quarta-feira, 5 de março de 2008

União sul-americana já

Locução da apresentadora do Jornal da Globo Christiane Pelajo na última segunda-feira, durante a apresentação das imagens do dia, comentava que a Colômbia invadiu território equatoriano, mas, em seguida, engatou uma pergunta: o que o telespectador faria se um ladrão invadisse sua casa e corresse para o quintal do vizinho?

Foi dessa forma que a apresentadora e seu companheiro Willian Waack começaram a dar as últimas notícias do dia sobre a crise protagonizada pelos presidentes da Colômbia, Alvaro Uribe, do Equador, Rafael Correa, e da Venezuela, Hugo Chávez.

A cobertura do telejornal foi toda marcada pela aceitação tácita das acusações do presidente Uribe de que Correa e Chávez seriam aliados das Farc.

O interessante nessa forma de fazer jornalismo é que ela dispensa fundamentos para tomadas de posição por quem a pratica. Pode-se influir na opinião do consumidor desse tipo jornalismo sem se preocupar em ter certeza se o que se está fazendo é informar ou desinformar.

Em seguida, aparece Arnaldo Jabor, com seus cabelos de cientista maluco, gesticulando, ocupado com suas facécias, obviamente dando conotação ideológica à notícia:

"O problema todo é a herança sagrada de Lenin. O Mao Tsé-Tung matou milhões, Stalin mais ainda, mas ainda há uma pretensa "santidade" nos socialistas.(...) Querem que o Paquistão seja aqui. Marx, quem diria, acabou como bandeira do tráfico de cocaína."
Para o telespectador alheio ao fato de que os meios de comunicação brasileiros deformam as notícias de acordo com suas convicções, não resta dúvida: a Colômbia invadiu o Equador e reagiu como o cidadão que é assaltado dentro de casa e persegue o criminoso até o quintal do vizinho, com o agravante de que o vizinho é cúmplice do assaltante. Vejam só. E, como se não bastasse, ainda fica sabendo que Hugo Chávez e Rafael Correa são traficantes de drogas.
O Jornal Nacional, no dia seguinte, faz extensa reportagem em que as acusações da Colômbia a Hugo Chávez e a Rafael Correa predominam, mas, de forma geral, apresenta todas as versões sobre o conflito. No entanto, esconde, deliberadamente, o isolamento da Colômbia na América do Sul, onde Brasil, Argentina, Bolívia, Chile e outros condenaram a invasão colombiana. Em vez disso, o telejornal opta por dar grande destaque ao apoio dos EUA àquela invasão.
A ação colombiana é daqueles crimes que não há como suavizar. É o crime do ladrão ou do estuprador que deixam suas marcas indeléveis no local do crime ou no corpo da vítima.
O próprio conceito de nação fundamenta-se na premissa de inviolabilidade territorial. A diplomacia, os tratados internacionais, os organismos multilaterais, tudo que se refere ao conceito de Estados Nacionais está baseado na soberania dos povos sobre seus territórios.
A mídia brasileira, embriagada pela ideologia, trata de relativizar o que é pétreo, imutável entre a comunidade das nações. Difunde, assim, a ignorância, a burrice, gerando mentalidades como a daquele leitor que disse, em comentário aqui neste blog, que "não vê nada demais" num país invadir outro e cometer assassinato em massa.
Como o lado agressor afirma isto ou aquilo sobre o lado agredido para se justificar, o jornalismo brasileiro diz que bastam essas acusações para justificar a agressão, sem investigação, sem fatos, só com base em suposições, testando hipóteses.
Os EUA, acostumados a ignorar tratados e convenções internacionais e, ao arrepio até da ONU, invadirem nações, massacrarem inocentes e roubarem suas riquezas, apóiam a Colômbia contra praticamente toda América do Sul, que já condenou a Colômbia.
Está se agravando a guerrilha ideológica armada pelos Estados Unidos na América Latina. E como se sabe que a potência hegemônica não titubeia ante o que for necessário para impor seus interesses, Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Venezuela, Peru, Uruguai, Paraguai, todos precisam se unir e condenar publicamente a Colômbia e os EUA num documento único. Do contrário, a invasão do Equador terá sido só o começo.



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