sábado, 21 de novembro de 2009

O oriente com o ocidente..

Oriente Médio abre os olhos para a América Latina



Gulf News – Dubai

A primeira visita à América Latina do Xeque Abdullah Bin Zayed Al Nahyan, ministro de Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos (EAU), foi um grande passo na implementação da política de adaptação do seu país ao mundo multipolar emergente.

Em sua visita à América Latina, o diplomata visitou mais de oito países em duas semanas, demonstrando uma disposição substancial por parte dos EAU para criar novas e mais estreitas relações com o continente.
Historicamente, as relações entre o Golfo Pérsico e a América Latina sempre foram fracas e nenhuma das regiões interveio em questões relacionadas à outra. Mas esta situação vem mudando rapidamente nos últimos anos. Como qualquer outra região do planeta, o Golfo Pérsico não pode mais dialogar unicamente com seus vizinhos imediatos e com as poucas potências globais. O mundo emergente globalizado necessita que todas as regiões do mundo se relacionem diretamente e sem a intermediação de Washington ou Moscou. As grandes questões globais do século XXI abrangem um espectro muito maior do que as rivalidades entre as grandes potências e incluem a busca de novos meios para gerenciar as economias mundiais sob a liderança do G20, a promoção de energias sustentáveis e combate ao aquecimento global, a repressão aos tráficos de drogas e de humanos, além do trabalho para a implementação dos valores sociais definidos pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU.
A passagem do Xeque Abdullah por tantos países levou a importante mensagem para a América Latina de que os EAU se importam com a região e querem manter contato, e que os EAU têm consciência de que um novo mundo interconectado requer que as distintas regiões do planeta estejam em contato direto umas com as outras.
Também foi notável o fato de que o Xeque Abdullah passou mais tempo em visitas ao Brasil e ao México, os dois gigantes da América Latina (Brasil é hoje considerado uma das principais economias do mundo). Seu giro também incluiu Argentina, Colômbia, Peru, Panamá, Nicarágua e República Dominicana, assim como Cuba – o último Estado comunista da América Latina, onde transmitiu aproximadamente a mesma mensagem sobre o estreitamento dos laços de cooperação e melhor entendimento dos seus interesses mútuos.
Em muitos destes países, o representante agradeceu aos governantes latino-americanos pelo apoio dado à bem sucedida campanha de seu país para sediar a Agência Internacional de Energias Renováveis [IRENA, de sua sigla em inglês]. Esta é a primeira vez que uma agência de peso das Nações Unidas será baseada no fora do eixo Europa-América do Norte. Os EAU organizaram uma importante campanha diplomática para reunir apoio à candidatura, enfatizando que por ser um grande produtor de petróleo, os EAU têm interesse particular e mão de obra qualificada para o desenvolvimento de fontes de energia mais sustentáveis. Esta foi a primeira vez que os diplomatas dos EAU visitaram tantos Estados membros da ONU para convencê-los a votar num projeto.
Isto permitiu ao Xeque Abdullah iniciar suas visitas com uma mensagem específica, apresentando seu agradecimento pela colaboração nesta campanha, o que é uma boa maneira de quebrar o gelo com um novo correspondente. Após isso, ele pôde então prosseguir, abordando aspectos mais práticos para aprofundar as relações, o que, na maioria destes países, foi reconhecer que as relações comerciais precisam ser definidas com bases mais seguras. Como resultado, os comunicados publicados por cada país trataram de como estabelecer acordos básicos para permitir e facilitar o livre comércio de bens e serviços, tais como a assinatura de tratados de dupla taxação, a implementação de acordos de proteção ao comércio e o reforço da proteção ao investimento.
Além disso, o ministro de Relações Exteriores e seus hóspedes falaram sobre o crescimento dos negócios em distintos setores como a agricultura (os EAU, como a maioria dos Estados do Golfo, é grande importador de alimentos) e o turismo (em ambos os sentidos).
Eles também conversaram sobre interesses mútuos no setor energético (o que é absolutamente normal em um encontro com um dos maiores exportadores de hidrocarbonetos), mas o que surpreendeu foi o interesse latino-americano em dialogar com os EAU sobre energias renováveis. Isto mostra que Abu Dhabi [capital] está para se preparando para oferecer o conhecimento que irá adquirir em suas distintas iniciativas, como seu pacífico programa nuclear possibilitado pela importação de combustível enriquecido e as novas tecnologias desenvolvidas em Masdar [cidade ecológica planejada]. O programa nuclear e Masdar estão projetando Abu Dhabi ao primeiro plano na busca por energias renováveis.
A longo prazo, os Estados latino-americanos e árabes têm muito o que conversar. Ambas são regiões de rápido crescimento e enorme potencial, e têm plena consciência de que as próximas décadas necessitarão que todos mantenham relações muito mais próximas. As duas regiões se encontrarão em diversos fóruns, buscando entendimentos comuns em questões como o aquecimento global, reformas nas Nações Unidas e no FMI, implementação de acordos de livre comércio através da Organização Mundial do Comércio, e mesmo no combate aos crimes de tráfico de drogas e de seres humanos.
A visita do ministro de Relações Exteriores à América Latino foi um ótimo começo para um longo e importante processo de colaboração.


Francis Matthew

Tradução: Roberto Blum
Para acessar o texto original, clique aqui

Nenhum comentário: