quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Os vícios e as virtudes

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ONTEM falávamos do Ike financeiro que enlouquece o império. Ele não dá um jeito para conciliar o consumismo com as guerras injustas, as despesas militares e os enormes investimentos na indústria de armamentos, que matam, mas não alimentam os povos, nem satisfazem suas necessidades mais elementares.

Nada iria descrever melhor a alienante contradição que as palavras do senador Richard Shelby, o principal republicano da Comissão de Bancos do Senado dos Estados Unidos, quando declarou ao canal de televisão BBC: "Não sabemos quanto vai custar isto. Provavelmente, de US$500 bilhões até um trilhão de dólares, e isso prejudicará os contribuintes mais tarde mais cedo, ou será uma dívida cobrada a todos nós ou aos nossos filhos", relata a agência de notícias Reuters, da Grã-Bretanha.

Ninguém pode duvidar do destino do mundo capitalista desenvolvido e da sorte que promete a bilhões de pessoas no planeta.

Atualmente, a luta é o único caminho dos povos para atingirem uma comunidade em que possam viver com justiça social e decoro, a antítese do capitalismo e dos princípios que regem o odioso e injusto sistema. Na dura batalha por esses objetivos, o pior inimigo é o instinto egoísta do ser humano. Se o capitalismo significa a constante utilização desse instinto, o socialismo é a batalha incessante contra tal tendência natural. Se outras vezes a alternativa na história era voltar ao passado, hoje tal alternativa não existe mais. Trata-se de uma batalha que cabe travar fundamentalmente a nosso glorioso Partido.

Toda manifestação de privilégio, corrupção ou roubo tem que ser combatida e não há justificativa possível para um verdadeiro comunista. Qualquer tipo de fraqueza nesse sentido é absolutamente inadmissível. Nunca foi a característica dos milhares de homens e mulheres que foram voluntariamente cumprirem os deveres internacionalistas, que encheram de glória e prestígio a Revolução Cubana. Nesses princípios de ética e pureza se inspirou o pensamento de José Martí e de todos os que o precederam.

Agora, em meio ao embate recente e destruidor dos furacões, é quando devemos demonstrar aquilo que somos capazes de fazer.

O roubo nas fábricas, armazéns, serviços automotivos, hotéis, restaurantes e em outras atividades onde se manuseiem recursos ou dinheiro, tem que ser combatido sem trégua pelos militantes do Partido. Quando um membro incorrer em tão vergonhosa atividade, além das medidas legais que lhe serão impostas, deverá ser sancionado pelo Partido, sem extremismos, mas de forma madura e eficaz. O capitalismo é vítima do delito comum e defende-se dele mediante sofisticados meios técnicos, do desemprego, da exclusão social, do assassinato e até da violência extrema, que é já inútil perante o tráfico de drogas, que custa centenas e até milhares de vidas a cada ano nalguns países latino-americanos.

Não é fácil a tarefa dos dirigentes em um mundo onde a incitação ao consumismo é permanente através de todos os meios de rádio, televisivos, eletrônicos e escritos, e os métodos de seduzir o ser humano são extraídos de laboratórios e centros de investigação. Observe-se o que acontece com o que chamam de publicidade, pela qual os consumidores pagam anualmente mais de US$1 bilhão. Os anúncios comerciais se repetem tantas vezes que desesperam quase todas as pessoas por sua banalidade.

Mas o roubo fica longe de ser o único mal que prejudica a Revolução. Estão os privilégios conscientes ou tolerados e as invenções burocráticas. Recursos destinados para uma situação temporária, convertem-se em despesas e consumos permanentes.

Tudo atenta contra as reservas em materiais e em divisas do país, o que pode trazer escassez de produtos e excesso de dinheiro circulante. A mesma coisa ocorre quando os que têm dinheiro abundante correm a comprar em excesso aquilo que lhes venderem nas lojas em divisas.

Há mecanismos do Estado com a tendência para generalizar os privilégios ou dar muito mais na concorrência que desatam pelos técnicos e pela força de trabalho disponível. Às vezes, tornam-se camelôs com métodos genuinamente capitalistas na busca de receitas, para administrar recursos com os quais representar o papel de eficientes e ganhar o apoio complacente do seu pessoal. São costumes burgueses e não proletários, e todos temos o sagrado dever de lutar contra eles.

Há países que não hesitam em aplicar a pena capital contra esses delitos. Não acho realmente que seja necessário em nosso caso. Também não premiar estupidamente os incorrigíveis em nossas prisões; que adquiram um ofício, mas não sonhar em torná-los cientistas.

Ao longo da minha vida revolucionária, vi como esses vícios cresciam ao lado das virtudes. Também se detecta enfraquecimento em alguns cidadãos, que se habituam a receber e dedicam pouco tempo a meditar, ler jornais e se informar das realidades. O inimigo, em sua procura de espiões e traidores, sabe muito bem das fraquezas dos seres humanos, mas desconhece a outra cara da moeda: a enorme capacidade do ser humano para o sacrifício consciente e o heroísmo. Os pais gostariam legar bens materiais a seus filhos, mas preferem lhes deixar a herança de uma vida digna e prestigiosa que sempre os acompanhe.

O império deparou-se nesta ilha com um povo capaz de resistir a seu bloqueio e agressões durante dezenas de anos. Por isso, toma medidas mais duras contra Cuba. Tenta lhe arrebatar pessoal qualificado e sua força de trabalho; escolhe os que lhes outorgam os milhares de vistos acordados por ano, enquanto promove, por sua vez, as saídas ilegais; mantém e reforça sua Lei de Ajuste Cubano, que dá privilégios especiais para a emigração ilegal aos cidadãos de uma única nação no mundo: Cuba. Se os estendesse aos demais países da América Latina, em pouco tempo os latino-americanos seriam mais da metade dos habitantes dos Estados Unidos.

O que é ainda mais cínico: recruta mercenários que pretendem impunidade, fornece-lhes orientação e recursos, promove-os internacionalmente, e se compraz em pôr à prova a paciência e equanimidade do poder revolucionário.

A verdade nunca faltará ao nosso povo.

Não só lutaremos sem trégua contra nossos próprios erros, fraquezas e vícios, mas também ganharemos a batalha de idéias na qual estamos envolvidos.

Porém, os chefes do império sempre devem ter certeza de que nem furacões naturais nem furacões de cinismo conseguirão curvar a Revolução.

Antes, como disse Martí, se uniria o mar do Norte ao mar do Sul e nasceria uma serpente de um ovo de águia.

Fidel Castro Ruz

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