imediata de nos salvar é voltar à ética do cuidado, buscando o trabalho sem exploração, a produção sem contaminação, a competência sem arrogância e a solidariedade a partir dos mais fracos. Este é o grande salto que se impõe neste momento. A partir dele Terra e Humanidade podem entrar num acordo que salvará a ambos

Leonardo Boff é teólogo e escritor.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Análise bastante interessante sobre a américa latina...

Editorial Inverta 440
.
A assinatura do acordo entre os Estados Unidos e a Colômbia, de instalação de mais sete bases militares estadunidenses em território colombiano, que segundo os esclarecimentos exigidos pelo presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva aos presidentes Obama e Uribe foram considerados satisfatórios, embora permaneça a demanda de tornar conhecido o conteúdo do mesmo pelos países da Unasul, constitui-se em mais um visível movimento de características geo-estratégicas, que somado às demais bases já existentes no continente, a reativação da IV Frota e o golpe em Honduras, nos levam à confirmação que o Círculo de Fogo em torno da América Latina passa a se fechar, suscitando desdobramentos dramáticos e violentos para os nossos Povos, a propósito do que continua acontecendo no Oriente Médio.

O INVERTA, em seu Editorial de Julho de 2008, intitulado "O Círculo de Fogo sobre a América Latina", esboçou a idéia de que as bases norte-americanas neste continente teriam uma pretensão maior do que aparentemente lhe são atribuídas, que não se tratam de dispositivos que resguardam o poder hegemônico estadunidense sobre o continente, em função da herança da guerra fria ou de controle dos movimentos revolucionários na região.

Segundo este Editorial a idéia tem por objetivo manter o histórico isolamento do Brasil em relação aos demais países do hemisfério, impedindo a unidade latino-americana e bloqueando o desenvolvimento do potencial econômico-social do hemisfério como um todo, dentro das novas circunstâncias da divisão internacional do trabalho e da política internacional. Que a histórica intervenção dos Estados Unidos na região desde as lutas por Independência estão marcadas por este signo, como bem comprova o boicote da delegação brasileira ao Congresso do Panamá, convocado por Bolívar (1824), durante o Movimento de Libertação da América Latina, e que ainda todo esse aparato de divisão, controle e submissão dos Povos de Nossa América nas novas circunstâncias históricas de Crise do Capitalismo, desde o último quartel do século XX ao século XXI, servem à nova estratégia de submissão econômica e política, de globalização neoliberal, dos países latino-americanos, em especial, o Brasil, que isolado dos demais desenvolveu as características subimperialistas, servindo como instrumento de dissuasão repressiva aos processos de unidade política e mudanças revolucionárias.

Quando este Editorial foi publicado as ideias contidas no mesmo pareciam absurdas para alguns, pois o contexto regional, como nos anos 60 e 70 que destacava Cuba na liderança do combate ao imperialismo na defesa da unidade continental sob o paradigma da Revolução Socialista; na atualidade, destaca a Venezuela na defesa desta unidade continental sob os paradigmas da Revolução Bolivariana. Nestes termos é difícil perceber e aceitar que o acordo das bases, a reativação da IV Frota, representasse qualquer perigo ao Brasil, dado seu papel histórico na região e as novas características do desenvolvimento capitalista no país de submissão pelo entrelaçamento subordinado das oligarquias burguesas locais à oligarquia financeira internacional, em especial, sua parcela hegemônica nos EUA; contudo, o desenrolar deste processo e a própria posição do governo brasileiro demonstra que as idéias avançadas deste Editorial já não parecem tão absurdas porque se assim fosse qual o motivo de pedir esclarecimentos a respeito do acordo entre os Estados Unidos e a Colômbia?

Certa vez um sábio visionário afirmou que se a aparência das coisas se confundisse com a sua essência, toda ciência seria supérflua, e, sem dúvida, este sábio aforismo cai como uma luva para os teóricos do Governo Lula, inclusive os ideólogos burgueses que se dizem democráticos, patriotas e nacionalistas. Pois o que justifica a maior potência militar de todos os tempos na história mundial dispor de 7 bases militares para combater o narcotráfico; a luta revolucionária do Povo Colombiano, das FARC-EP e da ELN, a qual denominam de terrorismo; e combater a influência da Revolução Bolivariana na Venezuela? O que poderia justificar um movimento desta ordem?

A História mostra que quando Hitler iniciou a guerra, cujo objetivo geral era o domínio sobre o continente europeu, elegeu como alvo de suas operações iniciais a Áustria, que o movimento de anexação daquele país se deu sem nenhuma resistência, que as tropas de Hitler através de núcleos já estavam presentes naquele país há bastante tempo, portanto, quando da entrada de suas tropas, ao contrário de uma recepção hostil, o que obteve foi a saudação clamorosa do povo. Mas a Áustria era apenas a cabeça de ponte para a passagem das hostes nazistas, em sua estratégia de domínio continental. Hitler enunciou como alvo segundo a jovem Revolução Russa, levando a Europa, em especial a Inglaterra e França, temerosos da Revolução Comunista, a uma aceitação silenciosa da anexação austríaca. E este comportamento político do velho continente europeu levou à histórica destruição e barbárie de vidas a partir de 1939 até 1945. Hitler fez um deslocamento estratégico de seus exércitos, anexando país por país em torno da URSS, mas o seu foco principal era o coração do continente europeu, econômico e político de então: a Inglaterra e a França. A questão que se coloca no momento é que dado o desenvolvimento tecnológico, torna-se impossível o deslocamento de forças que não denunciem o objetivo estratégico. Então, é necessário perguntar: Quem é o coração da América Latina, que numa nova visão estratégica e de um novo regime social, de unidade, integração, solidariedade e soberania dos Povos em Nossa América, poderia ser decisivo para o sonho Bolivariano e Martiano, pelo qual se batem Cuba e agora, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua? Não há como negar que este país é o Brasil.

E quanto mais cresce o seu desenvolvimento econômico e tecnológico, mais sua capacidade de conhecer as riquezas naturais (pré sal, água potável, biodiversidade) e possibilidades sociais, mais sua importância se mostra decisiva no contexto histórico atual; por outro lado, quanto mais aprofunda a crise do imperialismo no plano internacional, em especial, no centro principal desta crise, os EUA, revelando suas debilidades, ameaçando a hegemonia econômica e monetária, política, resta a herança que ele logrou conquistar no curso das duas guerras mundiais e da guerra fria até os dias atuais: seu complexo industrial militar, arsenal nuclear e demais tecnologias de guerra, espionagem e manipulação que corporificam-se em fatores objetivos e subjetivos, em suas forças armadas e indústria de guerra, e esta situação ainda é mais perigosa quando se vê ameaçado de desintegração interna, convulsão social, ameaça de desabastecimento de cereais para a população e de matérias-primas para sua indústria e vê crescer como na época da grande depressão, os milhões de desempregados, famintos, sem-tetos em suas ruas e principais cidades, vendo crescer a violência a cada dia. O reflexo de toda ideologia de superioridade racial e imperial sobre o mundo posta-se como ferida interna e câncer, que corrói toda a sociedade, atingindo os ícones de sua exuberância irracional: Wall Street, a GM, a Chrysler, a Lehman Brothers, Freddie Mac e Fannie Mae, entre outras; a ponto de após 390 anos de opressão sobre a população negra e 144 anos da libertação da escravatura(*) e das lutas contra o apartheid social, como forma de dupla exploração em cima das populações de etnias distintas, indígenas, latinas, negros, asiáticos, eleger um presidente que expressasse essas "minorias", oprimidas secularmente pela idéia da eugenia racial. Tudo isto se processa nas correntes sanguíneas da sociedade estadunidense. Quando a Alemanha passou a viver a situação de humilhação, após a derrota na I Guerra Mundial, que a crise econômica levou ao desespero o seu povo, vivendo em situação similar ao que vive os EUA hoje, o povo construiu como solução a República de Weimar contra o bolchevismo da Revolução Russa e o canto da vontade nacional da eugenia ariana e assim concentrou a vontade da maioria da população e a esperança de sair da humilhação e do desespero econômico e da submissão em que vivia. Mas a crise de 1929 levou de roldão a República de Weimar, afogada pelo discurso estridente de Hitler, evocando as potências do país. Eis o desfecho que levou ao cataclisma da II Guerra Mundial. O que isto tem a ver com as possibilidades da conjuntura que se forma em Nossa América, impulsionada pela Crise do Capital e a singularidade com os EUA a protagonizem? O desfecho deprimente de sua guerra de ocupação e rapina contra o Afeganistão e o Iraque; a submissão das superestruturas políticas condensadas no Governo Obama, alterando todo o metabolismo social dominado pelo ódio racial e humilhação das vacas sagradas da Ku Klux Khan, na explosão de ódio, torna-se uma variável bastante previsível que poderia unir-se ao complexo industrial-militar em nova estratégia desesperada de afogar as contradições internas pelas contradições externas numa guerra pela recolonização da América Latina. Fidel Castro recentemente afirmou que o acordo entre os Estados Unidos e a Colômbia representa a anexação desta pelos EUA, com o objetivo de destruir a Revolução Bolivariana e a esperança de unidade no continente.

Então, nós do INVERTA, entendemos que o Círculo de Fogo fecha o seu cerco sobre Nossa América, exigindo de todo patriota, democrata, nacionalista, e das forças revolucionárias no continente, a Unidade e a Defesa da Soberania de seus Povos e países. Além disso, que as situações de Honduras, a exemplo do Haiti, são apenas escaramuças, mensurações da capacidade de resposta da AL a um cenário de guerra de ocupação do imperialismo ianque na região: o conflito na Colômbia, o golpe em Honduras, a ocupação do Haiti, o bloqueio à Cuba, a anexação da Colômbia e a ameaça de invasão da Venezuela e sufocamento da Revolução Bolivariana são eixos concretos para a unidade tática e estratégica das forças revolucionárias do continente. O III Congresso da Coordenadora Continental Bolivariana tem a responsabilidade de posicionar-se sobre este eixo e de ter a sensibilidade e sabedoria de confluir as forças revolucionárias no continente para esta luta sem quartéis contra o imperialismo estadunidense. Neste particular, não poderá esquecer a importância do Brasil nem o significado da divisão entre as reais forças revolucionárias no país e os farsantes de ontem e de hoje, que impediram a delegação brasileira de estar presente no Congresso convocado por Bolívar e os que impediram a unidade revolucionária na Tricontinental, expulsando Marighela e isolando as forças revolucionárias dentro do próprio país: a História é pródiga em ironias.


Contra a anexação da Colômbia pelos EUA!
Fora com todas as bases militares norte-americanas do Continente!
Em defesa da Revolução Bolivariana!
Contra o Golpe em Honduras!
Contra a intervenção militar do Brasil no Haiti!
Pela Defesa da Unidade e Soberania Continental!
Pela Revolução Brasileira!


Aluisio Bevilaqua

Editor de INVERTA, membro da Presidência Coletiva da Coordenadora Continental Bolivariana, presidente do Capítulo Brasil da CCB – Luiz Carlos Prestes

A Ucrânia, 20 anos depois do socialismo sovietico....

Ucrânia:
Duas décadas após a desintegração da URSS
Mapa UcrâniaNeste texto, Denis Netcheporuk depois de fazer um retrato comparativo da Ucrânia de antes da derrota do socialismo com os dias de hoje conclui: “Todas as reformas de mercado confluíram para o mesmo fim: a privatização da propriedade social, a destruição das explorações colectivas e a implantação sucessiva de um regime liberal ao serviço dos grandes proprietários. Infelizmente tudo foi feito para proporcionar a prosperidade de uma minoria e a pauperização da maioria”.
Denis Netcheporuk* - www.odiario.info


No momento da criminosa desintegração da URSS, consumada em 1991, a Ucrânia estava entre os dez países mais desenvolvidos do mundo. Isto, aliás, é reconhecido até pelos próprios nacionalistas burgueses.

As prestações sociais eram extraordinárias, mas por vezes as pessoas não as valorizavam. A Educação era gratuita e havia um sistema de saúde pública de qualidade e, sobretudo, integralmente gratuito. Segundo os objectivos traçados pelo Partido, no ano 2000 todos deveriam receber gratuitamente uma habitação independente.

Os preços dos principais produtos alimentares, as rendas de casa, os transportes, entre outros, não sofriam alteração há mais de 50 anos. Os serviços comunais, as tarifas do gás e da electricidade custavam kopeques [cêntimos de rublo]. As pessoas consumiam produtos naturais. Só quem vivia fora da URSS sabia o que era o desemprego, a inflação, os sem-abrigo, os despedimentos compulsivos, as falências de bancos e a perda das poupanças, os créditos a juros de 30 por cento, etc..

Para a geração actual isto é pura ficção científica. Em 2009 não conseguem sequer imaginar que tal possa ser possível.

Retrocesso inaudito

Éramos 52 milhões de habitantes. Tínhamos não só armamento nuclear (o terceiro maior arsenal do mundo depois da Rússia e dos EUA), mas também um exército com um milhão de efectivos, capaz de defender a população e destruir qualquer inimigo. O país desenvolvia-se. Nós orgulhávamo-nos do nosso Estado. Mas, de modo inconcebível, em apenas 20 anos, o equivalente a quatro planos quinquenais soviéticos, transformaram-nos num dos países mais atrasados não só da Europa como do mundo. Um dos mais atrasados e desamparados segundo todos os indicadores. Parece irreal, mas a traição e o capitalismo fizeram a sua obra.

Tudo começou com a realização das reformas de mercado e a substituição do regime socialista pelo capitalismo. Este processo foi iniciado por Gorbatchov. Depois da dissolução da URSS, o capitalismo selvagem começou a ser implantado em cada país que a integrava pelos antigos ideólogos do comunismo, que, entretanto, trocaram a foice e o martelo pelo dólar. No nosso país isto foi feito por Kravtchuk, na Rússia foi Iéltsine, na Geórgia, Chevardnádze, etc..

Confiança defraudada

A verdade é que na altura, em inícios dos anos 90, as pessoas ainda confiavam nos governantes. Cada cidadão sabia que os dirigentes do país, os deputados, o Partido, os funcionários deviam por definição trabalhar e trabalhavam em prol do bem-estar do povo e do Estado. Todavia, infelizmente, não tiveram em conta um pormenor importante: no poder tinham-se instalado os chamados democratas-patriotas da fornada europeísta, cujo único objectivo era o lucro e a obtenção de dinheiro à custa dos simples mortais.

Todas as reformas de mercado confluíram para o mesmo fim: a privatização da propriedade social, a destruição das explorações colectivas e a implantação sucessiva de um regime liberal ao serviço dos grandes proprietários. Infelizmente tudo foi feito para proporcionar a prosperidade de uma minoria e a pauperização da maioria.

Todas as desgraças do nosso país são obra de Kravtchuk, de Kutchma, Iuchenko e de todos aqueles que estiveram no poder nos últimos 20 anos. É preciso compreender que ninguém perguntou ao povo se queria ou não mudar para a via capitalista. Tudo foi feito às escondidas, sob a capa de um pretenso amor pela Ucrânia e pela nação, sob o pretexto da democracia e do humanismo europeu.

Os ricos, mais ricos…


Em resultado da contra-revolução capitalista, o povo ucraniano perdeu o poder e o controlo sobre tudo o que se passa no país. Hoje, a minoria governa a maioria. Cinquenta pessoas detêm um terço do Produto Interno Bruto. Os ricos tornam-se mais ricos, os pobres mais pobres.

Pela frente temos a crise económica-financeira. Os capitalistas tentam sair dela à custa da gente simples. O governo de Timochenko endividou todo o povo. O poder «laranja» continua a dedicar-se unicamente à venda de empresas e à contracção de novos créditos. Ainda por cima faz de tal política um mérito seu.

O actual presidente sublinha constantemente que se dirige a uma única nacionalidade da Ucrânia. Poderia parecer que isto é reflexo do grande amor de Iuchenko pelos ucranianos. Com ele faz coro no mesmo sentido outra «obreira» que se muniu da ideologia pró-fascista para atrair o eleitorado.

Mas a verdade é que, em cada dia que passa, com esta equipa de «pseudo-patriotas» no poder, os dirigidos estão a tornar-se cada vez menos. Isto aplica-se também às pessoas que pertencem às chamadas «nacionalidades estrangeiras»… Em geral, todos estão a morrer e a sofrer na Ucrânia.

Números da vergonha

Por mais triste que seja temos de constatar que a composição da «nação» de que eles falam é a seguinte. Restam ao todo na Ucrânia cerca de 46 milhões de pessoas, dos quais:
• cerca de dez milhões de ucranianos vivem abaixo do limiar da pobreza;
• mais de três milhões estão desempregados;
• cerca de 1,5 milhões passam fome;
• cerca de dez milhões de reformados recebem a pensão mínima;
• cerca de 190 mil ucranianos adoecem anualmente de cancro, morrendo 900 em cada 1500 pacientes;
• cerca de 700 mil pessoas sofrem de tuberculose, segundo dados estatísticos do Ministério da Saúde da Ucrânia;
• 440 mil pessoas estão infectadas com o vírus da SIDA;
• cerca de 150 mil pessoas estão na prisão;
• cerca de 900 mil pessoas sofrem de alcoolismo crónico;
• cerca de 500 mil toxicodependentes estão registados oficialmente, segundo dados do Ministério do Interior;
• quase 200 mil crianças vivem na rua;
• cerca de um milhão de pessoas não têm abrigo;
• 19 milhões são fumadores, 66 por cento dos homens e 20 por cento mulheres.

Se a isto acrescentarmos ainda o ressurgimento do analfabetismo e a degradação moral da juventude, o quadro torna-se muito triste.

É preciso sublinhar que aqueles que conduziram e continuam a conduzir as reformas de mercado capitalistas devem ser responsabilizados por todas estas desgraças. São os partidos de direita, são os políticos liberais. Eles estão hoje no poder. Não existem diferenças entre eles. Os capitalistas são os mesmos independentemente da máscara. Tendo em conta tudo o que atrás foi dito, cada cidadão deve colocar a si próprio as correspondentes perguntas e, sobretudo, esforçar-se por encontrar as respostas lógicas, designadamente à seguinte questão: por que é que em dada altura votou a favor dos milionários e continuará a fazê-lo no futuro?



Publicado no jornal Komunist (06.11), órgão do Partido Comunista da Ucrânia
Disponível em russo em:
http://www.komunist.com.ua/article/27/10381.htm
Tradução, título e subtítulos da responsabilidade da Redacção do Avante!

* Colaborador de Komunist, órgão do Partido Comunista da Ucrânia

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Milton Nascimento – Angelus (1993)


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Créditos: UmQueTenha 











O Manifesto do Hezbollah

Líbano: O Manifesto do Hezbollah


Por Roberto Blum

Now Lebanon – Beirute

BEIRUTE, [capital do Líbano]: O Secretário Geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, na noite de segunda-feira [30/11], surgiu numa tela gigante erguida no Al-Jinan Hall nos subúrbios do sul de Beirute e leu o novo manifesto de seu partido. Foi a segunda plataforma política já proposta pelo Hezbollah, que irá nortear seus projetos políticos e ideológicos nos próximos anos.
O primeiro manifesto, lançado em 1985, apelava para o estabelecimento da Lei Islâmica no Líbano, mas o partido desde então tem suavizado seu discurso. Muitos esperavam mudanças mais significativas no novo manifesto devido às muitas mudanças na cena política local e regional, porém, exceto pela cláusula sobre o Estado Islâmico e do partido expressar sua disposição de se envolver mais na cena política libanesa, nada mudou realmente. Pelo contrário, o que Nasrallah descreveu como o nível de envolvimento nos assuntos políticos do Líbano desejado pelo partido não sinaliza nenhuma mudança no seu comprometimento com seus aliados, a Síria e o Irã.
Durante seu discurso, Nasrallah destacou que a Resistência tem descrito a si mesmo como o maior e mais bem sucedido agente político do país. “Através de seu longo caminho e de suas vitórias, a Resistência… tem crescido de um poder de libertação para um poder de defesa e intimidação, em adição ao seu papel político interno como uma influência na construção de um Estado justo e capaz”, disse ele aos repórteres, indicando que seu partido teria um papel protagonista na formulação de qualquer estratégia de defesa nacional.
Embora muitos jornalistas tenham considerado o manifesto como um sinal de que o Hezbollah está “libanizando” – construindo uma identidade nacional para si mesmo – o partido ainda vê a si mesmo como um substituto válido para o Estado e de fato existe como um Estado-dentro-do-Estado. Nasrallah deixou isso claro quando disse: “Todas as decisões políticas deveriam caber ao Estado; o problema é a ausência de Estado.”
No entanto, se realmente muito pouco mudou na plataforma política do partido, por que anunciar isso agora, e por que fazer isso parecer tão importante?
Claro que o momento era significativo. O Hezbollah comunicou seu manifesto imediatamente depois que o governo do Líbano delineou o estatuto ministerial e logo antes de tornar isso público. É quase como se Nasrallah estivesse publicando o próprio estatuto ministerial do Hezbollah ao lado do estatuto do governo nacional. O fato de que os meios de comunicação e a classe política deram muita atenção ao anúncio é um sinal claro de quão importante os libaneses acreditam que a agenda política do Hezbollah é. Eles entenderam que, depois de quatro anos de luta pela independência, a plataforma política do Hezbollah irá moldar o futuro do país, assim como o partido continuará a agir como um representante do Irã e da Síria que exerce grande controle sobre as instituições do Estado e mantém o Líbano como um campo de batalha.
O Hezbollah não foi sempre o maior agente político no país. Por anos, o partido pode se dar o luxo de ser capaz de focar no seu papel de resistência no sul. Porém, o grande divisor de águas do partido, e do Líbano como um todo, veio em 2005, quando o regime da Síria retirou-se do país após quase 30 anos de ocupação e deixou o Hezbollah livre para agir politicamente em seu benefício. O partido herdou o papel de Damasco [capital da Síria] num momento em que os libaneses estavam perturbados pela raiva contra a Síria e determinados em trazer à justiça os responsáveis pelo assassinato do ex-Primeiro-ministro libanês Rafik Hariri.
A primeira atitude do partido foi ir contra o pensamento geral e organizar uma contra manifestação ao 14 de março da Revolução dos Cedros chamada “Obrigado Síria”- uma indicação das intenções do Hezbollah de desafiar a aliança 14 de Março e aqueles que clamam por soberania e independência. E foi exatamente o que eles fizeram nos quatro anos seguintes.
No entanto, o partido sofreu alguns reveses ao longo de seu caminho, por exemplo, os eventos de 7 de maio de 2008, quando atiradores da oposição tentaram tomar Beirute e partes da província de Monte Líbano. Embora a liderança do Hezbollah tenha conseguido convencer seus apoiadores de que os eventos sangrentos e traumáticos de maio representaram uma vitória para a Resistência Islâmica, a reputação do partido foi duramente manchada entre o público maior do Líbano.
A comunidade xiita no Líbano pagou o preço. Muitos xiitas libaneses, especialmente aqueles que viviam em Dahieh [principal distrito xiita ao sul de Beirute] e que trabalhavam em outras áreas de Beirute, foram submetidos à raiva que seus compatriotas sentiam pela tentativa de golpe. Muitos perderam seus empregos. Nos estados do Golfo Pérsico predominantemente sunitas, onde muitos libaneses xiitas têm trabalhado por anos – em alguns casos sustentando mais de uma família – contratos, vistos e permissões de trabalho de repente se tornaram mais difíceis de serem renovados.
O resultado foi um declínio econômico localizado em Dahieh, que tem levado a um preocupante aumento dos pequenos crimes, roubo de carros, prostituição e tráfico de drogas. Essa é uma das principais razões pela qual o Hezbollah pediu que as Forças Internas de Segurança [ISF, sigla do nome em inglês] interviessem e lançassem a campanha “A Ordem vem da Fé”.
O Hezbollah tem procurando então virar a página, por assim dizer, e restabelecer a si mesmo como um partido libanês através de seu novo manifesto, uma série de reuniões de reconciliação, a cooperação com as ISF e com outras facções libanesas.
Porém, enquanto o Hezbollah tenta recuperar suas perdas e fazer um nome para si mesmo na cena política doméstica, Damasco está entrando novamente na equação, seguindo a recente aproximação entre Síria e Arábia Saudita e pode querer tomar de volta o papel que entregou ao partido quatro anos atrás.
Ao mesmo tempo, estão em andamento negociações entre o Irã e o Ocidente a respeito do programa nuclear de Teerã, e independente de como isso termine, o Hezbollah pagará o preço. Um acordo entre o Ocidente e o Irã provavelmente significaria uma diminuição do apoio financeiro e militar para o Hezbollah. Porém, se houver uma guerra com Israel, o partido ainda teria que se envolver para defender o Irã.
Em ambos os casos, o Hezbollah precisa proteger a si mesmo. Por esse motivo, seu novo manifesto foi significativo para sinalizar a “libanização” do partido e sua integração ao sistema libanês, mas ao mesmo tempo reafirma seu papel e poder como uma resistência armada com uma ampla perspectiva.
Hanin Ghaddar

Tradução: Aline Oliveira

Para acessar o texto original, clique aqui.

Fotografia de Bertramz, retirada daqui.