Elaine Tavares *
Adital - A mídia
brasileira é pródiga em falar do conflito armado na Colômbia, sempre na
perspectiva do governo, até estes dias, de Álvaro Uribe. Este,
geralmente foi mostrado como o grande democrata que estava fazendo todo o
possível para acabar com uma guerra civil que perdura por décadas. Jamais
se ouviu ou se leu na mídia comercial brasileira sobre a famosa "black
list", um documento produzido pelo Departamento de Defesa dos Estados
Unidos, que mostra Uribe como um narcotraficante. O documento é
explícito: Álvaro Uribe é um senador (isso em 1991) que colabora
ativamente com o cartel de Medellín, recebe dinheiro por isso e é amigo
pessoal de Pablo Escobar. Talvez por isso mesmo os EUA tenham apoiado o
então senador quando este quis ser presidente da Colômbia e o foi por
dois mandatos. Não é sem razão que Uribe permitiu a instalação de nove
bases militares estadunidenses no território colombiano.
Durante estes anos
em que esteve à frente do governo colombiano, Uribe certamente não
deixou de ser um fiel servidor do narcotráfico e não é à toa que agora
inicia um processo de guerra contra a Venezuela, alegando mentiras sobre
a ligação do governo de Chávez com os "terroristas" das FARCs. Segue o
mesmo exemplo de seu chefe, George Bush, quando quis fazer a guerra
contra o Iraque, a partir de mentiras como a que o Iraque teria armas
químicas.
Primeiro, as FARCs
não são formadas por terroristas. São exércitos regulares que lutam,
armados, contra o exército da Colômbia e tem um plano de libertação para
o país. Segundo, Uribe tem todo o interesse em se manter fora da
cadeia, já que é um narcotraficante reconhecido inclusive pelos EUA,
então precisa criar sobre si uma cortina de fumaça. E terceiro, durante
seus mandatos promoveu tantos crimes e atrocidades que igualmente deve
ser julgado por crime de lesa humanidade.
Na última semana,
uma fossa encontrada no pequeno povoado de La Macarena, a uns 200
quilômetros de Bogotá, região que é conhecida como uma das mais
"quentes" no processo do conflito colombiano, revelou parte de toda essa
atrocidade que o terrorismo de estado tem praticado ao longo dos anos.
Mais de dois mil cadáveres foram encontrados, amontoados uns sobre os
outros, alguns ainda com as mãos e pés amarrados. Este se trata de um
dos maiores enterros coletivos de vítimas que se tem notícia na América
Latina. Segundo as informações dos jornais colombianos, a fossa teria
corpos desde o ano de 2005, sempre renovados.
O exército
colombiano se apressou em dizer que os corpos eram de guerrilheiros que
haviam morrido em combate. Mas, o povo da região não confirma isso. Pelo
contrário, o que os moradores dizem é que aqueles corpos são de líderes
sociais, camponeses e militantes populares que desapareceram sem deixar
qualquer rastro.
A cova foi
descoberta por conta da denúncia realizada por gente que esteve por anos
atuando junto aos paramilitares e que se entregou sob a proteção de uma
controvertida lei chamada de Lei de Justiça e Paz. Esta lei garante aos
informantes uma pena simbólica se eles confessarem seus crimes. Durante
estas sessões de "confissão", um dos chefes de um grupo paramilitar
chamado John Jairo Rentería revelou que ele e seu grupo chegaram a
enterrar mais de 800 pessoas em uma fazenda na cidade de Puerto Asís.
Também confessou que os seus comandados usavam estas pessoas
(sindicalistas, militantes sociais, estudantes) para aprender como
esquartejar uma pessoa e revelou que alguns procedimentos eram feitos
com as pessoas ainda vivas.
A audiência e a
localização dos corpos da cova de La Macarena aconteceram no mesmo dia
em que o governo de Santos, atual presidente colombiano, pediu uma
reunião urgente na OEA para denunciar a Venezuela como um estado que
estava acolhendo membro das FARCs. Nada mais do que outra cortina de
fumaça para tentar encobrir o horror da descoberta e das outras tantas
atrocidades produzidas pelo governo de seu amigo e antecessor Álvaro
Uribe.
O povo organizado
da Colômbia quer que tudo seja esclarecido e exige ainda a punição de
Uribe por estes crimes, imprescritíveis, de lesa humanidade.
Veja fotos da cova descoberta em La Macarena.
www.iela.ufsc.br
* Jornalista
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