Após um encontro entre Hugo Chávez e o novo presidente colombiano
Juan Manuel Santos, Venezuela e Colômbia retomaram as relações
diplomáticas, interrompidas pela permanente postura beligerante do
ex-presidente Álvaro Uribe, aliado incondicional dos Estados Unidos, que
sempre desempenhou o papel de fustigar Chávez.
Uribe deixou o poder tentando passar a seu sucessor uma agenda de
conflito com o país vizinho, retomando a velha acusação de que a
Venezuela abrigava as Forças Armadas Colombianas (Farc) em seu
território e tomando a medida política e sem amparo legal de entrar com
uma ação contra Chávez no Tribunal Penal Internacional sem a existência
de processo prévio que a justificasse.
Embora apoiado por Uribe, o novo presidente colombiano preferiu
apostar na paz e após um encontro pessoal com Chávez selou acordo para a
retomada das relações, apostando em um diálogo “franco, direto e
sincero” sem a contaminação de influências alheias aos países do
continente.
O entendimento entre os dois presidentes pode levar a uma
incorporação das Farc ao processo político colombiano, encerrando um
conflito de 50 anos, que não foi resolvido antes, entre outros motivos,
pelo Plano Colômbia, financiado pelos Estados Unidos, para um suposto
combate ao narcotráfico, que na verdade visava eliminar o grupo
guerrilheiro.
Sem a interferência dos EUA, os países sul-americanos são capazes de
se entender, como aconteceu agora, numa negociação mediada pelo
ex-presidente argentino Nestor Kirchner e cuja evolução será acompanhada
pela União de Nações Sul-Americanas (Unasul), uma comunidade criada em
2004 para integrar o continente e mediar seus conflitos.
Alvaro Uribe foi sempre o contraponto a esta política de integração,
que jamais interessou ao Estados Unidos, sobretudo pela onda de
governos progressistas que tomou o continente. Com a saída de Uribe, o
cargo ficou vago, e o candidato tucano José Serra pareceu interessado em
ocupá-lo, desprezando o Mercosul, as relações comerciais do Brasil com
os países vizinhos de economia menor e repetindo as acusações uribistas
de que a Venezuela abriga as Farc.
Serra demonstrou prazer em levar adiante as desastradas declarações
de seu inexperiente candidato a vice, Índio da Costa, que até sumiu de
cena depois de acusar o PT de ligação com as Farc e com o narcotráfico. O
comentário do vice garantiu ao PT direito de resposta no site de
campanha do PSDB e o jovem velho político ainda responde na Justiça
pelas acusações que não pode provar.
Serra poderia ter encerrado a questão, que todos entenderiam como
arroubo juvenil de um jovem liberal de direita, mas fez questão de
repeti-la, fomentando um ambiente negativo, que ligava Brasil,
Venezuela, Farc e narcotráfico. Até o Departamento de Estado
norte-americano o desautorizou ao elogiar pouco depois de suas
declarações a atuação de Lula no combate ao terrorismo e sua condenação
ao uso de violência pelas Farc.
O discurso de Serra tinha um alvo claro, a candidatura de Dilma
Rousseff, que, se eleita, vai levar adiante a política externa
integradora do Brasil a seus vizinhos e a ação soberana que levou o país
a ganhar expressão e reconhecimento internacionais e o credenciou a
mediar conflitos em qualquer lugar do mundo.
A normalização das relações entre Colômbia e Venezuela é mais um
trunfo da unidade sul-americana e menos um ponto para a conservadora
plataforma de Serra.
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