Como Serra-2010 reproduz, no Brasil, a irracionalidade e a
mobilização de ressentimentos que caracteriza o Tea Party, nos EUA. Por
que a guinada de Dilma no debate da Band era indispensável para a busca
da vitória. Quais as perspectivas para as eleições, agora
Por Antonio Martins | Imagem: Paul Klee, Paisagem Pedregosa
I.
O momento da guinada
O momento da guinada
Surpreendente, a candidata que lidera as intenções de voto abriu sua
participação escancarando a “campanha de calúnias e mentiras” lançada
contra si mesma. Tomou a iniciativa de introduzir o tema do aborto –
principal peça usada pelos adversários para fustigá-la. Ousou referir-se
à esposa de seu oponente, apontando-a como parte dos ataques (e não foi
contestada…). Depois, partiu para o território mais desejado: as
privatizações, ausentes da campanha até agora, foram tema de três
perguntas em sequência, e certamente polarizarão as discussões, daqui
para a frente.
Pouco traquejada em debates televisivos, Dilma Roussef teve momentos
de nervosismo e lapsos, na noite do último domingo (10/10), primeiro
confronto com José Serra após o primeiro turno. Mas ao final, havia
alcançado dois objetivos. O mais visível foi retomar a iniciativa e
voltar a pautar a disputa presidencial, depois de quase um mês apenas
“segurando o resultado” e da frustração por não liquidar a disputa em 3
de outubro. Menos evidente, porém ainda mais importante, foi ter exposto
a face pouco convencional – e por isso surpreendente e perigosa – da
“nova” direita que a candidatura de José Serra articula. A frase que
sintetiza esta descoberta ficará marcada. “Vocês estão introduzindo ódio
na vida brasileira”.
A reação de Dilma respondeu a uma emergência. Estacionado por meses
no patamar de 25% dos votos, incapaz de despertar entusiasmo ou simpatia
durante toda a campanha, José Serra mostrou que não estava morto a
partir de meados de setembro. Os ataques subterrâneos que lançou contra a
candidata petista foram incapazes de lhe transferir votos. Mas
provocaram o segundo turno, porque um grande contingente de eleitores
atingidos refugiou-se em Marina (leia também nossa análise análise sobre 3/10).
Embora tenha conquistado menos de 1/3 das preferências dos eleitores,
o candidato do PSDB viu-se, de um momento para outro, em condições
reais de se tornar presidente. Tal possibilidade foi demonstrada pela
primeira pesquisa de intenção de votos para o segundo turno, do
Datafolha. Em 7 e 8 de outubro, menos de uma semana após a primeira
disputa, Serra avançara pouco: tinha 41% das intenções de voto, contra
40% na sondagem anterior. Mas Dilma caíra de 52% para 48%. A diferença
estreitara-se cincos pontos – reduzindo-se a apenas sete. Para entender
como tal reviravolta foi possível, é preciso examinar a fundo, a à luz
dos novos fatos, as características da campanha de Serra.
II.
Uma estratégia de despolitização radical
Uma estratégia de despolitização radical
Subestimada durante meses, por fugir
inteiramente à lógica das disputas políticas clássicas (e do que se
esperaria de alguém com o passado do candidato), a trajetória do
candidato tucano começa agora a fazer sentido. Inspira-se no Tea Party, a
ultra-direita norte-americana que reemergiu com enorme força, em
resposta à eleição de Barack Obama – e que tem como ícone Sarah Palin…
Seu perfil não se confunde nem com o da direita clássica (que defendia
com sinceridade as ideias conservadoras), nem com o do neoliberalismo
(que postulava como valor máximo a supremacia dos mercados).
Corresponde a uma fase de impasse do capitalismo ocidental. Depois de
verem seu projeto de sociedade questionado, e de o terem reciclado
parcialmente nas décadas anteriores, as velhas elites parecem, em todo o
mundo, incapazes de dar um novo passo propositivo adiante. Sua
associação orgânica com o conservadorismo foi abandonada, na sequência a
1968; sua crença na “mão invisível”, que substituiu a antiga aliança a
partir do fim dos anos 1970, acabou destroçada pela crise pós-2008; as
periferias batem à porta – tanto as globais, quanto as metropolitanas.
Resta resistir a elas: e como não é possível fazê-lo por meio de um projeto articulado, convocam-se os medos e ressentimentos: o irracional.
É uma aposta momentaneamente forte, porque as ideias de ampliação da
democracia e transformação social rearticularam-se há muito pouco (na
virada do século) e não puderam ainda fincar raízes no imaginário
popular, nem formular conceitos sólidos. Lula, Obama ou Evo Morales; o
Fórum Social Mundial, a sociedade civil global, o desejo de rever as
relações entre o ser humano e a natureza; a cultura das periferias, a
aparição em cena dos indígenas e negros, as novas classes médias; a
blogosfera, o compartilhamento de cultura e conhecimento, a colaboração
como valor decisivo para produzir – tudo isso são todos fenômenos
contemporâneos. Não têm o peso da experiência, dos erros, dos recursos
materiais e financeiros, da influência geopolítica que caracterizava a
tradição de esquerda anterior – especialmente a social-democracia e o
socialismo real.
Sem uma alternativa para contrapor a estas inovações que aspiram a construir futuro, a direita-Tea Party tenta despejar sobre elas os preconceitos do passado. Sua estratégia é evitar o
debate político e, sobretudo, o choque entre projetos. Suas propostas
são risíveis: nos EUA, insiste-se em manter duas guerras, ampliar os
cortes de impostos decretados por Bush e, ainda assim, reduzir o déficit
público. Seu método é substituir o debate racional pela mobilização de
rancores e recalques, pelas denúncias caluniosas e não-assumidas, pelo
ataque implacável a certas ideias e personalidades, pela desinformação
deliberada e generalizada.
Seu poder não pode ser desprezado – especialmente em sociedades nas
quais o acesso médio dos cidadãos à informação ainda é reduzido. Nos EUA, pesquisa
recente mostrou que apenas um terço dos cidadãos sabe que Barack Obama é
cristão; 20% pensam que ele é muçulmano; e o percentual dos que estão
mal-infomados cresceu acentuadamente desde a posse do
presidente. Além disso, boa parte da sociedade crê sinceramente que a
crise financeira é responsabilidade direta de Obama, não das políticas
de seus antecessores…
A candidatura Serra repete de modo impressionante, em seus aspectos
centrais, este padrão. O postulante jamais apresentou programa — nem à
Justiça Eleitoral1,
nem, principalmente, aos eleitores. O sentido geral das propostas de
Dilma e Marina é compreensível e razoavelmente conhecido: pode-se aderir
a elas, deplorá-las, apoiá-las em parte, estabelecer diálogos. O
presidenciável do PSDB apresenta, enquanto isso, uma coleção de
promessas incoerentes ao longo do tempo e incompatíveis entre si.
Ele já foi contra e a favor da renda cidadã e do programa
habitacional do governo. Ele diz que o Estado brasileiro tem uma dívida
crescente (o que é falso…) e ainda assim propõe cortar impostos dos
ricos e, ao mesmo tempo, ampliar os benefícios pagos à maioria
(contrariando toda a sua prática anterior). Ele tenta sepultar debates
incômodos com rompantes repentinos, cheios de bazófia e incompatíveis
com seu arco de alianças (em 12/10, dois dias depois de Dilma introduzir
na campanha as privatizações, prometeu reestatizar empresas…). A velha
mídia jamais questiona estas incongruências. Mergulhada ela própria em
crise, talvez deposite suas últimas esperanças numa contra-utopia
orwelliana, num descolamento radical entre o discurso político e a
realidade, em que a mediação jornalística assumiria por completo caráter
de ficção – e seria recompensada por isso…
III.
Desconstruir a adversária
Desconstruir a adversária
Como lhe falta um programa coerente, a direita-Tea Party apela
para a desconstrução das candidaturas que vê como inimigas. Nos EUA,
contra todas as evidências e racionalidade, Barack Obama é apontado como
um marxista e traidor da pátria – de nada lhe servindo, aliás, manter
um orçamento militar superior ao de George W. Bush… No Brasil, o alvo é
Dilma. A “nova” direita não ousa atacar nem a figura de Lula, nem o
lulismo. Além de temer a popularidade do presidente, não tem projeto a
contrapor. Por isso, sua preocupação central não é, sequer, destacar as
possíveis qualidades de Serra – mas transformá-lo, por meio da
eliminação política de sua adversária, numa espécie de candidato único.
A fase intensa da campanha para desconstruir Dilma começou no final
de agosto e desdobrou-se em duas etapas. Na primeira, o protagonismo foi
do Jornal Nacional e de quatro publicações impressas que esqueceram suas rivalidades históricas para formar uma espécie de Santa Aliança: O Globo, Veja, Folha e Estado de S.Paulo.
Nesta etapa, o método consistiu em bombardear a opinião pública com
dois “escândalos”: o vazamento do sigilo bancário de Verônica Serra, do
qual Dilma Roussef foi – sabe-se agora com certeza – injustamente acusada; e a agência de lobby mantida
pelo filho de Erenice Guerra, que não obteve nenhum favorecimento real,
embora usasse o parentesco com a mãe poderosa para impressionar
clientes. O primeiro caso era uma ficção; o segundo, uma irrelevância.
Mas ambos monopolizaram, por 30 dias, as manchetes dos três jornais de
maior circulação do país; da revista semanal mais conhecida; e do
noticiário de maior audiência na TV. Para atestar o caráter eleitoreiro
das “denúncias”, basta lembrar que foram imediatamente esquecidas, ao
cumprirem seu papel na campanha. Não visavam investigar a fundo um
assunto importante – apenas atacar uma candidatura, em proveito de
outra.
Dilma resistiu ao ataque. Mas nas três semanas que antecederam as
urnas, a ofensiva midiática foi complementada pela mobilização das bases
conservadoras. Nos EUA, ela é uma caracteística da Tea Party: aproveitando-se
da frustração inicial das expectativas geradas por Obama, a direita
formou centenas de comitês em todo o país e promoveu ao menos duas
grandes marchas em Washington. No Brasil, onde não há nada que se
compare a esta força, recorreu-se à difusão de denúncias apócrifas por
meio da internet – um espaço onde o PT e seus aliados desperdiçaram
muitas oportunidades e ignoraram a blogosfera potencialmente aliada.
A campanha de Serra articulou o lançamento incessante de boatos
anônimos. Mobilizou a classe média conservadora e ressentida, numa rede
informal muito capilarizada. Imitando uma vez mais o exemplo
norte-americano, apoiou-se (sob as vistas grossas da CNBB) no poder
crescente que o fundamentalismo está conquistando no catolicismo
institucional e em algumas seitas evangélicas.
Uma visita ao site sejaditaverdade, ou a leitura de cartaz,
afixado diante de muitas igrejas, no dia da eleição (na foto, em Porto
Alegre), dão uma pequena ideia do que se destilou. Segundo a montanha de
spams políticos, a candidata teria participado de diversos
assassinatos. Sua postulação visaria, fundamentalmente, aprovar a
disseminação do aborto, o casamento gay e o ataque do Estado às Igrejas.
Enfrentaria processo de uma ex-amante. Lançaria blasfêmias contra
Cristo (“nem ele impede minha vitória”). Posaria com armas. Estaria
impedida de entrar nos Estados Unidos, por atos terroristas. Teria
mobilizado fabricantes de chips chineses para fraudar as urnas
eletrônicas brasileiras. Sua candidatura estaria a ponto de ser
impugnada pelo “ficha limpa”. Seu vice, Michel Temer, frequentaria
seitas satanistas em Curitiba. Etc. Etc. Etc…
O jornalista Leonardo Sakamoto explicou,
em seu blog como estas alegações inteiramente inconsistentes acabam
adquirindo força, em conjunto. Disparadas às dezenas de milhões, cada
uma delas acaba atingindo um público que se sensibiliza pelo tema em
questão e acredita no argumento. Os integrantes deste grupo passam a
reproduzir a “denúncia”, acrescentando a ela, agora, o peso de sua
reputação e influência pessoal.
A montagem desta rede de boatos foi a função a que se dedicou o
norte-americano de origem indiana Ravi Singh, sócio da transnacional de
marketing político ElectionMall – que prestou consultoria por meses à
campanha de Serra2. Em 2007, diante do sucesso de Obama na internet, o site progressista norte-americano Mother Jones entrevistou
Michael Cornfield, vice-presidente da empresa. Indagado sobre a
possibilidade de a direita servir-se da internet no futuro, ele a
considerou inevitável. E frisou: “Há mais de uma maneira de usar a web.
Muito mais que uma maneira”…
No exato momento em que a campanha de Serra mobilizava todas as suas
energias, a de Lula e Dilma descansava. O movimento fazia sentido, se
visto pela lógica das disputas eleitorais travadas até então. Num
comício em Curitiba, a uma semana do primeiro turno, o presidente
recomendou a seus apoiadores “segurar o jogo”. “Estamos ganhando de 2 x 0
e faltam dez minutos para terminar a partida. O adversário está nos
chutando na canela e no peito e o juiz não apita falta. Querem explusar
alguém do nosso lado. Vamos fazer como o Parreira, quando técnico do
Corínthians, e prender a bola. Enquanto ela estiver nos nossos pés, o
outro time não faz gol”.
Comemorara cedo demais a resistência de Dilma aos ataques midiáticos.
Não se dera conta de que, em articulação com a boataria apócrifa, eles
haviam constituído um ataque em pinça poderoso. Milhões de eleitores,
que conheciam a candidata superficialmente, eram atingidos agora tanto
pelo Jornal Nacional quanto por mensagens recebidas de pessoas próximas e confiáveis.
Um excelente texto publicado por Weden no
site do Luís Nassif sintetizou o cenário. Além de provocar a segundo
turno, a artilharia cerrada disparada durante semanas pela mídia e pela
central de boatos apócrifos estava começando a desconstruir
politicamente a candidata. Expressão destacada do lulismo, responsável
pelo planejamento e articulação política de seu segundo governo, ela
estava sendo sendo reduzida a uma escolha errada do presidente.
“Reconheço que nunca houve um governo tão bom para nós”, mas “esta
mulher é um perigo para o país” foi o depoimento emblemático colhido por
Weden junto a um taxista – que estava disposto a votar em
Dilma até as vésperas do primeiro turno, mas migrou para Marina e
tendia, naquele momento (7/10) a Serra. Embora ainda limitado (daí Dilma
manter-se na dianteira), o movimento alastrava-se rapidamente. Weden abordou
com realismo seu sentido potencial: “A candidata petista está perdendo o
‘efeito continuidade’ que conseguiu representar até semanas atrás. Se
Dilma ficar na metade dos votos governistas, perde a eleição”.
IV.
Por onde corre a repolitização
Por onde corre a repolitização
Como pode uma candidata repolitizar uma campanha, quando setores
crescentes do eleitorado questionam sua própria legitimidade? A pergunta
embaraçou até mesmo grandes especialistas. Entrevistado por Luís
Nassif, Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus, sugeriu que a chave
era o tema do aborto. Dilma deveria fazer um pronunciamento “amplo e
forte” contra a interrupção da gravidez. Era, evidentemente, um
equívoco. Se fosse responder a cada uma das invenções lançadas contra
si, a candidata não faria mais nada, até 31 de outubro. Além disso,
cada resposta acabaria dando mais destaque ao próprio boato. A vítima de
uma sequência de calúnias enfrenta um drama semelhante ao de quem cai
num poço de areia movediça: quanto mais se debate, mais afunda. A única
saída é buscar um ponto de apoio externo.
Dilma viu no debate da Band, em 10 de outubro, o momento para escapar
do poço. Procurou o ponto de apoio mais potente – e, ao mesmo tempo,
mais difícil e arriscado. Em sua primeira pergunta a Serra, questionou
diretamente a desqualificação da campanha. Já na réplica, ainda mais
incisiva, apontou a manipulação de suas opiniões relativas tema ao
aborto. Voltou ao ele numa pergunta posterior, quando, para ampliar a
veracidade do que alegava, mencionou o envolvimento de Mônica Serra no
esforço de difamação.
Estava visivelmente tensa: naqueles instantes, qualquer escorregão em
sua fala seria catastrófico. Mas completou bem o movimento, que lhe
trouxe duas vantagens. Abriu caminho para que sua campanha continue
denunciando a armação adversária – ou seja, produzindo antídotos contra a
desconstrução de sua imagem. E mostrou grande coragem, desmentindo na
prática a impressão – preconceituosa e machista – de que é mero produto
de marketing de Lula. Estes dois pontos lhe deram o apoio necessário
para abrir, em seguida, o questionamento político e programátrico a
Serra. A escolha dos temas era óbvia: privatizações e programas de
redistribuição de renda, símbolos máximos da diferença entre o projeto
do lulismo e o das elites.
Dará certo? O objetivo principal dos candidatos, num debate como o da
Band não é conquistar o eleitorado, mas redefinir os temas que
polarizarão a campanha em seguida. Mesmo com apenas 2% de audiência, o
evento cria fatos incontornáveis. Os primeiros efeitos foram logo
sentidos. A campanha de Serra e os jornalistas que a bajulam tentaram
desqualificar a nova postura da candidata – um sinal evidente que ela
leva a disputa para um terreno que temem. Mais: o programa de TV do
PSDB-DEM foi obrigado a referir-se à privatização. Não poderá manter por
muito tempo a abordagem totalmente falsificadora que, como se viu,
adotou – desde que a campanha de Dilma aprofunde o tratamento dado ao
tema…
Uma coisa é certa: a três semanas da eleição, o giro executado pela
candidata em 10 de outubro é um movimento sem retorno. A “Diminha paz e
amor”, a continuadora quase natural do legado de Lula, deu lugar a um
novo personagem político. Dele precisa fazer parte, também, a
polemizadora; a mulher que demonstra vasto conhecimento técnico sobre os
programas que coordenou no governo; a que, por estar profundamente
envolvida no movimento de democratização expresso pelo lulismo, sente-se
à vontade para provocar o choque pedagógico entre prejetos para o
Brasil. Desta iniciativa dependem agora tanto a repolitização da
campanha quando a consolidação ou recomposição da imagem de Dilma, entre
a parcela do eleitorado que esteve ou está em dúvida sobre seu voto.
As reviravoltas de campanha levam algum tempo para produzir todos os
seus efeitos. É possível que eles não sejam captadas pelas próximas
pesquisas – ou seja, que a diferença entre os dois candidatos volte a
diminuir ou mesmo desapareça. Será preciso muita calma nessa hora. O
grande risco a evitar é o desespero, que levaria a reverter o giro de
Dilma.
O programa de TV será, nesta reta derradeira, o palco central para
este confronto de projetos. A trilha aberta em 10 de outubro só pode ser
preenchida com muita informação. É preciso expor, por exemplo, – e
sempre por meio de fatos – a resistência (política e simbólica) da base
de Serra aos programas de redistribuição de renda; as tentativas de
sabotar os projetos de lei que tratam do Pré-Sal (um ano depois de
apresentados, só um foi transformado em lei pelo Congresso). Se feita
com sabedoria e talento, a exposição dos absurdos assacados contra Dilma
pela campanha apócrifa lançará o feitiço contra o feiticeiro.
Viveremos fortes emoções, nas próximas semanas. Mas o processo de
transformações inciado há oito anos tem potência suficiente para voltar a
se impor, entre a maioria do eleitorado. Se isso ocorrer, Dilma
acrescentará a sua história pessoal a inteligência de ter sabido, a
tempo, comandar o movimento necessário para derrotar a direita-Tea Party – este quase-fascismo pós-moderno que ronda o Brasil em 2010.
–
1Em
3 de julho, data fixada pelo TSE para que os candidatos apresentassem
seus programas de governo, a coligação PSDB-DEM-PPS protocolou na
Justiça Eleitoral apenas a transcrição dos discursos de Serra feitos na
convenção conjunta das três agremiações. A mídia comercial acobertou
tau ausência – enquanto destacava, por dias, o fato de a campanha Dilma
ter alterado alguns dos itens do programa inicialmente apresentado.
2Sempre
tendente à mistificação e ao provincianismo, a velha mídia tratou
Singh como um “guru”. Certamente, impressionou-se por sua origem
indiana, ou pelo fato de usar o turbante típico da etnia sikh…
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