quinta-feira, 22 de março de 2012

Reino Unido reduz imposto para ricos enquanto taxa idosos e corta benefícios sociais

Roberto Almeida no OPERAMUNDI

Novo orçamento britânico, que acaba com isenção para pessoas com mais de 65 anos, é criticado pela oposição a David Cameron


Efe

Britânicos protestaram nesta quarta contra projeto de orçamento que corta benefícios sociais e cria a "taxa da vovó"


Em meio a um discurso de austeridade e sob a tormenta de um déficit projetado de 126 bilhões de libras esterlinas para 2012, o ministro das Finanças britânico, George Osborne, braço-direito do premiê conservador David Cameron, causou polêmica ao anunciar nesta quarta-feira (21/03) um corte no imposto sobre altos salários no Reino Unido. A medida, parte do novo orçamento da ilha para o ano, trouxe a reboque o fim de isenções para aposentados acima de 65 anos e cortes em benefícios sociais.
O imposto sobre grandes salários, chamado de “50p tax”, foi elaborado pelo partido trabalhista, opositor da dupla Cameron/Osborne, e adotado em 2010. O britânico com rendimentos acima de 150 mil libras esterlinas por ano (cerca de 420 mil reais) era obrigado a pagar 50% de imposto sobre cada libra extra, acima desse valor, que entrasse em seu bolso. A taxa atingia cerca de 300 mil dos 29 milhões de pagadores de impostos do Reino Unido.
A cartada fiscal de Osborne, operada em conjunto com os liberais democratas, reduziu a alíquota para 45%, alegando que o imposto não gerava resultados claros para o Tesouro britânico. A medida entra em vigor em abril do ano que vem. Havia, quando da criação da “50p tax”, uma expectativa de arrecadação de 2,4 bilhões de libras para abastecer os cofres públicos. Para o ministro, porém, a taxa resultou apenas em perdas inestimáveis nos negócios da ilha.
No final de fevereiro, um grupo de 537 empresários do Reino Unido fez forte lobby para eliminar o imposto, combatido desde sua criação. Em carta enviada ao jornal Daily Telegraph, eles afirmaram que a “50p tax” era apenas um bom motivo usar empresas offshore e driblar o governo. Osborne recebeu sua dose direta de críticas e foi tratado como “populista” por não ver a “economia real”.
O líder trabalhista, Ed Miliband, disse que as medidas significam que “milhões terão de pagar mais, e milionários terão de pagar menos”. Para ele, o orçamento do governo conservador se baseia em “escolhas erradas, prioridades erradas e valores errados”.
Osborne disse que está “recompensando o trabalho e ajudando principalmente os negócios”. Ele levantou a faixa de isentos em 1.100 libras, ou seja, trabalhadores britânicos que receberem menos de 9.205 libras não pagarão impostos. Segundo seus cálculos, 24 milhões de britânicos terão 220 libras extra no bolso por ano.
“Taxa da vovó”

Os resultados da nova alíquota sobre os grandes salários ainda não foram medidos, mas seu principal efeito colateral foi destaque nos principais jornais britânicos: Osborne usou o plano orçamentário para mexer no sistema de aposentadoria da ilha, retirando benefícios de pessoas acima de 65 anos.
Efe

Estamos “recompensando o trabalho e ajudando principalmente os negócios”, disse Osborne

A medida foi bombardeada por críticas e virou trending topic no Twitter com a hashtag #grannytax, ou “imposto da vovó”. Segundo o jornal The Guardian, a nova taxa vai gerar causar 1 bilhão em perdas aos aposentados por ano.
A ONG AgeUK, dedicada à terceira idade no Reino Unido, disse estar “desapontada” com o governo. De acordo com a entidade, alguns aposentados terão de pagar até 259 libras esterlinas (cerca de 780 reais) em impostos por ano. A medida deve atingir 4,5 milhões de pessoas. Segundo Osborne, este é o primeiro passo para uma simplificação no pagamento de aposentadorias no Reino Unido.
Em paralelo a essa mudança, houve um corte de 10 milhões de libras em benefícios sociais para 2012. Os principais atingidos serão pais que tenham rendimentos acima de 50 mil libras anuais (cerca de 140 mil reais). Eles perderão auxílio do governo para criar seus filhos.

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