quarta-feira, 18 de julho de 2007




O governador José Serra esteve ontem no local do acidente aéreo do avião da TAM e deu uma entrevista. Seu discurso do ponto de vista formal tinha um tom comedido. Mas o conteúdo foi deplorável. Ele fez de tudo para jogar a tragédia de ontem no colo do governo federal.

Disse, entre outras tantas patacoadas, que havia uma suspeita de que a pista de Congonhas tinha problemas e que isso precisava ser apurado. E que ali no local um promotor público já o acompanhava e que iria organizar uma investigação “independente” para o governo paulista. Também disse que o aeroporto só seria liberado depois que ele tivesse certeza de sua segurança.

Foi necessário que o seu secretário da Justiça entrasse em cena para fazer uma correção e jogar a culpa pelo mal-entendido na imprensa. “Como o aeroporto é administrado pelo governo Federal, o governo do Estado não pode decidir nada em relação a ele. E Serra não disse isso porque sabe que vivemos num sistema federativo”, disse Marrey. Por isso que é bom ter sempre um bom advogado por perto.

Uma parte da mídia já estava seguindo essa linha precipitada de acusação (e não de investigação) de que o acidente tinha relação com o que se convencionou chamar de “apagão aéreo”. Serra só fez reforçar esse tom editorial. Isso é uma demonstração de como não se deve proceder num momento como esses.

Aliás, Serra deveria ser um pouco mais comedido porque sabe bem o que é viver uma tragédia nas barbas do seu governo. Aliás, governador, só por curiosidade, como estão as investigações em relação à cratera do Metrô? Vossa excelência já poderia nos responder sobre qual a responsabilidade do Consórcio que fez as obras? Vossa excelência poderia nos dizer como andam as investigações sobre o tema na Assembléia Legislativa? Está instalada uma CPI para tratar do caso? Vossa excelência já pediu uma investigação “independente”, por exemplo, para a Polícia Federal ou pretende nomear o mesmo promotor que vai tratar do caso de Congonhas?

Pois então, é disso que se trata. Ontem à noite escrevi neste blog que o governo federal tem sua cota-parte de responsabilidade no acidente. E mantenho minha posição. Acho que de fato há um descalabro no setor e que é preciso fazer algo para que isso mude. A crise maior não está na administração do espaço aéreo ou ainda na situação dos aeroportos, que a bem da verdade melhoraram muito nos últimos anos, mas no que tange a atividade comercial em si. As duas maiores empresas que atuam na área têm feito o que bem entendem. E daqui da minha ignorância acho que elas podem estar colocando em risco a segurança dos seus clientes em nome de mais lucros e um maior mercado. É uma sensação de quem lê jornais e vê que a as aeronaves que antes faziam seis pontes-aéreas por dia, hoje fazem nove. E de quem olha para alguns comandantes de vôo e fica impressionado com a juventude que eles têm. Aliás, repito, muitos de nossos pilotos mais experientes estão indo trabalhar na China, na Índia, na África do Sul e em outras partes. Buscam salários justos e melhores condições de trabalho. Ou seja, para bom entendedor...

Acho que o governo federal e a Anac (aliás, que bela invenção essa história de agências reguladoras, hein Serra?, hein, FHC?) têm obrigação de impedir que isso continue acontecendo. Por isso, repito, não considero que o governo federal não tenha nada a ver com essa história. Tem sim e deve agir rapidamente para que o sistema de transportes aéreo no Brasil funcione de forma responsável e segura.

Agora, daí a querer responsabilizá-lo pela tragédia é algo podre. É esse nível de política que faz com que as pessoas sintam nojo dela. Aliás, transformar a política em algo nojento é o que certos setores sempre tentaram fazer. Quanto mais nojenta ela parecer, mais esses setores se locupletam fazendo política para si e para os seus.



PS1: No momento que atualizo o site com este post, leio que o MP paulista pede a interdição de Congonhas. Ou seja, está fazendo o que Serra disse que tentaria fazer na noite de ontem e que Marrey tentou dizer que ele não disse. E só comprova a minha linha de raciocínio, de que há uma exploração política do caso.

PS2: Um leitor também acaba de me enviar texto de um colunista tucano. Ele faz graça com a frase infeliz de Marta Suplicy. A piada do colunista é: “como esse governo, relaxa e morre”. É esse o nível da turma.
Copiado de: BlogDoRovai

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