A economia portuguesa vai voltar a recuar no
próximo ano, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional
(FMI). A recessão vai atingir 1,4% e o número de desempregados vai
continuar a aumentar.
Jörg Decressin,
director assistente do departamento de pesquisa do FMI alertou para
nova recessão em Portugal, prevendo o efeito das novas medidas de
austeridade do Governo Sócrates.Foto LUSA/EPA/Stephen Jaffe
Parece que Portugal não tem escolha pois o corte no défice é mesmo para fazer já e a consequência será o regresso à recessão.
Esta quarta-feira, em Washington, a organização apresentou o seu último
'World Economic Outlook', onde se encontram as previsões semestrais
para a economia mundial e para Portugal. Estas estimativas não
contabilizam o impacto das novas medidas de austeridade anunciadas pelo
Governo, onde se inclui o corte de cinco por cento na massa salarial da
função pública e o aumento do IVA para 23 por cento.
Contudo, Jörg Decressin, director assistente do departamento de
pesquisa do FMI, considerou que o impacto dessas medidas poderá fazer
com que a economia portuguesa volte a mergulhar na recessão em 2011,
contraindo 1,4 por cento. "Estas medidas terão um efeito grande",
reconheceu o director, acrescentando que representam cerca de "3% do
PIB", cita o Diário Económico.
Ainda assim, o FMI apoia a decisão do Governo de intensificar os cortes
no défice. "Portugal está sob muita pressão e por isso aplaudimos a
decisão do Governo", garantiu Dressing.
Portugal deverá estagnar em 2011 e crescer 1,1% este ano, com desemprego a aumentar até aos 11%
No relatório ‘World Economic Outlook', o FMI revê em alta a previsão de
crescimento dos países da moeda única para 1,7 por cento em 2010 e 1,5
por cento em 2011, avisando, no entanto, que haverá "diferenças
significativas" nas perspectivas entre os diferentes países,
nomeadamente com as "graves restrições de financiamento externo" para
Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, que continuam a ser "uma ameaça" à
manutenção da zona euro.
A economia portuguesa deverá crescer 1,1 por cento este ano e estagnar
em 2011, enquanto a taxa de desemprego deverá continuar a aumentar tanto
em 2010 (10,7 por cento), como em 2011 (10,9 por cento). Segundo os
cálculos do FMI, entre 2009 e 2013 o país terá o segundo maior
agravamento mundial na taxa de desemprego.
A austeridade nas contas públicas e a ineficiência do tecido produtivo
vão empurrar a taxa de desemprego portuguesa para os 11% da população
activa, um dos maiores aumentos previstos a nível mundial na taxa de
desemprego em 2013, ano em que termina o programa de consolidação
orçamental.
Segundo adianta o jornal I, o pacote da austeridade pode gerar mais 120
mil desempregados até ao ano em que o défice descerá até 3% do PIB,
segundo o plano do governo. A crise que deu os primeiros sinais em 2007
custou ao país a destruição de 109 mil postos de trabalho até 2009. A
consolidação orçamental (2009-2011) que vem agora, segundo as contas do
FMI, roubará mais 31 mil empregos na economia portuguesa.
A inflação para este ano e para o próximo foi revista em alta pelo FMI
em 0,1 pontos percentuais. Para 2010, o FMI prevê um valor negativo de
dez por cento do Produto Interno Bruto (PIB), contra a previsão anterior
de 9 por cento. Para 2011, a previsão é de 9,2 por cento.
Já o Governo português espera que Portugal cresça mais de 1% em 2010 e
0,5% em 2011, apesar do impacto negativo das medidas de austeridade.
“Com as novas medidas de austeridade, será inevitável uma recessão económica em Portugal”
Francisco Louçã, contesta esta previsão de crescimento para 2011: “O
que percebemos hoje de todas as instituições internacionais é que os
sinais de alerta são gravíssimos, nós estamos à beira de uma recessão e o
aumento dos impostos acentua a recessão, a redução dos salários acentua
a recessão e por isso é escusado fechar os olhos”, argumentou o
deputado e coordenador da Comissão Política do Bloco.
“Com as medidas de austeridade anunciadas será inevitável uma recessão
económica em Portugal”, alerta, defendendo que o Orçamento do Estado
deve ter o emprego como prioridade.
“No último debate [quinzenal] perguntei ao primeiro-ministro o que
pensava que seria o efeito das suas políticas e ele garantiu que não
aconteceria nada, que a economia ficaria na mesma aumentando os impostos
ou mantendo o mesmo nível de impostos, diminuindo ou melhorando o
emprego, aumentando ou diminuindo os salários”, notou Louçã, em
declarações à imprensa, esta quarta-feira no Parlamento.
Segundo Francisco Louçã, uma recessão económica também agravará o
défice: “A recessão garante que o défice será maior no futuro, as
agências de notação e o FMI pedem-nos que reduzamos os salários e que
aumentemos os impostos, isso provoca recessão, a recessão vai provocar
menos receitas fiscais porque há menos economia, portanto vamos ter mais
défice num círculo vicioso do qual nunca saímos”.
“A ideia destes economistas [do FMI e da União Europeia] é que quanto
pior estiver o país melhor está o pagamento dos juros para a dívida
externa”, criticou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário