Você é explorada sexualmente em uma boate e como pagamento
ganha fichinhas que podem ser trocadas por produtos com preço
superfaturado (como macarrão instantâneo, cigarros, bebidas…) na loja do
próprio estabelecimento em que você trabalha. Se não quitar a dívida
contraída dessa bola de neve fraudulenta, fica trabalhando. Para a
alegria dos clientes e dos donos do estabelecimento.
Essa foi a situação a que estavam expostas 20 mulheres em Várzea
Grande, município vizinho à capital do Estado do Mato Grosso, Cuiabá. De
acordo com reportagem de Bárbara Vidal, da Repórter Brasil,
elas estavam mantidas em alojamentos precários e superlotados no
interior da casa noturna Star Night. As jovens eram obrigadas a
permanecer o tempo inteiro (quando digo o tempo inteiro, refiro-me às 24
horas do dia) à disposição dos donos do lugar, localizado a cerca de um
quilômetro do Aeroporto Internacional Marechal Rondon. Não tinham folga
nem aos domingos ou feriados. Algumas delas assinaram um contrato –
ilegal, é claro – que as proibia de deixar a boate se não houvesse
pagamento das “dívidas”.
Segundo Valdiney Arruda, chefe da Superintendência Regional do
Trabalho e Emprego do Mato Grosso e acompanhou a ação, as mulheres
“viviam em regime total de subordinação”. Além de precários e
superlotados, os espaços não tinham ventilação adequada e proteção
contra incêndio e não respeitavam normas de higiene.
Outros quatro trabalhadores (um gerente e três garçons) também foram
retirados de lá. Não ficavam acomodados na boate e retornavam para suas
casas após o expediente, mas enfrentavam condições precárias, com
jornadas exaustivas e sem descanso. Todas as vítimas tinham entre 18 e
23 anos de idade.
A operação também contou com a participação da Polícia Civil, Guarda
Municipal e Conselho Tutelar e foi realizada em novembro. Participaram
ainda integrantes da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública
e da Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo do Mato
Grosso, após investigações que começaram quatro meses antes. As vítimas
receberam os seus direitos trabalhistas, foram orientadas para que
retornassem a seus municípios de origem e vão receber seguro-desemprego.
O Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas lançado no ano passado
pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e o Crime Organizado em
parceria com a Iniciativa Global da ONU contra o Tráfico de Pessoas
apontou que a forma mais comum de tráfico humano (79%) é para a
exploração sexual, em que as vítimas são predominantemente mulheres e
meninas. Em 30% dos países que fornecem informações sobre o gênero dos
traficantes, as mulheres são a maioria dos traficantes.
Mulheres que vão buscar uma condição de vida melhor em outras cidades
ou mesmo países e que não possuem informações sobre seus direitos são
as mais atingidas pelo problema. Além disso, muitas acabam não
procurando auxílio por vergonha de sua condição e medo de sanções
criminais.
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