terça-feira, 29 de janeiro de 2008

ALERTA AMARELO: MÍDIA COLOCA A PRÓPRIA "OPINIÃO" ACIMA DA SAÚDE PÚBLICA

Luis Carlos Azenha

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Este é um dos gráficos do ESPECIAL do site do Estadão sobre a febre amarela. É o mapa de áreas de risco para febre amarela no Brasil. Causa um impacto visual e tanto nos leitores. Ou, pelo menos, nos leitores do Estadão. Seguem comentários de leitores que aparentemente gostaram dos gráficos:

"A materia apresentada é esclarecedora e deveria servir de referencia para que a Imprensa (não o Governo) levasse a informação até a população. Minha mulher trabalha em uma conceituada clinica de vacinações, em São Paulo, e eles tem recebido diariamente inumeras solicitações de vacinação e, em todas as vezes, precisam explicar aos interessados que o governo não disponibiliza a vacina para a rede privada sendo exclusiva atribuição do Governo Federal a produção, distribuição e aplicação das vacinas. Quando se analisa a área de risco e a quantidade de pessoas que para elas se deslocam, com os mais diferentes propósitos, em mim fica a duvida se a autoridade competente tem total controle da situação pois, diariamente, aparecem novos casos divulgados pela midia e, o pior, pacientes vão à óbito. Estamos diante de uma epidemia (pelo gráfico só nesse inicio de Janeiro já tivemos 11 casos)? Quais os reais riscos a que nos submetemos (veja o grafico dos anos anteriores)?"

E mais um:

"Esta matéria é a primeira que vejo que esclarece a população. Acho que o Governo Federal ao invés de colocar o engravatado minitro sei lado que da Saúde deveria através de jornais de grande circulação e TV de uma forma bem didática e simples esclarecer e orientar a população. De como se pega, os riscos, os sintomas e a importância de se vacinar nos casos de risco eminente. Com esta falta de informação e o pavor de ficarmos doentes e dependentes de um sistema de saúde falido e podre como é do Brasil, o povo não pensa duas vezes de correr e se vacinar. A opção da vacia tb deveria ser liberada e sem "frescuras" somos nós quem pagamos isso mesmo, então no Brasil é melhor prevenir do que remediar depois, isto é, se tiverem remédios e atendimento de qualidade para atender a demanda. Ou esclarece todo mundo ou vacina sem ficar reclamando da quantidade de pessoas que vão la para tomar sem ao menos estar próximo das áreas de risco."

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O que diz o ESPECIAL do site do Estadão sobre a vacina? "No caso de doença febril, recomenda-se adiar a vacina". Só isso. O Estadão não fala das muitas contra-indicações da vacina, que ela não deve ser tomada por mulheres grávidas, nem por pessoas de mais de 60 anos de idade, nem que a própria vacina pode matar.

Ou seja, os leitores-comentaristas do Estadão dão seus palpites e fica tudo por isso mesmo. Segundo eles, existe uma epidemia, o esclarecimento da população deve ficar por conta da mídia e todo mundo deve se vacinar. Hoje, no entanto, o ministro da Saúde advertiu mais uma vez que pessoas que não precisam da vacina estão se vacinando. Há mais gente internada por conta de efeitos colaterais da vacina do que por suspeita de febre amarela.

Dois médicos, leitores deste site, já fizeram a advertência de que a vacina não deve ser tomada a não ser em caso de real necessidade. Se houvesse, por parte do Estadão, o mínimo de curiosidade, o jornal descobriria a existência de um semanário de epidemiologia publicado pela Organização Mundial de Saúde. Em sua edição mais recente, o semanário faz referência a uma campanha de vacinação no Peru, depois do terremoto de setembro de 2007, na qual houve quatro casos de mortes em 40 mil vacinados, o que levou o governo a suspender a campanha. Pode ser um problema específico da vacina utilizada no Peru - é o que está sendo investigado agora.

Se o pessoal do Estadão tivesse a curiosidade de fazer uma busca no site do Center for Diseases Control (CDC), por exemplo, por desconfiança do Ministério da Saúde, descobriria todas as contra-indicações que os americanos enfatizam, além da descrição detalhada de casos de reação à vacina não só nos Estados Unidos, mas em várias partes do mundo.

Não se trata mais de uma questão de bom ou mau jornalismo. Trata-se de ter ou não responsabilidade com a saúde pública. O ministro Temporão, repito, disse hoje que já há mais pessoas internadas por causa de reações causadas pela vacina do que sob suspeita de febre amarela. Qual deveria ser o papel da mídia neste momento? Informar corretamente os leitores, telespectadores e ouvintes, destacando que a decisão de se vacinar ou não só deve ser tomada depois de avaliar os riscos reais, não o alerta amarelo de colunistas em campanha eleitoral.




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