Não seria nada mal se eleitores e
eleitoras dedicassem alguns minutos de seus dias para conversar um pouco
sobre o assunto exibido em um pequeno vídeo que fala sobre o presente e
o futuro do país. Considerando a quantidade de baixarias que circula na
internet e fora dela, esse vídeo é, como gosta de dizer nossa imprensa,
uma bomba. Feita para pensar.
O
Brasil está entrando na reta final da disputa eleitoral. Uma disputa
eleitoral que deveria estar sendo marcada por um grande debate público
sobre qual caminho o país deve seguir nos próximos anos. Infelizmente, a
candidatura de José Serra (PSDB) decidiu enveredar por um caminho
sombrio e introduziu no debate político uma agenda fundamentalista de
extrema-direita, detonando uma brutal campanha de difamação contra Dilma
Rousseff (PT).
Em um certo sentido, é compreensível que esta
tenha sido a escolha da campanha de Serra. Trata-se de uma escolha que
tem como motivação a necessidade de desviar a atenção da população
brasileira para o verdadeiro debate que devia estar sendo feito. O
debate sobre as idéias e propostas do candidato para o presente e o
futuro do país.
Entre tantos vídeos que vêm circulando pela
internet, vale a pena destacar um que mostra claramente um dos
principais debates que devia estar sendo feito, a saber, o debate sobre
as propostas econômicas dos candidatos. Considerando a quantidade de
baixarias e mentiras que vem circulando na internet e fora dela, essa
pequena produção aparece como algo bombástico: vídeo-bomba mostra o que
está em jogo no segundo turno! – poderia ser a manchete no medíocre tom
sensacionalista que viceja em nossas redações.
Afinal de contas, é
isso que vai, em grande medida, decidir como será a vida de milhões de
brasileiros e brasileiras nos próximos anos. Não é pouca coisa.
Portanto, é preciso atenção sobre o que as duas candidaturas
representam. O vídeo acima traça uma cronologia da crise mundial
(2008-2009) sob a ótica da imprensa brasileira e da oposição ao governo
Lula. Além disso, mostra como o governo de FHC e Serra (1995-2002)
conseguiu quebrar o Brasil três vezes, a despeito de ter vendido quase
todas as empresas públicas lucrativas. Essa retrospectiva adquire
atualidade redobrada no momento em que Serra, finalmente, sai em defesa
das privatizações, ainda que o faça de um modo envergonhado, tentando
esconder o que realmente pensa sobre o assunto.
Também é compreensível. As idéias de Serra levaram o Brasil à estagnação e agravaram o quadro de desigualdade social no país. Aliás, não levaram apenas o Brasil à estagnação. São as mesmas idéias, filhas da ideologia do Estado mínimo e da supremacia dos mercados, que levaram a economia mundial à beira do precipício. Neste momento, milhares de pessoas saem às ruas em diversos países da Europa para protestar contra os efeitos perversos dessa crise.
A imprensa brasileira, é claro, fiel à
sua indigência política e cultural, não estabelece nenhum nexo entre o
que está acontecendo na economia mundial e a situação brasileira. Acha
mais importante debater aborto e questões religiosas. E tem muita gente
boa embarcando nesta canoa furada. Então, vale a pena gastar alguns
minutos do dia para ver esse vídeo e pensar. Não dói.
Os
diagnósticos e previsões que aparecem nele sinalizam o que seria um
governo Serra no Brasil. No vídeo, apesar da auto-proclamada “sólida
formação” em economia, as profecias e diagnósticos de Serra e seus
aliados sobre a economia brasileira acabam se revelando totalmente
furadas. Quando estourou a crise mundial, economistas e políticos
tucanos remetiam o mesmo discurso: o governo precisa cortar gastos, não
há outra coisa a fazer, repete Serra. Pois havia outra coisa a fazer. E o
governo Lula fez.
O conteúdo desse vídeo é um ótimo tema para o
segundo turno da campanha eleitoral. Deveria ser ao menos. A população
brasileira tem o direito (e o dever, me atreveria a dizer) de conhecer a
“sólida formação” do economista Serra que, no auge da crise, disparou a
dar entrevistas em que apontava os “graves erros” do governo Lula. O
Brasil, lembre-se, foi um dos primeiros países a sair da crise e hoje
ostenta taxas de crescimento acima da média mundial. A sólida formação
de Serra errou todas suas previsões e suas receitas, felizmente, não
foram aplicadas pelo governo Lula. São essas idéias e propostas que
estarão em disputa no dia 31 de outubro.
Não seria nada mal se os eleitores e eleitoras dedicassem alguns minutos de seus dias, daqui até lá, para conversar um pouco sobre o assunto.
Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)
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