sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Terror e fome em Gaza

O genocídio engolfa a Palestina, e os espectadores assistem impávidos

Um genocídio esté engulindo o povo de Gaza, enquanto o silêncio engolfa os seus espectadores. "Cerca de 1,4 milhão de pessoas, sobretudo crianças, amontoam-se em uma das regiões mais densamente povoadas do mundo, sem qualquer liberdade de movimento, sem lugar para escapar e nenhum espaço para esconder", escreveram o artigo W.Egeland, alto responsável das Nações Unidas pela ajuda e Jan Eliasson, então ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia, em Le Fígaro. Eles descrevem um povo "a viver numa jaula", isolado por terra, mar e ar, sem qualquer energia confiável e com pouca água, e torturado pela fome, pela doença e por incessantes ataques de tropas e aviões israelenses.
Egeland e Eliasson escreveram isto quatro meses atrás, numa tentativa de romper o silêncio na Europa, cuja aliança obediente aos Estados Unidos e Israel tem procurado reverter o resultado democrático que levou o Hamas ao poder nas eleições palestinas do ano passado. O horror em Gaza aumentou desde então: uma família de 18 membros morreu debaixo de uma bomba americano-israelense de 500 libras [227 kg]; mulheres desarmadas foram despedaçadas com disparos a curta distância. O Dr. David Halpin, um dos poucos britânicos a romper o que ele denomina "o cerco medieval", relatou a morte de 57 crianças por meio de artilharia, rockets e armas ligeiras e mostrou provas de que os civis são os verdadeiros alvos de Israel, como em Leba no verão passado. Um amigo de Gaza, o Dr. Mona el-Farra, enviou-me uma mensagem: "Vejo os efeitos dos incessantes booms sónicos [uma punição colectiva da força aérea israelense] e da artilharia na minha filha de 13 anos. À noite, ela treme de medo. Assim, ambos acabamos encolhidos no chão. Tento fazê-la sentir-se segura, mas quando as bombas soam tenho medo e grito…
A desculpa para a última vaga de terror israelense foi a captura, em Junho último, de um soldado israelense, integrante de uma força de ocupação ilegal, pela resistência palestina. Isto foi notícia. O sequestro de dois palestinos por Israel uns poucos dias antes – dois dos milhares capturados ao longo de anos – não foi notícia. Um historiador e dois jornalistas estrangeiros relataram a verdade acerca de Gaza. Todos os três são israelenses. Muitas vezes são chamados de traidores. O historiador Ilan Pappe documentou que "a política genocida [em Gaza] não é formulada num vácuo" e sim parte da deliberada e histórica limpeza étnica do sionismo. Gideon Levy e Amira Hass são repórteres dos jornal israelense Haaretz. Em Novembro, Levy descreveu como o povo de Gaza começava a morrer de fome: "Há milhares de feridos, incapacitados e pessoas atingidas por granadas, incapazes de receber qualquer tratamento… Sombras de seres humanos perambulam pelas ruínas… Elas só sabem que [o exército israelense] retornará e sabem o que isto significará para si próprias: mais aprisionamento nos seus lares durante semanas, mais morte e destruição em proporções monstruosas". Hass, que viveu em Gaza, descreve-a como uma prisão que envergonha o seu povo. Ela recorda como a sua mãe, Hannah, foi transportada num vagão ferroviário para o transporte de gado para campo de concentração nazi de Bergen-Belsen num dia do Verão de 1944". "[Ela] viu aquelas mulheres alemãs a olharem impávidas para os prisioneiros, simplesmente a olharem", escreveu. "Esta imagem tornou-se muito formativa na minha educação, este desprezível 'olhar de lado' ".
"Olhar de lado" é o que fazem aqueles de nós que estão acovardados no silêncio pela ameaça de serem chamados anti-semitas. Olhar de lado é o que fazem demasiados judeus ocidentais, ao passo que aqueles judeus que honram as tradições humanas do judaísmo e dizem "Não em nosso nome!" são insultados como "auto flagelantes". Olhar de lado é o que faz todo o Congresso americano, escravizado ou intimidado por um vicioso "lobby" sionista. Olhar de lado é o que fazem jornalistas "equilibrados" quando desculpam a ilegalidade que é a fonte das atrocidades israelenses e suprimem as mudanças históricas verificadas na resistência palestina, tal como reconhecimento implícito de Israel pelo Hamas. O povo de Gaza clama por melhores dias.


O original encontra-se em http://www.newstatesman.com/200701220021

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