sábado, 27 de dezembro de 2014

Hepatitis C: No son muertes, son crímenes de Estado | América

Hepatitis C: No son muertes, son crímenes de Estado


Rafael Silva
Rebelión

“Hay que respetar las leyes, siempre que las leyes sean respetables“
(José Luis Sampedro)

“El sistema sanitario es una verdadera mafia que crea enfermedades y mata por dinero y poder“
(Ghislaine Lanctot)

La austeridad homicida que ejecuta este sádico Gobierno tiene múltiples manifestaciones. Vamos a abordar aquí una de las más recientes, crueles e inhumanas. De los 7.000 pacientes de Hepatitis C que aproximadamente necesitan el medicamento de nombre comercial “SOVALDI” para poder sobrevivir, los Presupuestos garantizan que únicamente lo recibirán unos 1.200 pacientes. El resto será abandonado a su suerte, probablemente morirán en un período más o menos breve de tiempo. De hecho, ya han muerto varias personas durante los últimos meses, víctimas de este abondono oficial por parte del Ministerio de Sanidad, lo cual ha provocado que su Plataforma de Afectados realice un encierro indefinido a las puertas del Hospital 12 de Octubre de Madrid. Al momento de escribir este artículo, la Dirección General de Farmacia ha confirmado que se administrará este fármaco a todos los pacientes críticos que lo necesiten, pero como decimos, las cifras realmente cubiertas van a ser irrisorias.

Y no estamos hablando de un brote virulento de una cruel enfermedad epidémica incontrolable, ni siquiera de una enfermedad mortal para la cual no exista medicamento curativo. No. La enfermedad es conocida, el tratamiento existe, su éxito en la curación es certero, el único problema es el presupuesto público para sufragarlo y expedirlo para todos los pacientes que lo necesiten. Pero claro, eso lo haría un Gobierno socialmente responsable, éticamente impecable, y humanamente justo. Un Gobierno al que le importaran las personas. Evidentemente, nuestro actual Gobierno del PP está muy alejado de dichos parámetros. Porque lo cierto es que muy ruín y despreciable tiene que ser un Gobierno para que sea capaz de sacrificar vidas humanas en pro del supuesto saneamiento de sus cuentas públicas. Es el más fiel exponente y ejemplo de cuando un Gobierno se convierte y trabaja como una empresa privada, en vez de estar al servicio de su sociedad.

Tanto que a este Gobierno le gusta comparar la gestión de las Administraciones Públicas con las de una familia, esto es como si unos padres renunciaran a salvar la vida de su hijo o hija que padece una enfermedad, porque tienen que saldar su cuenta con la comunidad de vecinos. Absolutamente miserable. Una conducta cruel y abyecta, demostrativa, una vez más, de que estamos gobernados por gente que desprecia absolutamente a la ciudadanía. Porque lo que un Gobierno responsable haría, si es que quiere priorizar el derecho a la salud, es enfrentarse con las grandes empresas farmacéuticas, para conseguir por 300 euros lo que dichas empresas quieren ofrecer por 80.000 (son cifras imaginarias). En todo caso, no es posible que una cuestión tan básica como la salud y la investigación necesaria para la creación de medicamentos se encuentre en manos de empresas privadas, que únicamente pretenden asaltar las Administraciones Públicas para enriquecerse. Hoy día, la investigación farmacéutica se encuentra absolutamente privatizada, las empresas privadas son las que investigan y monopolizan el conocimiento creado mediante patentes comerciales, y posteriormente roban al erario público y a la sociedad en general, sabiendo que necesitan de sus medicamentos.

Llegados por tanto a esta situación, se hace más necesaria que nunca la nacionalización de los grandes sectores estratégicos de nuestra economía productiva, para que pasen al control público las grandes empresas que monopolizan la investigación, el conocimiento y la comercialización de sus productos, cuando estos productos resultan básicos para la sociedad a la que deben servir. Por un lado, el ámbito público debiera fomentar un sector de Investigación y Desarrollo (I+D+i) que se ponga realmente al servicio de la sociedad, porque ¿cuántos investigadores e investigadoras podríamos financiar todos los años con el dinero con el que el Estado adquiere ciertos medicamentos? Ese conocimiento podríamos utilizarlo para fomentar una industria farmacéutica pública, que ayude realmente a curar enfermedades, y no a enriquecer a algunas empresas a costa de nuestra salud. Los criterios que deben guiar esta labor son los de rentabilidad social, no los del lucro particular y privado. Y todo ello tiene que ver también, como hemos dicho, con el rechazo y la indiferencia social que nuestro desalmado Gobierno practica con nuestro sector de Investigación y Desarrollo, especialmente con el mundo de los jóvenes investigadores, que se ven obligados a emigrar a terceros países donde reconocerán su valía profesional, porque en su país, tristemente, sólo se ven abocados al paro o a la precariedad. Mientras todo ello no se aborde con un mínimo de sensibilidad social, continuarán muriendo dependientes y pacientes crónicos en nuestro país.

Blog del autor: http://rafaelsilva.over-blog.es

http://www.rebelion.org/noticia.php?id=193636

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Adital - Decretos de natal

Decretos de natal

 
Frei Betto

Adital

Fica decretado que, neste Natal, em vez de dar presentes, nos faremos presentes junto aos famintos e excluídos, como propõe o papa Francisco. Papai Noel será malhado como Judas e, lacradas as chaminés, abriremos corações e portas à chegada salvífica do Menino Jesus.

Fica decretado que encantaremos as crianças de mistérios ao professar o Deus que se fez homem entre nós. Não mais recorreremos ao velho barbudo de sorriso ridículo, e sim aos relatos bíblicos que narram o mais singular de todos os fatos históricos: em Belém, Deus se tornou humano para que possamos nos tornar divinos.

Por trazer a muitos mais constrangimentos que alegrias, fica decretado que o Natal não mais nos travestirá no que não somos: neste verão escaldante, arrancaremos da árvore de Natal todos os algodões de falsas neves; trocaremos nozes e castanhas por frutas tropicais; renas e trenós por carroças repletas de alimentos não perecíveis; e se algum Papai Noel sobrar por aí, que apareça de bermuda e sandália.

Fica decretado que, cartas de crianças, só as endereçadas ao Menino Jesus, como a do meu sobrinho Lucas, de 6 anos, que escreveu a ele convencido de que Caim e Abel não teriam brigado se dormissem em quartos separados; e propôs ao Criador ninguém mais nascer nem morrer, e todos nós vivermos para sempre.

Fica decretado que as crianças, em vez de brinquedos e bolas, pedirão bênçãos e graças, abrindo seus corações para destinar aos pobres todo o supérfluo que entulha armários e gavetas. A sobra de um é a necessidade de outro, e quem reparte bens partilha Deus.

Fica decretado que, pelo menos um dia, desligaremos toda a parafernália eletrônica, inclusive o telefone celular e, recolhidos à solidão e ao silêncio, faremos uma viagem ao interior de nosso espírito, lá onde habita Aquele que, distinto de nós, funda a nossa verdadeira identidade. Entregues à meditação, fecharemos os olhos para ver melhor.

Fica decretado que, despidas de pudores, as famílias farão ao menos um momento de oração, lerão um texto bíblico, agradecerão ao Pai de Amor o dom da vida, as alegrias do ano que finda, e até dores que exacerbam a emoção sem que se possa entender com a razão.

Fica decretado que arrancaremos a espada das mãos de Herodes e nenhuma criança será mais condenada ao trabalho precoce, violentada, surrada ou humilhada. Todas terão direito à ternura e à alegria, à saúde e à escola, ao pão e à paz, ao sonho e à beleza.

Fica decretado que, nos locais de trabalho, as festas de fim de ano terão o dobro de seu custo convertido em cestas básicas a famílias carentes. E será considerado grave pecado abrir uma bebida de valor superior ao salário mensal da pessoa que a serve.

Como Deus não tem religião, fica decretado que nenhum fiel considerará a sua mais perfeita que a do outro, nem fará rastejar a sua língua, qual serpente venenosa, nas trilhas da injúria e da perfídia. O Menino do presépio veio para todos, indistintamente, e não há como professar que ele é "Pai Nosso” se o pão também não for de todos, e não privilégio da minoria abastada.

Fica decretado que toda dieta reverterá em benefício de quem tem fome, e que ninguém dará ao outro um presente embrulhado em bajulação ou mera formalidade. O tempo gasto em fazer laços seja muito inferior ao dedicado a dar abraços.

Fica decretado que as mesas de Natal estarão cobertas de afeto e, dispostos a renascer com o Menino, trataremos de sepultar iras e invejas, amarguras e ambições desmedidas, para que o nosso coração seja acolhedor como a manjedoura de Belém.

Fica decretado que, como os reis magos, haveremos de reverenciar, com a prática da justiça, aqueles que, como Maria e José, foram excluídos da cidade e, como uma família sem terra e teto, obrigados a ocupar um pasto, onde brilhou a esperança.

Frei Betto é escritor, autor de "Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.

http://www.freibetto.org/ > twitter:@freibetto.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Trabalho escravo na Casas Pernambucanas

Trabalho escravo na Casas Pernambucanas

Por Stefano Wrobleski, no site Repórter Brasil:

Uma das maiores empresas de varejo do Brasil, a Casas Pernambucanas foi condenada a pagar R$ 2,5 milhões por explorar trabalhadores em condições análogas às de escravos. A sentença foi proferida em São Paulo na última sexta-feira, 5, pelo juiz Marcelo Donizeti Barbosa em ação movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Em nota, a varejista disse que ainda não foi notificada e só se pronunciará quando for informada oficialmente da decisão. Por ter sido tomada em primeira instância, cabe recurso à decisão.

A condenação ocorreu por dois flagrantes, em 2010 e 2011, na cadeia produtiva da empresa. No total, foram resgatadas da escravidão 31 pessoas – entre elas, dois adolescentes de 16 e 17 anos – vindas da Bolívia, Paraguai e Peru. Em ambos os casos, as vítimas foram submetidas a jornadas exaustivas e servidão por dívidas, além de produzirem peças em oficinas consideradas em condições degradantes pela fiscalização, composta por auditores do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e procuradores do MPT.

Os trabalhadores eram subcontratados para trabalhar, em São Paulo, em oficinas informais pagas pelas empresas Dorbyn Fashion Ltda. e Nova Fibra Confecções Ltda. Estas, por sua vez, eram contratadas pela Casas Pernambucanas para a produção de roupas que seriam vendidas em sua rede de lojas.

No processo, a empresa não contestou as condições degradantes flagradas nas duas ocasiões pela fiscalização e centrou sua argumentação em dizer que não era responsável pelos trabalhadores, sustentando nunca ter interferido no trabalho dos costureiros.

Ao proferir a sentença, o juiz Marcelo Donizeti Barbosa discordou da empresa e considerou que, mesmo sendo terceirizada, a produção era de responsabilidade da Pernambucanas: “a linha de produção tinha início e término na própria ré [Casas Pernambucanas]”, resumiu.

“A ré não pode se eximir de sua responsabilidade, alegando simplesmente que não exercia atividade produtiva, como se simplesmente adquirisse produtos aleatórios de outras empresas para a mera comercialização. A própria ré descreveu que era responsável pela criação e pela definição de todas as características dos produtos, repassando ao terceiro exclusivamente a confecção das peças de roupas”, explicou Marcelo para embasar a sentença.

A varejista ainda sustentou manter cláusulas nos contratos com seus mais de 500 fornecedores proibindo a exploração de trabalho escravo e infantil. O juiz considerou, no entanto, que as determinações “não possuem força jurídica suficiente para impedir que essa subcontratação resulte” nesse tipo de superexploração do trabalho.

A multa de R$ 2,5 milhões, que deve ser paga pela Pernambucanas, foi decidida a título de danos morais coletivos. O valor é a metade do que foi solicitado inicialmente pelo MPT.

Os resgates
Em um dos casos, da Nova Fibra, o pagamento por produção alcançava os R$ 800 mensais. O recebido pelos trabalhadores, entretanto, era muito menor: até R$ 630 eram descontados das vítimas como custos pelas refeições oferecidas. Já os trabalhadores da Dorbyn recebiam cerca de R$ 400 por mês para trabalhar mais de 60 horas semanais. Todos costuravam roupas da Argonaut e Vanguard, marcas exclusivas da Pernambucanas.

Os locais de trabalho estavam em condições degradantes em ambos os casos. Não havia qualquer ventilação nem extintores de incêndio. As cadeiras eram improvisadas e a iluminação era fraca. Os alojamentos, que ficavam junto às oficinas, também estavam em condições precárias.

Essas características, verificadas pela fiscalização, fizeram a empresa ser enquadrada pela exploração de trabalho em condições análogas às de escravos, conforme definido pelo artigo 149 do Código Penal. Dentre as vítimas, havia dois jovens de 16 e 17 anos, resgatados na oficina ligada à Dorbyn. A atividade é proibida a crianças e adolescentes, sendo considerada uma das piores formas de trabalho infantil.

A Pernambucanas
Presente em sete estados do país com 303 lojas e 17 mil funcionários, a Arthur Lundgren Tecidos S/A – nome de registro da Pernambucanas – é a rede de moda que mais faturou em 2013 no Brasil, alcançando os R$ 6 bilhões naquele ano, de acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar).

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

PARA EMPODERAR A MULHER: Moçambique tem políticas favoráveis

PARA EMPODERAR A MULHER: Moçambique tem políticas favoráveis
Joana Macie - Vermelho

QUANDO o mundo se prepara para celebrar os 20 anos da IV Conferência Mundial de Beijing sobre a mulher, realizada em 1995, na China, Moçambique apresenta-se como um dos países que registou avanços significativos nas áreas de acesso da mulher à educação, na participação em lugares de tomada de decisão, nos órgãos legislativo e executivo, e aos serviços de saúde.

O mundo assumiu em Beijing compromissos em prol dos direitos da mulher, através da implementação de acções em 12 áreas identificadas como críticas para promover a igualdade de género e o seu empoderamento, nomeadamente pobreza, educação e formação, saúde, violência, conflito armado, economia, poder e tomada de decisões, mecanismos institucionais para o avanço da mulher, direitos humanos, comunicação social, ambiente e a rapariga.

Moçambique não poupou esforços, tendo estabelecido estruturas institucionais e a adopção de instrumentos legais e de políticas públicas que contribuíram em grande parte para o avanço das mulheres, assim como de metas de igualdade de género.

Segundo o relatório nacional de Moçambique “Beijing +20” sobre a implementação da declaração e plataforma de Acção lançado esta semana pela Ministra da Mulher, Yolanda Cintura, no que respeita à educação da rapariga, o país alcançou a paridade no Ensino Primário, tendo sido atingida a taxa líquida de escolarização de cerca de 95,1 por cento, o que significa uma subida considerável comparada com 2009 (93,8 por cento. A produção do relatório contou com o apoio da ONU Mulher).

Entretanto, para a discussão de diferentes temas relacionados com os progressos e desafios na implementação da Plataforma de Acção de Beijing, o Centro de Coordenação dos Assuntos de Género, na UEM está a realizar uma série de diálogos temáticos, nos quais participam académicos, empresárias e outras classes. Estas também reconheceram o crescimento alcançado, mas consideram que ainda existem muitos entraves, sobretudo na área financeira.

SAIR DA LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA

Para Leontina dos Muchangos, uma das palestrantes, no ciclo de diálogos Beijing +20, da UEM, o grande entrave continua na área financeira, pois as mulheres ainda estão sem acesso a grandes financiamentos. “Sempre que se fala de empoderamento da mulher olha-se para micro-projectos e porque não se pode apostar em projectos macros?”, questiona.

Segundo Leontina dos Muchangos, é preciso abandonarmos a ideia de associar a mulher a uma banquinha de tomate e caldo em frente à sua casa, com roupa usada nas mãos a vender pelas ruas, sentada nas esquinas das ruas e em frente das escolas com uma bacia de bolinhos. “Queremos ver a próxima geração de mulheres a desenvolver grandes negócios, a abraçar ramos da indústria, da aviação e porque não da construção de estradas?”, disse, salientando que o empoderamento não deve ser orientado para a sobrevivência, chamando à atenção das instituições financeiras no sentido de compreenderem as dificuldades da mulher.

Num outro desenvolvimento, Leontina dos Muchangos afirmou que o papel regulador das instituições do estado é muito importante para que o país tenha uma maior presença de mulheres em diferentes sectores, incluindo no privado, uma vez que no seu entender elas continuam sem espaço em alguns sectores, sobretudo os considerados masculinos. “Por exemplo, o Ministério das Obras Públicas, no sector de estradas, tem estado a registar um número considerável de mulheres a trabalhar, graças à obrigatoriedade que o Estado estabeleceu que a condição para ganhar concursos é de provar que 25 por cento da força do trabalho é composta por mulheres”.

A nossa interlocutora, que participou na conferência de Beijing de 1995, explicou que as mudanças devem ser construídas de forma persistente e com coerência, acreditando que, graças à consciencialização da sociedade, hoje já aparecem jovens engenheiras de petróleo, de minas, de obras, mecânicas, pilotos, maquinistas e outras que estão a penetrar em todas as profissões. “Eu tenho três filhas engenheiras, uma de petróleos, outra de construção civil e a terceira está a fazer ciências do mar”, disse, acrescentando que a formação das filhas é resultado das decisões de Beijing.

Leontina dos Muchangos é mestre em Desenvolvimento Agrário, foi a primeira mulher a defender a tese de licenciatura no então Instituto Superior Pedagógico e primeira directora nacional da mulher no Ministério da Mulher e Acção Social.

PERSISTÊNCIA E EXPERIÊNCIA RESULTAM EM GANHOS

Natividade Bule, empreendedora desde os anos 80 e presidente do Conselho de Administração da Caixa Poupança Económica Mulher, considera a formação e persistência como elementos importantes para o crescimento da mulher em todos os aspectos. “Acho que temos de ser persistentes naquilo que pretendemos. Eu comecei por vender rissóis nas pastelarias e hoje considero-me empresária”, disse.

Segundo Natividade Bule, que é também administradora na fábrica de anti-retrovirais em Maputo e presidente da ECOSIDA, a pessoa não pode ter vergonha de fazer coisas, o importante é fazer dentro de um determinado objectivo.

A nossa interlocutora explicou que saber desenhar projectos não é suficiente para se ser empreendedora, porque o próprio sector financeiro só investe quando tem certeza que a pessoa vai trazer resultados.

Falando da sua própria experiência, ela disse que as necessidades fazem com que as pessoas façam muitas coisas. “Vendi rissóis por necessidade, depois criei uma empresa de viação, com a qual aprendi muito, numa altura difícil, em que ninguém usava a via terrestre, por causa da guerra, mas infelizmente na viação a pessoa pode ficar muito rica como também pode ficar muito pobre, foi o meu caso, fiquei pobre, mas não desisti”, acrescenta Natividade que depois deste fracasso abriu uma empresa de prestação de serviços e aconselha que mesmo com a empresa é preciso saber adaptar-se ao mercado, uma tarefa difícil.

De acordo com a empresária, formada em Ciências Jurídicas, a formação ajudou-lhe a crescer no ramo empresarial. Mas também reconhece que as políticas desenhadas pelo Governo ajudaram a emancipar a mulher. “Recordo-me que quando abracei o empresariado, como mulher não podia abrir uma empresa ou uma conta bancária sem autorização do meu marido, mas hoje já ultrapassámos isso”, afirma.

Reconhecendo os problemas que a mulher atravessa para aceder aos financiamentos bancários, Natividade Bule explicou que ela e outras 14 mulheres decidiram abrir um banco, a Caixa Poupança Económica Mulher, para dar crédito a mulheres, sem muitas complicações. “É uma iniciativa que surgiu do reconhecimento das dificuldades por que elas passam para ter acesso ao crédito”, disse, salientando que muitas mulheres não conseguem aceder ao crédito bancário porque não têm garantias exigidas pelas instituições financeiras.

EDUCAÇÃO FORMAL É A ARMA FUNDAMENTAL

Por seu turno, a directora do Centro de Coordenação dos Assuntos de Género, na UEM, Generosa Cossa, defendeu que a educação formal continua a ser base para o crescimento da mulher e, em particular, para o seu empoderamento económico, porque ela ajuda a desenvolver competências que são necessárias para o emprego, negócios e mesmo para a vida familiar.

Explicou que muitas mulheres não conseguem desenvolver os seus projectos, sobretudo negócios, exactamente por falta desta educação formal. “A minha experiência no município de Maputo, aquando da introdução do fundo de desenvolvimento distrital na cidade de Maputo, é que este valor não beneficia as mulheres, porque não apresentam projectos com qualidade”, lamentou.

Apesar de terem sido elas que fizeram muito barulho para a introdução deste fundo, passou a beneficiar os homens e o paradoxo é que a percentagem de mulheres que acediam a este fundo era mais baixo nos distritos urbanos geridos por mulheres.

Generosa Cossa, que fez parte da delegação que foi a Beijing, em 1995, defendeu ainda o empoderamento político das mulheres porque, segundo explicou, o acesso ao poder político facilita o acesso ao poder económico. A nossa interlocutora é docente da UEM desde 1987, licenciada em Ciências Físicas e Matemática, mestre em Ciências de Educação e candidata a doutoramento pela UNISA, da África do Sul, actualmente desempenha as funções de directora do Centro de Coordenação dos Assuntos de Género (CECAGE) na UEM.

POLÍTICAS PÚBLICAS DÃO ATENÇÃO À MULHER

A Representante interina da ONU Mulheres, Florence Raef, considera que, olhando para o relatório sobre Beijing +20, Moçambique registou avanços significativos neste intervalo de 20 anos, graças à sua legislação que condena a violência contra a mulher e a criação do Ministério da Mulher e da Acção Social, uma instituição que se dedica a assuntos femininos.

Florence congratula, também, uma série de políticas públicas em vários sectores que dão mais atenção às mulheres. “Porém, os resultados ainda são limitados, pois trata-se de um trabalho que ainda vai levar o seu tempo para abranger todas as áreas”, disse a representante, considerando que a caminhada até aqui feita é positiva.

Segundo Florence Raef, um dos sectores com resultados mais visíveis é a presença de mulheres em posições de tomada de decisão, referindo-se ao parlamento e ao executivo.

Em relação ao empoderamento económico da mulher, Florence Raef chama atenção aos fazedores de políticas públicas no sentido de olharem para o sector extractivo como uma oportunidade para a inclusão da mulher.

“Temos esta oportunidade de desenhar estratégias para incluir a dimensão do género e de direitos da mulher, mas acho que tudo passa por uma maior sensibilização de vários sectores dentre os quais os investidores e o sector privado”.

Segundo a representante interina, é preciso pensar na inclusão da mulher em toda a cadeia de valores e em políticas de direitos humanos e de investimento. Disse ainda que existem hoje no mundo exemplos interessantes de formação, de discriminação positiva e de outros mecanismos que podem ser estudados.

Florence Raef trabalha em questões de género no contexto internacional há mais de 15 anos, e é funcionária das Nações Unidas desde 2001. Formada em Ciências Políticas, tem sido pesquisadora na Universidade São Paulo, Brasil, e na Universidade de Bruxelas, Bélgica.


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Em meio a protestos, Prefeitura de Porto Alegre transfere fechamento da EPA para junho « Sul 21

Em meio a protestos, Prefeitura de Porto Alegre transfere fechamento da EPA para junho

  

Débora Fogliatto no Sul21

Desde que a Prefeitura de Porto Alegre anunciou o fechamento da Escola Porto Alegre (EPA), em outubro deste ano, uma série de mobilizações têm tentado impedir que isso aconteça. Seguindo a linha de negociar com a Secretaria Municipal de Educação (Smed), vereadores das comissões de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) e de Educação, Cultura, Esportes e Juventude (Cece) da Câmara de Vereadores reuniram-se nesta terça-feira (18) com representantes do poder público e da comunidade escolar.
A EPA é a única instituição municipal de ensino voltada para a educação de jovens e adultos em situação de rua, que tem 19 anos de história e 116 alunos matriculados atualmente. A Prefeitura afirma que há necessidade de se utilizar o espaço para a educação infantil. A partir do encerramento das atividades, os alunos da EPA seriam atendidos no Centro Municipal de Educação do Trabalhador (Cmet) Paulo Freire, no bairro Santana.
Embora a ideia inicial da Prefeitura fosse de fechar a EPA até o final deste ano, este prazo foi agora estendido para junho. “A EPA funcionará até junho de 2015 e, até lá, matrículas de novos alunos serão aceitas somente para o Cmet”, explicou a coordenadora do EJA na Smed, Simone Lovatto. De acordo com ela, os estudantes da escola serão atendidos pelos mesmos professores no Cmet.
A vereadora Fernanda Melchionna (PSOL), que presidiu a reunião, afirmou que foram apresentadas três alternativas para a Prefeitura onde poderia haver escolas de educação infantil: a construção de uma escola em uma área entre as ruas Lima e Silva e José do Patrocínio, para onde o Cmet ia ir antes de adquirir o prédio atual, a parceria com escolas estaduais que têm espaços ociosos e a construção de uma estrutura no próprio terreno da EPA, onde há uma área vazia de quase 700m².

Renato Farias (Centro) criticou a proibição de se realizar matrículas na escola | Foto: Leonardo Contursi/ CMPA
As propostas, no entanto, foram negadas. Sobre a sugestão de construir ao lado da EPA uma escola de Educação Infantil, a coordenadora da Smed disse que o setor de obras da Prefeitura vistoriou o local e concluiu que não há espaço para um novo prédio. Ela também afirmou que a área na Lima e Silva já “tem destinação”, mas foi criticada por não especificar. “Então uma escola constituída há 19 anos pode fechar, mas as coisas que estão apenas planejadas não podem mudar?”, criticou Fernanda.
Embora o adiamento da data tenha sido encarado como uma boa notícia, a exigência de que não sejam mais feitas matrículas a partir de agora foi recebida com críticas. “Nós dissemos que só aconteceria isso se viesse documento assinado pela secretária exigindo que não se aceite, porque isso vai contra o direito à educação. Quando uma escola tem vaga, tem que poder fazer matrículas”, observou Renato Farias dos Santos, professor, coordenador pedagógico e presidente do Conselho Escolar da EPA.
Ele também apontou que o necessário é “ampliar o atendimento da EPA, e não fechar a escola”. “O trabalho que é feito, a metodologia, a política de acolhimento, a redução de danos foram construídos ao longo desses 19 anos, não tem como ignorar e simplesmente dizer que os alunos irão para uma outra escola”, lamentou. Renato ainda disse que a localização do Cmet, no bairro Santana, dificulta para a população em situação de rua por se tratar de uma área que não é a que estão acostumados e estar próxima de um ponto de tráfico de drogas.
O defensor público da União Geórgio Endrigo afirmou que iria começar a estudar medidas judiciais, visto que não houve negociação. “Infelizmente, a posição da Prefeitura é autoritária”, disse a vereadora Fernanda. Com a ampliação do prazo, Renato espera que a Prefeitura seja um pouco mais flexível, apontando que a comunidade escolar tem amplo apoio da população da cidade, tanto de coletivos de trabalhadores quanto de estudantes. “Estamos recebendo apoio de todos os lados, já são 3 mil assinaturas no abaixo-assinado online. A cidade, os movimentos e os trabalhadores estão dizendo que é importante a continuidade do trabalho. Esperamos que a Prefeitura não fique surda, que haja uma reflexão do prefeito e da secretária”, disse o professor.
No dia 17 de dezembro, a Câmara de Vereadores fará audiência pública, a partir das 19h, para tratar novamente do assunto. Há cerca de 20 dias, foi realizado um evento semelhante, em que não foi possível chegar a um acordo.

domingo, 16 de novembro de 2014

Jornal Estadão propõe Golpe de Estado!!!

Em editorial neste domingo, Jornal Estadão propõe Golpe de Estado!!!


Não é o combate a corrupção que eles querem. Eles querem dar um golpe na democracia. Não toleram os avanços sociais e toleram que o Brasil seja dono da maior reserva petrolífera do mundo e muito menos que seja um dos mais importantes países a conduzirem a política e a economia mundiais. Eles tramam há muitos anos a queda do governo e vão continuar as suas ações de lesa pátria. Sequer houve julgamento e a mídia se junta aos golpistas de direita para pedir o impeachment da Presidenta Dilma. No editorial dizem claramente: “que pague pelo que fez – e pelo que não fez”. Vai matéria do Brasil 247 sobre o tema:

Jornal Estado de S. Paulo, da família Mesquita, pede, em editorial, que a presidente Dilma Rousseff seja enquadrada pelo Congresso Nacional por crime de responsabilidade e cassada num processo de impeachment; “Dilma Rousseff de tudo participou como ministra de Minas e Energia e da Casa Civil e, depois, como presidente da República”; um dos herdeiros do grupo, Fernão Lara Mesquita, recentemente foi às ruas com um cartaz onde se lia “Foda-se a Venezuela”; no sábado, em nota, o PSDB sugeriu punição à presidente Dilma; começa a campanha pela derrubada de uma presidente reeleita há menos de um mês no Brasil

Do Brasil 247 - A imprensa conservadora brasileira começa a fazer jus ao apelido que ganhou nos últimos anos, o de PIG, Partido da Imprensa Golpista.

Neste domingo, o jornal Estado de S. Paulo, da família Mesquita, prega abertamente a cassação da presidente Dilma Rousseff, no editorial “Crime de responsabilidade”, cujo título já é autoexplicativo.

Eis um trecho:

“Somente alguém extremamente ingênuo, coisa que Lula definitivamente não é, poderia ignorar de boa fé o que se passava sob suas barbas. Já Dilma Rousseff de tudo participou, como ministra de Minas e Energia e da Casa Civil e, depois, como presidente da República.

Devem, todos os envolvidos no escândalo, pagar pelo que fizeram – ou não fizeram.”

A mensagem é clara: a família Mesquita aderiu ao golpe e irá trabalhar pela queda de uma presidente reeleita há menos de um mês.

Recentemente, um dos herdeiros do grupo conservador, Fernão Lara Mesquita, foi às ruas com um cartaz onde se lia: “Foda-se a Venezuela”. Para os Mesquita, o Brasil também seria “bolivariano”.

Ontem, em nota, o senador Aécio Neves sugeriu, nas entrelinhas, que o PSDB irá trabalhar pelo impeachment da presidente Dilma (leia aqui).