terça-feira, 10 de agosto de 2010

Para cada cabeça, uma sentença

A análise crítica da controvérsia entre liberalismo e comunitarismo, a teoria social da justiça e o problema da tolerância são algumas das marcas da obra do filósofo e cientista político alemão Rainer Forst, discípulo de Jürgen Habermas. No livro Contextos da Justiça, recém-lançado pela editora Boitempo, o autor investiga o conceito de “justiça”, buscando evidenciar o que é considerado justo em cada época ou cultura, de acordo com os contextos históricos específicos.

Em geral tratado como se fosse imparcial, este conceito é revisto sobre o pano de fundo das contextualizações históricas. Nas palavras do autor, “a diferenciação dos ‘contextos da justiça’ deve ajudar a esclarecer as condições normativas segundo as quais a estrutura básica de uma sociedade pode ser considerada justa”.

Publicado pela primeira vez na Alemanha em 1994 e traduzido para inglês em 2002, Contextos da Justiça discorre sobre autores comunitaristas – como Michael J. Sandel, Alasdair MacIntyre, Charles Taylor e Michael Walzer – e liberais – como John Rawls, Ronald Dworkin e Joseph Raz. Forst conduz daí uma abordagem original e sintética dessas duas perspectivas filosóficas.

Para Forst, numa perspectiva democrática, no liberalismo, os cidadãos não aceita as leis que lhes são impostas em suas consciências, apesar de acatarem-nas na vida em sociedade. Por outro lado, no comunitarismo, os cidadãos não aceitam as leis - no que ele considera um ato não-violento de desobediência civil.

Estrutura

Dividido em cinco capítulos, o livro se desenvolve sobre quatro categorias: a constituição do "eu", a neutralidade do direito, o ethos da democracia e a concepção da teoria moral universalista. O quinto capítulo é dedicado à teoria dos “contextos da justiça” propriamente dita. Forst entende que, apenas a partir da consideração desses quatro conceitos, pode-se criar uma teoria do direito suficientemente ampla.

Em meio a essas questões, o autor também discorre sobre temas como a democracia discursiva, a crítica feminista do liberalismo, o multiculturalismo e a sociedade civil. Provocativa, a obra pode interessar a quem se importa com os debates em torno da justiça social e política.

Atualmente, Rainer Forst é professor de teoria política no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Johann Wolfgang Goethe, em Frankfurt, e suas principais áreas de investigação são teoria política, pragmatismo, tolerância e justiça social. Publicou, entre outros livros, Toleranz: philosophische Grundlagen und gesellschaftliche Praxis einer umstrittenen Tugend (2000), Toleranz im Konflikt: Geschichte, Gehalt und Gegegenwart eines umstrittenen Begriffs (2003) e Das Recht auf Rechtfertigung: Elemente einer konstruktivistischen Theorie der Gerechtigkeit (2007), todos inéditos no Brasil.

Fonte: OperaMundi

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