Amorim no Roda Viva
Eduardo Guimarães
A edição desta semana (de 24/03) do programa Roda Viva, da TV Cultura, recebeu o chanceler Celso Amorim. Para entrevistá-lo, como se poderia esperar de uma tevê supostamente pública, mas que foi transformada em arma política pelos atual governador de São Paulo, foi montada uma bancada de entrevistadores composta pelos mais representativos membros do dito PIG.
A bancada de entrevistadores abrigou a atuação hidrófoba de gente como Eliane Cantanhêde (Folha), Demétrio Magnoli (uma versão "hard" de Ali Kamel) e Lourival Sant'anna (Estadão).
Essas pessoas foram responsáveis por um programa que foi tudo, menos jornalístico. Dedicaram-se a tentar "encurralar" Amorim e, diante da falta de colaboração do entrevistado em se deixar colocar em tal situação, tornaram-se agressivos e passaram a usar a velha tática de fazer acusações e de não deixar o acusado falar.
Por vezes seguidas Amorim pediu a Magnoli (que, de longe, foi o mais mal-educado) que o deixasse falar, porque não deixava. Fazia longas "perguntas" - que, na verdade, eram acusações à política externa do país -, no que era ouvido pacientemente pelo chanceler. Contudo, quando este tentava responder, era reiteradamente interrompido. Os três "jornalistas" supra mencionados usaram essa tática ao longo dos cerca de noventa minutos do programa.
Obviamente que se dedicaram a repetir a cantilena do presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, e de George Bush, acusando Hugo Chávez e Rafael Correa de serem culpados da invasão do território equatoriano, porque apoiariam as Farc. Magnoli chegou a citar declarações de Chávez feitas no calor do conflito entre Colômbia e Equador, nas quais criticou duramente Uribe, e queriam porque queriam que Amorim acedesse à premissa de que o venezuelano interveio em questão interna de outro país.
Faltou presença de espírito a Amorim para perguntar aos que já não eram mais entrevistadores, mas debatedores, se as armas americanas usadas pela Colômbia na invasão do Equador e a postura do governo americano de apoiar a violação da fronteira equatoriana também não seriam intervenções em assuntos de outro país...
É compreensível. O chanceler brasileiro mal conseguia pensar. Os três prepostos do PIG usaram uma espécie de tática de bombardeio, por meio da qual desadandavam a falar todos ao mesmo tempo, encobrindo a palavra do entrevistado do programa. Enquanto isso, o mediador não dizia uma palavra. Foi uma vergonha.
Apesar disso, no entanto, Amorim até que se saiu bem, dadas as condições de desigualdade em que foi colocado. O ministro das Relações Exteriores do Brasil não se intimidou e, dentro das possibilidades de que dispunha, enfrentou o massacre com galhardia.
O histórico do Roda Viva está cheio de casos semelhantes. Chega a ser ridículo que, quando o entrevistado é do governo Lula, não exija uma bancada de entrevistadores mais equilibrada e garantia de que seu direito à palavra será respeitado. Por conta disso, o telespectador passou a maior parte do programa ouvindo bate-bocas em vez de uma entrevista.
No caso em tela, Amorim, ao ver os nomes de seus entrevistadores, poderia ter exigido que um representante de uma Carta Capital, por exemplo, integrasse a bancada. E se não fosse atendido, ninguém o criticaria por se recusar a se expor a um bate-boca desigual de três contra um. Cantanhêde, Magnoli e Sant'anna agiram de forma coordenada. E era possível ver como se divertiam com a situação.
O reiterado uso político da TV Cultura pelo governo tucano de São Paulo, é uma afronta. Deve haver alguma lei que garanta que uma tevê pública será usada de acordo com o interesse público e não de acordo com o interesse do grupo político que a controla. Vislumbro aí, na questão da tevê pública paulista, um manancial a ser explorado pelo Movimento dos Sem Mídia.
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