O medo dos europeus. E dos Estados Unidos
Fears Intensify That Euro Crisis Could Snowballpor NELSON D. SCHWARTZ e ERIC DASH
Do New York Times (em inglês, aqui) via Viomundo
Depois de uma breve pausa que se seguiu ao anúncio na semana passada
de um plano de ajuda de 1 trilhão de dólares da Europa, o medo nos
mercados financeiros está crescendo novamente, desta vez com
preocupações com o fato de que os grandes bancos continentais vão
enfrentar dificuldades que poderão prejudicar as economias europeias.
Num sinal de profunda ansiedade, o euro caiu na sexta-feira a seu
ponto mais baixo desde o início da crise financeira, quando investidores
abandonaram a moeda, assim como ações, em favor de ouro e de outros
bens que oferecem mais segurança.
Nas negociações de segunda de manhã, o euro caiu de novo, chegando
num momento e atingir um patamar recorde de quatro anos em relação ao
dólar.
O presidente do Banco Central europeu, Jean-Claude Trichet, numa
entrevista publicada sábado, advertiu que a Europa está diante de
“severas tensões” e que os mercados estão frágeis.
Para os bancos europeus, os problemas são duplos. Os custos de
empréstimos de curto prazo estão aumentando, o que poderia levar as
instituições a evitar novos empréstimos ou se desfazer dos antigos,
ameaçando o crescimento econômico.
Ao mesmo tempo, instituições mais seguras em economias sólidas como a
França e a Alemanha tem grande quantidade de ações de seus vizinhos
trêmulos, como Espanha, Portugal e Grécia.
Os investidores temem que com muitos governos sob o peso de grandes
déficits, a dívida das nações mais fracas que usam o euro como moeda
terá de ser reestruturada, reduzindo profundamente o valor de seus
papéis. Isso acertaria duramente as instituições financeiras europeias e
poderia ricochetear em todo o sistema bancário global.
Papéis ligados aos bancos europeus perderam valor na sexta-feira por
causa deste temor, e Wall Street seguiu. As ações também cairam em
Tóquio e na Austrália no início dos negócios da segunda-feira.
“Este resgate não foi feito para salvar os gregos; foi feito para
ajudar os bancos franceses e alemães”, disse Niall Ferguson, um
historiador de economia de Harvard. “Jogaram alguma água no fogo, mas o
fogo não foi extinto”.
O plano de resgate europeu, totalizando 750 bilhões de euros, tem o
objetivo de evitar o risco de quebra, mas aumentaria vastamente os
empréstimos. Isso poderia impedir a nascente recuperação econômica da
Europa.
Na verdade, foram as dívidas que causaram o problema inicial: um novo
relatório do Fundo Monetário Internacional adverte que “os altos graus
de endividamento público poderiam pesar no crescimento econômico por
anos”.
O déficit mundial como porcentagem do PIB está em 6%, quando estava
em apenas 0,3% antes da crise financeira. Se o endividamento público não
for reduzido ao nível de antes da crise, diz o relatório do FMI, o
crescimento econômico das economias avançadas poderia cair 0,5 ponto
percentual anualmente.
Mas nem todas as tendências são negativas. Um euro mais baixo vai
tornar as exportações europeias — sejam os automóveis alemães ou os
objetos de couro italianos — mais competitivos em todo o mundo. E a
Grécia, a Espanha e Portugal tomaram medidas de austeridade na semana
passada para reduzir os seus déficits orçamentários.
Esses passos não foram suficientes para prevenir o sumiço de dinheiro
dos fundos “money market”, uma esquina pouco notada mas crucial do
sistema financeiro na qual os investidores americanos oferecem mais de
500 bilhões de dólares em empréstimos para que os bancos europeus
financiem suas operações diárias.
O dinheiro vem de fundos conservadores que controlam a poupança de
grandes corporações dos Estados Unidos e de consumidores individuais.
Até agora, o pacote de resgate proposto não conseguiu reduzir a
preocupação destes fundos, que cortaram os empréstimos para os bancos
europeus e estão exigindo maiores taxas de juros e repagamento mais
rápido.
“Mais gente está tomando decisões de sim ou não para cair fora deste
mercado e manter o dinheiro mais perto de casa”, disse Lou Crandall, o
economista-chefe do Wrightson ICAP, uma empresa de pesquisa do mercado.
Inicialmente, foram os bancos gregos e portugueses que foram
desprezados pelos investidores americanos. Mas nas últimas duas semanas
os grandes bancos da Espanha, da Irlanda e da Itália tiveram
dificuldades para assegurar empréstimos de curto prazo dos Estados
Unidos por causa do aumento da ansiedade.
Na sexta-feira, mesmo os bancos de sólidas economias europeias, na
França, Alemanha e Holanda, foram afetados, de acordo com corretores e
analistas de mercado.
“Os investidores estão esperando para ver se o pacote de
estabilização é de fato adotado”, disse Alex Roever, um analista da J.P.
Morgan Securities.
“Enquanto os investidores sentem a situação, ficamos pendurados no
limbo”.
Por causa do recuo dos investidores americanos, a taxa que os bancos
cobram uns dos outros para empréstimos, conhecida como Libor para London
Interbank Offered Rate, tem subido constantemente. E a importância da
Libor vai muito além da Europa: é a taxa que ajuda a determinar as taxas
de juros em muitos empréstimos imobiliários e nos cartões de crédito
dos consumidores dos Estados Unidos.
As taxas de empréstimo dos bancos ainda estão bem abaixo do ápice da
crise financeira. Temor de que os problemas da Europa façam efeito nos
Estados Unidos, no entanto, levou o Banco Central americano a retomar
linhas de crédito para o Banco Central Europeu e outros bancos centrais
em conjunção com o pacote de resgate europeu anunciado uma semana atrás.
A medida garantiu que as instituições europeias poderão tomar dólares
para emprestar a seus clientes, mas isso é mais caro do que contar com o
dinheiro de investidores privados.
“Não fizemos isso por amor especial à Europa”, Narayana R.
Kocherlakota, o presidente do Banco Central de Minneapolis, disse a um
grupo de pequenos empresários de Wisconsin na quinta-feira. “Somos
autoridades dos Estados Unidos e tomamos decisões para manter a
economia americana forte”. No entanto, ele disse, “os problemas de
liquidez nos mercados europeus podem criar problemas perigosos de falta
de liquidez em nossos próprios mercados financeiros”.
Não é o único dominó que pode cair.
Se a exposição direta de bancos americanos à Grécia é mínima, as
instituições financeiras dos Estados Unidos estão fortemente
interligadas a grandes bancos europeus, os quais tem grandes
investimentos nas nações mais fracas da Europa.
Por exemplo, os bancos portugueses devem 86 bilhões de dólares a
bancos da Espanha, que por sua vez devem 238 bilhões a bancos alemães e
220 bilhões de dólares a bancos franceses. Os bancos americanos também
controlam grande quantidade de dívida de bancos espanhóis, cerca de 200
bilhões de dólares, de acordo com o Banco de International Settlements,
uma organização global que serve a bancos centrais.
Além disso, os formuladores das políticas financeiras se encontram
quase sem armas em seu arsenal.
Depois de emprestar trilhões para estimular suas economias e acabar
com as preocupações de crédito durante a última onda de medo no fim de
2008 e início de 2009, os governos não podem emprestar outros trilhões
sem causar inflação e atropelar outros emprestadores, como indivíduos e
companhias. As taxas de juros de curto prazo, próximas de zero nos
Estados Unidos, não podem mais ser reduzidas. E passos vitais como o
aumento de impostos ou corte de investimentos poderiam atrapalhar o
início da recuperação econômica do norte da Europa e piorar a situação
de economias em dificuldades como a da Espanha, onde o desemprego
recentemente ultrapassou 20%.
Com a exceção dos tempos de guerra, “as finanças públicas da maioria
dos países industriais avançados estão em estado pior hoje do que em
qualquer outro período desde a revolução industrial”, Willem Buiter, o
principal economista do Citibank, escreveu em um relatório recente.
“Restaurar o equilíbrio financeiro vai emperrar o crescimento por
muitos anos”.
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