segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O Rebaixamento perfeito.

Por Andreas Andreas Müllerr Müller

Em 2005, o Corinthians comprou um título brasileiro que pertencia ao Inter. “Comprou” é pouco: mais preciso seria dizer que roubou descaradamente; que se aproveitou do torcedor brasileiro para desinfetar o dinheiro pestilento da MSI. A escalada da corrupção corintiana atingiu seu cume no dia 20 de novembro de 2005, no Pacaembu. Naquela tarde ensolarada, Márcio Rezende de Freitas não cometeu nenhum erro ao expulsar Tinga. Ele apenas puniu um jogador que ameaçou destruir o esquema fraudulento da MSI. Deliberadamente. Todos sabiam que um pênalti como aquele, claríssimo, poderia tirar o título brasileiro do Corinthians. Marcá-lo era inaceitável. O que aconteceria com os investimentos de Kia Joorabchian? Que explicações restariam para os corleones da máfia russa, que precisavam lavar dinheiro nas águas do sucesso alvi-negro? Convenhamos: ignorar o pênalti e expulsar Tinga foi a única opção de Márcio Rezende.

A torcida corintiana não teve culpa, mas desfrutou de todas as benesses daquele esquema. Mais do que isso: deleitou-se com a conquista do Brasileirão 2005. Os corintianos ergueram aquele troféu e riram, riram muito. Riram com escárnio ante as reclamações legítimas dos gaúchos. Riram de nós, colorados “chorões”. Riram de nossas súplicas pela justiça inexistente do STJD. Riram dos nossos pedidos de socorro à FIFA. Foi por isso que cada um de nós usou um nariz de palhaço naqueles últimos jogos do Brasileirão 2005. No Brasil, quem tenta conquistar algo de forma honesta é sempre motivo de risos.

Mas o roteiro do destino reservou, para os corintianos, uma derrocada lenta e dolorosa – que começaria logo no ano seguinte, com os títulos internacionais do Inter. As conquistas da América e do Mundo foram, em grande parte, frutos da indignação e da inconformidade ante a roubalheira de 2005. O Inter buscou dois troféus que o Corinthians não tem e jamais terá – até porque não estão à venda. Faltou apenas um detalhe para saldar completamente a dívida: faltou privar o Corinthians de uma grande alegria. Deliberadamente. E foi isso que aconteceu neste domingo.

Mas quem disse que entregaríamos o jogo? Ora, o Inter é grande demais para abrir mão da própria nobreza. E por isso lutou. Dividiu bolas, marcou e correu demais para um clube que já não tinha pretensões no campeonato. E até abriu o marcador – o gol de Orozco foi, certamente, o último momento de alegria dos corintianos em 2007. O Inter só cedeu o empate por pressão natural do Goiás, que jogou o tempo todo em rotação máxima. Mas em nenhum momento entregou o jogo; em nenhum momento foi desleal ou desonesto; em nenhum momento se nivelou ao Corinthians.

Por suprema ironia, o rebaixamento do Corinthians aconteceu por causa da arbitragem. O pênalti de Jorge Luiz sobre Vitor foi legítimo, claríssimo – tal como aquele sofrido por Tinga. Clemer defendeu duas cobranças consecutivas, num sinal claro e admirável de que não estava disposto a entregar o jogo. Mas o juiz insistiu. Por puro capricho, Djalma Beltrami concedeu uma terceira tentativa ao Goiás. Prejudicou o Inter e roubou pontos colorados com uma decisão polêmica, discutível e totalmente arbitrária. A diferença é que, desta vez, os corintianos não riram.

O fato é que o rebaixamento do Corinthians foi uma obra-prima do destino. Uma obra irretocável, sublime, de uma perfeição atordoante. Para os ateus e descrentes, foi uma prova avassaladora de que sim, há alguém sentado num plano superior ao nosso. Alguém que nos assiste de cima, que rege nossas glórias e infortúnios com a batuta da Justiça – e que trata de manter as nossas vidas futebolísticas em majestosa harmonia. O rebaixamento do Corinthians cumpriu um roteiro genial, com início, meio e fim. E deixou até uma moral da história: não há dinheiro lavado, jogo manipulado e nem pênalti roubado que escape do apito do grande árbitro do universo.

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