domingo, 23 de março de 2008

CONTAGEM REGRESSIVA: NÚMERO DE SOLDADOS AMERICANOS MORTOS NO IRAQUE ATINGIRÁ QUATRO MIL


Luiz Carlos Azenha

SÃO PAULO - Nos próximos minutos o número de soldados americanos mortos desde a invasão do Iraque atingirá 4 mil. É simbólico. É o número que interessa aos eleitores e contribuintes americanos. Quatro mil mortos em cinco anos. Mas não parece. Não parece porque o desembarque dos corpos nos Estados Unidos não pode ser filmado. Não parece porque os 30 mil feridos americanos não aparecem feridos em campo de batalha. É raro ver uma foto de um soldado ferido na capa de um jornal americano ou imagens de um fuzileiro naval morto no Iraque em alguma rede nacional de televisão. É atestado de competência do gerenciamento de imagens e da mídia feito pelo Pentágono e pela Casa Branca.

Qual é a diferença essencial entre o Vietnã e o Iraque? É que, durante a guerra do Vietnã, em que 50 mil sodados americanos morreram, o exército americano era de voluntários. Qualquer jovem de mais de 18 anos de idade podia ser convocado. No Iraque, os americanos colocaram um exército profissional. Os jovens são atraídos com promessas de emprego, educação e vários outros benefícios. Além disso, dessa vez a guerra foi terceirizada: bilhões e bilhões de dólares em dinheiro público foram transferidos para empresas privadas ligadas a integrantes do governo Bush que fazem de tudo, de transportar e alimentar os soldados a interrogatórios e serviços de segurança.

Quais as consequências políticas, esperadas ou inesperadas, da invasão e da ocupação?

1) Um governo majoritariamente xiita no Iraque;

2) Fortalecimento do Irã, que com isso projeta o seu poder regional através de aliados na região - do Hezbollah no Líbano ao Hamas nos territórios palestinos;

3) Instabilidade no norte do Iraque, com o aumento da tensão entre curdos e sunitas, que disputam o controle das reservas de petróleo na região; temendo a ascensão dos curdos, a Turquia promoveu sua própria guerra preventiva, com ataques a guerrilheiros no Iraque. A guerrilha do PKK quer reunir os curdos do Iraque, Irã, Turquia e Síria em um país independente;

4) Liberdade absoluta para Israel tomar as medidas que achou necessárias nos territórios palestinos, o que levou o ex-presidente Jimmy Carter a escrever em livro que os israelenses implantaram um regime de apartheid contra os palestinos, com muro e tudo;

5) Transformação do Iraque em campo de treinamento terrorista para o desenvolvimento dos chamadas IEDs, aparatos explosivos improvisados, acionados através de controle remoto ou telefone celular; e para que os Estados Unidos aplicassem novas técnicas de combate à insurgência, envolvendo a guerra psicológica, de informação e social. No Afeganistão, alguns antropólogos agora acompanham as tropas, participando de missões de "resolução de conflito."

Os democratas querem acabar com a guerra, levar as tropas de volta para casa e aplicar parte do dinheiro hoje investido no Iraque na economia doméstica. O orçamento militar não deverá sofrer cortes. Tanto Hillary Clinton quanto Barack Obama prometem manter os gastos militares, só que focados no combate ao terrorismo no Afeganistão.

Os republicanos acham que a vitória no Iraque está ao alcance das mãos. É obvio que os Estados Unidos já venceram, do ponto de vista militar. Mas perderam politicamente. Porém, a turma de Bush mira em interesses econômicos bastante claros: na manutenção de gastos militares que favorecem os amigos e no controle das reservas de petróleo do Iraque.

O republicano John McCain falou em até "um século" de presença americana no Iraque. Falou no modelo da Alemanha e do Japão, países em que até hoje os Estados Unidos mantém bases militares. Ao custo de 4 mil vidas a cada 5 anos, em mais dez anos o número de soldados mortos no Iraque chegaria a 12 mil.

O cálculo de McCain e dos republicanos é de que a população americana estaria disposta a topar esse "sacrifício" em nome de um triunfo completo. A contrapartida seria o acesso americano às maiores reservas de petróleo de qualidade do mundo. Petróleo de primeira, à flor da terra - se comparado com o que a Petrobras retira do mar - e que será essencial para tocar a economia americana pelos próximos 30 anos.

Os democratas parecem apostar na diplomacia com o Irã e a Venezuela para reduzir a pressão sobre o preço do petróleo. Enquanto isso, os Estados Unidos investiriam em energias alternativas.

Porém, as promessas de campanha podem trombar com interesses econômicos essenciais. Ainda hoje operam em território americano usinas de energia tocadas a carvão que são altamente poluentes e já deveriam ter sido aposentadas há duas décadas. Produzem energia baratíssima se comparada às alternativas. Alguém duvida que só serão fechadas quando estiverem no osso?

Em quase tudo um governo do republicano John McCain seria muito parecido com o de um dos dois pré-candidatos democratas - Barack Obama e Hillary Clinton. A diferença fundamental é na questão do Iraque.

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