segunda-feira, 4 de abril de 2011

A criptonita cultural da direita americana.

Um olhar no clima cultural dos anos 1980 pode nos ajudar a explicar o comportamento americano hoje.

Por Cliff Schecter na Revista Fórum

Antes dos mísseis Tomahawk começarem a chover sob as defesas aéreas de Muammar Gaddafi na semana passada, a única conversa que o presidente Obama precisou ter foi com seus conselheiros. Eles, e eles somente, decidiriam se um país fundado como uma república democrática iria se envolver naquilo que George Washington provavelmente teria descrito como uma “confusão estrangeira” – usando decretos do século XXI contra um sociopata com um histórico de violência e um fetiche por chapéus pior do que o de Sammy Davis Jr.

Obviamente, em 200 anos, os Estados Unidos se transformaram de um rebelde-com-causa em uma potência mundial, e um envolvimento adicional nas questões mundiais tornou-se uma parte do custo de fazer negócios. Há também um bom argumento a ser apontado, que é o fato de que, depois do erro terrível da invasão do Iraque, os EUA podem fazer algo de bom ao colocar um fim ao homicida Gaddafi na Líbia, como parte de uma coalizão internacional feita de países árabes e africanos, abençoada pelas Nações Unidas.

Mas isso não muda o fato de que o apoio congressional para esta operação foi tão importante quanto um apêndice ou os votos de casamento do Newt Gingrich. Obama e os seus simplesmente sabiam que podiam ignorar os representantes do povo e seguramente contar com uma cultura militarizada e condicionada a apoiar ataques às nações árabes. Particularmente uma que os EUA já haviam derrubado somente uma geração atrás.

É esse fato que faz com que o novo livro do autor, colunista e apresentador de rádio David Sirota, Back To Our Future (De Volta Ao Nosso Futuro), seja não somente uma leitura fascinante sobre a cultura dos anos 1980, mas um importante trabalho que ajuda a explicar porque os Estados Unidos faz as coisas que faz hoje. Do envolvimento numa guerra civil na Líbia a permitir que um louco sem referências prévias passeasse em seu bazar local de armas e comprasse armas de fogo de alto poder para a tentativa de assassinato de uma congressista. Sendo o segundo mais fácil que, digamos, encontrar plutônio para seu DeLorean em 1955.

"Fora-da-Lei com moral", como o explica Sirota, os anos 1980 foram a era do marketing-cruzado, quando conceitos que tinham um lugar na história americana de repente se tornaram lugares-comuns. A linguagem anti-governamental do presidente Ronald Reagan adornou filmes como Caça-Fantasmas e E.T.. Estas “mensagens políticas em lugares não-políticos doutrinaram os jovens, quando seus filtros para a propaganda política estavam desligados.” Como resultado, estas narrativas emolduradas se tornaram parte da sabedoria convencional, continuando como tal até hoje.

Num grande sentido, E.T. elevou as suspeitas sobre o governo, e terroristas líbios em De Volta Para O Futuro e um malvado lutador profissional chamado O Sheik de Ferro ajudaram a preparam o povo americano para o papel que desempenhamos no mundo árabe durante a última década. Enquanto isso, o ‘fora-da-lei com moral’, ou trapaceiro que tinha que trabalhar contra o sistema para fazer as coisas acontecerem, era uma mensagem central que atingia as massas.

A história de “o governo é o problema, não a solução” não estava somente contida na filosofia de Reagan, na ética de Wall Street, em muitos filmes, músicas e séries de televisão, mas talvez o que mais tenha promovido isso foi o uso de atletas em uma das mais poderosas máquinas de marketing já vistas – a Nike. Como nos diz Sirota sobre o efeito da Nike, “eles elevaram esta história ao nível da saturação social”. Isso pode ao menos parcialmente explicar o individualismo trapaceiro que pode ser visto no caso de amor que certos americanos têm com armas, e, mais especialmente, a velha lenda de que só eles mesmos podem se proteger, frequentemente do próprio governo ao qual eles recorreram para este serviço.

Claro, esta radical mudança cultural não aconteceu por si só. Um conjunto de reflexões reacionárias e organizações midiáticas, nascidas nos anos 1970 para liderar esta espécie de revolução cultural, sinergicamente agarraram este zeitgeist social e deitaram e rolaram com ele, declarando que os anos 1960 e os 1970 foram um ilegítimo, ingênuo e até mesmo perigoso experimento social. Como Sirota nos lembra, nos anos 1980 um ministro discursando na Heritage Foundation, uma destas novas (1973) e prodigamente fundadas operações de mídia e políticas de direita, intrincadamente ligada à administração de Reagan, acreditava que ele e sua estirpe estavam “ali para girar o relógio de volta para 1954 neste país”. ‘Pré-púberes’ no comando Danny Goldberg, ex-diretor da Air America, também reconheceu esta evolução cultural, e o papel desempenhado por bem-fundados órgãos conservadores em ajudar a espalhar o não-amor.

Da forma como ele vê, apelar para a psique e para a visão do povo americano, ou mesmo para os seus corações, se quiser colocar assim, está em escassez na esquerda, pois “Democratas não usam imaginação e cultura para abrir as mentes para seus programas”. Como Goldberg escreve em um artigo do Nation, “você pode contar quantas pessoas clicam numa página da web, durante quanto tempo ela foi vista e a quantas pessoas ela foi encaminhada, mas determinar quanto impacto ela tem na mente dos leitores requer suposições fundamentadas e a falível análise intuitiva humana”.

É melhor a esquerda começar a incorporar esta função de cultura, imaginação e emoção em nossas políticas em breve. Porque, se de fato estamos operando sob os parâmetros estabelecidos não só pela política, mas pelas artes e literatura dos anos 1980, reforçados por milhões de dólares investidos em projetos conservadores de longo prazo para convencer o povo americano que esta é a forma como sempre foi, nós temos uma - ou três - década difícil pela frente. Pois, como diz Sirota, “nosso mundo é crescentemente regido pelos ‘pré-púberes’, estudantes universitários e jovens alpinistas originalmente doutrinados nos anos 1980.”

Portanto, se estamos procurando uma alternativa para as por demais presentes tensões do aventureirismo estrangeiro, de Wall Street e das milícias domésticas – entre outros desafios – precisaremos do nosso próprio renascimento cultural para retornar aos valores que um dia animaram esta nação. Porque, venha ele de Krypton, Kansas City ou Cazaquistão, não estou preparado para me ajoelhar perante Zod tão brevemente.

Cliff Schecter é o Presidente do Libertas, LLC, uma progressista firma de relações públicas, o autor do bestseller The Real McCain, e um colaborador regular do The Huffington Post.

1968: Martin Luther King é assassinado

Correio do Brasil


Em dois atentados anteriores, o reverendo Martin Luther King conseguira escapar por pouco da morte. O negro que tanto se engajou pela igualdade de direitos nos Estados Unidos nas décadas de 1950 e 1960 alcançou apenas os 39 anos de idade.
No dia 4 de abril de 1968, foi assassinado com um tiro na sacada de um hotel em Memphis. O autor do disparo teria motivos supostamente racistas. Em dezembro de 1999, no entanto, um processo civil no Estado do Tennessee chegou à conclusão de que sua morte foi planejada por membros da máfia e do governo norte-americano.
Que homem era este que conseguiu dividir uma nação e ser amado e odiado ao mesmo tempo? Para melhor entendê-lo, precisamos nos situar no contexto dos Estados Unidos em plena década de 50: uma superpotência em plena Guerra Fria, uma nação rica, um país racista.
O país que se considerava modelo de democracia e liberdade, mas seus habitantes eram classificados de acordo com a raça. Os negros eram discriminados em todos os setores: na política, na economia e no aspecto social.

Boicote de ônibus

Os negros norte-americanos não podiam votar, eram chamados pejorativamente de “nigger” e “boy”, seu trabalho não era devidamente remunerado, e as agressões dos brancos eram rotina. Até que, em dezembro de 1955, em Montgomery, a costureira negra de 52 anos Rosa Parks resolveu não ceder seu lugar num ônibus para um passageiro branco.
Parks foi presa e, em decorrência, Martin Luther King, pastor da cidade, conclamou um boicote dos negros aos ônibus. Em um ano, tornou-se tão conhecido no país que assumiu a liderança do movimento negro norte-americano.
O boicote aos ônibus foi apenas o começo. Seguiram-se as marchas de protesto de King e milhares de defensores dos direitos civis em todo o país, acompanhadas de violações conscientes da legislação racista. Usavam, por exemplo, as salas de espera e os restaurantes reservados aos brancos. Nem a violenta repressão policial enfraqueceu o movimento.
“Temos que levar nossa luta adiante, com dignidade e disciplina. Não podemos permitir que nosso protesto degenere em violência física”, advertia o pastor batista, não se deixando provocar pela ordem pública.

EUA divididos para brancos e negros

Ele manteve esta filosofia, mesmo quando os 1.100 participantes do movimento negro radical exigiram a divisão dos Estados Unidos em dois, para brancos e negros, na Black Power Conference, em 1967.
Vinte e quatro horas antes de sua morte, Martin Luther pronunciou o célebre discurso em que anunciava ter avistado a terra prometida. “Talvez eu não consiga chegar com vocês até lá, mas quero que saibam que nosso povo vai atingi-la”, declarou ele, como se previsse a proximidade da morte.
Seu assassinato provocou consternação internacional. As inquietações raciais se agravaram em Chicago e Washington. Depois de anunciar o fim dos bombardeios no Vietnã e sua desistência de se recandidatar à Casa Branca, o presidente Lyndon Johnson chegou a adiar uma viagem ao exterior.
Em memória a King, no ano de 1983, os Estados Unidos tornaram feriado nacional a terceira segunda-feira de janeiro (ele havia nascido em 15 de janeiro de 1929).

domingo, 3 de abril de 2011

"O PIG vai tentar derrubar Dilma"

Altamiro Borges em seu blog

Reproduzo entrevista concedida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim à revista Nordeste VinteUm:

O jornalista Paulo Henrique Amorim é, indiscutivelmente, uma figura polêmica. Bastou ser anunciado como o palestrante do I Ciclo de Debates Nordeste VinteUm/2011, realizado em fevereiro, na capital cearense, para despertar o interesse de estudantes de comunicação, profissionais de mídia, políticos e curiosos, que disputaram espaço no auditório da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC) para ouvi-lo falar sobre "Mídia: regulação e democracia". 


O evento faz parte da estratégia do PH de disseminar, em suas andanças pelo país, ideais de liberdade de expressão e democratização da informação. Pode-se dizer que é uma autêntica cruzada nacional contra o Partido da Imprensa Golpista (PIG), expressão que ele confessa ter sido uma apropriação indébita de uma ideia do deputado Fernando Ferro (PT de Pernambuco), num desabafo contra os grandes veículos de mídia nacionais.



Formado em Sociologia e Política, este carioca, filho de nordestino, é hoje uma das principais estrelas da Rede Record de Televisão e tem no currículo passagens pelo Jornal do Brasil, Rede Manchete, Editora Abril, Rede Globo, TV Bandeirantes, TV Cultura e os sites Zaz, Terra, UOL e iG. Mas é no blog Conversa Afiada que PH Amorim combate o que órgãos da imprensa, blogs políticos e ele próprio tacham de PIG. 



Segundo Paulo Henrique Amorim, fazem parte do PIG os conglomerados Globo, Folha e Estadão. “A Veja não está nesta categoria, pois é uma categoria à parte. Ela não é um órgão de comunicação, mas um detrito de maré baixa”, disse ele durante o Ciclo de Debates. Foi assim, afiado, que o jornalista concedeu entrevista exclusiva à Nordeste VinteUm, na qual comenta aspectos do governo Lula, expectativas para o governo Dilma, os 27 processos que responde por parte do banqueiro Daniel Dantas “e assemelhados”, além da urgência da chamada “Ley de Medios”, o marco regulatório, que pretende criar mecanismos para combater a concentração midiática do País. 



Paulo Henrique Amorim, qual a principal influência que o PIG exerce no Brasil? 



Formar a agenda (os assuntos discutidos no País), mas ele não tem mais o poder de determinar o curso dos acontecimentos. Seu poder se reduziu bastante. No entanto, ainda diz o que deve ser discutido. O que se comentava na Globo é que o Roberto Marinho costumava dizer que “o importante não é o que eu dou, o importante é o que eu não dou”. Ou seja, ao definir o que “dar”, o que noticiar e o que não noticiar, ele tomava uma atitude política. E é assim que a Globo formula a agenda do País. Não discute certos assuntos para discutir outros. Esse é um poder muito forte. Agora repito: é bom esclarecer que o PIG já foi mais forte. A capacidade de influenciar já foi bem maior. Hoje é uma capacidade decrescente. 



Dê um exemplo.



Outra dia, enquanto eu navegava no Blog da Dilma, vi que o Daniel (jornalista Daniel Bezerra, criador do blog) teve uma solução muito inteligente: noticiar a festa dos 90 anos da Folha (jornal Folha de São Paulo) como o pré-velório da Folha. A Folha de São Paulo já foi muito mais importante e incisiva do que é hoje. No entanto, quando ela determina o que pode e o que não pode chegar ao conhecimento da opinião pública, ela tem o poder de abafar, ou seja, o PIG abafa, não deixa que o Brasil discuta o Brasil. 



Tem um navegante no meu blog Conversa Afiada que diz sempre: “O Brasil não sai na Globo”. O Brasil não vê o que está acontecendo no Nordeste, não vê o que está acontecendo em matéria de obras de infraestrutura, o que está acontecendo com a ascensão social. O Brasil não vê que em 8 anos, durante o governo Lula, foi feito em matéria de redução da pobreza o que teoricamente teria que ser feito em 25. O Brasil fez um esforço espetacular para reduzir a pobreza e conseguirá atingir o objetivo da presidenta Dilma Rousseff, que é acabar com a miséria. 



Esse debate não é um debate que se trava no PIG. Por isso que ele ainda tem esse poder discriminatório. O PIG pauta as rádios do interior, jornais do interior e outros portais. Mas com o aumento do consumo de computadores – no ano passado houve um aumento de 23% na venda de computadores no Brasil, o que é espantoso –, o poder do PIG diminui progressivamente. Contudo, não há como negar que esse poder ainda é considerável.



E como você assiste ao insistente preconceito de outras regiões contra o Nordeste?



Sou filho de um baiano e casado com uma baiana. Nasci no Rio de Janeiro, moro em São Paulo. Aqui sou testemunha do preconceito muitas vezes explícito contra o nordestino. A elite paulista é uma elite separatista, que gostaria que São Paulo se desligasse do resto do Brasil. Isso é produto do preconceito e nasce em boa parte do preconceito das próprias elites nordestinas contra os próprios nordestinos. Faz parte de uma estratégia econômica, que é tornar o nordestino a mão de obra escrava.



Isso assusta muito. Assusta inclusive essa classe média ascendente, quando ela descobre que o mecânico da oficina em que ela vai consertar o carro pode ter um carro melhor do que o dela. Aí ela fica desesperada e, se aparece um cara dizendo que isso é por causa da Dilma, e que a Dilma é a favor do aborto, essa classe vai lá e vota na Marina Silva. Agora, quanto mais instituições, como a revista Nordeste VinteUm e o Ciclo de Debates do qual tive a honra de participar, sacudirem a poeira e mostrarem a contribuição do Nordeste para o Brasil, melhor. 



Eu estava conversando com minha mulher (jornalista Geórgia Pinheiro – diretora do blog Conversa Afiada) e disse: “Olha, existem três grandes brasileiros de curso internacional: Josué de Castro, Celso Furtado e Paulo Freire. Três nordestinos. O pensamento neoliberal, a direita brasileira do Sudeste e a direita paulista não produziram sequer um quadro brasileiro de trânsito internacional. Fernando Henrique Cardoso é um blefe. José Serra não escreveu um único livro. E o engraçado é que tem a fama de ser um economista competente. Nem diploma de economista ele tem. Eu costumo dizer que esses tucanos de São Paulo, se não fosse o PIG, não passariam de Resende, aquela cidade que divide o estado do Rio de Janeiro e o de São Paulo. Eles ficariam presos lá.



Durante o Ciclo de Debates Nordeste VinteUm, você afirmou que, apesar dos avanços em vários aspectos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não enfrentou o PIG. Acredita que com a presidenta Dilma Rousseff será diferente? 



Eu tenho mais fé do que esperança. Os americanos têm um ditado: “O que é, é o que você vê”. Perceba: a presidenta Dilma manteve o ministro da Defesa Nelson Jobim, que no Conversa Afiada chamo de ministro Nelson “John Bim”, pois ele é um informante da embaixada americana, como mostrou o site Wikileaks. Ela tem no Ministério da Justiça um advogado do Daniel Dantas, que é o ministro José Eduardo Cardozo, conhecido pela turma do Dantas como “Zé”. 



O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, trata a questão da “Ley de Medios” quase como se fosse uma coisa pornográfica. Ele trata com muito pudor, muito recato, muita dificuldade. E finalmente a presidenta foi à tal festa dos 90 anos da Folha. O “pré-velório”. Se quiser, ela tem várias explicações plausíveis para isso. Por exemplo: que ela é chefe de Estado. Mas como chefe de Estado ela não pode esquecer que a Folha inventou uma ficha policial falsa dela. A Folha fraudou uma ficha policial da presidenta e isso é uma questão de Estado. Então eu acho que a ida dela à festa da Folha é um mau indício, que se soma aos outros que acabei de mencionar. Pode ser o perfil do Lula. Eu espero estar redondamente enganado e que ela a certa altura diga: “Olha, eu fui à festa da Folha, vou à festa da Globo, pois defendo a liberdade de expressão, a liberdade de expressão é intocável. E agora vou fazer a regulação da mídia”. Espero que eu esteja redondamente enganado e ela redondamente certa.



E caso não ocorra o marco regulatório, o que esperar? 



Se não houver marco regulatório, o PIG vai tentar derrubar a Dilma com muita eficiência. O PIG e o Jornal Nacional vão operar a sucessão da presidenta Dilma Rousseff com uma fúria indescritível. Nós ainda não vimos nada. Essa campanha sórdida e calhorda, como disse o grande cearense Ciro Gomes, ao se referir à “campanha contra o aborto” desfechada pelo José Serra durante as eleições, será ultrapassada em “calhordice”. 



A Dilma vai sofrer se não houver o marco regulatório. O que também poderá ser uma consequência lamentável é que se não houver um sistema mais aberto, transparente, livre e democrático de comunicação será muito fácil manipular a classe C na sua rápida ascendência, levando-a a uma plataforma moralista e paranoica. A nossa sorte é que “quem nasceu para José Serra nunca será Carlos Lacerda (renomado jornalista e político brasileiro)”, frase boa e que não é minha, é do Brizola Neto (blogueiro). 



O Serra nunca será o Lacerda. Mas sempre será possível tentar explorar o lado paranoico moralista de toda a classe média. E o Lula oportunizou a criação de uma gigantesca classe média. Se o PIG continuar tendo a importância que tem através, inclusive, da manipulação que a Globo protagoniza, é possível que essa classe média do Lula se torne “Berlusconiana” (referência a Sílvio Berlusconi – empresário e primeiro-ministro da Itália), ou seja, ela caia no conto do vigário da “calhordice”.



Paulo Henrique, você se arrepende de ter trabalhado na Rede Globo e na revista Veja?



Não. Na Veja eu trabalhei com a equipe pioneira dirigida pelo Mino Carta, que é o maior jornalista brasileiro. Foi com quem aprendi o “bê-á-bá” dessa profissão. E me orgulho muito de ter feito parte daquela equipe. Aprendi ali e procuro até hoje me guiar por algumas instruções elementares que o Mino transmitia para aquela equipe de jovens que tinham a faca entre os dentes, tentando fazer o melhor jornalismo possível do Brasil. 



Eu fui trabalhar na Globo porque saí do jornalismo escrito, percebi que o jornalismo escrito era decadente, com salários cada vez menores. Eu saí da direção de redação do Jornal do Brasil, fui mandado embora, e fui trabalhar na TV Manchete, que também estava em crise. Ela comprou, através do chefe do escritório em Brasília, o Alexandre “Maluf” Garcia (jornalista Alexandre Garcia, hoje comentarista da Rede Globo), a candidatura do Paulo Maluf. Mas o Maluf perdeu e a Manchete ficou órfã, foi quando eu fui convidado para trabalhar na Globo. Fui para fazer uma coluna de economia, fiquei pouco tempo nessa função e fui então dirigir o escritório da Globo em Nova York, um dos períodos mais estimulantes da minha vida de repórter. 



Qual sua avaliação sobre o efeito prático das Ações Diretas de Inconstitucionalidade por Omissão? (As ADOs são tentativas do professor Fábio Konder Comparato para que o Supremo Tribunal Federal julgue “por omissão” o Congresso Nacional por não legislar sobre três capítulos da Constituição de 1988 que tratam da Comunicação). 



O efeito prático disso é nulo. Digamos que o Supremo acate a argumentação do emérito professor Comparato e diga que de fato o Congresso se omitiu. Isso talvez não provoque nem mesmo um piscar de olhos no presidente do Senado, José Sarney, por exemplo, que dividiu a presidência da República com o Roberto Marinho. 



Bom, você é conhecido por dizer o que pensa. Como enfrenta os 27 processos que possui?



Pagando. Na verdade, sou processado por Daniel Dantas e seus assemelhados. Pessoas que são ligadas afetivamente, financeiramente e ideologicamente a ele. E tenho vários motivos para acreditar, assim como meus dois advogados, que Daniel Dantas articulou uma ofensiva de processos contra mim para me calar pelo bolso. Isso não vai acontecer porque não tem como me calar pelo bolso, inclusive porque, graças a Deus, que me beijou na testa, eu tenho fonte de renda que me assegura a possibilidade de, com dificuldade, comendo o pão que o diabo amassou, pagar os advogados. 



O que poderia dizer sobre a suposta conexão do Daniel Dantas com o PIG? 



O Daniel Dantas e o PIG têm uma relação carnal. O “Sistema Dantas de Comunicação” literalmente remunera órgãos de comunicação, colunistas e instituições jornalísticas que, na verdade, são lobistas e organizações de grupos de pressão. E tudo isso fica atrás do biombo da imprensa. Existe um sistema invisível subterrâneo que me permite supor que a relação do Dantas com órgãos de imprensa e jornalistas seja uma relação muito profunda. 



O Dantas inovou no Brasil, como disse o delegado Protógenes Queiroz ao longo das investigações da Satiagraha (operação da Polícia Federal Brasileira contra o desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro, resultando na prisão de banqueiros, diretores de banco e investidores, em 2008). Ele inovou porque não comprou só o dono do órgão de imprensa; ele comprou também os jornalistas. Botou dinheiro em cima e embaixo, é o que diz a Satiagraha. Ele tem uma cobertura benévola, é tratado com tapete vermelho. Dão a ele o tratamento que Fernando Henrique Cardoso lhe dá. FHC chama ele de brilhante. É assim que o PIG trata o Dantas.



O delegado Protógenes Queiroz agora é deputado federal. Arrisca uma opinião? 



Uma coisa é você fazer jornalismo escrito e fazer televisão. Nesse raciocínio, uma coisa é você ser delegado de polícia e ser deputado federal. Nem todo mundo que faz jornal escrito consegue fazer televisão. Nem todo delegado consegue ser deputado federal. Então, vamos ver se ele consegue se tornar um eficiente deputado federal. Eu faço votos. 



As primeiras manifestações dele são alvissareiras. Ele tem alguns projetos interessantes: reforma do código de processo penal, por exemplo. Alguns, ele já transformou em projeto de lei, como aumentar a punição para os criminosos de colarinho branco. Agora, daí a isso prosperar e progredir na tramitação da Câmara, há uma grande distância. Espero que ele reproduza o brilho e o empenho da qualidade do trabalho dele como delegado.



E qual a relação do Daniel Dantas com o PT (Partido dos Trabalhadores)?



O ministro José Eduardo Cardozo, que é do PT de São Paulo, trabalhou para Dantas. Ele advogou para o Dantas e chegou a ir à Itália a fim de defender os interesses do seu cliente junto à “turma”. Imagino que seja um pessoal de “padrões morais elevadíssimos” a turma do Sílvio Berlusconi, que o Dantas tinha lá uma divergência. No meu blog Conversa Afiada, eu falo sobre isso. (No blog, PH Amorim afirma que passou a receber informações de alguém que se identifica como “Stanley Burburinho II”, um “especialista” em “camas de gato”. Alguns documentos destacam que José Eduardo Cardozo tinha um canal direto com Humberto Braz (ex-presidente da Brasil Telecom), condenado à prisão por corrupção com Daniel Dantas na Operação Satiagraha. Mais recentemente, PH Amorim publicou texto no Conversa Afiada sobre o que considera a “tucanização” do PT. “Como diz o Mino Carta, o mensalão ainda está por provar-se. Tem cara de ‘caixa dois’ de campanha e não de mensalidade. Porém, está claro que o PT tucanizou-se, DEMOnizou-se e entrou no jogo do financiamento ilegal de campanhas. Como fez Eduardo Azeredo, em Minas, ex-presidente nacional dos tucanos. E se repetiu nos escândalos do Arruda, do DEMO, de Brasília, aquele que, segundo Alexandre Maluf Garcia, formaria com “Cerra” a chapa vitoriosa ‘vote num careca e leve dois’. O que se impõe ao PT é fazer a mea culpa. Errei, sim! E só readmitir o Delúbio depois de julgado. Delúbio e José Dirceu são o valerioduto pelo qual o dinheiro de Daniel Dantas engordou o PT. As empresas de Dantas em Minas faziam contratos milionários de publicidade no valerioduto e o dinheiro chegava ao PT. Como, no passado, chegava ao PSDB. O passador de bola apanhado no ato de passar bola contaminou todo o sistema político brasileiro. E o PT não terá autoridade moral para falar em honestidade, transparência ou reforma eleitoral enquanto não abrir as contas do Delúbio com aquele a quem chamava, na CPI dos Correios, de ‘dr. Carlinhos’. Carlinhos, como se sabe, foi cunhado de Daniel Dantas e até hoje é seu abre-alas. O Carlinhos é amigo íntimo do ex-senador Heráclito Fortes, que o povo do Piauí preferiu desempregar (...). Se o PT readmitir Delúbio na reunião do diretório nacional, em abril, aplicará a Lei da Anistia a Daniel Dantas e a seu fiel escudeiro, o dr. Carlinhos. E viva o Brasil!



Você se define um blogueiro ansioso. Como avalia o papel das novas mídias?



Eu sou um beneficiário delas. Criei uma nova natureza, um outro Paulo Henrique Amorim, fazendo o meu blog Conversa Afiada. Eu, que era um jornalista limitado no ambiente do jornalismo escrito e depois no jornalismo de televisão, com o tempo, graças a Deus, me tornei também um jornalista de internet. É uma nova natureza e um novo espaço no qual espero permanecer até me aposentar daqui a muitos e muitos anos.



Paulo Henrique, apesar de ressaltar a importância do papel das novas mídias, você destaca que sozinhas elas não fazem revolução. Poderia explicar melhor? 



Temos que colocar a internet, as novas mídias e as redes sociais na devida perspectiva. Elas são muito importantes para transmitir informação, esclarecer, divulgar verdades, destampar panelas, dar espaço à indignação da crítica, para a irreverência, para o bom humor. Elas têm um papel muito grande de aglutinação. Para combinar encontros, reuniões, passeatas e assim por diante. Agora isso não faz revolução. O que faz a revolução é a articulação política. 



Não podemos transformar as mídias sociais nos novos protagonistas. Isso seria muito bom para a indústria de telecomunicação. Seria muito bom para o pessoal da telefonia móvel, para os donos do Google e Facebook, todo mundo acreditar que eles agora são mágicos, que são capazes de reinventar a história. Isso é uma balela. Só faz eles ficarem mais ricos. Também não é verdade que eles sejam o novo Lawrence da Arábia, que eles chegam lá no Oriente Médio e o redesenham como fez o coronel inglês no início do século passado. Não é verdade. O que faz revolução, o que faz a mudança, é a sociedade, é a articulação, é o germe do partido político.



E o futuro da banda larga?



Brilhante, que pode ser usado para a educação, para a distribuição da informação. Agora, de novo, não é a fórmula mágica.

Filme Russo

Arca Russa
(Russkiy kovcheg)
Arca Russa
 
Créditos: Makingoff
Poster
Sinopse
Um museu como um ser vivo, uma entidade que respira e tem personalidade própria. Sokúrov empresta alma ao colossal palacete do Hermitage, em São Petersburgo, um dos maiores museus do mundo. Arca Russa foi filmado em um único plano-seqüência, sem cortes, que dura 97 minutos e atravessa 35 salas do museu, transformando a tela de cinema em um quadro vivo por onde desfilam personagens importantes da história da Rússia: Pedro, o Grande; Catarina, a Grande; Catarina II, Nicolau e Alexandra.

Simbiose perfeita de cinema, história e artes plásticas, Arca Russa é uma experiência visual única e inesquecível.
Screenshots (clique na imagem para ver em tamanho real)

Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Sergei Dontsov, Mariya Kuznetsova, Leonid Mozgovoy, Mikhail Piotrovsky, David Giorgobiani, Aleksandr Chaban, Lev Yeliseyev, Oleg Khmelnitsky, Alla Osipenko, Artyom Strelnikov, Tamara Kurenkova, Gênero: Drama / Fantasia
Diretor: Aleksandr Sokurov
Duração: 99 minutos
Ano de Lançamento: 2002
País de Origem: Russia
Idioma do Áudio: Russo
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0318034/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: DivX 5
Vídeo Bitrate: 1591 Kbps
Áudio Codec: AC3
Áudio Bitrate: 448 kbps CBR 48 KHz
Resolução: 640 x 352
Aspect Ratio: 1.818
Formato de Tela: Widescreen (16x9)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 1.362 GiB
Legendas: Em anexo
Premiações
- Indicado à Palma de Ouro em Cannes. outros prêmios aqui.
Crítica
`A Rússia é como um teatro`, diz alguém em certo momento de Arca Russa, uma surpreendente produção dirigida por Aleksandr Sokurov – e esta afirmação certamente encontra reflexo no próprio filme. Rodado inteiramente em um único plano-seqüência (ou seja: sem corte algum ao longo de seus 96 minutos), Arca Russa leva o espectador a um fascinante passeio através de 35 salas do Museu Hermitage, em São Petersburgo, recriando, através de elaboradas encenações, diversos momentos da história russa entre os séculos XVII e XX.

Tomadas longas não são novidade alguma na história do Cinema, é verdade: bem antes de Sokurov, o neo-realismo italiano se notabilizou pela utilização deste recurso, que também aparece em filmes como A Marca da Maldade, no qual Orson Welles deslumbra o público com a tensa abertura sem cortes; Festim Diabólico, que Alfred Hitchcock dividiu em oito takes de dez minutos cada; além de Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese; Boogie Nights e Magnólia, de Paul Thomas Anderson; e, é claro, O Jogador, de Robert Altman; entre diversos outros. E, vale lembrar, o recente Time Code (de Mike Figgis) tinha como chamariz o fato de utilizar 4 câmeras digitais para contar, também sem cortes, várias histórias que se entrecruzavam.

Ainda assim, o feito de Sokurov pode ser considerado inovador: ao contrário de Figgis, que trabalhou com elenco pequeno e diálogos improvisados, Arca Russa envolveu a coordenação de cerca de 2.000 atores e figurantes, tendo que driblar a complexa geografia do Hermitage, onde foi rodado: ao longo da projeção, a câmera percorre estreitos corredores, sobe escadas em caracol, atravessa um pátio coberto de neve e mergulha no meio de uma multidão de dançarinos – e tudo isso sem jamais perder a marcação previamente estabelecida, já que sempre consegue encontrar o ator certo no momento de sua fala. E, ao contrário do que poderíamos esperar, Arca Russa não é um filme de enquadramentos e movimentos rígidos: em certo momento, por exemplo, a câmera percorre um palco e `salta` sobre a orquestra, flutuando como um fantasma (algo apropriado, como explicarei adiante). Além disso, o diretor de fotografia – e operador da steadicam – Tilman Büttner consegue evitar ser surpreendido por qualquer reflexo, o que é notável, se considerarmos a abundância deste tipo de superfície no museu. É, portanto, fácil imaginar que a produção do filme tenha representado um verdadeiro inferno logístico para todos os envolvidos.

Porém, Arca Russa não impressiona apenas por sua proeza técnica - sua narrativa também se beneficia da estrutura planejada por Sokurov: à medida em que passeamos pelo Hermitage, os séculos passam diante de nossos olhos, promovendo encontros com figuras como Pedro, o Grande, Catarina II (em dois momentos bem distintos de sua vida) e com a trágica família de Nicholas e Alexandra Romanov. Mas o cineasta vai além, permitindo que o tempo assuma uma fluidez ainda maior a partir do momento em que as eras começam a se `cruzar`, como no instante em que o Fantasma que serve como guia para o espectador passa por uma freira que, mais tarde, será vista `perseguindo` a princesa Anastácia (há, ainda, um outro personagem misterioso e melancólico que `atravessa` os séculos e cujo significado não consegui decifrar – ainda).

Apesar disso, conhecer a história russa não é pré-requisito para aproveitar o filme, já que várias passagens possuem significado claro: a terrível sala na qual o Fantasma encontra um carpinteiro construindo caixões é, por exemplo, uma referência inequívoca ao massacre ocorrido durante a Revolução Bolchevique; e a melancolia deste mesmo Espectro ao final do Grande Baile que encerra Arca Russa é um indicativo claro do que está por vir (aliás, sua recusa em sair do salão e acompanhar os demais convidados é comovente).

Produzido com o apoio do próprio Hermitage (um dos diretores da instituição faz uma ponta interpretando a si mesmo), Arca Russa é uma produção riquíssima, impressionando graças ao seus belíssimos figurinos, `objetos de cena` e, é claro, ao seu cenário – todo o Museu. E como esquecer os momentos finais da projeção, que leva o espectador a descer uma longa escadaria em meio a centenas de figurantes até chegar a uma paisagem sombria e pouco promissora?

Não sei se o filme retrata uma curiosa viagem no tempo ou se é protagonizado por fantasmas: estamos testemunhando episódios da vida de todas aquelas célebres figuras ou apenas nos encontramos com espíritos que habitam o Hermitage? A resposta para esta dúvida pode ser difícil de ser encontrada (embora seja relevante, no mínimo, como curiosidade), mas ao menos uma coisa é certa: Arca Russa já entrou para a História do Cinema como uma obra inesquecível.

Pablo Villaça
Fonte: Cinema em Cena
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.

A legenda e o torrent do filme podem ser obtidas via email: turcoluis@gmail.com

Quebrando o silêncio: soldados israelenses revelam a ONG abusos cometidos contra palestinos

Do blog Opera Mundi

A associação israelense Breaking The Silence (Quebrando o silêncio) acaba de publicar um livro com centenas de depoimentos de membros das forças armadas do país, de soldados rasos a comandantes de alta patente, em que são relatados abusos cometidos contra palestinos nos territórios ocupados da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Nas conversas, os oficiais contam o que viram , o que ouviram e o que foram obrigados a fazer.

“... No treinamento você aprende que o fósforo branco não deve ser usado, você aprende que não é humano usá-lo. Você assiste filmes e vê o que ele faz com as pessoas que são atingidas, e você diz: 'Meu Deus, nós estamos fazendo isso também'. Bairros inteiros foram extintos porque mísseis eram lançados de algumas casas. Isso não é o que eu esperava ver”, diz o depoimento de um oficial que atuou na operação Chumbo Fundido em Gaza, em 2009.

Efe (25/03/2011)

Um palestino observa edifício destruído por recente ataque aéreo de Israel à Faixa de Gaza

Em outro, mais questionamentos. “...Eu lembro de algo que pessoalmente me incomodou. Eu não entendia o toque de recolher. Em Hebron, havia uma tonelada de toques de recolher, eu não lembro o número de dias, mas lembro sim que eu ficava em choque porque fazíamos toques de recolher tão frequentemente e achávamos que as pessoas podiam viver. Eu realmente não conseguia entender como eles esperavam que as pessoas existissem.”

Yehuda Shaul, fundador da ONG e um dos coordenadores, explicou ao Opera Mundi que anteriormente o trabalho se restringia a coletar os depoimentos, mas com o livro foi feita uma análise das dificuldades que esses soldados  vivenciam. “Se trata definitivamente de um grande trabalho. É uma visão geral e analítica de tudo que fizemos até hoje com os testemunhos. Na verdade, é a primeira vez que fazemos análise, pois até hoje nos restringimos à coleta de testemunhos”.


Em outro depoimento, uma ex-soldada israelense conta como colocou um palestino no canto de um posto de controle por quatro horas, vendado e com as mãos amarradas, por ter “irritado” os soldados.  “Ninguém pode entender a não ser que tenha estado lá. Se contar a um amigo... é uma pequena história entre tantas outras histórias chocantes, é algo pequeno, que me deixa desconfortável. Eu tenho imagens na cabeça, mas não lembro detalhes. Eu realmente reprimi esse período. Estou envergonhada. Eu não sei”.

Dar sentido a esta parte reprimida é a missão do BTS, como explica Shaul. “O BTS surge de um ponto de vista muito otimista da sociedade israelense. Acreditamos que os israelenses apenas não sabem do que acontece, pois não são confrontados com a realidade. Se fossem, agiriam diferente. A nossa cruzada é pelo conhecimento”, afirma o ativista.

Lucas Justiniano/Opera Mundi

Shaul: "A ocupação é um ato odioso feito por Israel e que precisa ser encerrado por Israel"

Em sua opinião, o silêncio não é uma “doença israelense”, mas humana. “Como o serviço militar é obrigatório, existe uma percepção em Israel de que todos são soldados desde crianças, então as ‘paredes da negação’ são mais altas e grossas. As pessoas apenas querem viver suas vidas, e nosso trabalho é estragar a festa. Vamos lá e estragamos o clima, relembrando os crimes que estamos cometendo como sociedade, que está sendo feito em nosso nome”.

Desde 2004, quando surgiu, o BTS já coletou, segundo Shaul, depoimento de 730 ex-soldados combatentes que serviram na Faixa de Gaza ou na Cisjordânia. E depois de lançar edições focadas em Hebron, na operação Chumbo Fundido e no serviço de mulheres combatentes, o mais recente livro traz o registro e analisa a coleta de depoimentos que cobre o período de ações que vai de 2000, quando começa a Segunda Intifada, a 2010.

A ONG é financiada por doadores israelenses e estrangeiros, principalmente vindos da Europa. O governo de Israel critica a publicação dos relatórios e publicações, pois eles revelariam detalhes que podem colocar a população israelense em risco. Para Tel Aviv, a função da ONG não é social, e sim política. Todos os depoimentos são anônimos justamente para que os oficiais não sejam processados pelo Estado.


Em outro depoimento, uma mulher se lembra de um incidente alguns anos atrás, quando um homem palestino riu dela, porque(ou assim ela pensava), ela estava usando um uniforme. Segundo a oficial, ela tinha que "preservar o respeito". Então, aproximou-se do homem, "como se eu estivesse prestes a beijá-lo.Eu disse a ele: 'Venha, venha, do que você tem medo? Venha para mim!' E eu então o chutei nas bolas.'Porque você não está rindo?Ele estava em choque, e então percebeu...que não podia mais rir de mim."

Cerco aos territórios

Em outro depoimento, outros questionamentos. “Tenho certeza que seria insuportável se me colocassem sob toque de recolher por 360 dias. Não é possível e eu lembro que falava sobre isso e ninguém entendia. Eles diziam: ‘risco à segurança’. Ótimo, risco à segurança, mas eles são pessoas e precisam viver. De onde tiram comida? Como podem ganhar dinheiro para comer quando estão sob toque de recolher?”.

A visão geral que o BTS alcançou é a de que o discurso sobre segurança e proteção dos colonos é uma parte muito pequena do que os militares procuram alcançar nas ações. No centro está a preservação do controle militar sobre os palestinos. “Nossa sociedade deve ser confrontada com esses fatos. Nos últimos 15 ou 20 anos, a discussão oficial sempre foi: até que o conflito entre israelenses e palestinos seja resolvido, a ocupação vai continuar. Nós combatemos essa ideia, pois acreditamos que é errado controlar uma população de 3,5 milhões de pessoas, mantidas como refém, apenas para ter fichas de barganha nas mesas de negociações. A ocupação é um ato odioso feito por Israel e que precisa ser encerrado por Israel”, argumentou Shaul.

Para o ativista, não existe uma permissividade ligada ao militarismo israelense, que poderia explicar a alta ocorrência de abusos. Segundo Shaul, o culpado é o próprio sistema da ocupação. “Quando se é enviado para manter uma realidade corrupta, é comum se tornar corrupto. Não importa se são ordens, todos fazem. Isso, para nós, é parte da ocupação. Muitas pessoas falam em lavagem cerebral, mas não se trata disso. É um trabalho, o que pode ser feito? Se deve controlar pessoas contra a sua vontade, a única maneira de fazê-lo é causando medo neles, e se eles se acostumam, aumente a dose, e se eles se acostumam de novo, aumente de novo. Por isso, tomamos a posição de que isso deve acabar imediatamente”.

1º Fórum da igualdade: uma outra comunicação é necessária


A coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) do Rio Grande do Sul realizará nos dias 11 e 12 de abril, no Auditório Dante Barone (Assembleia Legislativa), o l Fórum da Igualdade. Nesta primeira edição, será debatido a democratização dos meios de comunicação e marco regulatório. A idéia central do Fórum é ser um contraponto ao Fórum da Liberdade, organizado por empresários. O encontro reunirá  painelistas e debatedores de renome nacional.

Programação:

LOCAL: Dante Barone/AL
DATA: 11 a 12 de abril de 2011
COORDENAÇÃO: CUT-RS e CMS-RS
Temário: uma outra comunicação é necessária

11 DE ABRIL
TURNO DA MANHÃ: Instalação das redes alternativas de comunicação, exposições (espaço Vestíbulo Nobre/AL);
12h30m 13h30m: Programação Cultural
13h30m: Mesa de Abertura
• Coordenador: Celso Woyciechowski
• Autoridades: Autoridades

14h-16h: DEMOCRATIZAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E O MARCO REGULATÓRIO
• Coordenador: Celso Woyciechowski
Panelistas:
• Venício Lima
Debatedores:
• Rosane Bertotti
• Celso Schroeder

16h 17h30: A BLOGOSFERA PROGRESSISTA E O AI-5 DA INTERNET
• Panelistas:
• Marcelo Branco
• Maria Frô
• Marco Aurélio Weissheimer
• Eugenio De Faria Neves

17h30m-21h: ATIVIDADES AUTOGESTIONÁRIAS (Oficinas)

12 DE ABRIL
8h 12h: DEMOCRATIZAÇÃO DA DEMOCRACIA: Existe Liberdade sem Igualdade?
Panelistas:
• João Pedro Stédile
• Pedrinho Guareschi
Debatedores:
• Vito Gianotti
• Verena Glass

13h30m 16h: Painel PAPEL DO ESTADO E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO.
Debatedores:
• Altamiro Borges
• Vera Spolidoro
• Bia Barbosa

16h: MARCHA DA IGUALDADE E ATO DE ENCERRAMENTO NO GLENIO PERES
Trajeto:
• Dinâmica: ato político, leitura da carta de Dacar
• Praça da Matriz, Riachuelo, Borges, Largo Glênio Peres
Durante os dias do Fórum, no espaço Vestíbulo Nobre (ante-sala do Auditório Dante Barone), haverá exposição fotográfica, rádios web, humor gráfico…

Fonte: CUT-RS
Por Sergio Weber, Professor Estadual.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

FOLHA: “A GENTE SÓ APOIAVA E FINANCIAVA A DITADURA”


O que a falácia da ditabranda revela

Por Marco Aurélio Weissheimer, da Carta Maior

Em um editorial publicado no dia 17 de fevereiro de 2009, o jornal Folha de S. Paulo utilizou a expressão “ditabranda” para se referir à ditadura que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Na opinião do jornal, que apoiou o golpe militar de 1964 que derrubou o governo constitucional de João Goulart, a ditadura brasileira teria sido “mais branda” e “menos violenta” que outros regimes similares na América Latina.
Como já se sabe, a Folha não foi original na escolha do termo. Em setembro de 1983, o general Augusto Pinochet, em resposta às críticas dirigidas à ditadura militar chilena, afirmou: “Esta nunca foi uma ditadura, senhores, é uma dictablanda”. Mas o tema central aqui não diz respeito à originalidade. O uso do termo pelo jornal envolve uma falácia nada inocente. Uma falácia que revela muita coisa sobre as causas e consequências do golpe militar de 1964 e sobre o momento vivido pela América Latina.
É importante lembrar em que contexto o termo foi utilizado pela Folha. Intitulado “Limites a Chávez”, o editorial criticava o que considerava ser um “endurecimento do governo de Hugo Chávez na Venezuela”. A escolha da ditadura brasileira para fazer a comparação com o governo de Chávez revela, por um lado, a escassa inteligência do editorialista. Para o ponto que ele queria sustentar, tal comparação não era necessária e muito menos adequada. Tanto é que pouca gente lembra que o editorial era dirigido contra Chávez, mas todo mundo lembra da “ditabranda”.
A falta de inteligência, neste caso, parece andar de mãos dadas com uma falsa consciência culpada que tenta esconder e/ou justificar pecados do passado. Para a Folha, a ditadura brasileira foi uma “ditabranda” porque teria preservado “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”, o que não estaria ocorrendo na Venezuela. Mas essa falta de inteligência talvez seja apenas uma cortina de fumaça.
O editorial não menciona quais seriam as “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça” da ditadura militar brasileira, mas considera-as mais democráticas que o governo Chávez que, em uma década, realizou 15 eleições no país, incluindo aí um referendo revogatório que poderia ter custado o mandato ao presidente venezuelano. Ao fazer essa comparação e a escolha pela ditadura brasileira, a Folha está apenas atualizando as razões pelas quais apoiou, junto com a imensa maioria da imprensa brasileira, o golpe militar contra o governo constitucional de João Goulart.
Está dizendo, entre outras coisas, que, caso um determinado governo implementar um certo tipo de políticas, justifica-se interromper a democracia e adotar “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”. A escolha do termo “ditabranda”, portanto, não é acidental e tampouco um descuido. Trata-se de uma profissão de fé ideológica.
Há uma cortina de véus que tentam esconder o caráter intencional dessa escolha. Um desses véus apresenta-se sob a forma de uma falácia, a que afirma que a nossa ditadura não teria sido tão violenta quanto outras na América Latina. O núcleo duro dessa falácia consiste em dissociar a ditadura brasileira das ditaduras em outros países do continente e do contexto histórico da época, como se elas não mantivessem relação entre si, como se não integrassem um mesmo golpe desferido contra a democracia em toda a região.
O golpe militar de 1964 e a ditadura militar brasileira alimentaram política e materialmente uma série de outras ditaduras na América Latina. As democracias chilena e uruguaia caíram em 1973. A argentina em 1976. Os golpes foram se sucedendo na região, com o apoio político e logístico dos EUA e do Brasil. Documentos sobre a Operação Condor fornecem vastas evidências dessa relação.
Recordando. A Operação Condor é o nome dado à ação coordenada dos serviços de inteligência das ditaduras militares na América do Sul, iniciada em 1975, com o objetivo de prender, torturar e matar militantes de esquerda no Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia.
O pretexto era o argumento clássico da Guerra Fria: "deter o avanço do comunismo internacional". Auxiliados técnica, política e financeiramente por oficiais do Exército dos Estados Unidos, os militares sul-americanos passaram a agir de forma integrada, trocando informações sobre opositores considerados perigosos e executando ações de prisão e/ou extermínio. A operação deixou cerca de 30 mil mortos e desaparecidos na Argentina, entre 3 mil e 7 mil no Chile e mais de 200 no Uruguai, além de outros milhares de prisioneiros e torturados em todo o continente.
Na contabilidade macabra de mortos e desaparecidos, o Brasil registrou um número menor de vítimas durante a ditadura militar, comparado com o que aconteceu nos outros países da região. No entanto, documento secretos divulgados recentemente no Paraguai e nos EUA mostraram que os militares brasileiros tiveram participação ativa na organização da repressão em outros países, como, por exemplo, na montagem do serviço secreto chileno, a Dina. Esses documentos mostram que oficiais do hoje extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) ministraram cursos de técnicas de interrogatório e tortura para militares chilenos.
Em uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo (30/12/2007), o general Agnaldo Del Nero Augusto admitiu que o Exército brasileiro prendeu militantes montoneros e de outras organizações de esquerda latino-americanas e os entregou aos militares argentinos. “A gente não matava. Prendia e entregava. Não há crime nisso”, justificou na época o general. Humildade dele. Além de prender e entregar, os militares brasileiros também torturavam e treinavam oficiais de outros países a torturar. Em um dos documentos divulgados no Paraguai, um militar brasileiro diz a Pinochet para enviar pessoas para se formarem em repressão no Brasil, em um centro de tortura localizado em Manaus.
Durante a ditadura, o Brasil sustentou política e materialmente governos que torturaram e assassinaram milhares de pessoas. Esconder essa conexão é fundamental para a Folha afirmar a suposta existência de uma “ditabranda” no Brasil. A ditadura brasileira não teve nada de branda. Ao contrário, ela foi um elemento articulador, política e logisticamente, de outros regimes autoritários alinhados com os EUA durante a guerra fria. O editorial da Folha faz eco às palavras do general Del Nero: “a gente só apoiava e financiava a ditadura; não há crime nisso”.
Não é coincidência, pois, que o mesmo jornal faça oposição ferrenha aos governos latino-americanos que, a partir do início dos anos 2000, levaram o continente para outros rumos. Governos eleitos no Brasil, na Venezuela, na Bolívia, na Argentina, no Paraguai e no Uruguai passam a ser alvos de uma sistemática oposição midiática que, muitas vezes, substitui a própria oposição partidária.
A Folha acha a ditadura branda porque, no fundo, subordina a continuidade e o avanço da democracia a seus interesses particulares e a uma agenda ideológica particular, a saber, a da sacralização do lucro e do mercado privado. Uma grande parcela do empresariado brasileiro achou o mesmo em 64 e apoiou o golpe. Querer diminuir ou relativizar a crueldade e o caráter criminoso do que aconteceu no Brasil naquele período tem um duplo objetivo: esconder e mascarar a responsabilidade pelas escolhas feitas, e lembrar que a lógica que embalou o golpe segue viva na sociedade, com um discurso remodelado, mas pronto entrar em ação, caso a democracia torne-se demasiadamente democrática.

As razões do golpe de 64

Emir Sader na Carta Maior

As visões descritivas dos grandes acontecimentos históricos tendem a reduzi-los a contingências – a Primeira Guerra, a um episodio menor – ou a idiossincrasias – a personalidade de Hitler. No caso do golpe no Brasil, a imprensa golpista da época se centrava nos supostos “abusos” do governo Jango, que teriam levado à intervenção dos militares para “salvar a democracia” – lugar comum nos editoriais da época.

O movimento que desembocou no golpe de 1964 na realidade vem de longe. Podemos remontá-lo ao começo da Guerra Fria, no fim da Segunda Guerra e no começo do segundo pós-guerra, quando os EUA reciclavam sua definição de inimigos do bloco derrotado na guerra, para a URSS. Não seria possível explicar a brutalidade das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, sem levar em conta a nova atitude norteamericana de mostrar para a URSS sua superioridade nuclear, que iria definir o começo do novo período. De capa da revista Times há poucos anos antes, como herói da luta pela democracia, Stalin se tornava a encarnação do mal que haveria que evitar: o “espectro do comunismo”.

Foi nesse momento que os EUA elaboraram a Doutrina da Segurança Nacional, que propunha que os Estados se transformassem em quarteis generais na luta contra a “subversão” e o “comunismo”. Todo tipo de conflito, de divergência, de expressão de descontentamento social seria classificado como “subversão”, expressão de interesses estrangeiros e deveria ser extirpado. A instalação de ditaduras militares, que blindassem os Estados, seria o objetivo ideal.

Da geração de militares brasileiros que foi à guerra da Itália, Humberto Castello Branco e Golbery do Couto e Silva, estreitaram ali laços com as tropas nortemamericanas e, na volta para o Brasil, fundaram a Escola Superior de Guerra, que passou a ser o lugar estratégico de formulação, difusão e formação de pessoal das FFAA baseado na Doutrina de Segurança Nacional.

Os anos 50 foram anos de ensaios de golpe, contra Getúlio e contra JK, depois na renúncia do Jânio. Enquanto isso o Brasil crescia, distribuía renda, afirmava uma politica internacional própria. Os investimentos norteamericanos foram voltando com força – depois do longo interregno desde a crise de 1929-, até que, com a chegada da indústria automobilística, deslocaram para si o eixo da economia e condicionaram fortemente o consumo de luxo. Mas ao mesmo tempo o mercado interno se expandia na direção do consumo de bens de consumo popular nas grandes cidades e também no campo, onde se estendia o processo de sindicalização rural, pela primeira vez.

As duas dinâmicas se chocavam: a da democratização do consumo e a do consumo de luxo junto à exportação. A ditadura resolveu o conflito a favor desta. Além da brutal repressão que desatou contra tudo o que significasse democracia, desde o começo o regime militar teve um caráter de classe muito definido: interveio em todos os sindicatos, perseguiu a seus lideres e determinou um arrocho salarial, o que significou uma situação extraordinariamente favorável à superexploração dos trabalhadores e à acumulação favorável ao grande capital nacional e estrangeiro.

Ao contrario do que alguns pensavam, a ditadura não significou o retrocesso da expansão economia e da industrialização no Brasil. O fim da democracia e a imposição da ditadura foram funcionais ao capitalismo. Brecaram as demandas populares mediante o arrocho, bloquearam as demandas salariais pela intervenção e repressão aos movimentos populares, enquanto abria a economia ao capital estrangeiro, liberava o envio de royalties ao exterior e favorecia de todas as maneiras a concentração em favor das grandes empresas nacionais e estrangeiras.

O chamado “milagre” tinha um santo: a ditadura, a repressão, os golpes ao movimento popular e à democracia. Foi uma ditadura articulada com os planos da guerra fria dos EUA e com o modelo de acumulação do grande capital – que se desenvolveu em base à concentração no consumo de luxo, na superexploração dos trabalhadores e na exportação. Avançou o Brasil desigual, injusto, de concentração de renda, de exclusão social, de prepotência, de terror, de poder do capital, dos latifundiários, dos donos da mídia privada. O Brasil que recentemente começamos a superar, daí a oposição dos herdeiros da ditadura.