sábado, 14 de junho de 2014

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terça-feira, 10 de junho de 2014

Os cotistas desagradecidos | Portal Geledés

Os cotistas desagradecidos


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Família de Albino Postali e Rosa Frizera Postali_ Caxias do Sul _ 1911_ Foto de Primo Postal
Por Tau Golin*, em  Sul 21
A incoerência é típica dos desagradecidos. É o auge da hipocrisia individualista, o que há de mais nojento no ser humano. A cena patética de cuspir no prato e enfumaçar a história.
Depois que o Brasil começou recentemente a política de cotas, a algaravia da intolerância tomou conta do país. A cota, no geral, é um pequeno acelerador para retirar as pessoas da naturalização da miséria, um meio temporário de correção histórica da condição imutável da pobreza. Se a política de cotas é essencial em sociedades estratificadas, pode-se imaginar a sua necessidade neste Brasil amaldiçoado pela escravidão e etnicídio dos povos indígenas.
Nos meios de comunicação observa-se o triunfo de uma enganosa ética do trabalho, o elogio do esforço individual, como se seus porta-vozes levantassem como fênix das cinzas das dificuldades para o voo da prosperidade. Gente empobrecida, ao mesmo tempo, amaldiçoa os cotistas, culpando-os pela sua condição de pouco progresso, apesar de trabalharem a vida toda como jumentos. Invariavelmente realizam o elogio do trabalho, do esforço pessoal, sem questionarem aqueles que acumulam os produtos de seu esgotamento e imutabilidade social.
Nos ambientes sociais, invariavelmente, escuto descendentes de imigrantes condenarem a política de cotas. São ignorantes ou hipócritas. A parte rica do Rio Grande do Sul e outras regiões do Brasil é o presente de cotistas do passado. As políticas de colonização do país foram as aplicações concretas de políticas de cotas. Aos servos, camponeses, mercenários, bandidos, ladrões, prostitutas da Europa foi acenado com a utopia cotista. Ofereceram-lhes em primeiro lugar um lugar para ser seu, um espaço para produzir, representado pelo lote de terra; uma colônia para que pudesse semear o seu sonho.
E lhes alcançaram juntas de bois, arados, implementos agrícolas, sementes, e o direito de usar a natureza – a floresta, os rios e minerais – para se capitalizarem. No processo, milhares não conseguiram pagar a dívida colonial e foram anistiados. E quando ressarciram foi em condições módicas.
Sendo cotistas do Brasil puderam superar a maldição de miseráveis, pobres, servos, e de execrados socialmente. Muitos sequer podiam montar a cavalo, hoje, seus descendentes são até patrões de CTG, mas condenam as cotas, a mão, a ponte, o vento benfazejo, que mudaram a vida de suas famílias.
No início, no século XVIII, sobre os territórios dos charruas, minuanos, kaingangs e guaranis se aplicou a cota de “sesmaria”, um módulo de algo em torno de 13.000 (sim, treze mil) hectares. Se exterminou dois povos nativos para se formar a oligarquia. Em seguida, na metade do mesmo século, aos casais açorianos, destinaram-se “datas”, equivalentes a 272 hectares. No século XIX, aos imigrantes, concederam-se as “colônias”, de mais ou menos 24 hectares. E vieram as colonizadoras particulares e as secretarias do Estado sobre os territórios dos kaingangs e guaranis. E depois a reforma agrária. E mais os programas de expansão da frente agrícola no Brasil central, no Mato Grosso e na Amazônia, com filhos do Rio Grande, na maioria as primeiras gerações dos imigrantes.
Portanto, o Rio Grande é o produto dos cotistas, os quais demandaram sobre outras regiões do país.
E nesta história, a conclusão é óbvia: dificilmente se encontra um indivíduo que não tenha tido familiar cotista. A formação do mercado capitalista de força de trabalho é outra conversa. Faz parte do sistema. Como integra a perversão social o fato histórico de que os proprietários tendem ao individualismo, à baixa solidariedade, ao acúmulo sem compromisso cidadão. Demonstram isto os herdeiros dos cotistas do passado e dos programas de incentivos recentes, com a discriminação, a falta de solidariedade, exacerbado racismo, e o típico deboche dos idiotas.
*Tau Golin é jornalista e historiador.
-
Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Um olhar brasileiro sobre os Hereros: em filme e exposição, fotógrafo apresenta a fascinante etnia africana - Por dentro da África

Um olhar brasileiro sobre os Hereros: em filme e exposição, fotógrafo apresenta a fascinante etnia africana





Hereros em Angola - Sergio Guerra - Divulgação 

Natalia da Luz, Por dentro da África




Rio – Eles vivem entre a Namíbia, Angola e Botswana, localizados no sul do continente africano, há mais de 2.500 anos. Um
dos grupos étnicos mais antigos da humanidade, os hereros, formam uma
sociedade surpreendentemente evoluída, fascinante, que mesmo tão próxima
dos sinais de tecnologia e desenvolvimento, conserva uma cultura
tradicional, que certamente tem muito a ensinar. Toda essa riqueza que
preenche o dia a dia dos hereros é retratada no trabalho de um
brasileiro, que há cinco anos acompanha uma comunidade na Namíbe, em
Angola.


- Eu pensei como que uma cultura que está tão perto da sociedade
moderna poderia sobreviver, permanecer tão firme nos dias de hoje.
Comecei então a planejar a possibilidade de descobrir e de compreender
melhor a vida deles – explica, em entrevista exclusiva ao Por dentro da África,
Sérgio Guerra, o fotógrafo e produtor cultural responsável por
“Hereros”, exposição que já rodou o Brasil e a Europa (agora está em
exibição no Centro Cultural Conde Duque, em Madrid, com a curadoria de
Emanoel Araujo).


Hereros em Angola - Sergio Guerra - Divulgação


Durante os últimos cinco anos ele investigou, acompanhou, vivenciou a
cultura dos hereros. A convite do governo de Angola, ele desembarcou no
país e, escalado para acompanhar uma gravação do programa “Nação
Coragem”, da TV estatal, o pernambucano visitou as regiões de Huila e
Namibe, onde fez as primeiras imagens dos mukubais, um dos subgrupos dos
hereros. Aquele primeiro contato, no ano de 1997, foi uma porta que se
abrira para um novo sentido na vida de Sérgio, que também produziu um
documentário de longa-metragem sobre a vida dos hereros.


Sete anos depois, ele retornou descobrindo os muhimbas, muhakaonas,
mudimbas, muchavicuas, cada um com suas particularidades, rituais,
maneiras de se comportar. E mais uma vez ele percebera que a história
dos hereros precisava ser contada ao mundo. Acompanhado do intérprete
Martins (que fala não apenas o herero, mas os dialetos mukubla e
hakaona, por exemplo), ele mergulhou, em junho de 2009, no cotidiano da
comunidade em uma temporada de 60 dias com uma caravana de 17 pessoas.


Hereros em Angola - Sérgio Guerra - Divulgação-
Eu aprendi a conviver com uma cultura única. Eles não devem ser
subestimados, não podem ser julgados a partir dos valores que estão
enraizados em nossa cultura. Eles cultivam a solidariedade, praticam
economia familiar, onde o maior beneficiário é o coletivo. Isso sim é um
exemplo para a sociedade – conta o fotógrafo,  com brilho nos olhos,
que assina a exposição vista por mais de 200 mil pessoas.


O país que passou por uma violenta guerra civil (de 1975 a 2002) que
poupou poucas regiões, como a capital Luanda, selou a paz entre os povos
e mantém,  hoje, os hereros em uma região, apesar de não existir uma
demarcação oficial de terras para eles. Sérgio conta que o governo
permite que eles fiquem dentro do Parque Nacional do Iona (em Namibe) e
em outras áreas que  agora começam a ser ocupadas por grandes
fazendeiros.


Genocídio na vizinha Namíbia


As fronteiras de Angola com os vizinhos Botsuana e Namíbia - Divulgação Durante
a partilha da África Negra, entre 1904 e 1907, os hereros sofreram um
dos maiores genocídios do século XX, segundo a ONU. Em 12 de janeiro de
1904, eles organizaram uma revolta contra o domínio alemão na Namíbia e
foram brutalmente reprimidos sob ordem do general Lothar Von Trotha.
Cerca de 60 mil hereros (70% da população da época) e 10 mil namaquas
(50% da população) morreram, principalmente, de inanição e envenenamento
por parte das tropas alemãs.


Hereros em Angola - Sergio Guerra - DivulgaçãoEm
1985, a ONU reconheceu o caso como uma das primeiras tentativas de
genocídio no século XX. Em 2004, no 100º aniversário do
conflito, Heidemarie Wieczorek-Zeul, ministra do desenvolvimento da
Alemanha, se desculpou oficialmente pela primeira vez e manifestou pesar
sobre o genocídio cometido pelos alemães, declarando: “Nós, alemães, aceitamos a nossa responsabilidade moral e histórica e a culpa pelos atos realizados pelos alemães na época.


Na Namíbia, Sérgio explica que os hereros são identificados como os
que usam vestimentas tradicionais, já os subgrupos são chamados pelo
nome, como os himbas. Em Angola, apesar de se tratarem como subgrupos
(mukubais, muhimbas, muhakaonas…), poucos se referem à etnia herero por
falta de conhecimento sobre suas origens.


- É por essa identificação que eles toleram os casamentos entre os
diferentes subgrupos e se reconhecem como família – ressalta o
brasileiro.


Patrimônio


Hereros em Angola - Sergio Guerra - DivulgaçãoOs
hereros desconhecem a importância do dinheiro que circula no país. O
kwanza (moeda de Angola) não é usado em seus negócios, diferentemente do
gado que representa o maior patrimônio para eles. Quanto mais gado,
mais rico o homem é. E essa riqueza ele distribui entre a família para
que todos cuidem dela.


- Eles se ajudam emprestando os animais entre si, mas a venda do gado
deve ser uma decisão mais familiar. Há muito pouco contato com o
dinheiro, mas isso está aumentando nos dias atuais. Antes, entre os
himbas, só se falava em rands namibiano e agora eles já usam o kwanza.
Os comerciantes preferem fazer tudo a partir da troca, o que é muito
mais lucrativo para eles – explica o brasileiro.


O povo usa o leite da vaca para produzir o óleo que passa sobre o
corpo. A mistura que também contém ocre e plantas é uma espécie de banho
para os hereros, um importante traço da cultura deles e uma maneira de
manter o corpo limpo e protegê-lo do sol.


Relações conjugais


Entre os hereros, Sérgio destaca a relação predominantemente
patriarcal, com deveres bem claros para cada um dos membros da família:
os homens cuidam dos bois (o maior patrimônio para um herero); as
crianças, dos cabritos e as mulheres cozinham, tiram o leite das vacas e
cuidam da horta e das crianças.


Hereros em Angola - Sergio Guerra - DivulgaçãoA
poligamia é um aspecto que também caracteriza os hereros, mas ela não é
permitida apenas para os homens. A mulher pode ter namorados, mas, se
por acaso, o marido não gostar de algum, rapidamente ela se afasta para
não gerar conflito na família. Oferecer a mulher (ou uma delas) para
dormir com um amigo ou convidado é sinal de gentileza entre eles.


- A mulher tem os seus deveres, mas também tem os seus direitos. Ela é
respeitada e se não quiser praticar sexo, ela não o fará nem mesmo
à força. Quando a mulher fica grávida, o filho será de responsabilidade
do marido (independentemente se ele for o pai) – afirma Sérgio,  que
acompanhou não apenas a relação familiar, mas todos os rituais que
compõem a vida dos hereros, desde o nascimento até a morte.


O casamento na infância 


Os hereros podem se casar aos 3, 4, aos 10 anos a partir de uma
negociação feita entre os pais do pretendente e da noiva. De acordo com
Sérgio, o pretendente vai até à família da noiva e propõe o casamento.
Se aceito pelos pais da noiva, ele passará a ser o provedor da
futura esposa, que viverá com os pais até estar preparada para o
casamento (o que acontece após a primeira menstruação e sua iniciação
sexual).


- O marido será responsável por alimentar e cuidar dessa mulher. Após
a primeira menstruação, ela passa por uma iniciação sexual realizada
com os primos. Após um período (que pode durar alguns meses), ela vai
para a casa do marido e se, por acaso, ela não gostar dele, ela não será
obrigada a ficar. Mas uma coisa é importante: no futuro, os filhos dela
com outro homem serão deste marido, a menos que um segundo pretendente
negocie com o primeiro pretendente e arque com suas dívidas – explica.


Hereros em Angola - Sergio Guerra - DivulgaçãoConsiderado
da família, Sérgio, que vive em Angola e visita os hereros com
frequência, tinha liberdade para acompanhar o cotidiano do povo,
inclusive seus momentos mais importantes como nascimento, batismo,
casamento e funeral. Desta relação, o pernambucano ganhou um nome de
batismo em herero: Twamunacó, que significa “alguém que confiamos”.
Os  hereros também entenderam que tinham a possibilidade de se tornarem
protagonistas de sua própria história e de serem beneficiados com esse
trabalho tão especial do brasileiro que mantém com eles uma relação de
amizade que emociona quem assiste. O documentário “Hereros Angola” tem
estreia prevista para o Festival Jan Rouch, na França.


- A expectativa é que consigamos que estas populações possam ter mais
acesso à saúde e educação sem comprometer a cultura e a forma de
viver. Existe um exercício de aceitar e respeitar uma cultura que não é
sua. Quando você decide se abrir e aceitar as pessoas da maneira como
elas são, isso muda você”


Confira a exposição virtual aqui e o trailler do documentário abaixo



Por dentro da África

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