Créditos: Eduardo Sezimbra
O grupo de trabalho (GT) Saúde e Ambiente da Abrasco convocou, na manhã
de domingo (1/11), um debate sobre o processo produtivo do agronegócio
e suas relações e consequências para a saúde pública e o meio ambiente
no IX Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Na mesa, coordenada pela
pesquisadora da Universidade Federal do Ceará, Raquel Rigotto, os
palestrantes Vicente Almeida (Embrapa), Marcelo Firpo (ENSP/Fiocruz),
Wanderlei Pignati (UFMT) e Lia Giraldo (CPqAM/Fiocruz) falaram do
macrofenômeno do agronegócio e sua relação com a economia, a produção
industrial, a política, a pesquisa e a necessidade de transição para um
novo modelo agroecológico no país.
Para Vicente Almeida, da Embrapa, a alimentação e o ambiente são duas
das principais formas de se obter saúde. Em sua apresentação, perguntou
se há impactos do agronegócio sobre o ambiente, quais seriam esses
impactos e como se expressam na saúde e no ambiente. Segundo ele,
trata-se de um conceito construído pela política e pela economia, mas
que demanda uma maior produção de conhecimento científico sobre o tema.
Vicente lembra que o processo produtivo do agronegócio gera disputa de
território. De acordo com o pesquisador, essa disputa leva à
concentração fundiária que, por sua vez, gera riqueza, que gera poder,
que ocasiona a fome, a erosão genética e a contaminação do solo, da
água e da biodiversidade. "O Brasil é o país que mais consome
agrotóxicos no mundo. A agricultura promete geração de renda e emprego,
mas o que vemos são trabalhadores contaminados, alimento contaminado. É
importante avançarmos na negação do atual modelo e incentivarmos uma
transição agroecológica. É preciso analisar os custos que essa mudança
traz e suas conseqüências para a população".
Para Marcelo Firpo Porto, pesquisador da ENSP, é necessária a
articulação de uma rede de pesquisadores lutando contra o agronegócio,
e não somente contra os efeitos do agrotóxico. Para isso, segundo ele,
é importante articular saúde, economia, agronomia, política e outros
atores para uma transição agroecológica justa e sustentável. "Grandes
plantações são uma bomba ecológica, pois agridem a cultura local, geram
disputa por território e trazem vários outros danos. Um exemplo da
expressão do agronegócio é a soja. Ela tem avançado sobre o cerrado
brasileiro e a Amazônia. É a expressão clara da expansão da monocultura
e do agronegócio. Envolve diretamente queimadas para a preparação do
solo e cria aquele 'oceano' de soja".
Marcelo apresentou um mapa que demonstrou a expansão do agronegócio de
1995 a 2005. Nesse período, a venda de agrotóxicos triplicou, e a área
de plantio aumentou apenas 20%. "O Brasil é o maior consumidor de
agrotóxicos do mundo. Denúncias da Rede Brasileira de Justiça Ambiental
falam da fusão da indústria química com produtores de semente. O
agrotóxico que o Brasil consome foi proibido na Europa e nos Estados
Unidos. É preciso incentivar a transição agroecológica, e o papel da
saúde é fundamental para um modelo com justiça social e cultural, com
segurança alimentar e preservação ambiental".
Operação de guerra
Na sequência, Wanderlei Pignati, professor da Universidade Federal do
Mato Grosso, afirmou que o Mato Grosso é um dos maiores produtores de
soja, de gado e madeira - o que, segundo ele, "tem destruído o estado".
De acordo com Pignati, em 2007, o Brasil possuía 52 milhões de hectares
com lavoura temporária e uma média de dez quilos de agrotóxico por
hectare. "Esse número revela uma média de 500 a 600 milhoes de quilos
por ano no Brasil".
O palestrante fez questão de 'desconstruir' algumas afirmações com
relação ao uso do agrotóxico. Uma delas diz que o uso adequado da
substância não traria prejuízos ambientais. "Isso não é verdade.
Qualquer utilização traz danos ao ambiente e, consequentemente, à
saúde. Outra falsa afirmação é a de que a falta de informação dos
agricultores é a maior causa das contaminações ocupacionais e
ambientais".
O pesquisador afirmou que os agrotóxicos usados nas lavouras são
absorvidos pela pele, pulmão e sistema gastrointestinal dos
trabalhadores, com grande parte alojada nas plantas e no solo.
"Acreditava-se que as embalagens das substâncias eram os principais
meios de contaminação. Na verdade, o principal é saber onde foi parar o
que está lá dentro e evitar sua utilização".
Em seguida, Lia Giraldo, do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães
(CPqAM/Fiocruz), se concentrou nas políticas sobre o tema. De acordo
com ela, o Brasil possui um marco legal sobre o agrotóxico, mas que vem
sendo degradado por medidas provisórias da bancada ruralista do
congresso. "Temos três ministérios que tratam o tema: o da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento; o Ministério da Saúde; e o Ministério do Meio
Ambiente. Mesmo assim, temos imensos problemas com essa questão. Além
das questões judiciais do setor empresarial, encontramos dificuldades
dentro do próprio governo, suas alianças e o congresso".
Fonte: ENSP/Fiocruz
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