segunda-feira, 18 de abril de 2011

O desenvolvimento da Metade Sul

Zelmute Marten *no Sul21

A abordagem sobre os aspectos relacionados ao desenvolvimento da Metade Sul necessita sempre de um ensaio que contemple análise histórica e resultados atuais da geopolítica desta mesorregião do Rio Grande do Sul. A distribuição da propriedade rural e as unidades formadas por grandes áreas acabaram sendo decisivas neste processo.
Ao longo de décadas, o modelo de desenvolvimento da Metade Sul esteve centrado em monoculturas, como a criação extensiva de gado e a produção de arroz irrigado. Estes meios de produção criaram diferentes subserviências na relação entre capital e trabalho. O cidadão desta parte do estado esteve por longo período submetido a hegemonias conservadoras, muito próximas de orientações produtivas pré-capitalistas.
Como resultados geográficos, a Metade Sul possui 54% do território gaúcho com 154.099 km², 105 municípios, população estimada de 2.698.651, equivalente a aproximadamente 25% do povo gaúcho. Contribui com percentuais próximos a 17% da conformação do PIB estadual.
Neste quadro de dificuldades soma-se uma reduzida participação do setor industrial na conformação da matriz produtiva regional. Longo período de baixa articulação entre os municípios. Limitada representação nos parlamentos estadual e federal, assim como, subrepresentação na composição de diversos governos ao longo da história.
De outra parte, a região pode contar com uma qualificada oferta de ensino superior, com Universidades de destaque como UFPel, FURG, UCPel, ULBRA, UFSM e mais recentemente a UNIPAMPA. Excelente oferta de ensino profissionalizante com instituições como os Institutos Federais de Educação — IF-Sul e o Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça — CAVG, entre os principais. Porém, formando mão-de-obra qualificada para outros centros com processos de industrialização mais avançados.
No período entre 1999 a 2002, o Estado do Rio Grande do Sul apresentou estratégias claras de valorização dos Sistemas Locais de Produção — SLP’s, ampliou a participação das Universidades em iniciativas de aproximação com os setores produtivos como nas Redes de Cooperação e criou ambientes de estímulos à integração regional,através de setores como, por exemplo, o turismo com a criação dos Fóruns Regionais de Turismo.
Desde 2005 se constata novas perspectivas nestes contextos sociais estruturados. A organização regional do turismo ganhou força e legitimidades com a criação da Agência de Desenvolvimento do Turismo na Costa Doce — AD Costa Doce. As administrações municipais passaram a ampliar sua integração através das Associações de Prefeitos e dos Consórcios Intermunicipais do Centro-Sul, Extremo-Sul e Alto Camaquã. Fóruns regionais como da agricultura familiar sedimentam coesões
determinantes à efetivação de programas como os territórios da cidadania. As Universidades estão expandindo suas áreas de atuação. E instituições de pesquisa como a EMBRAPA atuam decisivamente em todo este ambiente.
O governo federal tomou decisões absolutamente relevantes como a opção do Presidente Lula em valorizar a indústria brasileira para fabricação de navios e plataformas de petróleo, criando o Polo Naval do Rio Grande, com investimentos previstos na ordem de US$ 240 bilhões até 2014 e excepcionais perspectivas de ampliação com o Pré-Sal. Estas iniciativas estão atraindo outros investimentos como as duplicações das BRs 392 e 116. Desenvolvimento da Hidrovia do Mercosul. Demonstrando o aumento da participação de setores industriais na economia regional. E aumentando a agregação tecnológica e a inovação em setores potenciais como a fabricação de equipamentos médico-hospitalares.
Porém, o planejamento territorial integrado deve preocupar-se com os riscos destes fluxos financeiros e econômicos exógenos, pelo perigo do aumento da concentração de renda, ainda muito presente. Empoderar as comunidades locais neste novo momento é tarefa imprescindível. Estimular a cidadania e a emancipação dos trabalhadores para que possam protagonizar novas possibilidades endógenas representa uma nova agenda extremamente positiva e necessária. Perspectivas que enalteçam saberes e fazeres das populações autóctones. Consolidando um novo período de possibilidades e perspectivas fundadas na valorização das pessoas, construindo um futuro com sustentabilidade e justiça social. Incorporando os aspectos ambientais na nova estratégia de desenvolvimento da Metade Sul.

* Jornalista, chefe de Gabinete do Deputado Federal Henrique Fontana (PT/RS)

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