domingo, 10 de junho de 2007

Proposta antimísseis russa desconcerta Estados Unidos
Jorge Petinaud Martínez

Moscou, 9 jun (PL) O protagonismo da Rússia reunião de cúpula dos oito países mais industrializados do planeta (G-8) com sua proposição de usar conjuntamente o radar antimísseis mantido no Azerbaijão constituiu aqui o mais relevante da semana.

O líder russo surpreendeu seu colega norte-americano no encontro que tiveram bilateralmente em Heligendamm, Alemanha, quando lhe propôs compartilhar a base de radar de Gabala, à margem do Mar Cáspio, alugada pela Rússia a Bakú.

A idéia deixa sem justificativa o argumento de proteger a Europa de hipotéticos foguetes iranianos com meios estratégicos norte-americanos instalados na Polônia e na República Tcheca.

“Gabala cobre plenamente toda a região que suscita suspeitas em nossos colegas estadunidenses”, disse o estadista russo à imprensa.

O chefe do Kremlin assegurou que, caso fosse necessário, a Rússia poderia modernizar a base e transferir seus dados on line, o que liberaria Washington da necessidade de instalar grupos de interceptação de mísseis no espaço sideral e evitaria o perigo que isso traz para o mundo.

Assim - sublinhou enfático Putin - já não seria necessário construir um novo radar na República Tcheca nem instalar os 10 foguetes interceptores na Polônia.

A vantagem da proposta russa consiste em que, no caso de um ataque pelos inexistentes foguetes do Irã, estes seriam abatidos na primeira fase de decolagem, e seus restos cairiam no mar, não sobre cidades européias, segundo o estadista.

A proposta se destacou em uma cúpula que terminou mal, com novas e velhas promessas de cumprimento duvidoso, como a de reduzir substancialmente as emissões de gases provocadores do Efeito Estufa.

Também há dúvidas sobre o cumprimento da nova contribuição de 60 bilhões de dólares para lutar contra a AIDS, a malária e a tuberculose na África.

O habitual chamado à retomada das negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) foi percebido também com ceticismo pelos países pobres, pois a atitude intransigente das nações ricas tem bloqueado, até hoje, este processo.

Em meio a este panorama, a iniciativa russa pareceu atraente para Europa, que viu nela um gesto de boa vontade em contraposição à advertência emitida pelo Kremlin há apenas uma semana.

Poucos dias antes da reunião, Moscou realizou testes bem-sucedidos com o ultra-moderno míssil balístico intercontinental (MBI) RS-24 de ogiva múltipla e do tático operacional R-500, do sistema Iskander.

Estes testes coincidiram com a visita a Moscou de José Sócrates, premiê de Portugal, cujo país assumirá a presidência da União Européia (UE) no segundo semestre de 2007.

Nesse sentido, diversos meios de comunicação afirmaram em Moscou que a simultaneidade entre os testes dos foguetes e a presença do chefe do Governo português na Rússia não fora mera coincidência.

Horas depois, o próprio Putin advertiu seus sócios ocidentais de que, caso sejam instalados na Europa elementos do sistema norte-americano de defesa antimísseis, a Rússia reorientará seus foguetes para os alvos correspondentes desta zona.

Por isso, a opção de utilizar conjuntamente os radares de Gabala foi acolhida pelos europeus com surpresa, mas com satisfação.

O jornal britânico The Financial Times fez eco desse ponto de vista ao qualificar a iniciativa, como “racional”, por abrir a possibilidade de abandonar as disputas em torno do sistema antimísseis, que, assim, deixaria de ser um projeto "transatlântico".

A publicação elogia a iniciativa e ressalta que a mesma pode abrir uma etapa sem precedentes de cooperação militar entre Moscou e o Ocidente.

A mensagem de Putin para a Europa foi clara, ao afirmar, diante de centenas de jornalistas, que caso este problema se resolvesse não seria necessária a instalação de foguetes russos próximo às fronteiras européias.

A Rússia insiste na necessidade de um debate multilateral no Velho Continente para abortar o projeto de instalação da DAM na Polônia e na República Checa, e, ao que parece, na reunião de cúpula realizada na Alemanha deu-se um passo firme na conquista do importante aliado europeu.

Fonte:PrensaLatina

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