Waldemar Rossi no Correio da Cidadania | |
As eleições deste ano, especialmente a presidencial, vão ganhando corpo
e, sem mais nem menos, entrando nos lares através da invasiva e
desrespeitosa televisão. Muda a rotina dos lares como se fosse a dona
absoluta de todos e todas nós. Somos forçados a suportar horas e horas
de desfilantes, candidatos/as aos cargos eletivos (deputados estaduais e
federais, senadores, governadores e presidente da República), cada um
trazendo a sua "mensagem de felicidade" para o povo. Todos e todas têm a
receita para a felicidade do povo em geral e, portanto, o povo não será
feliz se não quiser.
Mas o que mais chama a atenção é o fato de a imensa maioria não se
indignar com essa quebra da privacidade dos lares, essa indevida
invasão. Não falo aqui dos programados debates, com dia e hora marcados.
Falo da propaganda gratuita que nos força a engolir sapos (barbudos ou
não) a cada momento – através das pequenas entradas – e durante
intermináveis minutos do "direito" a que os partidos dispõem por força
de lei. Aliás, lei criada pelos parlamentares que dela se beneficiam.
E, assim, o sistema dominante vai nos impondo suas escolhas feitas anos
antes, porém, colocadas como se fossem a vontade soberana dos cidadãos e
cidadãs que pagam pesados impostos durante os 365 dias (mais seis
horas) do ano. E vamos engolindo essa escolha como se fosse realmente a
nossa. Como já nos prevenia Pe. Alfredo Gonçalves, em um dos seus belos
artigos: "vamos escolher quem vai nos trair futuramente" (referindo-se
ao controle que o poder econômico exerce sobre as estruturas políticas
do país e sobre a maioria dos políticos).
Há, ainda, uma agravante que não vem sendo analisada pelos eleitores e
que a mídia tenta esconder. A tal lei da propaganda eleitoral gratuita,
que foi feita e é mantida pelos políticos de plantão, cria verdadeiro
monstrengo em termos de justiça e democracia. Essa lei privilegia os
grandes partidos que vêm sendo mantidos no poder com vultuosas verbas
fornecidas pelas grandes empresas nacionais e multinacionais.
Assim, cada partido tem "direito" a encher a paciência dos
telespectadores conforme o número de parlamentares que tiver conseguido
eleger. Com isto, impede que novos partidos possam de fato se apresentar
ao eleitorado. É o que a burguesia – e seus meios de comunicação -
sacanamente chama de partidos "nanicos", uma expressão depreciativa, que
leva o povo a ignorá-los, e por isso a não terem a mínima chance de se
apresentarem ao eleitorado como alternativa de poder. E assim vão sendo
mantidos perpetuamente nanicos pelo poder explorador. Porém, com um
discurso bem concatenado, fazendo-nos engolir que este sistema é
realmente democrático.
Da mesma forma como o fazem com mais de 70 milhões de brasileiros e
brasileiras, que vêm sendo excluídos da vida econômica, social e
cultural do país. São milhões de seres humanos, com direitos iguais
segundo a lei, mas que vêm sendo colocados e mantidos à margem de um
padrão de vida segundo as exigências legais e da própria dignidade
humana. Partidos e povo vão se tornando cada vez mais "nanicos", cada
vez mais marginalizados, segundo a lógica desse sistema burguês de
dominação e exploração total.
Alguém poderá discordar do que vai acima escrito apelando para um
exemplo de ruptura com tal lógica: o nascimento, crescimento e afirmação
nacional do PT (Partido dos Trabalhadores). Isto é fato. Mas há que
analisar que este PT que está no poder nasceu do momento histórico
possivelmente de maior crescimento do movimento social que o país viveu,
tendo como base a ascensão das lutas operárias. O PT foi fruto de um
amplo movimento social ativo e consciente do seu protagonismo.
Mas o PT de hoje não é mais o PT da época de sua fundação. Sua direção e
corrente majoritária foram cooptadas pelo poder neoliberal. Passou a
ser um dos grandes, mas a custa da renúncia à missão para a qual foi
criado e atuando contrariamente aos seus discursos históricos. Sua
política é a mesma dos tradicionais "currais eleitorais" criados e
mantidos pelos famigerados "coronéis" do nosso interior.
As chances de que os partidos e o povo "nanicos" deixem de sê-lo
dependem exclusivamente do desenvolvimento da consciência crítica, da
politização, organização da ação coletiva de todos e todas nós. E isto
só irá acontecer na medida em que sobretudo as gerações jovens se
apropriarem do conhecimento e assumirem o seu protagonismo.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Os “nanicos” da política e do povo
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