segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vocês produzem, nós ganhamos!

  Waldemar Rossi  - Correio da Cidadania 
 
A euforia toma conta do mercado financeiro e a mídia nos mostra isso como uma grande vitória do país. Muita gente, desabituada a ver as notícias com olhos críticos, acaba por recebê-las com um grande sorriso nos lábios. Segundo a crença popular, cuja opinião é formada pelos meios de comunicação, isso é um sinal de que o país caminha certo e que nosso povo, finalmente, "terá paz e sossego na vida", como se canta durante a passagem do dia 31 de dezembro para o primeiro de janeiro. Desabituado a acompanhar no dia a dia o "vai e vem da valsa" financeira, não percebe que isto é um mero jogo fiscal e que quem ganha é exatamente quem vive como urubu que se nutre da carniça dos outros.
 
No último dia 19 a imprensa nos revelou que grandes empresas investiram 12 bilhões de dólares no país, entre janeiro e maio, na ciranda financeira dos altos juros que nosso governo garante e que são, segundo a mesma imprensa, os juros mais altos de todo o planeta.
 
A idéia que passa pela cabeça do povo é que a entrada de mais dinheiro no país significa mais produção, mais emprego e melhores condições de vida para todos. Infelizmente, inúmeros militantes partidários crêem que isto é bom para o país ou simplesmente repassam a "boa nova" como mérito do governo, até porque estão encastelados em gabinetes de parlamentares e se vêem forçados a aceitar a versão dos chefes, que lhes garantem uma renda mensal, também tirada do bolso do povo a quem enganam.
 
Muito ruim para o povo que vai se alimentando da ilusão. Não sabem que o enorme lucro que tais empresas financeiras obtêm da noite para o dia é fruto da espoliação aplicada em cima do próprio povo; que em vez de gerar mais desenvolvimento e distribuição de renda o que tais investimentos fazem é retirar lucro daquilo que é produzido pelos que trabalham; que o governo compra esses dólares com "papéis" oficiais, pagando os tais juros mais altos do planeta, e que esses dólares são aplicados no criminoso "superávit primário", que por sua vez serve para pagar os serviços da dívida pública, sem, porém, fazê-la baixar. Até pelo contrário, porque a dívida pública continua crescendo a passos de elefantes e velocidade de guepardo.
 
Em ano eleitoral, tudo o que se pode usar para alavancar candidaturas é usado e tido pelos espertos como válido, num condenável raciocínio de que os fins justificam os meios. Fala-se muita mentira e outro tanto de meias verdades para enganar os menos informados. Assim, o governante de plantão é tido como um estadista porque se locomove com desenvoltura no cenário internacional. E como não é nada bobo, e até muito "raposa", aproveita dessa popularidade plantada pelos meios de comunicação para se legitimar.
 
Mal compreende a maioria dos brasileiros que tal popularidade é também, e muito, fruto de um belo plano do capital nacional e internacional para garantir sua continuidade (seja com "A" ou com "B"), para que não se mate "a galinha de ovos de ouro" dos juros e da dívida eterna. Afinal, como nos informou o próprio presidente, "nunca antes neste país os ricos ganharam tanto dinheiro como neste governo". Lembram-se desta frase?
 
"Há dezesseis anos que faço viagens internacionais para ‘vender’ Brasil e essa é a primeira vez que venho exclusivamente para trabalhar renda fixa" (altos ganhos com juros assegurados), relatou Dalton Gardman, responsável pela área de pesquisa em renda fixa do Bradesco. Precisa dizer mais?
 
Pois é isto o que pensa o capital. Os donos do dinheiro querem e planejam para que aconteça: os povos de países como o Brasil devem trabalhar e produzir ao máximo, pagar bons impostos porque essa é a fonte dos nossos interesses.
 
Nós produzimos e eles faturam às nossas custas! E o povo torce por "S" ou por "D" chegar ao governo!
 
Waldemar Rossi é metalúrgio aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
 

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