sábado, 29 de março de 2008

A "CORRIDA ARMAMENTISTA"


por Raúl Zibechi, do semanário Brecha, do Uruguai

A recente viagem do presidente Hugo Chávez à Russia foi vista como parte de uma corrida armamentista em que o líder bolivariano está engajado. Porém, os fatos indicam que a Venezuela está bem atrás dos maiores aliados de Washington na região, Colômbia e Chile, na compra de armas.

Embora a Venezuela conquiste as manchetes, não é o que país da região que lidera a compra de armamentos. Em anos recentes, o Chile comprou armas no valor de U$ 2,7 bilhões, a Venezuela U$ 2,2 bilhões e o Brasil, bem atrás, ocupa a terceira posição com U$ 1,34 bilhão. Uma recente reportagem da revista Military Power Review afirma que o Chile passou de quarto para terceiro no ranking de "capacidade militar" da América do Sul, tomando a posição da Argentina e se aproximando do Peru, que manteve o segundo lugar.

A Venezuela também subiu uma posição, mas continua a uma distância considerável dos países mais poderosos militarmente. Levando em conta os gastos com Defesa em relação ao Produto Interno Bruto, o Chile está na primeira posição, com 3,8% em 2005, seguido pela Colômbia com 3,7% - um país que também se beneficiou de grande ajuda militar dos Estados Unidos, na casa dos U$ 3 bilhões desde 2001, devido ao Plano Colômbia e ao Plano Patriota.

Em 2005, a Venezuela ainda tinha gastos de 1,6% do PIB com os militares, muito parecido com a percentagem de antes da chegada de Chávez ao poder.

ARMAS E CHUMBO

O aumento contínuo do preço do chumbo - paralelo ao do petróleo - foi de 400% entre 2002 e 2006 no mercado internacional. Isso explica em grande parte o que o Instituto Nova Maioria, da Argentina, define como "constante mas gradual" rearmamento dos últimos 15 anos, que foi acelerado em 2003. No relatório "Rearmamento: Os casos paradigmáticos do Chile, da Venezuela e seu Impacto Regional", o instituto afirma que o Ministério da Defesa do Chile tem um alto grau de autonomia para formular sua política de gastos graças à Lei Secreta do Chumbo, que destina uma parte das exportações do metal às Forças Armadas.

As Forças Armadas do Chile reduziram seu pessoal na última década de 120 mil para 40 mil homens e os reorganizaram em oito brigadas, dando prioridade à mobilidade e ao poder-de-fogo. O Chile comprou 100 tanques pesados Leonard II, da Alemanha, planeja comprar outros, e recebeu 28 caças F-16 equipados com mísseis AMRAAM e bombas ar-ar, desconhecidas até então na região. De maior impacto ainda foi a compra de dois modernos submarinos franco-alemães Scorpene, além de oito fragatas armadas com mísseis, aviões de patrulha marítima e petroleiros. "Especialistas concluíram que, em relação ao PIB, o Chile gasta seis vezes mais em equipamento militar do que o Brasil, o principal poder da região", diz o estudo do Nova Maioria.

VENEZUELA SE DEFENDE

Enquanto o Chile mantém excelentes relações com os Estados Unidos - seu maior fornecedor de armas sofisticadas, reservadas apenas para aliados -, desde 2006 Caracas enfrenta um embargo para compras de armas, equipamentos e peças de reposição dos Estados Unidos. Israel e a Suécia podem se juntar ao boicote. Desde maio de 2006, manobras navais realizadas no Caribe pelos Estados Unidos, Holanda e Grã Bretanha causaram alarme no país de Chávez, uma vez que foram as maiores na região desde a crise dos mísseis de Cuba em 1962.

Em agosto de 2006 foi revelado que a Agência de Inteligência Nacional dos Estados Unidos criou um escritório específico para desenvolver planos operacionais relativos a Cuba e à Venezuela. Àquela altura Caracas começou a comprar armas, mas teve de buscá-las em países que não têm boas relações com Washington, dentre eles a Rússia, a China e o Irã, embora também tenha comprado da Espanha.

Mais de 52 mil metralhadoras AK-103 já foram entregues das 100 mil compradas da Rússia para substituir as belgas FAL compradas nos anos 50. A Venezuela também busca mísseis anti-aéreos M-1 Tor (similares aos que foram comprados pelo Irã), 24 caças SU-30, 30 helicópteros de transporte e ataque Mi-35, todos da Rússia, além de meia dúzia de corvetas e uma dúzia de aviões de transporte espanhóis.

Até agora a Venezuela empenhou U$ 3 bilhões para a compra de armas e existe a especulação de que busca comprar de cinco a nove submarinos convencionais (movidos a diesel-eletricidade). De acordo com analistas militares, apesar dos submarinos não serem de última geração eles "constituem um ameaça potencial a qualquel operação naval ou anfíbia", como ficou demonstrado na guerra das Malvinas, quando um único - e velho - submarino argentino causou enormes dificuldades às forças britânicas.

Embora não possa ser caracterizada como uma corrida armamentista regional, a verdade é que Chávez parece ter desenvolvido uma estratégia de defesa. A partir da experiência do Iraque, ele aprendeu a importância das milícias armadas no desenvolvimento de guerras assimétricas diante de uma possível invasão. Isso explica a compra maciça de metralhadoras, que ele pode passar a fabricar se as negociações para construir uma fábrica na Venezuela derem resultado. Ao mesmo tempo, se ele de fato comprar os submarinos pode ser indício de que está se preparando para enfrentar um eventual bloqueio marítimo que poderia afetar as exportações de petróleo.

Em todo caso, é bom considerar os fatos descritos acima com uma pitada de sal. A Venezuela depende tanto de suas exportações de petróleo quanto os Estados Unidos dependem das importações da Venezuela. As exportações da Venezuela aumentaram de 15,2 bilhões de barris em 2001 para 34 bilhões em 2005. A Venezuela já é o terceiro maior exportador de petróleo para os Estados Unidos, tendo tomado a posição da Arábia Saudita.

Créditos:BlogDoAzenha




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