quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mais austeridade em Portugal trará nova recessão, alerta FMI

A economia portuguesa vai voltar a recuar no próximo ano, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI). A recessão vai atingir 1,4% e o número de desempregados vai continuar a aumentar.
Mais austeridade em Portugal trará nova recessão, alerta FMI
Jörg Decressin, director assistente do departamento de pesquisa do FMI alertou para nova recessão em Portugal, prevendo o efeito das novas medidas de austeridade do Governo Sócrates.Foto LUSA/EPA/Stephen Jaffe

Parece que Portugal não tem escolha pois o corte no défice é mesmo para fazer já e a consequência será o regresso à recessão.
Esta quarta-feira, em Washington, a organização apresentou o seu último 'World Economic Outlook', onde se encontram as previsões semestrais para a economia mundial e para Portugal. Estas estimativas não contabilizam o impacto das novas medidas de austeridade anunciadas pelo Governo, onde se inclui o corte de cinco por cento na massa salarial da função pública e o aumento do IVA para 23 por cento.
Contudo, Jörg Decressin, director assistente do departamento de pesquisa do FMI, considerou que o impacto dessas medidas poderá fazer com que a economia portuguesa volte a mergulhar na recessão em 2011, contraindo 1,4 por cento. "Estas medidas terão um efeito grande", reconheceu o director, acrescentando que representam cerca de "3% do PIB", cita o Diário Económico.
Ainda assim, o FMI apoia a decisão do Governo de intensificar os cortes no défice. "Portugal está sob muita pressão e por isso aplaudimos a decisão do Governo", garantiu Dressing.
Portugal deverá estagnar em 2011 e crescer 1,1% este ano, com desemprego a aumentar até aos 11%
No relatório ‘World Economic Outlook', o FMI revê em alta a previsão de crescimento dos países da moeda única para 1,7 por cento em 2010 e 1,5 por cento em 2011, avisando, no entanto, que haverá "diferenças significativas" nas perspectivas entre os diferentes países, nomeadamente com as "graves restrições de financiamento externo" para Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, que continuam a ser "uma ameaça" à manutenção da zona euro.
A economia portuguesa deverá crescer 1,1 por cento este ano e estagnar em 2011, enquanto a taxa de desemprego deverá continuar a aumentar tanto em 2010 (10,7 por cento), como em 2011 (10,9 por cento). Segundo os cálculos do FMI, entre 2009 e 2013 o país terá o segundo maior agravamento mundial na taxa de desemprego.
A austeridade nas contas públicas e a ineficiência do tecido produtivo vão empurrar a taxa de desemprego portuguesa para os 11% da população activa, um dos maiores aumentos previstos a nível mundial na taxa de desemprego em 2013, ano em que termina o programa de consolidação orçamental.
Segundo adianta o jornal I, o pacote da austeridade pode gerar mais 120 mil desempregados até ao ano em que o défice descerá até 3% do PIB, segundo o plano do governo. A crise que deu os primeiros sinais em 2007 custou ao país a destruição de 109 mil postos de trabalho até 2009. A consolidação orçamental (2009-2011) que vem agora, segundo as contas do FMI, roubará mais 31 mil empregos na economia portuguesa. 
A inflação para este ano e para o próximo foi revista em alta pelo FMI em 0,1 pontos percentuais. Para 2010, o FMI prevê um valor negativo de dez por cento do Produto Interno Bruto (PIB), contra a previsão anterior de 9 por cento. Para 2011, a previsão é de 9,2 por cento.
Já o Governo português espera que Portugal cresça mais de 1% em 2010 e 0,5% em 2011, apesar do impacto negativo das medidas de austeridade.
“Com as novas medidas de austeridade, será inevitável uma recessão económica em Portugal”
Francisco Louçã, contesta esta previsão de crescimento para 2011: “O que percebemos hoje de todas as instituições internacionais é que os sinais de alerta são gravíssimos, nós estamos à beira de uma recessão e o aumento dos impostos acentua a recessão, a redução dos salários acentua a recessão e por isso é escusado fechar os olhos”, argumentou o deputado e coordenador da Comissão Política do Bloco.
“Com as medidas de austeridade anunciadas será inevitável uma recessão económica em Portugal”, alerta, defendendo que o Orçamento do Estado deve ter o emprego como prioridade.
“No último debate [quinzenal] perguntei ao primeiro-ministro o que pensava que seria o efeito das suas políticas e ele garantiu que não aconteceria nada, que a economia ficaria na mesma aumentando os impostos ou mantendo o mesmo nível de impostos, diminuindo ou melhorando o emprego, aumentando ou diminuindo os salários”, notou Louçã, em declarações à imprensa, esta quarta-feira no Parlamento.
Segundo Francisco Louçã, uma recessão económica também agravará o défice: “A recessão garante que o défice será maior no futuro, as agências de notação e o FMI pedem-nos que reduzamos os salários e que aumentemos os impostos, isso provoca recessão, a recessão vai provocar menos receitas fiscais porque há menos economia, portanto vamos ter mais défice num círculo vicioso do qual nunca saímos”.
“A ideia destes economistas [do FMI e da União Europeia] é que quanto pior estiver o país melhor está o pagamento dos juros para a dívida externa”, criticou.

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