A guerra secreta dos EUA na
Somália
Somália
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Desde a derrubada do governo somali do Conselho Supremo das
Cortes Islâmicas em janeiro deste ano, as batalhas e a resistência
do movimento islâmico contra o governo-fantoche colocado no
poder pelos Estados Unidos continuam nas ruas de Mogadíscio, a
capital da Somália. A estratégia estadunidense de expandir a sua
área de influência e poder na região do chifre da África (nordeste do
continente), através da mesma estratégia de levar a “democracia e
liberdade” pela qual o mundo ocidental reconhece a criminosa
ocupação no Afeganistão e no Iraque, seqüestrou as vidas de
milhares de civis inocentes também na Somália.
De acordo com a ONU, através de seu enviado especial à Somália,
Ahmedou Ould-Abdallah, da Mauritânia, “a situação humanitária na
Somália é a pior da África”. Diariamente, refugiados lutam para
atravessar o Golfo de Aden para o Iêmen. Cerca de 10 mil fugiram
do país entre janeiro e agosto de 2007, mas muitos outros
simplesmente desapareceram. Em setembro, a ONU relatou que
embarcações com corpos de dezenas de refugiados foram
conduzidas pelas forças de ocupação etíopes até o golfo, onde os
corpos foram abandonados mar adentro.
As forças etíopes invadiram a Somália em dezembro de 2006, sob
ordem direta dos Estados Unidos, para remover o governo do
Conselho Supremo das Cortes Islâmicas. O ministro do Exterior da
Etiópia, Seyoum Mesfin, afirmou que suas tropas “são um exército
de libertação, e não uma força de ocupação”. Apesar disso, a
invasão do país representou um crime contra a soberania da
Somália. O povo somali, em todo momento, se mostrou contra
qualquer intervenção estrangeira em seu país, especialmente vinda
dos Estados Unidos. Essa visão ficou clara através da declaração
da ministra do Exterior da Itália, Patrizia Sentinelli, após uma
reunião com líderes do atual governo-fantoche somali. Segundo ela,
“a presença de forças etíopes na Somália é inaceitável para o povo
somali”. Mesmo assim, chegou ao país a conhecida bandeira de
“democracia e liberdade” estadunidense e, como de costume, o
povo é quem pagou o preço.
Os interesses estadunidenses na região estão na origem do conflito
que sangra o país africano. Entre eles, a localização geográfica
estratégica do país, rota mundial do petróleo, e o controle do próprio
combustível. “O Conselho Supremo das Cortes Islâmicas é apenas
um pretexto”, afirma Jama Mohamed, da Organização Somaliana
para o Desenvolvimento Comunitário. “O principal interessado na
crise são os Estados Unidos”. Empresas estadunidenses têm
concessão para a exploração do recurso natural em todo o país,
mas empresas chinesas rivais têm ameaçado o domínio dos EUA.
“Os interesses dos Estados Unidos estão claros desde 1993 [ano
em que o exército estadunidense protagonizou uma intervenção
malsucedida na Somália], quando eles quiseram condenar o nosso
país apenas à categoria de mero produtor de alimentos”, explica
Mohamed. Em 1993, após um atentado que deixou 18 de seus
soldados mortos, no coração de Mogadíscio, os Estados Unidos
abandonaram a Somália e se recusaram a participar de qualquer
operação de paz em toda a África – inclusive no Genocídio de
Ruanda, em 1994, em que mais de 1 milhão de pessoas foram
mortas, o equivalente a 11% da população do país.
década de 1990. Decretada pela CIA a “talibanização” da Somália
no início de 2006, como os mesmos classificaram o governo do
Conselho Supremo das Cortes Islâmicas, os estadunidenses
primeiro tentaram comprar a “rendição” dos mesmos entre fevereiro
e março, sem sucesso. Para evitar mais uma frente de batalha, o
trabalho sujo foi feito pela Etiópia, subordinada aos Estados Unidos
desde o anunciado plano estadunidense intitulado “Ato para a
Liberdade, Democracia e Direitos Humanos na Etiópia”, do início de
2007.
Depois de décadas de guerras internas, lideranças muçulmanas,
sob a bandeira do Conselho Supremo das Cortes Islâmicas,
finalmente haviam conseguido dar uma unidade à nação somali.
Com a deflagração do conflito promovido pelos Estados Unidos, os
mesmos, que já bombardearam o país atrás de “membros da Al-
Qaeda”, têm revelado a sua constante política de dupla
personalidade que, em última instância, busca fragmentar as forças
internas para enfraquecer qualquer tipo de reação. Como
conseqüência, o antiamericanismo cresceu também em toda a
África, seguindo os exemplos do Oriente Médio e América Latina.
Dessa forma, será difícil encontrar uma nação que receberá, de
braços abertos, novas interferências estadunidenses.
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