Ronaldinho e o Grêmio, o preço de uma traição
Muito estranho esse caso Ronaldinho.É puro Nelson Rodrigues.
Sabem, o cronista que tratava das fantasias mais absurdas de cada um, por exemplo, a dona de casa paquidérmica que desenhava cacetinhos na parede do banheiro?
Ronaldinho traiu o Grêmio.
É assim que pensam os gremistas. Sempre pensaram assim.
Mas Ronaldinho é gostoso.
Marido traído, o Grêmio nunca esqueceu.
A paixão se alimenta da falta.
Quando mais Ronaldinho brilhava, mais o Grêmio sofria.
E mais os colorados flauteavam.
O Grêmio nunca perdeu a esperança de apagar essa mancha, eliminar essa traição, cortar esse passado.
Finalmente parece que Ronaldinho está disposto a perdoar o Grêmio por ter traído o triciolor gaúcho.
Hiltor Mombach tem razão: o preço desse perdão é caro: 60 milhões por quatro anos.
Quase o valor que o Grêmio obterá vendendo o Olímpico.
O Grêmio poderia entregar o Olímpico diretamente para o Ronaldinho, que ali poderia instalar o Porto Alegre.
Talvez seja isso que falte para a assinatura do contrato.
Ronaldinho convenceu-se de que é um traidor.
Quer perdoar o Grêmio para se redimir.
O Grêmio está disposto a entregar sua casa para limpar sua honra.
A torcida do Grêmio zomba dos colorados: Dunga deu um chapeuzinho em Dunga.
Dunga responde: "Em mim e em toda a torcida do Grêmio".
O Grêmio quer tirar esse segundo chapeuzinho da imagem, reescrever a história, pagar o perdão.
Assis Moreira explora o tesão recolhido do Grêmio.
Mostra que muitos outros desejam Ronaldinho.
O Grêmio desespera-se, oferece mais, compromete o futuro, empenha o presente, tudo para mudar o passado.
Tudo para dizer: ele voltou, ele é nosso, sempre foi nosso, ele nos ama, sempre nos amou.
Amor tem preço.
Ronaldinho foi de graça.
Volta pelo reles valor de um estádio, o Olímpico Monumental.
Flauta ou desespero de colorado?
Certamente.
Mas também um pouco mais do que isso.
Ronaldinho quer ser absolvido.
O Grêmio quer perdoar.
Só que quem tem a força é Ronaldinho.
Impõe a lei do perdão.
Dirá, descendo do helicóptero: eu perdoo o Grêmio por ter me obrigado a traí-lo.
O Grêmio, de joelhos, beijará os pés do seu amor.
A traição já não existirá.
Fonte: Correio do Povo de 07/01/2011
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