Por Arlete Sampaio
Qualquer análise sobre o que significa este segundo turno deve ser
precedida por uma correta percepção sobre o que estamos travando: isso é
uma campanha ou é uma guerra? A última semana de 1º turno e o início da
primeira semana do 2º turno mostram que não estão fazendo campanha
contra Dilma. Estão travando uma guerra. Campanha insidiosa não é
campanha, é guerra. Campanha que abusa do sentimento religioso não é
campanha, é cruzada. Campanha que inventa frases nunca proferidas por
Dilma para demonizá-la não é campanha, é crime.
A quem interessa esse clima de guerra? A ninguém que cultive um
mínimo de espírito democrático. A ninguém que tenha esclarecimento
suficiente para saber que uma campanha eleitoral não é um plebiscito
sobre questões bioéticas que são complexas, que envolvem os três poderes
da República e que merecem um tratamento sério, e não sua banalização e
uso preconceituoso. Não era para ser isso, mas o segundo turno pode se tornar uma batalha do esclarecimento contra o obscurantismo. Voltamos ao século XVIII. É lá, no século XVIII, que os setores elitistas ultraconservadores insistem em querer manter o Brasil, em inúmeras questões. E é lamentável que parte considerável dos que se dizem democratas se renda a esse senhorio e aceite entrar pela porta dos fundos desse condomínio.
uso preconceituoso. Não era para ser isso, mas o segundo turno pode se tornar uma batalha do esclarecimento contra o obscurantismo. Voltamos ao século XVIII. É lá, no século XVIII, que os setores elitistas ultraconservadores insistem em querer manter o Brasil, em inúmeras questões. E é lamentável que parte considerável dos que se dizem democratas se renda a esse senhorio e aceite entrar pela porta dos fundos desse condomínio.
Ao percebermos esse quadro, é preciso uma mudança de postura. Da
candidata, dos partidos, dos militantes, e principalmente dos cidadãos
que vêem sua cidadania ser arranhada pelas patas do reacionarismo; dos
que são ameaçados em seu direito de discernir corretamente sobre o que
está em jogo, diante de uma pregação que não é só destinada ao 2º turno,
mas até a um 3º turno da eleição presidencial. Todos os setores
democráticos e populares, os que votaram em Marina e mesmo parte dos que
votaram em Serra têm o dever de entender o que se está passando. A
candidatura adversária está sendo capturada pelo
reacionarismo. O candidato Serra, que se dizia orgulhoso de sua biografia, será que ainda faz questão de preservá-la? É o que veremos, não no horário eleitoral gratuito, mas nas ruas, nos panfletos apócrifos, nas mensagens que destilam ódio pela internet, nos pronunciamentos de seu vice (seja lá quem for).
reacionarismo. O candidato Serra, que se dizia orgulhoso de sua biografia, será que ainda faz questão de preservá-la? É o que veremos, não no horário eleitoral gratuito, mas nas ruas, nos panfletos apócrifos, nas mensagens que destilam ódio pela internet, nos pronunciamentos de seu vice (seja lá quem for).
As três principais candidaturas (Dilma, Serra e Marina) fizeram um
primeiro turno relativamente tranqüilo, salvo pelas duas últimas semanas
de ataques irracionais à candidata governista. Dilma com um programa
propositivo, Serra fingindo não ser de oposição e Marina falando,
justamente, contra a polarização (que ela paradoxalmente contribuiu para
produzir, com o 2º turno). Segundo turno, não tem jeito: é plebiscito.
Ele representa um instrumento de grande importância em nosso sistema
político, pois garante que o escolhido seja de fato respaldado pela
ampla maioria dos eleitores. Por isso, os candidatos são obrigados a
mostrar quem são, o que representam e quem representam.
É disso que se trata: a partir de agora, vai ser preciso dar nome aos
bois e às boiadas. Dilma ultrapassou o teto histórico da votação da
esquerda em primeiro turno, mesmo das votações dadas às campanhas
vitoriosas de Lula. É um feito que demonstra o avanço conquistado pelos
movimentos sociais e suas organizações e pelo amadurecimento do
eleitorado brasileiro, facilitado por um conjunto de políticas públicas
que mostrou as diferenças abissais do governo Lula em relação a qualquer
outro governo.
Devemos pensar em três frentes: na política, na questão ambiental e
no desenvolvimento do país. Na política, o que está em jogo é o
enraizamento da participação popular no desenho das políticas públicas e
o fortalecimento das classes sociais menos favorecidas, em sua luta não
apenas por ascensão econômica, mas por protagonismo político. Isso é
algo que incomoda muita gente e que a ultradireita quer eliminar a todo
custo. Na questão ambiental, há uma guerra do setor predatório do
agronegócio
contra Dilma. Basta ver que os mapas de votação que dão maioria a Serra localizam-se fortemente em Estados e localidades que têm os maiores focos de agronegócio predatório. É só ver quem está do lado de Serra e os ruralistas que o apóiam.
contra Dilma. Basta ver que os mapas de votação que dão maioria a Serra localizam-se fortemente em Estados e localidades que têm os maiores focos de agronegócio predatório. É só ver quem está do lado de Serra e os ruralistas que o apóiam.
Já o modelo de desenvolvimento sustentável com inclusão social deve
mostrar suas diferenças com o modelo de desenvolvimento excludente,
privatista e predatório. Vamos ter que lembrar dos vôos de galinha, dos
“inimpregáveis”, dos “vagabundos” (foi assim mesmo que FHC denominou os
servidores públicos aposentados), da época em que se considerava delírio
um salário mínimo de100 dólares (isso mesmo, hoje daria menos de 170
reais). Será preciso mostrar o que fizemos em crescimento econômico e em
desenvolvimento social das regiões mais pobres. Teremos que relembrar o
que era a Petrobrás e o BNDES há 8 anos e o que eles representam agora,
ao terem sido transformados em alavancas do desenvolvimento nacional,
com impactos positivos até sobre a América do Sul.
Será preciso mostrar o que se fez política externa, que de um lado
simboliza a importância do Brasil no exterior e, de outro, atiça os que
têm o complexo de vira latas. Será preciso comparar o que se fez na
Saúde no Governo Lula com o caos da saúde em São Paulo, confrontando as
opções de gestão: de um lado, o fortalecimento da gestão pública; do
outro, o desmonte, a terceirização, a falta de investimentos. Será
preciso defender o Plano Nacional de Direitos Humanos 3, inclusive com a
ajuda dos que foram responsáveis pela área de direitos humanos durante a
gestão anterior.
Questões como essas deveriam ser o cerne do debate. Mas isso é para
uma campanha. Para uma guerra, é mais do que urgente que não só os
partidos coligados à candidatura Dilma, mas todos os movimentos de
cidadania que lutam arduamente pela melhoria da qualidade do voto, pelo
aperfeiçoamento da nossa democracia, pela não deturpação e manipulação
do debate eleitoral cumpram a tarefa de alertar os cidadãos e cidadãs
sobre as ações perversas dos que se aproveitam desse momento eleitoral e
do espaço dado pela candidatura adversária para esgrimir suas
ignomínias.
É preciso uma nova campanha da legalidade, com um trabalho militante
de recolhimento de denúncias e acionamento penal daqueles que se acham
livres para produzir atentados à democracia. Tenho a certeza de que, se
isso for estancado, deixaremos de travar uma guerra e poderemos
democraticamente iniciar uma campanha. E poderemos certamente descobrir
que os que apostam no envenenamento do debate eleitoral são
provavelmente os mesmos que acabaram derrotados na luta pela
redemocratização do país. Luta que custou muitas vidas e foi vitoriosa
graças a muita mobilização popular. É essa história que devemos defender
neste momento em que não podemos cair na defensiva, nem nos acovardar
pelas ameaças infames dos
profetas do golpismo e dos Zés do Apocalipse.
profetas do golpismo e dos Zés do Apocalipse.
(*) Arlete Sampaio é Deputada Distrital eleita pelo PT-DF, foi
Vice-Governadora do DF (1995-1998) e Secretária Executiva do Ministério
do Desenvolvimento Social do Governo Lula.
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