As ações dos pequenos grupos radicais islâmicos não
representam a vontade da totalidades dos palestinos e da comunidade
muçulmana global
Por Luciana Garcia de Oliveira, no Brasil de Fato
Antes mesmo do primeiro turno das
eleições, ocorrido neste domingo (22), houve o inesperado, uma série de
atentados no país com um forte impacto emocional e midiático. No dia 19
de março, um atirador então desconhecido matou a tiros um rabino
professor e seus dois filhos na frente de uma escola judaica na cidade
de Toulouse, na França e, em seguida assassinou uma menina. Todo o
armamento utilizado nos crimes, pareciam os mesmos utilizados na data do
dia 11 de março para matar um paraquedista (de origem norte-africana)
e, em 15 de março, outros dois paraquedistas muçulmanos.
O responsável confesso, Mohamed Merah, nascido em Toulouse e descendentes de argelinos, teria afirmado pertencer ao grupo Al-Qaeda (o que parece ser pura bravata). Antes de morrer, teria inclusive dito que os atentados foram motivados em resposta às intervenções francesas no exterior mas, principalmente para vingar a morte das crianças palestinas.
Imediatamente após o ocorrido, a candidata (conservadora) as eleições francesas, Marine Le Pen que, até então havia cessado o discurso a qual revelava uma resistência extrema à entrada de novos imigrantes à França (reação conhecida como xenofobia), voltou à ofensiva e ainda exigiu retratação aos demais candidatos que haviam criticado o tom discriminatório de seu discurso.
Numa clara tentativa em evitar possíveis distorções com relação à grande comunidade árabe - muçulmana da França, no dia 21 de março, o primeiro ministro palestino, Salam Fayyad, afirmou (em um discurso) a necessidade de parar de usar a causa palestina como justificativa para atos terroristas. Reiterou no entanto que, “o povo palestino e seus filhos, que não podem aceitar crimes contra vidas inocentes, condenam categoricamente esses crimes terroristas”.
Apesar de tamanha ponderação, fato novo chamou a atenção, dessa vez pela violência do discurso, quando o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticou veemente a alta representante europeia de Política Externa, Catherine Ashton. O motivo teria sido uma comparação, feita por ela, do atentado de Toulouse com os crimes perpetrados na Faixa de Gaza, na Palestina.
O “mal-estar” gerado pelas palavras de Ashton, teria motivado Netanyahu a afirmar que “a comparação entre um massacre contra crianças e uma atividade defensiva cirúrgica do Exército para acabar com terroristas que usam menores como escudo, é um absurdo”.
Antes mesmo dessa declaração, o ministro das Relações Exteriores israelense, Avigdor Lieberman solicitou que Ashton retirasse suas declarações, sob alegação de que “as crianças com as quais Catherine deveria estar preocupada são as que vivem no sul de Israel, que vivem com medo constante dos mísseis de Gaza”. E, ainda complementou: “não há Exército mais ético que o israelense”.
Ao analisar esse tipo de reação, alguns estudiosos do tema antijudaísmo, como o professor Robert Wistrich, chefe do Centro Internacional de Estudos do Antijudaísmo da Universidade de Jerusalém afirmou, em uma recente entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo que, desde o holocausto, o sentimento antijudaico sofreu uma mudança, sobretudo na Europa (palco da II Guerra Mundial). Assim, na atual conjuntura, a principal força de discriminação judaica é atribuído, segundo ele, ao islã fundamentalista.
Num olhar mais particular ao caso francês, o professor de Jerusalém observa uma “tendência de apresentar a autodefesa de Israel contra o terrorismo como um genocídio contra o povo palestino”. O antijudaísmo, nesse sentido, seria uma expressão muito mais potente de ódio, inclusive quando comparado a quaisquer atos discriminatórios à comunidade árabe-muçulmana na Europa.
Todos esses discursos, mesmo advindo de autoridades israelenses, é comprovado não corresponder à realidade. A começar, o desequilíbrio de forças entre o exército israelense com a resistência palestina, no que tange a armamentos e tecnologia é extremamente desigual. Por isso, afirmar que a incidência de morte de todas as crianças seja tão somente em decorrência da culpa dos grupos radicais islâmicos como a Jihad Islâmica e o Hamas, serve tão somente para eximir a responsabilidade do exército de Israel que, desde a fundação do Estado no Oriente Médio tem adotado uma política de extrema truculência com relação ao povo palestino.
Muito embora os ataques com foguetes (de fabricação caseira) em Israel já tenha vitimado alguns cidadãos israelenses, quando comparado aos ataques contra a Faixa de Gaza, ou contra as bases terroristas fundamentalistas localizadas nessa região, de acordo com algumas autoridades israelenses, o número de vitimas civis é absolutamente maior, isso sem contar as inúmeras perdas materiais, como as casas, escolas e hospitais. Perdas de difícil reparação, tendo em vista a constante falta de recursos financeiros para construções e abastecimentos.
Tendo em vista esta mesma constatação, após os atentados em Toulouse e, sobretudo sendo o responsável, um francês de origem árabe-muçulmana é (naturalmente) prevista uma tendência bastante perigosa, qual seja, o acirramento do pavor da sociedade europeia com relação aos muçulmanos na Europa (denominado islamofobia). A sociedade europeia passaria assim a associar toda a comunidade muçulmana ao fanatismo e, principalmente ao terrorismo. Aliado à expansão da islamofobia (já presente em muitas sociedades europeias), a desqualificação de todas as reivindicações dos palestinos que vivem nos territórios ocupados pelo Estado de Israel não é menos preocupante.
O ato de expressar publicamente o desprezo com relação às vítimas palestinas não é tão somente uma atitude irresponsável, por parte de dirigentes estatais, como extremamente perigosa. Negar a pratica de crime de genocídio é negar a definição prevista na legislação internacional. [Baby Siqu1] Juridicamente, o crime de genocídio lesa humanidade tem por definição o cumprimento de algumas exigências, quais sejam, a presença de atos desumanos, como assassinatos, extermínios e desaparecimento; a sistematização dessas práticas; contra a população civil; durante conflito armado e deve ser correspondente a uma política de Estado levada a cabo por agentes públicos ou pessoas que promoveram essa política e com o conhecimento desses agentes.
Diante de todos esses elementos, somado às últimas notícias na Faixa de Gaza, mais especificamente às noticiadas desde o início do mês de março, quando havia sido publicada a morte de 15 palestinos (incluindo crianças), em um ataque mais uma vez brutal por parte do Exército de Israel em represália ao ataque com foguetes atribuídos ao grupo Jihad islâmica, todos os indícios, nesse caso, qualificam como genocídio as ações de Israel na Faixa palestina, isso sem contar a “Guerra de Independência” e a Operação Chumbo Fundido. Em Toulouse configurou-se um terrível massacre, uma vez que os assassinatos em série não foram cometidos por um agente estatal.
Todos os genocídios, massacres e assassinatos devem ser condenados, sem nenhuma exceção. O mesmo, com relação a atual ascensão do radicalismo político e religioso. Nesse mesmo sentido, as ações dos pequenos grupos radicais islâmicos não representam a vontade da totalidades dos palestinos e da comunidade muçulmana global assim como as afirmações infelizes e preconceituosas dos dirigentes israelenses não correspondem absolutamente à população de Israel como um todo, tampouco à comunidade judaica espalhada pelo mundo.
Fomentar a discórdia, realizar distorções históricas e factuais, terão como consequências principais o aumento da intolerância, desconfiança, violência e discriminação. Com reflexos na continuidade da expansão dos assentamentos judaicos no território palestino, tendente a diminuir os territórios para o tão almejado futuro Estado da Palestina.
*Luciana Garcia de Oliveira é pós-graduada em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP).
O responsável confesso, Mohamed Merah, nascido em Toulouse e descendentes de argelinos, teria afirmado pertencer ao grupo Al-Qaeda (o que parece ser pura bravata). Antes de morrer, teria inclusive dito que os atentados foram motivados em resposta às intervenções francesas no exterior mas, principalmente para vingar a morte das crianças palestinas.
Imediatamente após o ocorrido, a candidata (conservadora) as eleições francesas, Marine Le Pen que, até então havia cessado o discurso a qual revelava uma resistência extrema à entrada de novos imigrantes à França (reação conhecida como xenofobia), voltou à ofensiva e ainda exigiu retratação aos demais candidatos que haviam criticado o tom discriminatório de seu discurso.
Numa clara tentativa em evitar possíveis distorções com relação à grande comunidade árabe - muçulmana da França, no dia 21 de março, o primeiro ministro palestino, Salam Fayyad, afirmou (em um discurso) a necessidade de parar de usar a causa palestina como justificativa para atos terroristas. Reiterou no entanto que, “o povo palestino e seus filhos, que não podem aceitar crimes contra vidas inocentes, condenam categoricamente esses crimes terroristas”.
Apesar de tamanha ponderação, fato novo chamou a atenção, dessa vez pela violência do discurso, quando o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticou veemente a alta representante europeia de Política Externa, Catherine Ashton. O motivo teria sido uma comparação, feita por ela, do atentado de Toulouse com os crimes perpetrados na Faixa de Gaza, na Palestina.
O “mal-estar” gerado pelas palavras de Ashton, teria motivado Netanyahu a afirmar que “a comparação entre um massacre contra crianças e uma atividade defensiva cirúrgica do Exército para acabar com terroristas que usam menores como escudo, é um absurdo”.
Antes mesmo dessa declaração, o ministro das Relações Exteriores israelense, Avigdor Lieberman solicitou que Ashton retirasse suas declarações, sob alegação de que “as crianças com as quais Catherine deveria estar preocupada são as que vivem no sul de Israel, que vivem com medo constante dos mísseis de Gaza”. E, ainda complementou: “não há Exército mais ético que o israelense”.
Ao analisar esse tipo de reação, alguns estudiosos do tema antijudaísmo, como o professor Robert Wistrich, chefe do Centro Internacional de Estudos do Antijudaísmo da Universidade de Jerusalém afirmou, em uma recente entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo que, desde o holocausto, o sentimento antijudaico sofreu uma mudança, sobretudo na Europa (palco da II Guerra Mundial). Assim, na atual conjuntura, a principal força de discriminação judaica é atribuído, segundo ele, ao islã fundamentalista.
Num olhar mais particular ao caso francês, o professor de Jerusalém observa uma “tendência de apresentar a autodefesa de Israel contra o terrorismo como um genocídio contra o povo palestino”. O antijudaísmo, nesse sentido, seria uma expressão muito mais potente de ódio, inclusive quando comparado a quaisquer atos discriminatórios à comunidade árabe-muçulmana na Europa.
Todos esses discursos, mesmo advindo de autoridades israelenses, é comprovado não corresponder à realidade. A começar, o desequilíbrio de forças entre o exército israelense com a resistência palestina, no que tange a armamentos e tecnologia é extremamente desigual. Por isso, afirmar que a incidência de morte de todas as crianças seja tão somente em decorrência da culpa dos grupos radicais islâmicos como a Jihad Islâmica e o Hamas, serve tão somente para eximir a responsabilidade do exército de Israel que, desde a fundação do Estado no Oriente Médio tem adotado uma política de extrema truculência com relação ao povo palestino.
Muito embora os ataques com foguetes (de fabricação caseira) em Israel já tenha vitimado alguns cidadãos israelenses, quando comparado aos ataques contra a Faixa de Gaza, ou contra as bases terroristas fundamentalistas localizadas nessa região, de acordo com algumas autoridades israelenses, o número de vitimas civis é absolutamente maior, isso sem contar as inúmeras perdas materiais, como as casas, escolas e hospitais. Perdas de difícil reparação, tendo em vista a constante falta de recursos financeiros para construções e abastecimentos.
Tendo em vista esta mesma constatação, após os atentados em Toulouse e, sobretudo sendo o responsável, um francês de origem árabe-muçulmana é (naturalmente) prevista uma tendência bastante perigosa, qual seja, o acirramento do pavor da sociedade europeia com relação aos muçulmanos na Europa (denominado islamofobia). A sociedade europeia passaria assim a associar toda a comunidade muçulmana ao fanatismo e, principalmente ao terrorismo. Aliado à expansão da islamofobia (já presente em muitas sociedades europeias), a desqualificação de todas as reivindicações dos palestinos que vivem nos territórios ocupados pelo Estado de Israel não é menos preocupante.
O ato de expressar publicamente o desprezo com relação às vítimas palestinas não é tão somente uma atitude irresponsável, por parte de dirigentes estatais, como extremamente perigosa. Negar a pratica de crime de genocídio é negar a definição prevista na legislação internacional. [Baby Siqu1] Juridicamente, o crime de genocídio lesa humanidade tem por definição o cumprimento de algumas exigências, quais sejam, a presença de atos desumanos, como assassinatos, extermínios e desaparecimento; a sistematização dessas práticas; contra a população civil; durante conflito armado e deve ser correspondente a uma política de Estado levada a cabo por agentes públicos ou pessoas que promoveram essa política e com o conhecimento desses agentes.
Diante de todos esses elementos, somado às últimas notícias na Faixa de Gaza, mais especificamente às noticiadas desde o início do mês de março, quando havia sido publicada a morte de 15 palestinos (incluindo crianças), em um ataque mais uma vez brutal por parte do Exército de Israel em represália ao ataque com foguetes atribuídos ao grupo Jihad islâmica, todos os indícios, nesse caso, qualificam como genocídio as ações de Israel na Faixa palestina, isso sem contar a “Guerra de Independência” e a Operação Chumbo Fundido. Em Toulouse configurou-se um terrível massacre, uma vez que os assassinatos em série não foram cometidos por um agente estatal.
Todos os genocídios, massacres e assassinatos devem ser condenados, sem nenhuma exceção. O mesmo, com relação a atual ascensão do radicalismo político e religioso. Nesse mesmo sentido, as ações dos pequenos grupos radicais islâmicos não representam a vontade da totalidades dos palestinos e da comunidade muçulmana global assim como as afirmações infelizes e preconceituosas dos dirigentes israelenses não correspondem absolutamente à população de Israel como um todo, tampouco à comunidade judaica espalhada pelo mundo.
Fomentar a discórdia, realizar distorções históricas e factuais, terão como consequências principais o aumento da intolerância, desconfiança, violência e discriminação. Com reflexos na continuidade da expansão dos assentamentos judaicos no território palestino, tendente a diminuir os territórios para o tão almejado futuro Estado da Palestina.
*Luciana Garcia de Oliveira é pós-graduada em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP).
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