A passagem pelo Brasil de Roger Waters, um dos fundadores do extinto
grupo de rock progressivo Pink Floyd e ativista da causa palestina,
enfureceu representantes do pensamento sionista, que defende um Estado
judaico independente e soberano. Em entrevista coletiva realizada no Rio
de Janeiro, Waters defendeu os palestinos, criticou o governo
israelense e declarou apoio à campanha BDS, que boicota produtos
fabricados em Israel. Também divulgou o Fórum Social Palestina Livre,
encontro internacional a ser realizado em Porto Alegre de 28 de novembro
a 1º de dezembro de 2012.
As declarações desagradaram a Federação Israelita do Rio de Janeiro
(FIERJ). Segundo nota, o advogado da FIERJ, Ricardo Brajterman, tentou
impedir na Justiça que Roger Walters voltasse a fazer “declarações
antissionistas” nos shows que seriam realizados no Brasil.
Em resposta, várias organizações críticas a Israel pela violação dos
direitos humanos dos palestinos, como o Comitê de Solidariedade e Apoio
ao Povo Palestino do Rio de Janeiro, a Frente em Defesa do Povo
Palestino e a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) divulgaram
notas públicas de apoio às declarações de Roger e de repúdio à atitude
da FIERJ.
Trechos das notas em repúdio a posição da FIERJ
“Israel ocupa territórios palestinos em
desacordo com todas as leis internacionais, ergueu o muro do apartheid e
da colonização, que foi declarado ilegal pelo Tribunal Internacional
[de Justiça]. Constrói assentamentos na Cisjordânia, território
palestino ocupado por Israel, em desacordo com todas as resoluções
internacionais. Cerca e bombardeia a Faixa de Gaza, onde 1,5 milhão de
palestinos estão sujeitos a sobreviver abaixo das mínimas condições de
alimentação, educação e saúde.
Israel não respeita e não cumpre as resoluções da ONU e do direito
internacional, em total isolamento com a [sic] comunidade
internacional. O governo de Israel faz tudo isso em nome do sionismo e
quer impedir as pessoas de criticar essas ilegalidades e ações desumanas
e opressoras?”, escreveram os ativistas da Fepal.
“Repudiamos toda tentativa de intimidação
e censura à liberdade de expressão por parte dessa [FIERJ] ou de
qualquer outra organização. Tal atitude – inconstitucional, nos moldes
da ditadura militar que vigorou no Brasil dos anos 1960 aos anos 1980 –,
não tem mais espaço no Brasil”, afirmaram o Comitê de Solidariedade e
Apoio ao Povo Palestino e a Frente em Defesa do Povo Palestino, dando
todo o apoio e solidariedade a Roger Waters.
“Repudiamos veementemente a atitude e as
ameaças da FIERJ e reafirmamos nosso apoio a Roger Waters, à liberdade
de expressão e aos valores democráticos. Aproveitamos para agradecer
Roger Walters por não silenciar diante da injustiça e por emprestar sua imagem e sua voz para essa nobre causa da humanidade.”
Leia a carta que Roger Waters divulgou no Brasil sobre a sua militância pró-palestina
Desde minha visita a Israel e aos
territórios ocupados, em 2006, eu faço parte de um movimento
internacional para apoiar o povo palestino em sua luta por liberdade,
justiça e igualdade.
Sinto-me honrado por ter sido convidado
pelo Comitê Nacional Palestino BDS para anunciar a iniciativa da
realização do Fórum Social Mundial Palestina Livre em Porto Alegre,
Brasil, em novembro deste ano, em cooperação com o movimento social
brasileiro e redes internacionais da sociedade civil.
O objetivo será a criação de um encontro internacional que irá incentivar o instinto humano básico em todos os homens e mulheres
de boa fé para se unirem em apoio ao povo palestino em sua luta por
autodeterminação. Em todo o mundo, nosso movimento está crescendo.
Incentivado por eventos como o que acontecerá aqui no Brasil, a nossa voz vai crescer.
Continuaremos o nosso apelo pelo fim da
ocupação israelense de terras palestinas, pela derrubada dos muros de
colonização e de apartheid, pela criação de um Estado palestino com sua
capital em Jerusalém, pela concessão de direitos plenos e iguais aos
cidadãos árabe-palestinos de Israel e pelo direito dos refugiados
palestinos de voltar para suas casas, conforme exigido pela Convenção de
Genebra, como estipulado na resolução 194 da ONU de 1949 e também
reafirmado pelo Tribunal Internacional de Justiça em 9 de julho de 2004.
Estou muito encorajado pelo crescimento
desse movimento em Israel, especialmente entre os jovens judeus
israelenses, e também pelo não menos importante “Boicote de Dentro”, com
quem estou em contato.
Nós estamos com vocês.
Eventos em Israel e nos territórios
ocupados não são amplamente relatados nem com precisão no Ocidente. Em
novembro próximo, o Fórum Social Mundial Palestina Livre, em Porto
Alegre, vai ajudar a quebrar os muros de desinformação e cumplicidade.
Conclamo as pessoas de consciência para
que apoiem este fórum e ajudem a torná-lo um divisor de águas na
solidariedade internacional ao povo palestino.
A verdade nos libertará.
Em solidariedade,
Roger Waters.
Com informações do Brasil de Fato
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