O saxofonista de jazz Gilad Atzmon tem um blogue onde denuncia a política de seu país de origem, Israel. Ele não tem medo de dizer sem rodeios aquilo que acredita ser a verdade, é impenetrável ao conceito de autocensura. E fala aqui sobre o quão pouco respeito tem pela mídia ocidental.
Por Silvia Cattori na REVISTA FÓRUM
O
saxofonista de jazz Gilad Atzmon tem um blogue onde denuncia a política
de seu país de origem, Israel. Ele não tem medo de dizer sem rodeios
aquilo que acredita ser a verdade, é impenetrável ao conceito de
autocensura. E fala aqui sobre o quão pouco respeito tem pela mídia
ocidental.
Silvia Cattori - Suas análises políticas, traduzidas para dezenas de línguas, atingem um grande número de leitores na web. Para quem exatamente você escreve?
Gilad Atzmon - Escrevo principalmente para mim. Tento entender o
mundo à minha volta. Há uns anos, entendi que muita gente por aí está
interessada nos pensamentos com os quais me deleito, então eu comecei a
deixar outras pessoas terem acesso à minha mente destrutiva em ebulição.
Cattori - Num tempo em que a imprensa chegou ao seu ponto mais baixo, você está entre aqueles que continua a ler jornais?
Atzmon - Não, há muitos anos não compro jornais porque estou
interessado no Oriente Médio, e a grande mídia tem muito pouco a
oferecer nesse sentido. Provavelmente o único especialista na mídia
britânica ou mesmo na mídia que fala inglês é Robert Fisk. Se eu quiser
saber o que acontece no Oriente Médio, eu vou ao “Counterpunch”, ao
“Information Clearing House”, “Veterans Today”, “Rense.com”, “Uprooted
Palestinian”, “PalestineTelegraph”, “Palestine Chronicle”, “Dissident
Voice”, “Uruknet”, e outros ótimos sites. Nossos websites e blogues são
muito mais informativos que a grande mídia. Somos os especialistas,
estamos nos tornando a maior fonte de informação. E vejo o tanto de
pessoas que visita meu site. Se há uma crise em Gaza, por exemplo, eles
querem saber o que Gordon Duff, Ramzy Baroud, Alan Hart, Israel Shamir,
Alex Cockburn ou Ali Abunimah tem a dizer sobre. E tenho zero respeito
pela grande mídia. Se a grande mídia deseja sobreviver, é melhor se
mexer rapidamente, do contrário, estará acabada.
Cattori - A desinformação sobre Israel não se relaciona ao fato
de que jornalistas honestos são, eles mesmos, objetos da propaganda
israelense?
Atzmon - No que concerne à Grã-Bretanha, está longe de ser um
segredo que os maiores apoiadores da guerra criminosa de Blair contra o
Iraque foram os jornalistas David Aaronovitch e Nick Cohen, ambos que
escrevem também para o notório. Acho que essas pessoas agora estão
expostas. Como digo frequentemente, “a maré mudou”.
Cattori - Nós vemos os mesmos mecanismos de censura e controle de
informação funcionando na nova mídia alternativa. Qualquer um que possa
discordar do programa dos donos dos sites é censurado.
Atzmon - Acho que isso é normal. Você tem que se lembrar que todo
discurso é, na prática, um conjunto de limites. Isso deve explicar
porque o artista é muito mais efetivo do que o agitador marxista ou
mesmo que o acadêmico. Enquanto o marxista ou o acadêmico estão ali
para manter os limites, o artista está ali para apresentar uma
realidade alternativa. Minha escolha é obviamente clara, sou um artista.
Cattori - Em sua opinião, a imprensa israelense é mais livre que a nossa?
Atzmon - Interessantemente, a imprensa israelense não é livre, mas
ainda é mais aberta do que a mídia ocidental. Apesar da censura, é
aberta a discussões sobre questões judaicas e mais crítica sobre o
Estado de Israel do que o Guardian, o The New York Times ou mesmo o Socialist Worker. Aliás, mesmo o Zionist Jewish Chronicle (JC) do Reino Unido é mais aberto que o Guardian. Eu estive no JC
onde li uma reportagem sobre as implacáveis tentativas de David
Miliband em alterar as leis britânicas universais de jurisdição.
Cattori - Apesar da dureza de suas críticas contra Israel, o jornal diário israelense Haaretz
ou o canal Arte não te censuraram. É o grande músico de jazz ou o
oponente israelense que ganha o interesse da mídia? Isso seria um sinal
de que alguma coisa mudou?
Atzomn - Ambos, acredito. Eu sou interessante para eles em sentidos
diferentes. Ofereço a eles uma oportunidade de dizer o que pensam
exatamente onde eles não têm coragem de dizê-lo. De qualquer forma, o
título de meu novo álbum é “The Tide Has Changed” (A Maré Mudou). Algo
está mudando e é grande, muito muito grande, na verdade. Vejo que mais
pessoas admitem que meus escritos tem se tornado influentes. Na
Grã-Bretanha posso dizer que sou bastante famoso em certos círculos.
Quando eu faço turnês ao redor do mundo eu dou muitas entrevistas e
palestras. Eu também tenho alguns inimigos que tentam me silenciar e se
esforçam para cancelar meus shows e palestras. Como você vê, eles
falharam todas as vezes. Eu ainda estou chutando e não tenho planos de
parar.
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