Por Nanda Barreto para o Blog da Reforma Agrária
Mais de 60 professores da rede pública de ensino do Rio Grande do
Sul foram ao Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, nesta quinta-feira
(2), para conhecer a produção agroecológica local e debater
estratégias de educação ambiental dentro e fora da sala de aula. A
atividade começou cedinho, com um delicioso café colonial e marcou as
comemorações do Dia do Alimento Orgânico.
“Nós queremos que os professores vivenciem a realidade do campo, que
provem alimentos livres de agrotóxicos e reflitam sobre a importância
de uma alimentação saudável”, destaca a professora Olga Justo, que
coordena o Fórum Permanente de Educação Ambiental – grupo criado em
abril deste ano com o objetivo de estimular o ensino de práticas
sustentáveis nas escolas e comunidades da Grande Porto Alegre.
Ainda pela manhã, os professores foram conhecer a horta do
assentamento e participaram de palestras sobre temas relacionados à
organização dos trabalhadores rurais, alimentação escolar de qualidade e
legislação sobre transgênicos e uso de agrotóxicos.
O representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Leonardo
Magarejo, alertou sobre a necessidade de buscar informações sobre os
alimentos disponíveis nas prateleiras dos supermercados. “Temos que
manter o princípio da precaução. Ainda não é possível dimensionar
exatamente os prejuízos dos alimentos transgênicos, mas não podemos de
jeito nenhum assumir a falta de informação como sinônimo de que não há
perigo”.
O debate também levantou a importância do papel dos educadores na
formação de uma sociedade que assuma sua responsabilidade com o meio
ambiente, numa perspectiva que vá desde o incentivo à alimentação
saudável por parte das crianças e adolescentes até questões mais amplas
como a coleta seletiva do lixo, o estímulo à economia solidária e o
consumo responsável.
O presidente da Associação dos Produtores de Arroz Ecológico,
Leonildo Zang, foi direto ao ponto. “A sustentabilidade é uma
responsabilidade de todos e cada um de nós é importante nessa
caminhada. Não tem governante que seja mais importante do que nós,
professores e trabalhadores do campo. Nós temos em comum o fato de que
muitas vezes não somos valorizados, mas não podemos perder nosso foco. A
nossa visão é de futuro. Sou eu quem produz o alimento saudável que
chega na mesa das famílias e são vocês que ajudam a formar nossas
crianças”.
Trajetória de luta
Fundado em 1998, o Assentamento Filhos de Sepé tem uma área de 9.500
hectares, onde vivem e trabalham 365 famílias de pequenos agricultores.
De lá para cá, os trabalhadores tem se empenhado em desenvolver uma
produção 100% orgânica, enfrentando o padrão de agricultura baseado na
quantidade e no lucro.
A sustentabilidade financeira do assentamento é garantida
principalmente pela Companhia Nacional de Abastecimento mas, de acordo
com o agricultor Huli Zang, que é diretor da Cooperativa local, a Lei
Federal 11.947, que prioriza a aquisição de produtos da agricultura
familiar para a alimentação escolar, abriu um novo mercado para o
assentamento. “Antes, quem comprava o nosso arroz integral era só quem
tinha um poder aquisitivo um pouco maior, agora o alimento saudável
está chegando em quem mais precisa, que é a comunidade escolar da rede
pública”.
A principal fonte de renda provém do arroz, mas a economia local é
baseada na diversidade, com a comercialização de itens como ovos,
queijo, frutas, carne e leite. Outra conquista trazida pela demanda da
merenda escolar foi a criação de uma padaria liderada por mais de 10
mulheres do assentamento.
A trabalhadora Solange Pietroski é uma delas: “Eu tenho 52 anos e
lido na roça desde que pude carregar o peso da enxada. Estes anos têm
sido de muitas batalhas. A padaria abriu um novo horizonte para mim.
Estamos aprendendo muito umas com as outras e posso dizer: a nossa luta
valeu a pena e que eu amo o que faço”, comenta.
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