sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Simón Bolívar além da revolução

Simón Bolívar era baixinho, tinha especial predileção por vestimentas na cor azul, trocava cartas longas e apaixonadas com a amante Manuela e recebia aulas do professor aos pés de uma grande árvore no jardim de sua casa, em Caracas. Essas e outras particularidades do libertador da América do Sul são reveladas ao visitante no Museu Bolivariano e possibilitam construir um retrato aproximado daquele que é o personagem mais celebrado da Venezuela.

De fato, a figura imponente do revolucionário está estampada por centenas de muros da capital venezuelana e seu nome, em ruas e avenidas. A história do libertador fica na ponta da língua de grande parte da população, que não hesita em relembrar seus feitos aos turistas. O presidente Hugo Chávez é um dos mais notáveis propagadores das palavras de Bolívar. Tanto que uma das célebres frases do libertador, “se a natureza se opõe lutaremos contra ela e a faremos com que nos obedeça” – dita na época de um grande terremoto em Caracas e hoje impressa em um prédio ao lado do museu – é frequentemente repetida por Chávez em momentos de dificuldade frente a desastres naturais. 
Marina Terra

Entrada do Museu Bolivariano, em Caracas, Venezuela

Tanta reverência a Bolívar começa a ser decifrada logo no início do passeio, quando se visita um salão ocupado por pinturas e esculturas feitas por artistas sul-americanos em homenagem ao libertador. Não só a Venezuela o vê como um herói nacional: Bolívia, Colômbia, Equador, Panamá e Peru são outras nações que honram sua liderança na guerra de independência contra o Império Espanhol, da qual foi indiscutível protagonista.

Em outra sala, já no segundo andar da majestosa casa – onde Bolívar nasceu  e para onde voltou por diversas vezes –, ficam seus pertences pessoais, como pentes, escovas, meias e sapatos. O grande herói não calçava mais do que 35, aponta a medida das botas, gastas pelos séculos que se passaram. Destacada, no meio do salão, a banheira usada por Bolívar, com uma bem humorada ilustração do militar prestes a se banhar.

Voltando ao térreo, os acessos a um dos dois amplos pátios levam aos diversos quartos da casa, dentre eles, a Alcoba, onde Bolívar nasceu e seu escritório. No pátio a partir da entrada principal fica a pia onde o libertador foi batizado.

Marina Terra

Em ilustração, Simón Bolívar faz a barba em frente a banheira que lhe pertenceu

Surpresa

No entanto, um dos locais mais interessantes do museu é o espaço dedicado ao projeto de exumação dos restos mortais de Bolívar, empreendido pelo presidente esse ano e motivado pela suspeita de que a morte do libertador teria sido criminosa e não por tuberculose, como apontavam historiadores. A exposição mostra interessantes descobertas, dentre elas, uma que desagradou em especial a Chávez.

Após a primeira exploração do caixão de Bolívar, em 1970, a bandeira venezuelana que envolvia o corpo desde 1830 foi substituída por outra. Porém, o governo à época não atentou para o fato de que a nova flâmula não era de fabricação venezuelana e sim, britânica. “O presidente não se conformou com isso”, conta sorrindo a venezuelana Aurora Rey, uma das visitantes do museu.

Contrariado com o fato de o herói da independência ter sido envolto em material “imperialista”, Chávez sugeriu que os próprios cidadãos venezuelanos confeccionassem uma bandeira nova, e assim foi. A comitiva formada se apressou e Bolívar recebeu o tecido bordado a muitas mãos, como revela um vídeo feito pela organização do museu.
 
Marina Terra no OperaMundi

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