Entre liberais, a amizade e a proximidade ideológica não garante uma solidariedade inquebrantável. A direita francesa tirou todos os espantalhos do armário para apregoar uma “crise de confiança massiva” se o socialista François Hollande ganhar as eleições presidenciais de abril e maio próximos (22 e 6). “Nós ou o caos”, diz o presidente candidato que põe como exemplo o dramático caso da Espanha. O jornal El País respondeu: "Com amigos assim quem precisa de inimigos".
Eduardo Febbro - De Paris para o CARTA MAIOR
Paris - “Os amigos se conhecem nas
boas e nas más horas”, reza o conhecido ditado. O presidente francês
Nicolas Sarkozy não é um adepto desta sábia filosofia popular. Entre
liberais, a amizade e a proximidade ideológica não garante uma
solidariedade inquebrantável. A direita francesa tirou todos os
espantalhos do armário para apregoar uma “crise de confiança massiva” se
o socialista François Hollande ganhar as eleições presidenciais de
abril e maio próximos (22 e 6). “Nós ou o caos”, diz o presidente
candidato que põe como exemplo o dramático caso da Espanha. À direita e
ao centro ocorreu a calamitosa ideia de apresentar a Espanha como o
exemplo dinástico do que espera a França se a direita não conservar o
poder.
Sarkozy não foi o único europeu que penetrou no território do medo. Também o Presidente do Conselho Italiano, Mario Monti, esgrimiu os casos da Espanha, Grécia e Portugal como influências nefastas. Estas manifestações de egoísmo eleitoral motivaram uma resposta do Chefe de Governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy, que pediu aos dirigentes europeus que sejam “prudentes” em seus comentários sobre a Espanha. O mais dramático é que Nicolas Sarkozy encara a estratégia do pavor no momento em que a Espanha afunda cada dia mais, apesar dos cortes faraônicos que o Executivo espanhol decidiu nos últimos dias – perto de 40 bilhões de dólares. A imprensa espanhola está enfurecida com seu ex-amigo. O jornal El País disse há poucos dias: “Com amigos assim quem precisa de inimigos?”.
Chovem adjetivos sobre Sarkozy na mesma medida de sua impiedade eleitoral. O mesmo jornal El País trata-o como “frustrado refundador moral do capitalismo”. O presidente francês afirmou: “Vejam como está a Espanha depois de sete anos de socialismo”. A França está melhor, mas não fugiu nem da crise, nem de suas consequências, nem dos fabulosos déficits acumulados nos anos Sarkozy, nem tampouco da sanção que consistiu em perder o Triplo A que as agências de classificação de risco outorgam aos maus alunos da carreira liberal.
O segundo eixo da campanha da direita francesa é assustar as pessoas com o dilúvio que cairia sobre a França se a socialdemocracia chegasse à presidência. Sarkozy e seus conselheiros estão correndo atrás das pesquisas de opinião que, invariavelmente, vaticinam uma vitória de François Hollande e perseguem os indecisos - 30% do eleitorado -, os que se abstém – 20% - e os eleitores do centro – 9,5% -, assustadiços e muito adeptos à disciplina fiscal. Os socialistas aparecem retratados como os coveiros da economia, esbanjadores irresponsáveis do dinheiro público, adeptos dos déficits crônicos, gestores obcecados por fazerem os ricos pagarem mais impostos e campeões da assistência social à custa da estabilidade global.
Os males que, segundo o presidente-candidato, esperam a França “no minuto seguinte” à vitória socialista são um catálogo da escatologia
liberal: “Desastre”, “catástrofe”, “crise massiva de confiança”, “ataques contra a zona euro”, “implosão do sistema econômico” francês.
Medo sobre medo. E, ainda assim, a direita francesa governa há dez anos, há uma década o próprio presidente Sarkozy ocupa funções chaves no Executivo e nos últimos cinco anos de seu mandato presidencial acumulou uma coleção de cifras negativas: a França perdeu a sacrossanta Triple A, houve um milhão de desempregados a mais, uma sucessão de déficits impressionantes e um crescimento da dívida pública de 500 bilhões de euros. O liberalismo tem a memória curta e a língua muito longa.
Tradução: Libório Junior
Sarkozy não foi o único europeu que penetrou no território do medo. Também o Presidente do Conselho Italiano, Mario Monti, esgrimiu os casos da Espanha, Grécia e Portugal como influências nefastas. Estas manifestações de egoísmo eleitoral motivaram uma resposta do Chefe de Governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy, que pediu aos dirigentes europeus que sejam “prudentes” em seus comentários sobre a Espanha. O mais dramático é que Nicolas Sarkozy encara a estratégia do pavor no momento em que a Espanha afunda cada dia mais, apesar dos cortes faraônicos que o Executivo espanhol decidiu nos últimos dias – perto de 40 bilhões de dólares. A imprensa espanhola está enfurecida com seu ex-amigo. O jornal El País disse há poucos dias: “Com amigos assim quem precisa de inimigos?”.
Chovem adjetivos sobre Sarkozy na mesma medida de sua impiedade eleitoral. O mesmo jornal El País trata-o como “frustrado refundador moral do capitalismo”. O presidente francês afirmou: “Vejam como está a Espanha depois de sete anos de socialismo”. A França está melhor, mas não fugiu nem da crise, nem de suas consequências, nem dos fabulosos déficits acumulados nos anos Sarkozy, nem tampouco da sanção que consistiu em perder o Triplo A que as agências de classificação de risco outorgam aos maus alunos da carreira liberal.
O segundo eixo da campanha da direita francesa é assustar as pessoas com o dilúvio que cairia sobre a França se a socialdemocracia chegasse à presidência. Sarkozy e seus conselheiros estão correndo atrás das pesquisas de opinião que, invariavelmente, vaticinam uma vitória de François Hollande e perseguem os indecisos - 30% do eleitorado -, os que se abstém – 20% - e os eleitores do centro – 9,5% -, assustadiços e muito adeptos à disciplina fiscal. Os socialistas aparecem retratados como os coveiros da economia, esbanjadores irresponsáveis do dinheiro público, adeptos dos déficits crônicos, gestores obcecados por fazerem os ricos pagarem mais impostos e campeões da assistência social à custa da estabilidade global.
Os males que, segundo o presidente-candidato, esperam a França “no minuto seguinte” à vitória socialista são um catálogo da escatologia
liberal: “Desastre”, “catástrofe”, “crise massiva de confiança”, “ataques contra a zona euro”, “implosão do sistema econômico” francês.
Medo sobre medo. E, ainda assim, a direita francesa governa há dez anos, há uma década o próprio presidente Sarkozy ocupa funções chaves no Executivo e nos últimos cinco anos de seu mandato presidencial acumulou uma coleção de cifras negativas: a França perdeu a sacrossanta Triple A, houve um milhão de desempregados a mais, uma sucessão de déficits impressionantes e um crescimento da dívida pública de 500 bilhões de euros. O liberalismo tem a memória curta e a língua muito longa.
Tradução: Libório Junior
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