quinta-feira, 14 de julho de 2011

Preocupação com dívida dos Estados Unidos cresce e derruba bolsas


A preocupação com o impasse nas negociações em torno de um novo teto para a dívida pública dos Estados Unidos, temperada com o agravamento da crise da dívida na Europa, adicionou novos prejuízos aos mercados de capitais nesta quinta-feira (14). As bolsas caíram na Ásia, Europa, Estados Unidos e Brasil, enquanto o ouro avançou para níveis recordes em Londres e Nova York e o dólar recuou ante as seis principais moedas.

Em depoimento no congresso estadunidense, o presidente do Federal Reserve (FED, o banco central dos EUA), Ben Bernanke, deu a entender que não haverá novos estímulos à economia através da política de “relaxamento quantitativo” (emissão de moedas), voltando atrás no que tinha insinuado um dia antes. As autoridades econômicas parecem situadas hoje entre a cruz e a espada. A anemia econômica, com o desemprego em alta, clama por estímulos, mas os riscos do derrame de dólares sobre os preços já não são desprezíveis.

Estagflação

As pressões inflacionárias, que não existiam em 2008 e 2009 em função da recessão, recomendam cautela com as emissões, segundo Bernanke. "Hoje, a situação é mais complexa", disse. As expectativas de inflação ameaçam ultrapassar a meta do FED. "Não temos certeza sobre quais serão os desdobramentos de curto prazo da economia. Gostaríamos de ver se a economia está acelerando como estamos projetando", observou. A situação lembra a estagflação (combinação de inflação com recessão) dos anos 1970.

Bernanke também não escondeu as preocupações com a possibilidade de moratória, que pode se transformar em realidade se o executivo não chegar a um acordo com o legislativo para aumentar o atual teto do endividamento público, de US$ 14,3 trilhões, ultrapassado em maio. Estima-se que 40% das despesas do governo não são cobertas pela arrecadação e devem ser financiadas com a emissão de novos títulos públicos, ou seja, ampliando a dívida. Se o impasse prevalecer, a Casa Branca não terá como honrar seus compromissos e evitar o calote.

O humor azedou um pouco mais nos mercados após a Moody’s Investors Service avisar que os Estados Unidos podem ter sua nota de classificação de risco (relativa à dívida soberana) rebaixada, perdendo o rating "AAA" que possuem desde 1917, e a Fitch Ratings cortou o rating da Grécia, notando que o default "é uma possibilidade real".

Riscos

Na opinião do presidente do FED, o não pagamento de débitos terá consequências dramáticas para a economia. Haveria um aumento das taxas de juros da dívida, o que repercutiria sobre os juros dos créditos, as hipotecas, e aumentaria o déficit fiscal. Uma moratória, acrescentou, levará a "cortes nos pagamentos de qualquer pessoa que receba benefícios sociais, nos pagamentos de serviços e dos salários das Forças Armadas".

"Tudo isso freará a atividade econômica e, certamente, piorará a situação do mercado de trabalho", avaliou Bernanke. "Com um aumento das taxas de juros, as empresas terão menos disposição para contratar novos empregados e se o governo cortar 40% de seus pagamentos haverá uma eliminação de empregos". "Tudo isso", acrescentou Bernanke, "é uma opção que não deveríamos estar sequer considerando".

"Uma moratória da dívida ou do pagamento de benefícios é, sob todos os pontos de vista, um descumprimento das obrigações, que terá um impacto sobre a economia, mas, ainda mais, sobre a confiança", acrescentou. "Nestas circunstâncias não resta outra solução além de aumentar a dívida autorizada e depois trabalhar nas formas de reduzir o déficit fiscal, que é uma ameaça maior a longo prazo", concluiu.

Mas nem todos têm a mesma percepção nos EUA. Alguns membros do congresso, como o representante republicano do Texas, Ron Paul, e os militantes do movimento Tea Party, de extrema direita, acreditam que uma interrupção de pagamentos não terá efeitos graves e que as advertências sobre uma diminuição na classificação do crédito dos Estados Unidos não deve ser levada a sério.

China teme o calote

O problema também deixa os credores com a pulga atrás da orelha. Em Pequim, um porta-voz do Executivo fez um apelo à Casa Branca para que adote "políticas responsáveis e medidas que garantam os interesses dos investidores". A China é o maior credor dos Estados Unidos. A agência qualificadora chinesa Dagong Global Credit Rating também alertou para uma possível deterioração do crédito dos EUA

O comportamento das bolsas de valores em todo o mundo nesta quinta refletiu o nervosismo dos investidores com a crise da dívida nos EUA e na Europa. Na Ásia, que em geral goza uma situação econômica bem mais confortável, a bolsa de Tóquio fechou em queda de 0,27%, a 9.936 pontos; Hong Kong encerrou os pregões praticamente estável, com oscilação positiva de 0,06%; Xangai teve ganho de 0,54% enquanto Taiwan registrou oscilação negativa de 0,08%. Em Seul, o mercado também ficou perto do zero-a-zero, com ligeira alta de 0,02%. A bolsa de Cingapura seguiu mesmo comportamento.

Bolsas

Na Europa, a queda foi generalizada. O índice Financial Times, de Londres, fechou em baixa de 1,01 por cento, a 5.846 pontos; em Frankfurt, o índice DAX caiu 0,73 por cento, para 7.214 pontos; em Paris, o índice CAC-40 perdeu 1,11 por cento, para 3.751 pontos; em Milão, o índice Ftse/Mib encerrou em baixa de 1,07 por cento, a 18.640 pontos; em Madri, o índice Ibex-35 registrou perda de 0,71 por cento, para 9.598 pontos e em Lisboa o índice PSI20 teve desvalorização de 2,04 por cento, para 6.761 pontos.

Nos EUA, o Dow Jones caiu 0,44%, para 12.437,12 pontos. O Nasdaq recuou 1,22%, para 2.762,67 pontos, e o S&P 500 cedeu 0,67% e se posicionou em 1.308,87 pontos. Isto ocorreu apesar da boa performance do Google, que reportou faturamento de US$ 9,03 bilhões no segundo trimestre de 2011, o que representa uma alta de 32% em relação ao mesmo período de 2010, com lucro líquido de US$ 2,51 bilhões, ante US$ 1,84 bilhão registrado no ano anterior. As ações saltaram cerca de 11%.

No Brasil, o Ibovespa amargou nova desvalorização de 1,63% e fechou abaixo dos 60 mil pontos, aos 59.679 - menor patamar desde 25 de maio de 2010 (59.184). O giro financeiro atingiu R$ 6,724 bilhões. Na semana, o índice já cai 3% e, no mês, perde 4,4%. Em 2011, a queda acumulada é de 13,9%.

Último refúgio

Outro sinal crítico foi o avanço do ouro para níveis recordes em Londres e Nova York. Com a volatilidade em alta nos mercados e sinais de que a crise financeira, longe de ser domada, está recrudescendo, com o dólar e o euro em baixa, o vil metal é visto como o último refúgio dos investidores. A demanda cresceu consideravelmente e o ouro com entrega imediata chegou a US$ 1.594,45 a onça em Londres e foi cotado a US$ 1,594,90 em Nova York.

A situação atual, nos EUA e na Europa, configura um desdobramento da crise iniciada em 2007 nos Estados Unidos, que se propagou para o mundo e demandou pesadas intervenções dos governos na economia, o que ampliou os déficits públicos e exacerbou os desequilíbrios fiscais. O tiro saiu pela culatra. O Estado capitalista, nesses casos, não foi capaz de reverter a crise, mas certamente contribuiu para agravá-la.  

Da Redação do VERMELHO, Umberto Martins, com agências

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