sábado, 24 de novembro de 2007

Jornadas Bolivarianas serão em abril de 2008

Já está definido o mês de abril de 2008 para a realização das Jornadas Bolivarianas/quarta edição. Elas foram adiadas em função do processo eleitoral que a UFSC viveu no mês de novembro deste ano. As Jornadas são o evento anual mais importante do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC e o tema geral que vai sulear todo o debate nesta quarta edição é “Nações e Nacionalismos na América Latina”, buscando refletir o novo que se expressa por toda Abya Yala.

A questão nacional é, sem dúvida, um tema “quente” por estas terras. Do México à Bolívia, passando pelo Equador, Guatemala, Peru, Nicarágua e Venezuela entre tantos outros países, os povos indígenas reclamam o caráter pluri-nacional do estado latino-americano. Além disso, o nacionalismo da região frente às estratégias dos países centrais retomou sua antiga vitalidade, ainda que com novos conteúdos políticos, econômicos e sociais. Entendendo isso, o IELA propõe que analisar o nacionalismo atual é uma tarefa intelectual de primeira importância para prever qual a capacidade deste movimento de idéias garantir um futuro melhor para os países da América Latina.

E é conectada com todas essas lutas e desejos que se expressam em Abya Yala que a IV Edição das Jornadas Bolivarianas buscará analisar, a partir de experiências concretas, a nova configuração do nacionalismo latino-americano. Para isso, contará com a presença de intelectuais latino-americanos e estadunidenses com ampla produção no campo da sociologia, economia, política e história do continente, garantindo um diagnóstico consistente sobre o tema. Além disso, permitirá a divulgação, no Brasil, das novas contribuições de outros países latino-americanos sobre a temática. Será, sem dúvida, um momento rico para comungar de todos esses desejos de transformação que caminham pelo sul do mundo.

Ainda nesta semana já estaremos disponibilizando novas informações sobre as Jornadas. Fique Ligado!

Créditos:Elaine Tavares

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Pequenos produtores esfriam o planeta!

Via Campesina

As atuais formas globais de produção, consumo e mercado causaram uma destruição massiva do meio ambiente, incluindo o aquecimento global, que está colocando em risco os ecossistemas de nosso planeta e levando as comunidades humanas rumo aos desastres. O aquecimento global mostra o fracasso do modelo de desenvolvimento baseado no consumo de energia fóssil, na superprodução e no livre comércio.
Os camponeses e camponesas de todo o mundo unem suas mãos com outros movimentos sociais, organizações, pessoas e comunidades em defesa de transformações sociais, econômicas e políticas radicais para inverter a tendência atual. Os camponeses, especialmente os pequenos produtores, são os primeiros a sofrer os impactos das mudanças climáticas.
As mudanças nas estações trazem consigo secas pouco usuais, inundações e tormentas, destruindo terras de cultivo e casas dos camponeses. Ainda mais, as espécies animais e vegetais estão desaparecendo num ritmo sem precedentes.
Os camponeses têm que se adaptar aos novos padrões climáticos, adaptando suas sementes e seus sistemas de produção habituais a uma nova situação, que é imprevisível. As secas e inundações estão conduzindo ao fracasso as colheitas, aumentando o número de pessoas famintas no mundo.
Há estudos que prevêem um decrescimento da produção agrícola global numa escala que varia de 3 a 16% para o ano 2008. Nas regiões tropicais, o aquecimento global conduzirá, muito provavelmente, a um grave declínio da agricultura (mais de 50% em Senegal e mais de 40% em Índia), e à aceleração da desertificação de terras de cultivo. Por outro lado, enormes áreas na Rússia e Canadá se tornarão cultiváveis pela primeira vez na história humana, mas ainda se desconhece como estas regiões poderão ser cultivadas.
A produção e o consumo industrial de alimento estão contribuindo de forma significativa para o aquecimento e a destruição de comunidades rurais. O transporte intercontinental de alimento, a monocultura intensiva, a destruição de terras e bosques e o uso de insumos químicos na agricultura estão transformando a agricultura em consumidor de energia e contribuindo para a mudança climática.
Sob as políticas neoliberais impostas pela Organização Mundial do Comercio (OMC), bem como pelo Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), os acordos de livre comércio bilaterais, a comida se produz com pesticidas derivados do petróleo e fertilizantes, e são transportadas para todo o mundo para a sua transformação e consumo.
A Via Campesina, um movimento que reúne milhões de camponeses e produtores de todo o mundo, declara que é tempo de mudar de forma radical a forma de produzir, transformar, comercializar e consumir alimentos e produtos agrícolas. Acreditamos que a agricultura sustentável em pequena escala e o consumo local de alimentos vai inverter a devastação atual e sustentar milhões de famílias camponesas. A agricultura também pode contribuir para o esfriamento da terra utilizando práticas agrícolas que reduzam a emissão de CO2 e o uso de energia por parte dos camponeses.
Por outro lado, os camponeses também podem contribuir na produção de energia renovável, especialmente por meio da energia solar e o biogás. A agricultura globalizada e a agricultura industrializada geram o aquecimento global pelos seguintes pontos:
1) Por transportar alimentos por todo o mundo
Transportam-se alimentos frescos e empacotados por todo o mundo e, atualmente, não é raro encontrar nos Estados Unidos ou na Europa, frutas, verduras, carne e vinho provenientes da África, América do Sul ou Oceania; também encontramos arroz asiático na América ou na África.
Os combustíveis fósseis usados para o transporte de alimento estão liberando toneladas de CO2 para a atmosfera. A organização de camponeses suíços, a UNITERRE, calculou que um quilo de aspargos importados do México necessita 5 litros de petróleo para viajar por via aérea (11.800 quilômetros) até a Suíça. No entanto, um quilo de aspargo produzido em Genebra necessita somente 0,3 litros de petróleo para chegar até o consumidor.
2) Pela imposição de meios industriais de produção (mecanização, intensificação do uso de agro-químicos, monocultivo)
A chamada agricultura moderna, especialmente a monocultura industrial, está destruindo os processos naturais do solo (o que conduz a uma presença de CO2 na matéria) e substitui por processos químicos baseados em fertilizantes e pesticidas.
Por conta, acima de tudo, do uso de fertilizantes químicos, da criação intensiva de gado e da monocultura, se produz um volume significativo de óxido nitroso (NO2), o terceiro gás de efeito invernadeiro com maior efeito sobre o aquecimento global. Na Europa, 40% da energia consumida nas explorações agrárias se deve à produção de fertilizantes nitrogenados.
Por sua vez, a produção agrária industrial consome muito mais energia (e libera mais CO2) para mover seus tratores gigantescos para cultivar a terra e processar a comida.
3) Por destruir a biodiversidade (e sumideiros de carbono)
O ciclo do carbono tem sido parte da estabilidade do clima durante milhões de anos. As empresas do agronegócio destruíram este equilíbrio pela imposição generalizada da agricultura química (com uso massivo de pesticidas e fertilizantes procedentes do petróleo), com a queima de bosques para plantações de monocultivo e destruindo as terras pantanosas e a biodiversidade.
4) Conversão da terra e os bosques em áreas não agrícolas
Bosques, pastagens e terras cultiváveis estão sendo convertidos rapidamente em áreas de produção agrícola industrial, em centros comerciais, complexos industriais, grandes casas e em grandes projetos de infra-estrutura ou em complexos turísticos. Estas mudanças causam a liberação massiva de carbono e reduzem a capacidade do meio ambiente absorver o carbono liberado na atmosfera.
5) Transformação da agricultura de produtora em consumidora de energia
Em termos energéticos, o primeiro papel das plantas e da agricultura é transformar a energia solar na energia contida nos açucares e celuloses que podem ser diretamente absorvidas na comida ou transformadas em produtos de origem animal. Esse processo é natural e gera energia na cadeia alimentar.
Não obstante, a industrialização do processo agrícola nos conduziu, nos últimos 200 anos, a uma agricultura que consome energia (usando tratores, agro-químicos derivados do petróleo, fertilizantes).
Falsas soluções
Os agrocombustíveis (combustíveis produzidos a partir de plantas e árvores) se apresentaram muitas vezes como uma solução para a atual crise energética. Segundo o protocolo de Kyoto, 20% do consumo global de energia deveriam provir de recursos renováveis até 2020 - e isto inclui os agrocombustíveis.
No entanto, deixando de lado a loucura de produzir comida para alimentar os automóveis enquanto muitos seres humanos estão morrendo de fome, a produção industrial de agrocombustíveis vai aumentar o aquecimento global, em vez de proporcionar a redução.
Em troca de uma pequena mudança ainda não comprovada (com exceção da cana-de-açúcar) de alguns gases de efeito invernadeiro comparado com os combustíveis fósseis, a produção da monocultura de palma, soja, milho ou cana-de-açúcar vai contribuir no desflorestamento e na destruição da biodiversidade. A produção intensiva de agrocombustíveis não é uma solução para o aquecimento global nem resolverá a crise global no setor agrícola.
O comércio de carbono
No protocolo de Kyoto e outros planos internacionais, o “comércio de carbono” tem se apresentado como uma solução para o aquecimento global. É uma privatização do carbono posterior à privatização da terra, ar, sementes, água e outros recursos.
Permite que governos assinem licenças com grandes contaminadores industriais de modo que possam comprar o “direito de contaminar” entre eles mesmos. Alguns outros programas fomentam que países industrializados financiem vertedouros baratos de carbono tais como plantações em grande escala no Sul, como uma forma de evitar a redução das suas próprias emissões.
Dessa maneira, estão sendo criadas grandes plantações ou áreas naturais de conservação na Ásia, África e América Latina, expulsando comunidades de suas terras e reduzindo o direito de acesso aos próprios bosques, campos e rios.
Cultivos e árvores transgênicas
Atualmente estão sendo desenvolvidas árvores e cultivos transgênicos para agrocombustíveis. Os organismos geneticamente modificados não resolverão nenhuma crise do meio ambiente sem que os mesmos coloquem em risco o meio ambiente, bem como a saúde e a segurança alimentar.
Essas árvores e cultivos transgênicos formam parte da “segunda geração” de agrocombustíveis baseados na celulose, enquanto que a primeira geração se baseia em diferentes formas de açúcar das plantas. Ainda, nos casos nos quais não se usam variedades transgênicas, a “segunda geração” apresenta os mesmos problemas que a geração anterior.
A Soberania Alimentar proporciona meios de subsistência a milhões de pessoas e protege a vida na terra
A Via Campesina acredita que as soluções para a atual crise têm que surgir de atores sociais organizados, que estão desenvolvendo modelos de produção, comércio e consumo baseados na justiça, na solidariedade e em comunidades saudáveis.
Nenhuma solução tecnológica vai resolver o desastre social e do meio ambiente. Somente uma mudança radical na forma como produzimos, comercializamos e consumimos pode dar terras para comunidades rurais e urbanas saudáveis. A agricultura sustentável em pequena escala, um trabalho intensivo e de pouco consumo de energia podem contribuir para o resfriamento da terra:
- Assumindo mais CO2 no solo, de maneira orgânica, através da produção sustentável (a produção extensiva de vacas e ovelhas em pastagens tem um balanço positivo de gás invernadeiro).
- Substituição dos fertilizantes nitrogenados pela agricultura ecológica e/ou cultivando proteaginosas que capturam nitrogênio diretamente do ar.
- Produção de biogás de resíduos animais e vegetais, com a condição de manter suficiente matéria orgânica no solo.
Em todo o mundo, praticamos e defendemos a agricultura familiar e sustentável e em pequena escala, e exigimos soberania alimentar. A soberania alimentar é o direito das pessoas aos alimentos saudáveis e culturalmente apropriados, produzidos através de métodos sustentáveis e saudáveis, e seu direito a definir seus próprios alimentos e sistemas de agricultura.
Colocamos no fundamento dos sistemas e das políticas alimentares as aspirações e necessidades daqueles que produzem, distribuem e consomem alimento, no lugar das demandas dos mercados e das transnacionais.
A soberania alimentar dá prioridade às economias e mercados locais e nacionais, dando poder a camponeses e pequenos agricultores, aos pescadores tradicionais, aos pastores e à produção, distribuição e consumo de alimentos baseados na sustentabilidade ambiental, social e econômica. Exigimos urgentemente aos encarregados de tomar decisões locais, nacionais e internacionais:
1) O desmantelamento completo das companhias de agrocombustíveis. Estão despojando aos pequenos produtores de suas terras, produzindo lixo e criando desastres ambientais.
2) A substituição da agricultura industrializada pela agricultura sustentável em pequena escala, apoiada por verdadeiros programas de reforma agrária.
3) A promoção de políticas energéticas sensatas e sustentáveis. Isto inclui o consumo de menor energia e a produção de energia solar e biogás pelos camponeses em lugar da promoção em grande escala da produção de agrocombustíveis, como é o caso atual.
4) A implementação de políticas de agricultura e comércio em nível local, nacional e internacional, dando suporte à agricultura sustentável e ao consumo de alimentos locais. Isto inclui a abolição total dos subsídios que levam ao dumping (competição desleal) de comida barata nos mercados de exportação e o dumping de comida barata em mercados nacionais.
Pelos meios de subsistência de milhões de pequenos produtores de todo o mundo, pela saúde das pessoas e pela sobrevivência do planeta: exigimos soberania alimentar e nos comprometemos a lutar de forma coletiva para consegui-la.
VIA CAMPESINA INTERNACIONAL
(Tradução do espanhol: Daniel S. Pereira – São Paulo/SP)

Mészáros: idéia de liberdade tem sido usada a serviço da opressão

Em São Paulo para o lançamento de seu último livro, “O desafio e o fardo do tempo histórico”, o marxista húngaro disse que referências à “liberdade” e à “democracia” têm sido “cinicamente usadas a serviço da opressão”.

SÃO PAULO - No Brasil para o lançamento de seu último livro, “O desafio e o fardo do tempo histórico” (Boitempo, R$ 57), o filósofo húngaro István Mészáros, considerado um dos maiores marxistas vivos, realizou duas concorridas conferências nesta semana, uma Florianópolis e outra em São Paulo. Com uma abordagem teórica que não perde o vínculo com a realidade contada nos jornais, Mészáros defendeu a essencialidade da crítica ao capital para projetos de emancipação do indivíduo – um tema e tanto para as esquerdas que buscam alternativas à globalização neoliberal.

A TV Carta Maior gravou a conferência realizada quarta-feira (21) na Universidade de São Paulo e na próxima semana disponibilizará o vídeo, com tradução simultânea, em sua página na internet.

Em quase uma hora de uma palestra dada em inglês, o filósofo discutiu conceitos da tradição socialista, sempre considerando “o longo período de gestação de cada um deles ao longo da história”. Sua abordagem evitou o dogmatismo e ressaltou o vínculo entre teoria e prática, sem perder de vista que o objetivo da teoria socialista é apontar soluções para os mais graves problemas da humanidade.

Em busca do significado dos conceitos, Mészáros analisou a construção histórica de conceitos como o do "trabalho", dentro da atividade produtiva, e o da "igualdade", entendida em seu sentido substantivo, que vai além da divisão das coisas materiais e deve ser compreendida, segundo ele, como algo que reflita um elevado grau de justiça nas trocas sociais.

“Igualdade substantiva não é apenas um dos princípios orientadores do projeto socialista. Ela ocupa uma posição-chave entre as categorias gerais da alternativa hegemônica do trabalho. Os outros princípios da estratégia socialista só podem adquirir significado total em conjunto com a noção de igualdade substantiva”, disse Mészáros.

Nesse sentido, o filósofo considera que os valores necessários ao "modo de controle metabólico social do capital" são inadequados para a instalação da ordem socialista. Referências à “liberdade” e à “democracia” têm sido, afirmou, “cinicamente usadas a serviço da opressão e, freqüentemente, mesmo em função da mais brutal violência, do Estado policial e de genocídios militares”.

Projetos emancipatórios necessitam, portanto, de uma crítica aos mecanismos de dominação do capital, que costumam ser perdidos em propostas reformistas, parlamentares e nas chamadas de “terceira via”. Como alerta Mészáros, esse trabalho tem de começar a partir de práticas emancipatórias, para as quais o pensamento teórico, em seqüência, possui função essencial.

E, para Mészáros, tudo isso é tarefa urgente. Como diz o texto de divulgação de seu último livro, a escolha a ser feita não é entre socialismo e barbárie, mas entre socialismo e extinção.


Artistas nos EUA exigem normalizar relações culturais com Cuba

• WASHINGTON (PL) — Mais de duas centenas de personalidades norte-americanos das artes e dos espetáculos assinaram até hoje, dia 20, uma carta aberta, endereçada ao presidente George W. Bush, para apoiar as relações culturais dos Estados Unidos com Cuba.

"Presidente George W. Bush, nós lhe escrevemos como representantes do setor cultural nos Estados Unidos, mas também lhe escrevemos como cidadãos norte-americanos", começa assim a carta.

"Consideramos que é hora de dar passos para o intercâmbio cultural, a cooperação e as relações construtivas com Cuba", enfatiza o documento publicado no site do grupo The Cuba Research and Analysis Group (CRAG).

A carta, endereçada à Casa Branca, foi assinada por Harry Belafonte, Ry Cooder, Peter Coyote, Danny Glover, Sean Penn, José Pertierra, Alice Walker, e outros até completar duas centenas de atores, músicos, advogados, cineastas, produtores e outras prestigiosas personalidades.

Acrescenta que as políticas atuais do governo de Washington impedem possibilidades de amizade e vínculos culturais com a nação caribenha. "Ao negarem-nos a possibilidade de comunicação e expressão, violam direitos fundamentais da Constituição", aponta a carta.

"Como cidadãos, artistas, educadores ou delegados culturais de várias disciplinas acadêmicas, exigimos que o senhor, presidente, leve em conta nosso reclamo", reafirma a carta.

Reivindicamos iniciar um diálogo respeitoso com o governo e o povo de Cuba, pôr fim às proibições de viagens para a Ilha e trabalhar para um processo que sustente o desenvolvimento das relações bilaterais normais, conclui a carta.

Governos sucessivos estadunidenses mantiveram desde 1962 um ferrenho bloqueio econômico, comercial e financeiro contra a nação antilhana que custou a Cuba mais de US$89 bilhões.

Pelo décimo ano consecutivo, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou no mês passado uma resolução com 184 votos a favor, quatro contra e uma abstenção, o cerco comercial dos Estados Unidos contra Cuba.

A ONU adotou o documento apresentado por Cuba em que se impugna o bloqueio de Washington por obstaculizar o desenvolvimento e o bem-estar da Ilha e submeter seu povo a fome e doenças. •







Sacco & Vanzetti

Direção: Giuliano Montaldo
Roteiro: Fabrizio Onofri e Giuliano Montaldo, baseado em história de
Giuliano Montaldo, Fabrizio Onofri e Mino Roli
Produção: Arrigo Colombo e Giorgio Papi
Música: Ennio Morricone
Fotografia: Silvano Ippoliti
Desenho de Produção: Aurelio Crugnola
Figurino: Enrico Sabbatini
Edição: Nino Baragli
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 119 minutos
Ano de Lançamento (Itália 1971)
Áudio: Italiano
RMVB Legendado
Cor

Elenco:

Gian Maria Volonté (Bartolomeo Vanzetti)
Riccardo Cucciolla (Nicola Sacco)
Cyril Cusack (Frederick Katzmann)
Rosanna Fratello (Rosa Sacco)
Geoffrey Keen (Juiz Webster Thayer)
Milo O'Shea (Fred Moore)
William Prince (William Thompson)
Claude Mann (Jornalista)

Sinopse:
Sacco & Vanzetti, um dos melhores filmes do cinema
político italiano dos anos 70. Apoiado na tocante
canção tema de Joan Baez e Ennio Morricone, o
cineasta Giuliano MontaIdo {Giordano Bruno)
reconstituiu a história real dos imigrantes italianos
Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, acusados de
assassinato e levados a julgamento em 1921, nos
Estados Unidos. Por serem anarquistas, são
condenados à morte: num dos mais famosos erros
judiciais do século XX. Nos anos seguintes, a luta
pela anulação da sentença leva milhares de
pessoas às ruas em todo o mundo.
Proibido no Brasil durante a ditadura militar,
Sacco & Vanzetti é um filme
inesquecível sobre uma página obrigatória da
história contemporânea.



Desde a sentença e execução, inúmeros estudos, poemas,
músicas e alguns filmes já foram objeto de divulgação da
história destes dois operários anarquistas italianos que se
tornariam ainda em vida, mártires da classe trabalhadora.
Sacco & Vanzetti, uma obra memorável para ver e rever
conceitos.
Neste filme de Giuliano Montaldo, o roteiro é
excepcionalmente fiel aos
fatos ocorridos a partir do dia 5 de maio de 1920, onde
Nicola Sacco e
Bartolomeo Vanzetti, imigrantes italianos e militantes
políticos foram
presos como suspeitos.
Em Cannes, Sacco & Vanzetti ganhou o prêmio de
Melhor Ator (Riccardo Cucciola) no festival.

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The Turning Point - 1969-JOHN MAYALL



No se puede mostrar la imagen “http://www.fillmore-east.com/turningpoint.jpg” porque contiene errores.

  1. The Laws Must Change (7.21)
  2. Saw Milch Gulch Road (4.39)
  3. I'm Gonna Fight For You J.B. (5.27)
  4. So Hard To Share (7.03)
  5. California (9.30)
  6. Thoughts About Roxanne (8:20)
  7. Room To Move (5.01)
DOWNLOAD AQUI
Quilombo dos Palmares: refúgio da liberdade






Wilson Aparecido Lopes


Ao comemorarmos o “Dia Nacional da Consciência Negra" urge salientar a importância deste salutar momento histórico para todo povo brasileiro: a herança de um povo que mesmo tendo sido feito escravo não aceitou passivamente a “canga” da escravidão sobre seu pescoço. Muito tem a nos ensinar o povo afro-descendente, muito temos o que aprender de Zumbi e muito mais ainda tem a nos revelar o Quilombo dos Palmares.

Resgatar a herança dos afro-descendentes é fazer emergir do profundo de nosso ser o sentimento de revolta, de rebeldia e de indignação. É deixar vir à tona a ira-santa frente a “qualquer injustiça provocada contra qualquer ser humano em qualquer lugar do mundo” (Che Guevara). É afirmar com Zumbi: “Não, não deponho as armas, enquanto houver um afro-descendente cativo, nenhum é livre!”.

Falar de Zumbi é falar dos afro-descendentes, falar dos afro-descendentes é falar de Zumbi, é falar do Quilombo dos Palmares. O grito de liberdade de Zumbi ainda hoje ecoa na humanidade. Foi sua ânsia pela liberdade que não lhe permitiu se render aos privilégios de que gozava sob a tutela do Padre Antonio Mello. Foi o amor pelo seu povo que o levou a não considerar justos os bons tratos destinados a ele somente, enquanto sua gente sofria sob o peso da opressão. Zumbi preferiu fugir dos privilégios a se deixar cooptar por eles. Preferiu a luta à resignação.

Foi a luta pela libertação de todo o seu povo que levou Zumbi a recusar em 1678 a oferta do então governador de Pernambuco, Pedro de Almeida, que propunha anistia e liberdade a todos os nascidos no Quilombo dos Palmares. Enquanto Ganga Zumba, então líder de Palmares, concordava com a trégua, Zumbi se colocava contra, por entender que o acordo favorecia a continuidade do regime de escravidão praticado nos engenhos. Foi este sentimento de “ou liberdade para todos ou a luta” que fez de Zumbi, a partir de então, o novo líder do seu povo.

O Quilombo dos Palmares se tornou então uma autêntica comunidade livre onde se criava gado, se plantava mandioca e cana-de-açúcar. O que sobrava da colheita era trocado com a vizinhança por sal, pólvora e armas de fogo. Garantindo assim a proteção do povo contra as inúmeras investidas dos colonizadores. Em pouco tempo, o Quilombo dos Palmares se transformou num verdadeiro “refúgio da liberdade”, acolhendo escravos fugidos, brancos-pobres e indígenas.

Nem mesmo a maior de todas as investidas desferidas pelo mercenário-bandeirante Domingos Jorge Velho, em 1694, conseguiu exterminar o Quilombo dos Palmares completamente. Muitos outros “Quilombos” surgiram. Pois não se pode destruir a memória e a liberdade de um povo. A prova é que, hoje, mais de duzentos municípios em todo o Brasil celebram a memória de Zumbi e a luta de um povo pela sua libertação, considerando este dia “feriado memorável”.

Zumbi continua a ensinar que só a luta nos faz livres e que nenhum líder deve se deixar corromper e cooptar pelos privilégios oferecidos. E que ninguém deve se considerar livre enquanto houver um só cativo. O Quilombo dos Palmares teima em nos deixar como legado o fato de ter sido um “refúgio de liberdade”. Este legado denuncia os mais diversos lugares que outrora nasceram para refugiar à liberdade, lugares que até ontem serviam de esconderijos para os mais “aguerridos lutadores do povo”, e que hoje se tornaram abrigo de uma “elite de privilegiados”, de “ajoelhados” ante os “neocolonizadores”, com seus bons empregos, fartos banquetes e vinhos finos, suas ricas amizades, mas que viraram as costas para a opressão de seu povo. Os afro-descendentes insistem em fazerem ecoar do seu âmago o grito pela libertação, ensinando-nos que nada, nada é mais importante e precioso na vida de um povo do que a sua liberdade.

Zumbi, Quilombo dos Palmares e os Afro-descendentes não nos deixam esquecer que a luta de hoje não é diferente da luta de ontem. Que a escravidão hoje é global. Que os Domingos Jorge Velho de hoje são a Rede Globo e sua cruzada desmoralizadora contra os remanescentes quilombolas, que os colonizadores ainda são os latifundiários e sua ganância ambiciosa pela grilagem de mais terras, e que os “grilhões” e o “pelourinho” de hoje continuam sendo a discriminação e o racismo. Exemplificam isto as recentes declarações de James Watson, descobridor da estrutura molecular do DNA, ao afirmar que testes de QI demonstraram que os africanos são menos inteligentes que os ocidentais.

Quantos ainda devem morrer na luta pela liberdade? Tantos quantos forem necessários para mostrar que: ou a liberdade ou a morte. Enquanto houver quem ouse escravizar um povo haverá sempre quem não tema derramar seu sangue em defesa de sua libertação. Zumbi preferiu perder a vida, mas não a liberdade. Traído por Antônio Soares, um de seus comandantes, Zumbi foi capturado no dia 20 de novembro de 1695. Morto, teve seu corpo esquartejado e sua cabeça exposta em praça pública na cidade de Olinda, Pernambuco. Quase 100 anos depois, outro “revolucionário” teve o mesmo tratamento dispensado pelos “algozes da colonização”. No dia 21 de abril de 1792, Tiradentes foi enforcado no Largo da Lampadosa, Rio de Janeiro. Sua casa foi arrasada e seus descendentes declarados infames. Seu corpo foi esquartejado, sua cabeça erguida em um poste em Vila Rica e seus restos mortais distribuídos ao longo do Caminho Novo: Cebolas, Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz, antiga Carijós, lugares onde Tiradentes fizera seus discursos revolucionários. A semelhança da morte tanto de Zumbi como de Tiradentes faz destes lugares os nascedouros dos “novos Quilombos dos Palmares”, dos “novos refúgios de liberdade”.

Zumbi dos Palmares, Tiradentes e tantos outros “revolucionários”, “heróis da liberdade”, demonstram que um povo só é povo sendo livre. Por isso, enquanto os afro-descendentes forem discriminados e tratados indignamente, os brancos-pobres oprimidos pela miséria e massacrados pela injustiça e os indígenas tocados de suas terras e tratados como indigentes, Zumbi vive. E com ele a memória de todos os revolucionários. Enquanto a liberdade não for liberdade para os afro-descendentes, para os pobres e para os indígenas outros “Quilombos dos Palmares” surgirão e neles outros “Zumbis” nascerão.

POR QUE NÃO FALAR DO SALÁRIO?

Por Denilson Botelho (*)

Era setembro de 2001 e fui convocado para tomar posse no cargo de Professor de História da rede pública municipal do Rio de Janeiro. Depois de oito anos de formado, mestrado concluído, doutorado em vias de conclusão e passagens meteóricas pela rede pública do município de Teresópolis – RJ e do Estado do Rio de Janeiro, lá estava eu prestes a me tornar professor de uma escola municipal como aquela em que estudei nas primeiras séries do ensino fundamental. Era a concretização de um sonho de realização profissional. Sonho ou pesadelo?

Algumas semanas em sala de aula naquela escola do subúrbio do Rio me fizeram cogitar seriamente de um pedido de exoneração. Aliás, ainda cogito freqüentemente. Se não o fiz até hoje foi por desejo (de ensinar) e necessidade (de trabalhar para sobreviver). Ao perceber que ali – e em cada uma dessas escolas municipais – está montada uma engrenagem cujo objetivo é produzir o fracasso escolar em larga escala, passei a conviver com essa angústia. Afinal, não somos professores em sala de aula, mas sim operadores (ou técnicos do saber, como diria Sartre) de uma cruel engrenagem que produz analfabetos funcionais em massa. Tudo é feito de modo a incutir nos professores um profundo sentimento de impotência diante desse sistema, cuja última e mais eloqüente inovação foi a aprovação automática.

Ao tomar conhecimento de que a revista Nova Escola, da Fundação Victor Civita – os Civita, sempre tão preocupados com a educação do nosso país, não é mesmo? – encomendou uma pesquisa ao Ibope sobre como os professores vêem a educação pública no país, sinto-me na obrigação de abordar o assunto.

Não pretendo aqui jogar o bebê e a água do banho fora. A pesquisa traz dados muito interessantes. Por exemplo: apenas 21% dos professores estão satisfeitos com a profissão; mas 63% trabalham no que gostam; 53% têm no amor à profissão sua principal motivação; e 63% relatam viver em nível significativo de estresse. Esses são apenas alguns dados colhidos junto a 500 professores entre 25 e 55 anos de idade entrevistados em todo o país, sendo 50% no sudeste.

Suponho que não se tratam de informações surpreendentes. O que irrita e causa indignação é o discurso recorrente que a grande mídia produz a respeito desse quadro desanimador. Não vejo veículo algum enfrentar o tema sem tergiversar. São capazes de tangenciar o núcleo central do problema, como faz o Globo On-line, ao observar que “professor tem apenas 3 minutos por dia para cada aluno na classe”. A repórter explica que as turmas superlotadas e a dupla (não seria tripla?) jornada de trabalho compõem essa curiosa equação.

Mas já estou cansado de ler nas páginas dos grandes jornais e revistas do país as mesmas tentativas esfarrapadas de explicar e solucionar o problema. Bons exemplos disto são os textos que Antônio Ermírio de Moraes e Gilberto Dimenstein publicam regularmente na edição dominical da Folha de S. Paulo. Sempre acusam o professor e afirmam que aumentar os salários dos docentes não vai resolver nada. Ora, até quando vamos aturar tamanho cinismo?

Dimenstein chegou ao ponto de afirmar, há algumas semanas, que existe uma espécie de indústria da licença médica na rede pública estadual de São Paulo. Será que ele já pôs os pés numa escola dessas? Por acaso conversou com seus professores? Compreende que quem vive submetido a estresse constante costuma ter uma crônica baixa imunidade que é porta de entrada para variadas moléstias?

É evidente que depois de décadas de aviltamento temos já uma boa quantidade de professores mal formados e sem nenhum entusiasmo pela educação, assim como apenas aumentar salário de nada resolve. Mas não há como começar a desmontar essa gigantesca engrenagem que fabrica analfabetos funcionais (que em pesadelos me lembram cenas do filme The Wall) sem alterar as condições de trabalho dos professores.

Não acredito que seja possível reverter o quadro caótico em que se encontra a educação no Brasil enquanto não tivermos o professor remunerado de forma digna e satisfatória, de modo que precise trabalhar em uma só escola. É isso: salário bastante para que se torne possível dedicação exclusiva a um só emprego, uma só escola ou instituição de ensino. Assim seria possível esperar que os professores tivessem tempo não só para estudar e planejar suas aulas, como também para o lazer e a família, ao invés de cumprirem longas jornadas de trabalho que por vezes se iniciam às 7 horas da manhã e terminam às 23 horas.

Com salários suficientes para manter suas famílias e dedicando-se exclusivamente ao ensino em uma só escola, aí sim seria razoável cobrar progressivamente maior qualidade no trabalho desenvolvido em sala de aula. Antes de se criar essas condições mínimas e básicas, não há como esperar mudança expressiva no ensino público no país.

E vale lembrar que o resgate do padrão salarial dos mestres precisa começar pelos que alfabetizam e atuam nas séries iniciais do ensino fundamental. Ali são plantadas as bases para o restante do ensino fundamental, médio e superior. Portanto é prioritário resgatar a dignidade desses profissionais em especial, até porque são justamente os que hoje recebem os piores e mais baixos salários.

Passei vinte anos na expectativa de que no dia em que um partido político de esquerda como foi o PT chegasse ao poder, teríamos pelo menos o início desse processo de valorização e resgate do magistério. Entretanto o que se vê é o governo federal empenhado em medir o tamanho da tragédia – vide o Prova Brasil e similares - que é o ensino no país, permanecendo contudo tão inoperante quanto seus antecessores. Daqui a vinte anos pode ser tarde demais...

(*) Denilson Botelho é historiador, professor e autor de A pátria que quisera ter era um mito.


SINAIS DE SERVILISMO E MANIPULAÇÃO

Por Maurício Campos (*)

As edições de domingo de O Globo, para as quais são reservadas as reportagens supostamente mais "profundas" e cuidadosas, são uma fonte inesgotável para o estudo do mau jornalismo e da manipulação informativa. Isso vale para todas as editorias do jornal, com certeza, mas tenho dedicado especial atenção às reportagens sobre segurança e violência, devido à minha militância mais focada na Rede contra a Violência atualmente.

A edição de ontem (18/11) traz dois ótimos exemplos desse lixo jornalístico, ambos com chamadas de capa. A primeira, com a chamada sensacionalista "Medo ronda os sinais" acima de uma foto com três jovens flanelinhas (dois deles identificados como "ex-traficante" e "fugitivo da prisão"), discorre sobre uma suposta organização criminosa que estaria por trás dessa imensa população desempregada que enche as ruas buscando alguma sobrevivência no minúsculo comércio informal nos sinais das ruas e avenidas da cidade, ou contando com alguma compaixão da classe média motorizada.

É uma história antiga, quase uma lenda urbana aqui no Rio: "Cuidado, por trás da criança que te pede dinheiro ou vende bala, tem um grupo de adultos criminosos e exploradores!". Isso nunca foi comprovado realmente por nenhuma pesquisa com população de rua, e quem quiser ter uma imagem mais real dessas pessoas pode, por exemplo, procurar o pessoal da revista Ocas (www.ocas.org.br), que trabalha especificamente com essa realidade. A própria reportagem de O Globo nada mais faz que descrever a tosca economia de mercado das ruas e sua competição, com certeza muito menos criminosa, brutal e mortífera que a competição entre essas máfias que são as empresas de aviação no Brasil, por exemplo. Difícil imaginar maior caos econômico que o que ronda aeroportos e aviões por aqui, mas o Globo reserva as pesadas palavras "desordem urbana" para os precários trabalhadores do asfalto...

Mas o pior de tudo na reportagem é mesmo o indigno trabalho de X9 (delator) que o jornal obrigou aos jornalistas autores da matéria fazer, e que rendeu a foto dedo-duro da capa. Um texto em destaque dá o local de trabalho (certo cruzamento na Tijuca) e até o nome completo de um dos jovens, que inocentemente revelou ao repórter que já foi traficante (outro revelou - não tão inocentemente, pois não deu o nome - que é foragido da prisão). Ora, estes jovens estão se esforçando para buscar uma alternativa de sobrevivência fora do pequeno crime (que, em minha opinião, nem deveria ser motivo de prisão), mas a sórdida montagem da reportagem vai levar a polícia a querer "mostrar serviço" com sua brutalidade habitual, e não me surpreenderia se daqui a alguns dias lermos, nessas mesmas tristes páginas, que alguns desses meninos foram presos (ou mesmos mortos). Isso ajudará a sociedade em alguma coisa? Claro que não, mas os histéricos leitores de O Globo com certeza terão seu mórbido desejo de vingança satisfeitos.

Jornalistas do sistema Globo, desde o caso Tim Lopes, queixam-se de que são mal vistos e não conseguem fazer matérias em favelas. Mas nunca vi eles reclamarem dos sujos trabalhos de X9 que seus patrões os obrigam a fazer, em matérias deprimentes como a "Feira da Droga" do Tim ou essa última na edição de ontem (18/11). Pois bem, enquanto não se insurgirem contra isso, tenham certeza que ficarão cada vez mais indesejados pela população marginalizada. Além das favelas, as ruas e cruzamentos agora também serão terrenos perigosos para vocês, jornalistas globais.

A outra reportagem sem noção é a que traz o enganoso título "Polícia revê estratégia na guerra do Alemão" (tem uma versão resumida dela no Globo Online, aqui http://oglobo.globo.com/rio/mat/2007/11/17/327208373.asp). Fala da suposta invasão do Morro do Adeus por traficantes do Morro do Alemão, e das conseqüentes "mudanças" na ação da polícia (e da Força Nacional de Segurança) no Complexo devido a isso. Ora, o Complexo do Alemão está cercado por forças policiais há mais de seis meses, que freqüentemente fazem suas incursões mortíferas nas favelas dali (oficialmente, 60 mortos até agora), e isso foi até agora apresentado pelo governo como uma estratégia eficaz para "sufocar o tráfico". O Adeus fica à distância de atravessar uma rua (a Estrada do Itararé, cujos acessos à favela - todos - estão teoricamente sob vigilância constante da FNS) do Alemão, então se houve mesmo a tal invasão (coisa que não consegui confirmar por outras fontes mais confiáveis que a polícia e o Globo), isso não indicaria um tremendo fracasso dessa estratégia de cerco e confronto?

Essa é a pergunta que os jornalistas não fizeram (ou, se fizeram, a editoria não deixou publicar) ao comandante do 16o BPM, mas é óbvio que DEVERIA ser a principal pergunta a ser feita, se estivéssemos falando de um jornalismo decente, é claro. Ao invés disso, o jornal publica como "nova estratégia" a mesma coisa de sempre: confronto, blindado (agora um trator...), mais polícia e mais tiros. Com direito à mensagem troglodita do coronel Marcus Jardim (o mesmo que deu uma miniatura do blindado ao relator da ONU e bradou: Viva o caveirão!): "2007 será um ano marcado por três pês: Pan, PAC e pau".

A reportagem nem de leve toca no fato das declarações policiais não explicarem nada nem indicarem nenhuma "revisão de estratégia" de fato, simplesmente a reproduzem. Não poderia haver demonstração maior do servilismo do Globo ao Estado (e, em especial, ao aparato policial): é um porta-voz deles, mesmo quando o que transmitem é o nada, o coisa nenhuma, o vazio, a inexistência de informação.

(*) Maurício Campos é integrante da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência.

Reeleição indefinida na Venezuela repete o sistema francês


O sistema de reeleição presidencial se limitações, que o presidente Hugo Chávez quer fazer aprovar no referendo popular daqui a dez dias, vigora na França desde 4 de outubro de 1958 e foi mantido pelo referendo francês de 24 de junho de 2000. O bloco conservador oposicionista-midiático-bushiano, que clama contra a "ditadura" venezuelana, nunca tratou do caso francês.


Por Bernardo Joffily



Hugo Grande Satã Chávez, em foto da Reuters

O bombardeio do bloco contra a Venezuela bolivariana oculta o conteúdo do que será decidido no referendo de 2 de dezembro. Serão 39 emendas à Constituição, com inovações como a jornada de trabalho de seis horas diárias, ou a criminalização do latifúndio e dos monopólios, visando lançar as bases legais do "socialismo do século 21". Porém o coro antichavista só vê a reeleição. E ao tratar do tema falseiam a realidade.


Lula: "É engraçado"...


Coube ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizer que "podem criticar o Chávez por qualquer outra coisa", mas "por falta de democracia na Venezuela não é". Lula lembrou à mídia a quantidade de eleições naquele país – nove nos últimos nove anos, a contar da primeira eleição de Chávez.


Quando Lula se queixou de que "é engraçado" não criticarem os três mandatos da britânica Margareth Thatcher, ou os 16 anos do governo Helmut Kohl na Alemanha, a imprensa retrucou na hora que são regimes parlamentaristas. Porém Lula citou também o presidente François Mitterrand, da França, que não é parlamentarista. E a mídia não se deu ao trabalho de informar aos brasileiros como é o sistema francês.


A honrosa exceção coube ao jornalista franco-espanhol Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique. Entrevistado pela Folha de S.Paulo, durante recente visita ao Brasil, ele comentou, falando da Venezuela: "Ninguém se escandaliza no mundo porque em 2000 o então presidente [francês Jacques] Chirac fez um referendo para mudar a Constituição e permitir que o presidente da República pudesse ser reeleito indefinidamente, pondo fim à limitação a dois mandatos."


Como é na França


Vejamos como evoluiu e como funciona a reeleição à francesa.


A República francesa de 1848, que criou pela primeira vez o cargo de presidente, estabelecia este tinha um mandato de quatro anos e "só é reelegível após um inervalo de quatro anos". O veto à reeleição provocou, três anos mais tarde, o golpe conhecido como Dezoito Brumário de Luís Bonaparte.


A 3ª República, em 1875, estabelece o mandato de sete anos, por eleição indireta, e o direito de reeleição, sem limites. A 4º República só permite uma reeleição. Mas a 5ª República, fundada por Charles de Gaulle em 1958, estabelece a reeleição semidireta (após 1962, direta) e o presidente reelegível indefinidamente. De Gaulle se elege e reelege por este sistema.


Nos mandatos seguintes (Pompidou, d'Estaing, Mitterrand), o tema é fartamente debatido, no governo e na oposição. Discute-se o mandato de cinco ou sete anos, ou outras durações, sem reeleição, com uma reeleição ou sem limites de reeleição. No entanto, o status quo permanece. Mitterrand preside a França por dois mandatos de sete anos (1881-1995), e depois se retira para morrer de câncer na próstata sete meses mais tarde.


Em 24 de setembro de 2000 o então presidente Jacques Chirac submete ao referendo dos franceses uma nova proposta, vigente até hoje: o mandato é reduzido para cinco anos; a eleição permanece direta e com direito de reeleição sem limitações. A consulta tem a aprovação de 73,2%, mas uma forte abstenção, de 69,8% dos eleitores.


O Grande Satã de plantão


A mídia brasileira cobriu burocraticamente o referendo francês de 2000: falou da troca do "setenato" pelo "cinquenato" mas nem tocou no tema da reeleição sem limites. Esta só passou a ser vista como grave ameaça ditatorial quando foi proposta por Hugo Chávez, hoje promovido a Grande Satã de plantão pelo bloco conservador oposicionista-midiático-bushiano (uma pesquisa no Google News-Brasil, nesta quinta-feira, resultou em 3.396 entradas para "Hugo Chávez", contra 1.679 para "George Bush" e 83 para "Osama Bin Laden").


Há nesta obsessão demonizadora um elemento nativo, além do desejo de fazer aquilo que Washington deseja. O noticiário sobre as regras da presidência venezuelana aparece sempre combinado com a onda em torno do hipotético terceiro mandato de Lula. De nada adianta este reafirmar em todos tons que é contra, não aceita, não admite.


O bloco conservador enxergou neste factóide a saída para seus apuros atuais. Com ele, mata dois coelhos de uma cajadada. Mantém o bombardeio contra o presidente bolivariano, que ousa desafiar o imperialismo, pregar o socialismo, e vencer todas as eleições. E ao mesmo tempo hostiliza Lula, numa situação em que o crescimento econômico brasileiro finalmente acelera e as taxas de aprovação popular do governo se recusam a cair.



quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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Créditos: LooloBlog



1. a. Mediterranean Sundance
(Al di Meola)
b. Rio Ancho
(Paco de Lucia)
Paco de Lucia y Al di Meola

2. Short Tales of the Black Forest
(Chick Corea)
John McLaughlin y Al di Meola

3. Frevo Rasgado
(Egberto Gismonti)
John McLaughlin y Paco de Lucia

4. Fantasia Suite
(Al di Meola)
Paco de Lucia, John McLaughlin y Al Di Meola

5. Guardian Angel [Studio Recording]
(John McLaughlin)
Paco de Lucia, John McLaughlin y Al di Meola


http://www.progarchives.com/progressive_rock_discography_band%5Cthetrio.jpg
Palestina Livre

60 anos de resistência!
Venha conhecer a luta de libertação do Povo Palestino!

27/11/2007 - 3ª feira - 9 horas
Palestra: 60 anos de resistência! A luta de libertação do Povo Palestino.
com Fawzi El Mashni - ex-embaixador da Palestina no México.
Local: Auditório CFH - Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC - Trindade - Florianópolis

28/11/2007 - 4ª feira - 19 horas
Sessão Solene em Solidariedade ao Povo Palestino com a presença do Dr. Issam Isa - refugiado palestino acolhido pelo Brasil depois de 3 anos no Campo de Rueished na fronteira Iraque - Jordânia
Local: Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina - Centro - Florianópolis
Após a Sessão Solene acontecerá o lançamento do Jornal árabe-português Al Baian - publicação da Liga Internacional da Luta Árabe

01/12/2007 - Sábado - dás 10 horas até o meio-dia
Ato Público: Palestina Livre
Local: Esquina Democrática - rua Felipe Schimit esquina Deodoro - Centro- Florianópolis
Hora: dás 10 horas até o meio-dia.
Exposição de fotos, distribuição de panfletos, materiais para venda e discursos de apoio a Causa Palestina

CHAMADA DA TUMBA
Mahmud Darwish

“Dizemo-lhes
Cantem pela terra que permanece!
Rebelem-se!
Ensinem nossa história sombria aos filhos
A fim de que nosso sangue
Permaneça na bandeira dos criminosos
Como sinal de catástrofe.”


Realização: Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino
comitepalestinasc@yahoo.com.br
www.vivapalestina.com

¿Porqué no te callas?

Não se imagina um chefe de Estado europeu dirigir-se nesses termos publicamente a um colega europeu quaisquer que fossem as razões do primeiro para reagir às considerações do último. Esta frase é reveladora em diferentes níveis.

Esta frase, pronunciada pelo Rei de Espanha dirigindo-se ao Presidente Hugo Chávez durante a XVII Cúpula Iberoamericana realizada no Chile, no dia 10 de Novembro, corre o risco de ficar na história das relações internacionais como um símbolo cruelmente revelador das contas por saldar entre as potências ex-colonizadoras e as suas ex-colônias. De fato, não se imagina um chefe de Estado europeu dirigir-se nesses termos publicamente a um colega europeu quaisquer que fossem as razões do primeiro para reagir às considerações do último. Como qualquer frase que intervém no presente a partir de uma história longa e não resolvida, esta frase é reveladora em diferentes níveis.

Ela revela, em primeiro lugar, a dualidade de critérios na avaliação do que é ou não democrático. Está documentado o envolvimento do primeiro-ministro de Espanha de então, José Maria Aznar, no golpe de Estado que em 2002 tentou depor um presidente democraticamente eleito, Hugo Chávez. Porque, naquela altura, a Espanha presidia à União Européia, esta última não pode sequer clamar total inocência. Para Chávez, Aznar ao atuar desta forma, comportou-se como um fascista. Pode questionar-se a adequação deste epíteto. Mas haverá tanta razão para defender as credenciais democráticas de Aznar, como fez pateticamente Zapatero, sem sequer denunciar o carácter antidemocrático desta ingerência?

Haveria lugar à mesma veemente defesa se o presidente eleito de um país europeu colaborasse num golpe de Estado para depor outro presidente europeu eleito? Mas a dualidade de critérios tem ainda uma outra vertente: a da avaliação dos fatores externos que interferem no desenvolvimento dos países. Num dos primeiros discursos da Cúpula, Zapatero criticou aqueles que invocam fatores externos para encobrir a sua incapacidade de desenvolver os países. Era uma alusão a Chavez e à sua crítica do imperialismo norte-americano.

Pode criticar-se os excessos de linguagem de Chávez, mas não é possível fazer esta afirmação no Chile sem ter presente que ali, há trinta e quatro anos, um presidente democraticamente eleito, Salvador Allende, foi deposto e assassinado por um golpe de Estado orquestrado pela CIA e por Henry Kissinger. Tão pouco é possível fazê-lo sem ter presente que atualmente a CIA tem em curso as mesmas táticas usando o mesmo tipo de organizações da “sociedade civil” para destabilizar a democracia venezuelana.

Tanto Zapatero como o Rei ficaram particularmente agastados pelas críticas às empresas multinacionais espanholas (busca desenfreada de lucros e interferência na vida política dos países), feitas, em diferentes tons, pelos presidentes da Venezuela, Nicarágua, Equador, Bolívia e Argentina. Ou seja, os presidentes legítimos das ex-colônias foram mandados calar mas, de fato, não se calaram. Esta recusa significa que estamos a entrar num novo período histórico, o período pós-colonial, teorizado, entre outros, por José Marti, Gandhi, Franz Fanon e Amilcar Cabral e cujas primicias políticas se devem a grandes lideres africanos como Kwame Nkrumah. Será um período longo e caracterizar-se-á pela afirmação mais vigorosa na vida internacional dos países que se libertaram do colonialismo europeu, assente na recusa das dominações neocoloniais que persistiram para além do fim do colonialismo.

Isto explica porque é que a frase do Rei de Espanha, destinada a isolar Chávez, foi um tiro que saiu pela culatra. Pela mesma razão se explicam os sucessivos fracassos da União Européia para isolar Roberto Mugabe.
Mas “¿porqué no te callas?” é ainda reveladora em outros níveis. Saliento três. Primeiro, a desorientação da esquerda européia, simbolizada pela indignação oca de Zapatero, incapaz de dar qualquer uso credível à palavra “socialismo” e tentando desacreditar aqueles que o fazem. Pode questionar-se o “socialismo do século XXI” - eu próprio tenho reservas e preocupações em relação a alguns desenvolvimentos recentes na Venezuela - mas a esquerda européia deverá ter a humildade para reaprender, com a ajuda das esquerdas latinoamericanas, a pensar em futuros pós-capitalistas.

Segundo, a frase espontânea do Rei de Espanha, seguida do ato insolente de abandonar a sala, mostrou que a monarquia espanhola pertence mais ao passado da Espanha que ao seu futuro. Se, como escreveu o editorialista de El País, o Rei desempenhou o seu papel, é precisamente este papel que mais e mais espanhóis põem em causa, ao advogarem o fim da monarquia, afinal uma herança imposta pelo franquismo. Terceiro, onde estiveram Portugal e o Brasil nesta Cúpula? Ao mandar calar Chávez, o Rei falou em família. O Brasil e Portugal são parte dela?


Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

A espiral do jornalismo mazombo

Arnaldo Jabor lamentou: "Pena que não haja um rei português para dar um esculacho na malandragem de Brasília". Ao mandar Chávez se calar, o rei da Espanha fez ressurgir, no Brasil, uma perversão colonialista recalcada. A análise é de Gilson Caroni Filho.

Ao mandar o presidente Chávez se calar na Cúpula Ibero-Americana, o rei da Espanha, Juan Carlos, deixou duas coisas evidentes: a primeira foi o ressurgimento no campo político de uma perversão colonialista recalcada. A segunda, de fácil comprovação pelo regozijo provocado em colunas e editoriais, foi a confirmação de que a imprensa brasileira se move a partir de alguns dos pressupostos da Teoria da Espiral do Silêncio, de Elisabeth Noelle-Neumann.

Uma leitura ligeira permite identificar o viés ideológico dos atores que são escolhidos "como definidores primários" da conjuntura latino-americana. Autoridades e analistas políticos vinculados organicamente à matriz neoliberal avalizam a tematização necessária. Pluralidade de opiniões e pensamento crítico são penduricalhos dispensáveis. O que importa é estabelecer a agenda que melhor demonize dois alvos: as novas lideranças andinas e a política externa do governo brasileiro.

O "por que não se calam" do campo jornalístico não é feito a partir de um grito intempestivo, embora com ele se identifique plenamente. A consonância na divulgação de notícias e opiniões requer engenho dos profissionais e uma estruturação azeitada dos principais veículos.

Caudilhos e protoditadores
No caso do presidente Lula, a fórmula é tão repetida que pode ser resumida facilmente. Trata-se de afirmar sucessivas ignorâncias associadas a uma perigosa visão de democracia com a qual ele volta e meia flertaria. Para obter apoio dos consumidores de noticiário, a representação solicitada pelo pensamento conservador pede que se apresente o projeto bolivariano como expressão de uma democracia plebiscitária em que Chávez manipule poderes constituídos e divida a sociedade venezuelana. Quem assim não enxerga ou padece de ingenuidade incurável ou é intelectual stalinista.

O esforço conjunto é de tal monta que, entre os principais articulistas, a diferença reside tão-somente na empresa para a qual vendem sua força de trabalho. A padronização do conteúdo leva ao célebre "leu um, leu todos".

Talvez algum leitor deste Observatório não tenha percebido, mas há cinco anos, com pequenas variações temáticas, o mesmo texto está presente em redações distintas. Construir uma linha do tempo, destacando os fatos mais relevantes desde a chegada de lideranças populares ao poder, é falar obrigatoriamente de populismo, caudilhos e protoditadores. Todos envolvidos, de uma maneira ou de outra, em ações para ampliar seus poderes, pondo em risco a democracia representativa.

"A mão do império"
Em 2 de junho de 2007, Miriam Leitão afirmava, na sua coluna no Globo:

"O que está acontecendo na Venezuela é perigoso e nos diz respeito, porque ameaças à liberdade dizem respeito aos democratas em geral. O governo brasileiro, que na greve geral interferiu no conflito interno fornecendo gasolina para furar a greve, agora usa o biombo da não-interferência para, de novo, ser ambíguo. O presidente Lula fez uma fraca declaração em defesa do Senado e seu principal assessor, ao seu lado, deu razão e defende Hugo Chávez. O episódio mostra a profundidade das convicções democráticas de certos assessores presidenciais."

No mesmo jornal, em 21 de janeiro, Merval Pereira, registrava que...

"...o interessante é que a mesma armadilha em que as oposições foram apanhadas pelo populismo, em termos de Estado apanha desarmado o Brasil de Lula diante da nacionalização do gás na Bolívia, por exemplo, e da ameaça de nacionalização do petróleo no Equador e de energia na Venezuela. É a retórica do `mais fraco´ contra o imperialista regional, no caso o Brasil. Foi o que o presidente da Bolívia, Evo Morales, cobrou de Lula na reunião do Mercosul para aumentar o preço do gás".

Editorial do Estado de S.Paulo (22/9/2007) não deixa dúvidas:

"Não teria mesmo cabimento o Brasil se submeter ao supremacismo de Caracas. Já a questão política é a do ingresso da Venezuela no Mercosul, que depende do voto do Senado brasileiro. Em junho, o desbocado ditador acusou o Congresso de `papagaio dos Estados Unidos´ por não haver ainda aprovado a entrada. Agora, retomou a `grossura´ da submissão aos EUA, dizendo que `a mão do império, a mão norte-americana´ está por trás do atraso."

"Tudo tem limite"
São textos escritos em tempos diversos, mas, para a grande imprensa, pensar integração regional em termos solidários não faz qualquer sentido. Ou a concebemos em termos de soma zero, ou o agendamento nos remete ao silêncio espiral. Para os que ousam uma reflexão alternativa, as melhores redações de Pindorama, a título de sugestão, indagam: por que não se calam?

Se tiver oportunidade de ler os articulistas da página 2 da Folha de S.Paulo, o rei franquista verá que em solo brasileiro não lhe falta apoio. Carlos Heitor Cony lamenta: "Nunca perdoarei a Chávez a oportunidade de se dar razão a um rei."

Eliane Cantanhêde reflete sobre o episódio:

"Rodou mundo a cena em que o rei Juan Carlos, da Espanha, mandou o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, calar a boca. `Por que não se cala?´, irritou-se ele, interrompendo um jorro de impropérios de Chávez contra o ex-presidente espanhol José María Aznar, a quem chamava de `fascista´. O rei é adversário de Aznar, mas tudo tem limite".

Quem disse a ela que o ex-premiê e o monarca espanhol se encontram em pólos opostos é um mistério, mas isso tem pouca importância.

O cargo de bobo da Corte
Clóvis Rossi lembra que...

"...para quem não acompanhou, Chávez insistiu mil vezes em chamar de `fascista´ o ex-presidente do governo espanhol, José María Aznar, até que o rei da Espanha, usualmente a mais cordial e cavalheiresca figura do mundo político, lhe apontou o dedo com uma frase curta e grossa (de contundente): `Por qué no te callas?´".

Se os criollos aplaudem El-rey, não serão os mazombos da imprensa nativa que negarão apoio ao mestiço que chegou à presidência no Vice-Reino da Prata. No Jornal da Globo (13/11), Arnaldo Jabor lamentou: "Pena que não haja um rei português para dar um esculacho na malandragem de Brasília". Nesse último caso, fica um ensinamento. É assegurada total liberdade de expressão a quem aspire ao supremo cargo de bobo da Corte. Espiral mazombeira é coisa fina.

Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa
Algo nos trilhos além dos trens de carreira

Alemanha e França passam por grandes movimentos grevistas no setor ferroviário. Além das reivindicações específicas dos trabalhadores, o momento indica um acúmulo de insatisfação social, política e econômica. Mas os governos conservadores, sobretudo o de Sarkozy, na França, decidiram enfrentar a maré, porque sabem o que está em jogo.

BERLIM - Há algo nos trilhos além dos trens de carreira, se me permitem parodiar o Barão de Itararé. Os momentos eleitorais vão confirmando o assente conservador pela Europa afora. Primeiro foram a Polônia e a Suíça, aquela afastando um governo de extrema-direita em favor de um de centro-direita, esta reelegendo um governo de direita com laivos de xenofobia. Depois, mais recentemente, a Dinamarca confirmou seu governo conservador.

Ao mesmo tempo, no espectro à esquerda e nos movimentos de trabalhadores as tintas vão se carregando de tons mais rubros do que o comum nas últimas décadas.

Na Alemanha os ferroviários vêm há mais de um mês fazendo paralisações com datas definidas, elevando a intensidade e a duração das mesmas. Na semana passada os trens de carga e de passageiros, mais os trens que se poderiam chamar de “suburbanos” em muitas cidades, inclusive em Berlim, pararam totalmente. E o movimento continua, agora com ameaças de uma greve por tempo indeterminado.

A malha ferroviária da Alemanha é importantíssima não só para o país como para a Europa inteira. Sem os trens alemães as indústrias belgas e holandesas, além de outras, param completamente. Na Alemanha uma greve prolongada no sistema pode provocar problemas de desabastecimento de tudo, e agora em pleno fim de outono e começo de inverno.

Ao contrário do que se pensa no Brasil, o transporte ferroviário na Europa e, em particular, na Alemanha é muito caro, e, se é extenso e intenso, tem uma certa aura de ineficiência. Os metrôs urbanos e suburbanos não: são caros para o turista, menos caros para o usuário cotidiano (um passe mensal para o metrô de Berlim, urbano e suburbano, custa 70 euros, mais ou menos 170 reais), mas são eficientes.

Esta greve na Alemanha tem motivações salariais imediatas. Dados de pesquisa mostram que, embora longe do que se vê no Brasil, a concentração de renda na Alemanha está aumentando, e trava-se uma batalha infindável em torno do sistema de seguridade social, com os conservadores empilhando propostas de restringi-los passo a passo. Na linha de frente da greve estão os maquinistas e seu sindicato. Mas outras categorias de trabalhadores ferroviários ameaçam também entrar em greve se as eventuais vantagens obtidas pelos maquinistas não lhes forem estendidas.

Na mais recente escaramuça da batalha houve um cisma no governo de coalizão entre democrata-cristãos (conservadores) e social-democratas (menos conservadores), que pode ter conseqüências maiores na organização política do país e da Europa. O vice-primeiro-ministro e ministro do Trabalho, Franz Müntefering, do Partido Social-Democrata (SPD), renunciou a seus cargos há cerca de dez dias. Müntefering pertence a uma geração de políticos da social-democracia que, liderados por Gehrard Schröder, se aproximaram do pensamento conservador da União Democrata-Cristã (CDU), da primeira-ministra Angela Merkel. Introduziram reformas de caráter liberal no corpo da seguridade social e da administração pública alemã.

Respeitado e tido como político sóbrio, Müntefering era o fiel da balança, pelo lado social-democrata, da coalizão que governa a Alemanha desde a vitória apertada do partido de Merkel. Em público, explicou que sua saída se devia a razões pessoais, pois sua esposa está em fase delicada de doença incurável. Entretanto, o cenário político apertou-se consideravelmente para ele, o que pode ter determinado a decisão.

No plano imediato Müntefering viu-se numa posição difícil porque o governo de Merkel decidiu majoritariamente não atender a uma das proposições de seus aliados do SPD, qual seja, a de estabelecer um salário mínimo para os trabalhadores dos Correios, outro setor vital da economia alemã. Isso acabou de puxar o tapete sob os pés do ex-ministro do Trabalho, já que seu partido, o SPD, semanas atrás deu uma leve guinada para a esquerda, sob a liderança de Kurt Beck, de quem se diz que pretende disputar as futuras eleições contra Merkel.

Mas deve-se levar em conta também que a greve no setor ferroviário vem mostrando que o chão descortinado pelo SPD para se aproximar da direita conservadora terminou. Pressionado pela esquerda devido à criação do novo partido Die Linke (A Esquerda) e pela direita pela política até agora bem sucedida de Merkel de substituir direitos sociais mais amplos por projetos assistenciais dirigidos (a minorias, mulheres, por exemplo), o SPD de Müntefering está sob a ameaça de, se não de extinção, pelo menos de anorexia. A bola está nos pés de Beck e desta possível guinada um pouco mais à esquerda do SPD, que satisfez a maioria da ampla base sindical, intelectual e outras do partido, e que pode reorientar o cenário político da nação mais rica da Europa.

Na França, onde também se realiza uma greve no setor ferroviário, a situação é mais dramática e mais complexa. A greve seguiu o modelo do “tempo indeterminado”, e tem por motivo central a reforma pretendida pelo governo de Nicolas Sarkozy no setor previdenciário, eliminado as aposentadorias especiais do setor. Sarkozy parece decidido a ser o equivalente ao que foi Margareth Tatcher na Grã-Bretanha, ao final do século passado. Em episódio hoje reconhecido como lapidar, a greve dos mineiros de carvão, a conhecida “dama de ferro” dobrou o sindicalismo inglês numa batalha histórica, da qual aquele até hoje não se recuperou. No Brasil o modelo foi seguido pelo primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso na conhecida greve dos petroleiros logo no albor de seu primeiro mandato.

Sarkozy, que diz não querer recuar de seus projetos de reformas fortemente liberais numa França de cerrada legislação de seguridade social, parece estar determinado a levar o sindicalismo francês a uma espécie de Waterloo (o exemplo vem a calhar), para aplainar seu caminho em direção a uma projetada França “modernizada”. Apesar disso, seu primeiro ministro, François Fillon, fez um chamado à negociação, aceito pelos sindicatos do setor ferroviário. A partir de quarta-feira governo e sindicalistas, mais direções das ferrovias estarão reunidos para negociar.

Ocorre que a greve nas ferrovias – que atinge a França inteira – é apenas a ponta, ainda que gigantesca, do enorme iceberg à frente do governo conservador. Na terça-feira passada trabalhadores de vários setores públicos e outros fizera uma paralisação de solidariedade aos ferroviários, mas também levantando suas causas próprias, que colidem frontalmente com as pretendidas reformas de Sarkozy. Isto se dá num momento em que estudantes do ensino superior ocupam faculdades e universidades pela França inteira, também se opondo ao que consideram como um projeto de privatização do setor pelo governo ainda novo, mas já com determinações de estilo politicamente agressivo.

Para Sarkozy, essa batalha pode ser também seu próprio campo de Waterloo, pois sua popularidade está em baixa, e seu projeto político exige a manutenção de um perfil extremamente pró-ativo e agressivo de política, ainda que ele tenha tentado refinar seu discurso nos últimos momentos. Embora o sistema francês seja parlamentar, o presidente (ao contrário, por exemplo, da Alemanha) tem um papel importante na política cotidiana.

Ninguém fala no governo “do primeiro ministro Fillon”: não, trata-se do “governo de Sarkozy”. Uma derrota para os grevistas, ou mesmo um mero “empate técnico”, em que o governo recue alguns centímetros nas suas proposições, poderiam abrir uma cratera no chão do estilo de ação deste político que quer demonstrar ser um atleta carregado de “fitness” para cumprir o papel de novo corifeu do novo “liberal way of life” que os conservadores pretendem seja a sua “road to happiness”.

Na Alemanha e na França, pois, jogam-se os dados neste momento de um novo desenho da política na Europa Ocidental. Não haverá mudanças dramáticas, é verdade, mas poderão ocorrer inflexões significativas que levem a elas mais tarde, com reflexos decisivos para a América Latina, que detém hoje conspicuamente os governos mai
s à esquerda em escala mundial.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

EL TOPO, Alejandro Jodorowsky (1970)



Direção: Alejandro Jodorowsky
Gênero: Faroeste
Origem: México
Créditos: RapaduraAzucarada - lusinha

Formato: rmvb
Áudio: Espanhol
Legendas: Português BR
Duração: 125 minutos
Tamanho: 350 MB
Dividido em 04 Partes
Servidor: Rapidshare



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Sinopse: "El Topo" é um pistoleiro todo vestido de preto que vaga pelo mundo sem motivo aparente, ajudando as pessoas em seu caminho. O filme apresenta um mundo deserto e sádico onde predomina a cultura mexicana, o culto às armas e ao fanatismo; uma jornada pelo surreal repleta de simbolismos e imagens impactantes.


Elenco:
Alejandro Jodorowsky
Brontis Jodorowsky
José Legarreta
Mara Lorenzio


Citação:
Antes de se ver El Topo, há de se ter em mente o universo em que se encontra. Ele é um western, mas se passa longe do tempo das diligências de John Ford e John Wayne, tampouco do faroeste escrachado, o clássico bangue-bangue (onde as balas se multiplicam no revólver do mocinho). Ele se aproxima mais do western spaghetti - pode-se inclusive considerá-lo uma homenagem ao gênero - mas vai além. É como uma mistura bizarra de Leone e Buñuel. E Fellini. Um mundo deserto e sádico onde predominam a cultura mexicana, o culto às armas e o fanatismo. Uma jornada pelo surreal repleta de simbolismos e imagens impactantes - isto sim é El Topo.

O nosso herói chamado 'el Topo' (literalmente, a toupeira) é um pistoleiro todo vestido de preto, interpretado pelo próprio diretor Jodorowsky, que vaga pelo mundo sem motivo aparente, ajudando as pessoas em seu caminho. Ele seguiria a mesma linha do herói transcendente sem nome de Clint Eastwood e Yojimbo, mas ele tem uma companhia um tanto inusitada, que é seu filho pequeno Brontis. Ao contrário de el Topo, o garoto não usa roupa alguma, apenas um chapéu e, eventualmente, uma arma na mão. Logo na cena inicial, vemos os dois andando a cavalo até um relógio solar no meio do deserto aonde o garoto - que estava completando sete anos - deve enterrar seu brinquedo preferido de criança e um retrato da sua mãe. Este simbolismo de se livrar de suas posses para poder crescer será recorrente durante o filme. Eles continuam a vagar pelo deserto, até chegarem numa vila, completamente massacrada; cavalos e bodes desvicerados, pessoas mortas estiradas no chão, uma delas enfiada numa estaca, rios de sangue cortando as ruas, dezenas de noivas estupradas e degoladas na porta da igreja. Dentro desta, dezenas de noivos enforcados. Na porta, um homem se arrasta e pede para ser morto. El Topo dá o revólver a seu filho, que atira no homem e depois abraça o pai. Toda esta cena serve como um batismo ao pequeno Brontis, desde o enterro de sua vida passada (a vida de criança) até quando ele cruza o rio de sangue e tem sua primeira morte.
Por Roberto Ribeiro
http://www.cineplayers.com/critica.php?id=466



Screen Shots:






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