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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A cobertura da mídia sobre Gaza: nós sabemos!

 



Em texto manifesto, linguistas denunciam a manipulação do notíciário pela grande imprensa para camuflar o massacre do povo palestino, apelam a jornalistas para que não sirvam de joguetes e para que as pessoas se informem pela mídia independente. Entre os signatários, Noam Chomsky. Confira a íntegra.




Enquanto países na Europa e América do Norte relembravam as baixas militares das guerras presentes e passadas, em 11 de Novembro, Israel estava alvejando civis. Em 12 de novembro, leitores que acordavam para uma nova semana tiveram já no café da manhã o coração dilacerado pelos incontáveis relatos das baixas militares passadas e presentes.

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Faixa de Gaza: Israel intensifica ofensiva militar

Não havia, porém, nenhuma ou quase nenhuma menção ao fato de que a maioria das baixas das guerras modernas de hoje são civis. Era também difícil alguma menção, nessa manhã de 12 de novembro, aos ataques militares à Gaza, que continuaram pelo final de semana. Um exame superficial comprova isso na CBC do Canada, Globe and mail, na Gazette de Montreal e na Toronto Star. A mesma coisa no New York Times e na BBC

De acordo com o relato do Centro Palestino para os Direitos Humanos (PCHR, pela sigla em inglês) de domingo, 11 de Novembro, cinco palestinos, entre eles três crianças, foram assassinados na Faixa de Gaza, nas 72 horas anteriores, além de dois seguranças. Quatro das mortes resultaram das granadas de artilharia disparadas pelos militares israelenses contra jovens que jogavam futebol. Além disso, 52 civis foram feridos, seis dos quais eram mulheres e 12 crianças. (Desde que este texto começou a ser escrito, o número de mortos palestinos subiu, e continua a aumentar.)

Artigos que relatam os assassinatos destacam esmagadoramente a morte de seguranças palestinos. Por exemplo, um artigo da Associated Press publicado no CBC em 13 de novembro, intitulado "Israel estuda retomada dos assassinatos de militantes de Gaza", não menciona absolutamente nada de civis mortos e feridos. Ele retrata as mortes como alvos "assassinados". O fato de que as mortes têm sido, na imensa maioria, de civis, mostra que Israel não está tão engajado em "alvos" quanto em assassinatos "coletivos". Assim, mais uma vez, comete o crime de punição coletiva.

Outra notícia de AP na CBC de 12 de novembro diz que os foguetes de Gaza aumentam a pressão sobre o governo de Israel. Traz a foto de uma mulher israelense olhando um buraco no teto de sua sala. Novamente, não há imagens, nem menção às numerosas vítimas sangrando ou cadáveres em Gaza. Na mesma linha, a manchete da BBC diz que Israel é atingido por rajadas de foguetes vindos de Gaza. A mesma tendência pode ser vista nos grandes jornais da Europa.

A maioria esmagadora das noiticias enfatizam que os foguetes foram lançados de Gaza, nenhum dos quais causaram vítimas humanas. O que não está em foco são os bombardeios sobre Gaza, que resultaram em numerosas vítimas graves e fatais. Não é preciso ser um especialista em ciências da mídia para entender que estamos, na melhor das hipóteses, diante de relatos distorcidos e de má qualidade e, na pior, de manipulação propositadamente desonesta.

Além disso, os artigos que se referem à vítimas palestinas em Gaza relatam consistentemente que as operações israelenses se dão em resposta ao lançamento de foguetes a partir de Gaza e à lesão de soldados israelenses. No entanto, a cronologia dos eventos do recente surto começou em 5 de novembro, quando um inocente, aparentemente mentalmente incapaz, homem de 20 anos, Ahmad al-Nabaheen, foi baleado quando passeava perto da fronteira. Os médicos tiveram que esperar seis horas até serem autorizados a buscá-lo. Eles suspeitam que o homem pode ter morrido por causa desse atraso. Depois, em 08 de novembro, um menino de 13 anos que jogava futebol em frente de sua casa foi morto por fogo do IOF, que chegou ao território de Gaza em tanques e helicópteros. O ferimento de quatro soldados israelenses na fronteira em 10 de novembro, portanto, já era parte de uma cadeia de eventos que começou quando os civis de Gaza foram mortos.

Nós, os signatários, voltamos recentemente de uma visita à Faixa de Gaza. Alguns de nós estamos agora conectados aos palestinos que vivem em Gaza através de mídias sociais. Por duas noites seguidas, palestinos em Gaza foram impedidos de dormir pela movimentação contínua de drones, F16, e bombardeios indiscriminados sobre vários alvos na densamente povoada Faixa de Gaza . A intenção clara é de aterrorizar a população, e com sucesso, como podemos verificar a partir de relatos dos nossos amigos. Se não fosse pelas postagens no Facebook, não estaríamos conscientes do grau de terror sentido pelos simples civis palestinos em Gaza. Isto contrasta totalmente com a consciência mundial sobre cidadãos israelenses chocados e aterrorizados.

O trecho de um relato enviado por um médico canadense que esteva em Gaza, servindo no hospital Shifa ER no final de semana, diz: " os feridos eram todos civis, com várias perfurações por estilhaços: lesões cerebrais, lesões no pescoço, hemo-Pneumo tórax, tamponamento cardíaco, ruptura do baço, perfurações intestinais, membros estraçalhados, amputações traumáticas. Tudo isso sem monitores, poucos estetoscópios, uma máquina de ultra-som. .... Muitas pessoas com ferimentos graves, mas sem a vida ameaçada foram mandadas para casa para ser reavaliadas na parte da manhã, devido ao grande volume de baixas. Os ferimentos por estilhaços penetrantes eram assustadores. Pequenas feridas com grandes ferimentos internos. Havia muito pouca Morfina para analgesia."

Aparentemente, tais cenas não são interessantes para o New York Times, a CBC, ou a BBC.

Preconceito e desonestidade com relação à opressão dos palestinos não é nada novo na mídia ocidental e tem sido amplamente documentado. No entanto, Israel continua seus crimes contra a humanidade com a anuência plena e apoio financeiro, militar e moral de nossos governos, os EUA, o Canadá e a União Europeia. Netanyahu está ganhando apoio diplomático ocidental para operações adicionais em Gaza, que nos fazem temer que outra operação Cast Lead esteja no horizonte. Na verdade, os novos acontecimentos são a confirmação de que tal escalada já começou, como a contabilização das mortes de hoje que aumenta.

A falta generalizada de indignação pública a estes crimes é uma conseqüência direta do modo sistemático em que os fatos são retidos ou da maneira distorcida que esses crimes são retratados.

Queremos expressar nossa indignação com a cobertura repreensível desses atos pela mainstream mídia (grande imprensa corporativa). Apelamos aos jornalistas de todo o mundo que trabalham nessas mídias que se recusem a servir de instrumentos dessa política sistemática de camuflagem. Apelamos aos cidadãos para que se informem através de meios de comunicação independentes, e exprimam a sua consciência por qualquer meio que lhes seja acessível.

Hagit Borer, linguist, Queen Mary University of London (UK)

Antoine Bustros, composer and writer, Montreal (Canada)

Noam Chomsky, linguist, Massachussetts Institute of Technology, US

David Heap, linguist, University of Western Ontario (Canada)

Stephanie Kelly, linguist, University of Western Ontario (Canada)

Máire Noonan, linguist, McGill University (Canada)

Philippe Prévost, linguist, University of Tours (France)

Verena Stresing, biochemist, University of Nantes (France)

Laurie Tuller, linguist, University of Tours (France)

Foto: Morre uma criança de 7 anos durante o bombardeio israelense a Gaza

Fonte: Ciranda da Informação Independente

sábado, 6 de outubro de 2012

Haneen Zoabi, uma palestina no parlamento de Israel

 


 

Deputada visita o Brasil para divulgar Fórum Social Mundial Palestina Livre, em novembro

Por Terezinha Vicente
Da Ciranda.net



HaneenZoabi-DeputadaPalestina-tpHaneen nasceu em 1969, em Nazaré, logo depois do segundo grande conflito árabe-israelense conhecido como Guerra dos Seis Dias, 1967. Ela representa a terceira geração depois da Nakba, catástofre palestina de 1948, que expulsou 700 mil árabes não judeus de suas terras; e faz parte das milhares de novas mulheres árabes que participam das lutas emancipatórias dos povos naquela parte do planeta. Filiada ao partido Baladi (Aliança Nacional Democrática), que se opõe à ideia de Israel como “Estado judeu”, Haneen é a primeira palestina com assento no Knesset, o Parlamento israelense, desde 2009. É também a primeira cidadã árabe de Israel a graduar-se em estudos sobre a mídia (pós graduação na Universidade Hebraica de Jerusalém) e desenvolver aulas sobre mídia nas escolas árabes.
Ativismo
Como muitas das mulheres palestinas, que estudam bem mais que os homens palestinos, Haneen é graduada em filosofia e psicologia pela Univ. de Haifa e, para completar, vem de uma família com tradição política. Tem sido atacada fortemente pelos parlamentares israelenses, recebeu até ameaças de morte, por ter participado da Frota da Liberdade I, a bordo do navio que foi atacado ilegalmente – em águas internacionais – pela marinha israelense, em 31 de maio de 2010, matando nove pacifistas e ferindo dezenas.
“A defasagem a favor da mulher é das maiores do mundo, dois terços dos estudantes são meninas”, informa Haneen. As mulheres são mais presentes nas manifestações, maioria das organizações de direitos humanos, além de maioria nas universidades, mas não conseguem trabalho. “As mulheres estudamos e ficamos em casa”, diz, “porque há bem mais oportunidades de trabalho para homens, que podem ir trabalhar em outras cidades”.
Políticas para a Mulher
Um dos principais motivos é que os sistemas de comunicação e transportes não chegam às cidades árabes. Como diz a deputada, o trabalho da mulher está muito relacionado com o ambiente e o desenvolvimento das cidades, culturalmente ela precisa trabalhar próxima à casa e o Estado não desenvolve políticas para a mulher. “Se a mulher não tem acesso ao desenvolvimento industrial de uma região, tem que ficar em casa”, fala Haneen, dizendo existirem pesquisas indicando que “se a mulher árabe consegue participar na vida pública, o nível de pobreza pode diminuir”. A família judia tem renda 3 vezes superior à da família árabe em Israel. Metade dos palestinos vivem abaixo do nível de pobreza, tem participação de 1% no setor privado, 0,5% na tecnologia avançada.
Apartheid de Estado
Haneen faz parte dos 18% de palestinos que restam no território dito israelense, depois da expulsão de 85% desse povo originário, por sucessivas e cada vez mais militarizadas invasões em suas terras, desde 1948. “O Estado pode confiscar terras palestinas sem pagar ao povo palestino”, diz a deputada. “Desenvolveram mil cidades e povoados neste território ocupado, 0% para os palestinos”. Existem sete milhões de refugiados palestinos vivendo precariamente em vários países do mundo, como Líbano, Jordânia, Síria, Iraque, Chile, Suiça e Brasil. As violações aumentam progressivamente nos últimos anos.
“A democracia de verdade é uma ameaça para o Estado de Israel”, afirma Haneen. “A colonização israelense desde 1967 é exercida contra todos os palestinos, onde quer que estejam, não só em Israel. Os cidadãos expulsos a partir de 1967 não são mais cidadãos neste Estado. Sou parte do povo palestino e consigo questionar essa democracia, pois somos cidadãos desse Estado”. Ela chama a atenção para a natureza do Estado hebraico, que não tem constituição e nem fronteiras, algo pouco abordado pela diplomacia internacional. “Existem 30 leis que legitimam o racismo contra os cidadãos palestinos”, denuncia. Elas tratam do uso das terras, construção e delimitação estrutural das cidades, mas também são leis para a educação, para a construção de partidos e de organizações civis. “Esta legislação de apartheid não tem igual no mundo!”
Guerra Israelense
Também as leis de reunião de família e de naturalização são únicas no mundo, segundo Haneen. Ela não pode casar com nenhum palestino, seja da Síria, da região de Gaza, ou do Brasil, pois terá que sair de Israel. E as leis são todas recentes, numa estratégia de guerra contra os palestinos que, segundo a deputada, inclui não somente a perda de terras (lei do confisco é de 2011), mas a colonização, a derrubada de suas casas pelo Ministério do Interior. “Temos 60 mil casas construídas sem autorização, verticalmente, pois eles não permitem a extensão de casas árabes no território. Ocupamos apenas 3% do território embora tenhamos crescido 9 vezes desde a ocupação”.
Identidade violentada
Além dos conflitos materiais, existe forte conflito pela identidade palestina, proibida de se manifestar. Segundo a parlamentar, “pela concepção israelense, os palestinos na Cisjordania e em Gaza são palestinos e nós não somos. Se falamos que temos identidade palestina não estamos sendo leais ao Estado de Israel. Em todos os documentos oficiais somos identificados como ‘não judeus’, não temos identidade”. O que aconteceu em 1948 está proibido de ser ensinado nas escolas pelas leis sionistas desse Estado que se diz democrático. “Normalmente, o imigrante é quem pede igualdade”, explica a deputada, “aqui a situação é o contrário, os nativos pedem igualdade com o imigrante, pois a civilização árabe islâmica acolheu os judeus”.
O papel do Ministério da Educação é fazer desaparecer a identidade palestina. “Um dos seus objetivos é vincular o judeu ao território de Israel”, explica Haneen, “e vincular o judeu israelense com a diáspora judaica no mundo, fortalecer a língua hebraica e desenvolver sua cultura. A literatura palestina de resistência é proibida, enquanto todos os livros didáticos da 6ª série são sobre o holocausto, tido como catástrofe humana única. Se um professor resolver falar da catástrofe palestina no dia do Nakba, por exemplo, pode perder seus direitos”.
Visão Sionista
Também os meios de comunicação difundem a visão sionista, segundo a parlamentar, construindo uma cultura de medo dos árabes. “Antes de 1967, quando os tanques israelenses entraram em nosso território, - queríamos somente viver, estávamos muito longe do Estado”, diz Haneen. “Agora a maioria do nosso povo vota nos árabes, nossa juventude é a maior força, identificada com os palestinos”. Para isso, os meios de comunicação árabes tem tido muita importância. “Estamos vinculados à cultura árabe, o projeto de um estado de cidadania é novo, tem apenas 16 anos, numa repressão que já dura 60. Temos amadurecido e somos hoje mais corajosos e ativos, as revoluções árabes demonstram que o componente subjetivo dos povos é muito importante”.
A luta no parlamento
Três partidos árabes e oito judeus compõe o parlamento em Israel. O Baladi, de Haneen, tem três assentos no parlamento, o PC quatro assentos e o “massa islâmica”, outros quatro. A Aliança Nacional Democrática, fundada em 1995, tem projeto de secularização do Estado de Israel, querem um Estado laico e único para todos os cidadãos. Haneen Zoabi teve que enfrentar os tribunais para tornar-se parlamentar e, depois de algumas derrotas, conseguiu em 2006 por um voto (7 X 6), que os juízes permitissem sua participação na eleição. “Respeitando as leis israelenses e reivindicando como cidadã de Israel a solução deste contraste entre o Estado religioso e o cidadão, eu sou perigosa para Israel”.
A deputada acredita que irão proibir novamente a sua candidatura e a de outros parlamentares de seu partido nas próximas eleições, sobretudo pela participação na Flotilha da Liberdade. O projeto democrático quer a igualdade de direitos para todos e que os refugiados voltem para suas terras. “Os judeus sofreram holocausto não no mundo árabe e antes do projeto sionista viviam em igualdade com os palestinos. Virou uma obsessão a ‘judaicidade’ do Estado, eles passaram das fronteiras geográficas para as simbólicas, as culturais. Precisamos unificar e reconstruir o projeto nacional palestino, isso significa que precisamos do apoio internacional para o Estado palestino”.
Solidariedade Internacional Rumo ao FSMPL
É neste contexto histórico que se organiza o Fórum Social Mundial Palestina Livre, que acontecerá em novembro, no Brasil, na cidade de Porto Alegre. É preciso que o mundo ouça a voz dos palestinos, saiba o que acontece naquele território, descubra a farsa que é a democracia no Estado de Israel. “Quando Israel tenta justificar ocupação, repressão e massacres, levanta a bandeira de que é um Estado democrático”, comenta Haneen, “mas é uma falsa propaganda”. O fato é que Israel vem ampliando o comércio com todo o mundo, uma maneira de ganhar o apoio global para sua expansão geográfica e cultural.
“A crise econômica não afetou a venda de armas de Israel para o mundo”, diz a palestina. Israel tem 60 acordos com a comunidade europeia, e voltou-se para outras regiões, como a América Latina, tem acordos de segurança e de armamento com o Estado brasileiro. “Os acordos comerciais com o Brasil são favoráveis a Israel, que tem um mercado de apenas 6 milhões, frente ao mercado brasileiro”, analisa Haneen. “Israel vê no Brasil e na América Latina um tesouro para expandir sua economia, as empresas israelenses estão alcançando 200 milhões de consumidores”.
Boicote
A militante anti-sionista lamentou não ter visto nos supermercados daqui nenhuma alusão ao boicote que vem sendo desenvolvido contra produtos israelenses. “Cada vez que Israel se expande, ocupa terras e melhora suas relações com países do mundo, isto é lido como apoio ao projeto do Estado sionista”. Ela nos contou que um mês antes do FSMPL, visitará o Brasil um Ministro da Suprema Corte de Israel, Salim Joubran, de origem árabe. “Tenho medo que seja usado para propaganda gratuita”, lamenta a deputada. “Ele vai falar sobre leis de direitos humanos israelenses, mas aceitou todas as leis racistas. E eles falarão que temos árabes no judiciário, no comercio, em todos os lugares, mas um árabe é bom se aceita todas as regras do jogo”.
Haneen está apoiando o Fórum que pretende dar voz aos palestinos para o mundo, e esteve em Porto Alegre e em São Paulo. O FSMPL “representa um passo para saltar do apoio moral ao apoio prático, temos muitas esperanças no Brasil, como um estado com peso a nível internacional”. O Fórum Social Mundial Palestina Livre acontece entre os dias 28 de novembro e 1º de dezembro de 2012, e as inscrições estarão abertas a partir deste 1º de outubro para organizações e atividades e, a partir do dia 15, para indivíduos e imprensa. O comitê preparatório no Brasil constitui-se de uma coalizão de 36 movimentos, sindicatos e ongs, além das comunidades palestinas no Brasil. O Comitê Nacional Palestino une forças políticas da Palestina, em maioria da sociedade civil. O Comitê Internacional foi articulado no Conselho Internacional do FSM, reunindo organizações de várias partes do mundo.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

A NOITE DA BORBOLETA DOURADA - TARIQ ALI


Blog da MILU DUARTE

No final de 2011, foi lançado no Brasil o quinto  e último livro do chamado "Quinteto Islâmico" do escritor paquistanês Tariq Ali. Com o título de "A noite da borboleta dourada"(336 páginas), este livro foge da temática histórica do universo islâmico abordada nos outros livros do quinteto, que tratavam dos mouros, do Império Otomano, das Cruzadas. A 'Borboleta'  trata da China dos séculos XX e XXI, apresentando o mundo islâmico em rápidas pinceladas atuais e/ou históricas.

Como disse em entrevista ao gaúcho "Correio do Povo" o próprio autor, este livro "não  é um romance histórico; é um romance que atravessa algumas fases da história recente do Paquistão e da China".

 Eu ainda não li o romance: acabo de adquiri-lo por R$ 35,47 (preço de oferta da Livraria da Travessa). A sinopse a seguir foi extraída da Editora Record, responsável pelo seu lançamento no Brasil.

" Em A noite da borboleta da dourada, ele mais uma vez lança mão de sua habilidade para transgredir, de forma sutil, figuras e instituições tradicionais do Paquistão.

Logo no início do romance, o narrador é lembrado de uma dívida de honra. O credor é Mohammed Aflatun, conhecido como Plato. Um irascível, mas talentoso pintor, que vive num Paquistão onde a dignidade humana é artigo escasso. Depois de anos evitando os holofotes, Plato quer que sua trajetória de vida seja contada. Assim, somos apresentados à Alice Stepford, sua amiga londrina, agora uma crítica musical radicada em Nova York; à senhora Latif, dona de casa de Islamabad, cuja predileção por generais a leva até Paris; e à Jindie, a borboleta, seu primeiro amor.

Tariq revela fragmentos do islã contemporâneo, o cotidiano dos paquistaneses, tudo isso entremeado à vida da família de Jindie — um de seus antepassados, Dù Wènxiú liderou uma rebelião muçulmana no século XIX e governou a região por quase uma década como sultão Suleiman. Suas ações despóticas servem de espelho para a situação atual do país. A noite da borboleta da dourada é uma história de radicalismo secular que ajuda na compreensão das crises contemporâneas. O fecho perfeito para uma das mais belas séries da literatura atual."

Mais informações sobre o autor ver neste blog, no post http://livroquetequero.blogspot.com.br/2011/01/resenha-de-hoje-mulher-de-pedra-tariq.html

Fórum Social Palestina Livre une denúncia e solidariedade

PORTAL VERMELHO - A solidariedade com a causa palestina é tema que unifica os mais diversos povos e movimentos. E, para demonstrar seu apoio, dar visibilidade ao tema e lutar por justiça e paz na região, entidades de todo o mundo se reunirão mais uma vez em Porto Alegre. Trata-se do Fórum Social Mundial Palestina Livre, que acontece entre 29 de novembro e 1º de dezembro. O encontro global se insere no processo do Fórum Social Mundial de "combate à hegemonia do neoliberalismo, do colonialismo e do racismo, através das lutas por alternativas econômicas, políticas e sociais para promover a justiça, a igualdade e a soberania dos povos", diz a convocatória do evento. Segundo o documento, a ideia é mostrar a força da solidariedade aos palestinos, debater ações efetivas para assegurar a autodeterminação deste povo e o seu legítimo direito a um Estado, combater a ocupação israelense e denunciar a violência sionista. As delegações estrangeiras devem chegar a Porto Alegre ainda no dia 28, quando será realizado um show de abertura. Em seguida, serão três dias de palestras, atividades autogestionadas e ações culturais. A previsão é de que, durante as manhãs, sejam realizadas conferências e, à tarde, diversas programações simultâneas, organizadas pelas próprias entidades. No final da tarde do dia 29, uma grande marcha dos movimentos sociais deve tomar as ruas de Porto Alegre, para marcar o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, data instituída pelas Nações Unidas. Desde o ano passado, uma lei de autoria do deputado estadual do Rio Grande do Sul, Raul Carrion (PCdoB), criou também o Dia Estadual de Solidariedade ao Povo Palestino. A lei prevê a realização de atividades alusivas à data, que devem ser elaboradas em conjunto com entidades árabe-palestinas e com o devido apoio do governo. É nesse contexto que o Fórum Palestina Livre se realizará. A programação ainda inclui uma assembleia dos Movimentos Sociais, no dia 1º à tarde, e um ato de encerramento, com apresentações culturais. As atividades serão distribuídas em cinco eixos: Autodeterminação (que visa articular iniciativas de solidariedade e em defesa do direito à autodeterminação, incluindo o reconhecimento do Estado da Palestina); Direitos Humanos e Direito de Retorno (que trata inclusive da questão dos presos políticos e das violações cometidas por Israel); BDS e Estratégias de Luta (que abarca a campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções a Israel); Por um Mundo sem Muros (que trata tanto dos muros físicos quanto dos muros da opressão); e Outras Formas de Resistência (espaço para pensar ações globais de solidariedade e resistência). Cerca de 200 personalidades mundiais estão sendo convidadas a participar do Fórum e manifestar apoio à causa palestina. O objetivo é dar maior visibilidade à luta desse povo pela criação de seu Estado. Entre os nomes que integram a lista dos convidados estão, por exemplo, o linguista e filósofo norte-americano Noam Chomsky, o escritor e ativista paquistanês Tariq Ali, o escritor italiano Umberto Eco, o cantor cubano Sílvio Rodriguez e a prêmio Nobel da Paz guatemalteca Rigoberta Menchú. O Fórum, convocado por cerca de 60 entidades brasileiras e palestinas com sede no Brasil, acontecerá 65 anos depois de o Brasil ter presidido a seção da Assembleia Geral da ONU que definiu a partilha da Palestina. De acordo com a presidenta do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, o Fórum será palco para a solidariedade, mas também para a denúncia. "O Fórum fará a defesa da soberania do povo palestino sobre seu território. Esta é uma questão fundamental para a paz no Oriente Médio e já foi tema de diversas resoluções da ONU, mas não vai adiante pela força bruta das armas, da política de limpeza étnica de Israel, que promove assassinatos, checkpoints, prisões, o colonato – crimes graves contra a humanidade –, tudo para usurpar as terras e os recursos palestinos", diz. Segundo ela, o mundo não pode aceitar tais arbitrariedades. "Os povos pela paz no mundo levarão ao Fórum toda a sua solidariedade e farão a denúncia da violência de Israel. Construímos a unidade na pluralidade dos movimentos", colocou. Membro da Executiva da União Brasileira de Mulheres (UBM) e secretária nacional da Mulher do PCdoB, Liège Rocha destaca a importância de os movimentos se unirem para lutar por uma Palestina livre. "O Fórum parte da necessidade de se respeitar a soberania de um povo, de dar maior visibilidade a esta causa. E isso vem sendo construído com a unidade em torno da solidariedade e respeitando as diferenças de cada movimento. Dar visibilidade ao tema palestino é uma maneira de fazer pressão para que o anseio desse povo pelo seu Estado se concretize", defende. Presidente estadual do PCdoB no Rio Grande do Sul, Raul Carrion destaca o empenho do partido na realização do evento. "O PCdoB considera a solidariedade uma questão-chave e, desde o início, se coloca à disposição para contribuir com o Fórum. Entendemos que as lutas que são contra o colonialismo e o neoliberalismo ajudam a avançar na nossa luta aqui também", afirma, destacando a aprovação da lei que cria a data estadual em homenagem à causa palestina. Segundo Carrion, está em análise a realização de uma atividade paralela ao Fórum, um encontro internacional de legisladores e autoridades locais em solidariedade à luta palestina. Segue abaixo a convocatória do comitê organizador: Convocatória para o Fórum Social Mundial Palestina Livre, de 29 de novembro a 1º de dezembro de 2012, Porto Alegre (Brasil) A Palestina ocupada pulsa em cada coração livre neste mundo e sua causa continua a inspirar solidariedade universal. O Fórum Social Mundial Palestina Livre é uma expressão do instinto humano de se unir por justiça e liberdade, e é um eco da oposição do Fórum Social Mundial à hegemonia do neoliberalismo, do colonialismo e do racismo através das lutas por alternativas econômicas, políticas e sociais para promover a justiça, a igualdade e a soberania dos povos. O FSM Palestina Livre será um encontro global de ampla base popular e de mobilizações da sociedade civil de todo o mundo. Ele visa: Mostrar a força da solidariedade aos chamados do povo palestino e à diversidade de iniciativas e ações visando promover a justiça e a paz na região. Criar ações efetivas para assegurar a autodeterminação palestina, a criação de um Estado Palestino com Jerusalém como sua capital, e o atendimento aos direitos humanos e ao direito internacional por: 1. Acabar com a ocupação israelense e a colonização de todas as terras árabes e derrubar o muro; 2. Assegurar os direitos fundamentais dos cidadãos árabe-palestinos de Israel à plena igualdade, e 3. Implementar, proteger e promover os direitos dos refugiados palestinos de retornar a seus lares e propriedades, como estipula a resolução da ONU 194. Ser um espaço para discussão, troca de idéias, estratégias e planos que desenvolvam a estrutura da solidariedade. Exatamente após 65 anos de o Brasil ter presidido a seção da Assembleia Geral da ONU que definiu a partilha da Palestina, o Brasil vai abrigar um tipo diferente de fórum global: uma oportunidade histórica de os povos de todo o mundo se levantarem onde seus governos falharam. Os povos do mundo se reunirão para discutir novas visões e ações efetivas para contribuir com a justiça e a paz na região. A participação nesse Fórum deve reforçar estruturalmente a solidariedade com a Palestina; promover ações para implementar os direitos legítimos dos palestinos e tornar Israel e seus aliados imputáveis pela lei internacional. Conclamamos todas as organizações, movimentos, redes e sindicatos em todo o mundo a se unirem ao FSM Palestina Livre, de 29 de novembro a 1º de dezembro, em Porto Alegre, Brasil. Juntos podemos levar a solidariedade à Palestina a um novo patamar.

Comitê Organizador do Fórum Social Mundial Palestina Livre
 Da Redação do Vermelho

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Hebron: um microcosmo do conflito Israelo-Palestino


A cidade é conhecida pela sua divisão em zonas militarizadas, em que há muitas famílias israelenses vivendo sob segurança de soldados israelenses em condomínios bastante destoantes em pleno território palestino

  Moara Crivelente no BRASIL DE FATO

Andar pelas ruas de Hebron, na Cisjordânia, é tirar uma foto do conflito Israelo-Palestino. Tudo o que uma pessoa interessada pelo assunto lê nos relatórios das organizações internacionais e das ONGs de defesa dos direitos humanos ou em notícias um pouco mais dedicadas, está lá. E no caminho até lá.
Desde a turística e belíssima Jerusalém antiga, saindo de seu portão Damasco – assim chamado por ser voltado a esta cidade, segundo uns, ou por ter sido construído por pessoas que vieram de lá, segundo outros – e caminhando pelas ruas comerciais ocupadas por bazares, é possível pegar um ônibus até Belém, que já fica em território palestino. Fui acompanhada até a rodoviária pela Hibah, a moça palestina que conheci no hotel. Me guiou pelas ruas labirínticas dentro da cidade antiga de Jerusalém, até o portão de Damasco, passando por muitos bazares, ou mercados de rua.
Para chegar a Belém é necessário passar por um dos postos de controle israelenses – os famosos check points – chamado 300. Na ida, as pistas que se tem sobre isso são os muros, as torres de vigilância e os soldados armados, pois não foi necessário parar. Chegando em Belém, o ônibus me deixa em uma das ruas do centro e ali procuro pelo ônibus que me levará até Hebron. Finalmente estou na Palestina, e ver as bandeiras erguidas em muitas esquinas é bastante especial. Recebo uma SMS no celular, me dando as boas vindas a este país diferente, como quando se entra em qualquer outro território nacional decentemente reconhecido.
Em Hebron, porém, a experiência se torna um tanto mais intensa. A cidade é conhecida pela sua divisão em zonas militarizadas, em que há muitas famílias israelenses vivendo sob segurança de soldados israelenses em condomínios bastante destoantes, assentamentos, em pleno território palestino. Outra vez, nenhuma novidade. Caminhar até a Mesquita de Ibrahim – ou Abraão – e ser questionada pelo soldado israelense no posto de controle sobre a minha religião, sim, foi uma novidade. Vê-los entrar pelas escadas que levam à Mesquita com os seus M-16 em punho, sim, foi uma novidade, algo que um muçulmano não deve apreciar.
Nas ruas do mercado antigo praticamente abandonado, conheci um guia palestino, empenhado em mostrar aos “turistas ativistas” a realidade em que ele vive. Pensei nessa nova modalidade de turismo a ser criada – ou nomeada, uma vez que já existe: o turismo ativista. Com todo o cinismo de alguém realmente impotente, ouvi dele e de outros palestinos com quem conversei todas as críticas, importâncias e ênfases que os ativistas preocupados com a situação dos palestinos dão às diferentes camadas dessa realidade política tão violenta.
O que realmente me despertou esse pensamento foi quando um dos vendedores das poucas lojas abertas me explicou e quase me deu um certificado da produção local dos lenços palestinos que eu estava comprando. “É realmente feito aqui, é produção local, originalmente palestina, não é made in China, nem em Israel”, dizia o senhor enquanto contava os meus shekels, a moeda israelense. Sou muito familiarizada com a iniciativa política bastante interessante de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) em que muitos palestinos e, outra vez, ativistas internacionais, estão se empenhando. Assim mesmo, ainda admirando a iniciativa – e tomando parte nela – não pude deixar de me sentir um pouco ridícula quando conversando com esses senhores nas lojas.
Jamal, o guia palestino que me encontrou no bazar, me convenceu a segui-lo em um tour pela desgraça palestina. Eu estava em Hebron justamente por ler sobre a representatividade tão gráfica que esse lugar tem sobre a situação. Começamos pelo próprio bazar, seguindo pelas ruas da cidade antiga de Hebron, e ele me levou pra ver as pracinhas de uns quatro metros quadrados feitas entre os túneis-ruelas em que estão muitas casas. Me mostrou alguns tijolos novos em ruas que cheiravam a esgoto, em que as crianças brincavam. Acompanhando esses novos tijolos e pracinhas se podem ver placas já gastas de países como Alemanha, Espanha e, claro, Estados Unidos – através da sua USAID – assinando a autoria da beneficência, da chamada cooperação internacional.
Depois disso, passamos por um dos postos de controle israelenses para chegar ao próximo bairro, entregando as nossas mochilas para serem revisadas e passando por detectores de metais. Entraríamos em um território misto, onde havia muitas famílias israelenses. Passaríamos de forma mais rápida, se os soldados fossem experientes e maduros, ou menos rápida se fossem mais jovens que eu, com seus 18 a 21 anos, e estivessem flertando entre eles, com as suas armas a tira-colo. Também as soldados-Barbie, com seus longos cabelos loiros e óculos de sol, fazem parte da trupe que controla a vida dos palestinos em filas, esperando para passar de uma rua a outra, até as 21h – quando os postos são fechados.
Depois disso, passamos pela rua literalmente dividida no meio, que leva a um terraço panorâmico. Jamal me explica que temos que andar do lado direito, pois estou com ele, que é palestino. Os judeus andam do outro lado, e os carros têm que fazer alguma manobra especial um tanto confusa. Algum momento depois, entramos em outra rua emblemática, em que um mercado tradicional palestino subsiste com poucas lojas abertas – segundo Jamal, há mais de 1000 lojas por essas ruas, mas apenas 100 funcionam, já que os comerciantes locais tiveram que deixarem a cidade.
Nesta rua, as lojas são protegidas por redes metálicas acima, como uma rua com teto. O motivo são os israelenses, que vivem nas casas de cima, nos prédios, e que costumam jogar lixo e pedras contra o comércio palestino. Por outro lado, as suas janelas, assim como as palestinas, são protegidas por grades ou simplesmente fechadas, pelo constante arremesso de pedras, uns contra as casas dos outros.
Seguindo adiante, a Rua Al-Shuhada, ou Rua do Mártir, é conhecida como “rua fantasma”. As casas e os comércios dessa bela rua, apesar de bem construídos, estão totalmente vazios e, em muitos casos, depredados. Os portões das lojas estão chumbados e as janelas das casas, destruídas. São por volta de 50 prédios abandonados só na cidade velha, pela violência entre israelenses e palestinos, pelos excessivos postos de controle e pela presença militar israelense. De fato, no final da mesma rua, passamos por outro posto de controle para entrar em um assentamento israelense, de decentes prédios residenciais, escola e sinagoga.
Há vários assentamentos como este em toda Hebron. Segundo Jamal, perto de sua casa, atrás da Mesquita de Ibrahim, moram ao redor de 400 israelenses. Em outros, espalhados pela cidade, moram várias famílias. São eles: Beit Hadassa, Beit Rumanu, Tal Irmida e Abraham Avinu, com mais ou menos 20 famílias cada. Do topo do terraço panorâmico em que ele leva muitos turistas-ativistas se podem ver bandeiras israelenses pintadas em caixas d’água ou nos topos dos prédios, tudo disposto estrategicamente dentro do campo de visão das três torres de controle militar, instaladas nas colinas de Hebron. Dali Jamal me mostra também a escola construída pela Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, em inglês), em meio às ruas vazias e aos postos de controle militar.
A sensação de insegurança, segundo Jamal, é constante. A presença militar israelense, os assentamentos e os comércios abandonados, além dos postos de controle e da má relação com os vizinhos judeus são fatores cotidianos que aumentam a tensão, para não falar da realidade de viver literalmente sob ocupação. As forças policiais da Autoridade Palestina não podem carregar armas nessas regiões, por exemplo, mas a insatisfação com a instituição instaura o cinismo na voz dos palestinos a quem pareço estar lembrando que ela existe. Os Acordos de Oslo, assinados no começo dos anos 1990, supunham a restauração da autoridade palestina na região, mas Hebron foi um caso particular.
Com o Acordo de Hebron, a cidade foi dividida em regiões: H1, sob autoridade palestina, em que os judeus não podem entrar; e H2, que era ainda habitada por mais de 30.000 palestinos e ficou sob controle militar israelense, com severas restrições de movimento, vários postos de controle, fechamento de comércios e toques de recolher para os palestinos. O motivo alegado é o de que lá vivem também centenas de judeus, devido a uma ligação religiosa com o local, e os palestinos não podem se aproximar das áreas em que vivem os judeus sem permissão das Forças de Defesa de Israel (IDF).
Jamal conta que a cada 3 meses as forças israelenses entram em sua casa e reviram até o seu quarto, numa programação constante de controle. À volta da casa dele há, pelo menos, 10 prédios abandonados, em que antes viviam palestinos. A ONU, em alguns momentos, tentou remediar a situação, num esforço por desacelerar o abandono da região e dos comércios, mas a situação de insegurança física, social e econômica não permite que uma vida normal e decente seja parte da realidade palestina em Hebron. Às sextas-feiras muitos muçulmanos voltam à cidade para rezar na Mesquita de Ibrahim, mas deixam a região em seguida.
A volta de Belém para Jerusalém é diferente. É necessário parar no posto de controle 300, fazer uma fila, ser questionado e revistado pelos soldados, no caso dos palestinos. Como sou estrangeira, o motorista me pediu para ficar no ônibus; os soldados subiram, me perguntam sobre o motivo da minha visita ao território palestino, os nomes das pessoas que lá conheço e checaram o meu passaporte. No caso de outro posto de controle, tive que descer do ônibus, entrar na fila, responder aos soldados as mesmas perguntas e também sobre os nomes próprios dos meus pais, para que introduzissem o meu passaporte no sistema de segurança, digitalizando-o, e olhassem a minha mochila. Este é Calândia, um dos postos de controle mais conturbados entre Ramallah e Jerusalém. Mas essa é uma outra história.

Moara Crivelente é cientista política está terminando o Mestrado em Comunicação dos Conflitos Internacionais Armados e Sociais na Universidade Autônoma de Barcelona.

domingo, 19 de agosto de 2012

O despertar do Islã, a luta dos povos e a causa palestina

do PORTAL VERMELHO


O candidato a vereador do PCdoB em São Paulo, Kháled Fayez Mahassen, participou no Dia de Jerusalém, cerimônia que encerra o tradicional período de Ramadan. Fez um discurso nas presenças do Cônsul Geral do Líbano em São Paulo, Sr. Kablan Franjieh, e do Cheikh Hassan Burji Imã, da Mesquita do Brás, entre outras lideranças, presidentes e representantes de entidades civis e políticas.


artista palestino Ismael Shammout
Povo palestino Povo palestino

Segue o discursos completo, que exalta a luta dos povos pela soberania, em particular a do povo palestino.

“Camaradas e companheiros, Caríssimos irmãos,

Al Kuds, capital da palestina.
 
Al Kuds, que vem sendo agredida, há muitos anos pela ocupação israelense,
Al Kuds, a terra sagrada pelos profetas para a humanidade.
Al kuds é a questão, é o coração da questão palestina.
Neste sagrado dia, do abençoado Ramadan, e após a vitória da revolução iraniana, foi decretado pelo Imã Al Khomeini, o dia de Jerusalém.

Este dia é o dia de renovar o nosso compromisso de luta pela principal causa árabe, a causa palestina.

Esta causa, que o imperialismo estadunidense e seus aliados vêm trabalhando para dissolver no meio das muitas questões no Oriente Médio.

Caríssimos companheiros,

O que está acontecendo hoje no Oriente Médio tem por objetivo desviar a atenção da causa palestina. A mídia internacional vem bombardeando os ouvidos do mundo por informações sobre muitos acontecimentos no mundo árabe, sem sequer tocar sobre a agressão praticada pelos israelenses na Faixa de Gaza e em toda a Palestina contra o povo valente da palestina e suas crianças e mulheres, desviar a atenção da construção do muro da vergonha que tem por objetivo encurralar o povo palestino, impedindo-o de circular, separando famílias e proibindo-o, legitimo dono dessa terra, de visitar os seus lugares sagrados como a Igreja da Natividade e a Mesquita Al Aqsa.

Participei em Teerã do 1º encontro do despertar do Islã, e não era apenas o despertar do Islã, mas sim o despertar da humanidade. E adivinhem qual era a principal questão discutida pelos organizadores e todos os oradores? Foi a questão Palestina. A principal questão humanitária.

Foi discutido como o imperialismo estadunidense atua na região, e qual é o mecanismo para impedir, suas vitorias.

Companheiros,

Como podem governos árabes permitir essas ações e essas agressões? Como podem ser parte dessa pouca vergonha?

Os Estados Unidos da América e seus aliados destruíram o Iraque, destruíram a Líbia, governam, hoje, indiretamente o Iêmen, plantaram em todos os países árabes do golfo suas bases militares, isso sem falar do modo como sufocaram o levante do povo contra a monarquia em Bahrein.

E hoje estão concentrando as suas forças para acabar com o único país que ainda diz não a Israel e seus planos na região, sim, concentram suas forças para acabar com a Síria, o coração da nação árabe.

O plano do imperialismo estadunidense é redesenhar o Oriente Médio, e quem vai impedir?
Esqueceram eles a histórica derrota do imperialismo no Líbano em 2006, derrota essa aplicada pela luta do bravo povo libanês. Esqueceram eles que não cessamos a nossa luta até libertar a Palestina da ocupação israelense, e remover dos países árabes todas as bases militares dos ingleses, americanos e seus aliados.

Essas gangues que vêm há muitas décadas saqueando a riqueza dessa nação e devolvendo-a em bombas e agressões ao nosso povo.

Fiquemos atentos sobre suas ações, não somente na pátria árabe, mas sim, em todo o Oriente Médio, na América Latina e Central e em todos os cantos. A luta do povo não pode parar até a definitiva derrota do imperialismo e seus aliados.

O dia de Jerusalém é o dia de renovar o nosso compromisso com a luta, o nosso compromisso com a honra, o nosso compromisso com o heroico povo iraniano e seu líder que fez declarações na última sexta-feira (17), dia  do abençoado Ramadan, o dia de Jerusalém.

E para isso, temos o dever de nos unirmos, na pátria árabe e na imigração, caros irmãos, temos que ser uma força influente, viver os problemas da nação brasileira, contribuir com este povo que abriu o seu coração para nossos imigrantes, e deles fez cidadãos com direitos iguais aos nativos.

Nosso dever é informar este querido povo brasileiro sobre o que está acontecendo nos nossos países, pois o imperialismo estadunidense não poupará a América Latina das suas intenções e agressões, e para isso colocou nos mares latinos a Quarta Frota para vigiar esses países.

Neste dia temos que renovar o nosso compromisso com a verdade, com a luta dos povos por uma sociedade mais justa e mais humana.

Viva a luta dos povos,

Viva Jerusalém."

domingo, 15 de julho de 2012

Sabra e Chatila: a linha do tempo da barbárie


Através de um acordo mediado pelos EUA, a OLP aceitou deixar o Líbano, se asilando na Síria e na Argélia. Para trás ficaram milhares de refugiados civis. Receberam garantia de israelenses e do próprio governo americano de que não seriam atacados. Vamos esquecer aquele junho de 1982?


Trinta anos depois, é preciso indagar novamente. Vamos esquecer aquele junho de 1982, em que Beguin e Sharon não pestanejaram ao perpetrar o genocídio? Ao mesmo tempo em que massacravam as populações palestina e libanesa, restringiam ao máximo a manifestação de quaisquer segmentos contra a guerra, acabando com a ilusão de vários setores da sociedade israelense que acreditavam nas maravilhas de viver na "única sociedade democrática do Oriente Médio".

Desta forma, paralelamente a uma ação de pinças visando estabelecer no Líbano um estado títere – chefiado por um grupo fascista cristão, aliado incondicional de Israel – que assinasse a "pax beginnis” (como fez o Egito em Camp David) isolando a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), foi deflagrado um processo que terminaria numa ocupação com a tomada da capital Beirute.

Num primeiro momento, a ação de Beguin alcançou seus resultados. A OLP e a população libanesa foram totalmente abandonadas por seus “aliados”. Síria e Jordânia, entre outros, saíram de cena, deixando que todo o peso da ação militar fosse sustentado por palestinos e libaneses. Com total proteção de Washington, o exército sionista cometeu toda sorte de atrocidades. Milhares de mortos, desaparecidos ou feridos. Um milhão de pessoas sem teto. Foram varridos da face da Terra: três cidades, 32 povoados libaneses e 14 acampamentos de palestinos. Contra cidades foram lançadas bombas de fragmentação: fosfóricas, de napalm e bengalas.

Para matar crianças, os invasores, armados e manobrados por Ronald Reagan, usaram as chamadas "minas e armadilha" e "minas-surpresa", que explodiam ao leve toque da mão infantil. O Líbano, palco de tragédias de colonialismos e neocolonialismos, guerra fria e lutas internas com intervenção de potências externas, seria o último solo das vítimas de uma solução final para o "problema palestino".

Frente à barbárie, os estados árabes recusaram-se até mesmo a receber os militantes palestinos, com medo do impacto de sua organização e nível de consciência em suas próprias populações – como ocorreu na Jordânia em 1970.

A pressão sobre a OLP foi, então, enorme. Enquanto sua direção buscava um recuo organizado que lhe permitisse conservar a unidade territorial dos combatentes palestinos, evitando um banho de sangue maior, os "aliados" pressionavam para uma "solução diplomática" que espalhasse os palestinos por vários países e destruísse sua direção.

Estava claro que a nova diáspora era carta jogada não só para os países árabes como para os dirigentes sionistas. Beguin e Sharon não aceitariam, na verdade, qualquer solução que preservasse um mínimo de organização do movimento palestino, que mantivesse intactas as possibilidades de unificação de um movimento anti-imperialista em toda a região. Os novos kaisers de Israel sabiam que a destruição total obedecia a uma estratégia geopolítica de domínio pleno.

Através de um acordo mediado pelos EUA, a OLP aceitou deixar o Líbano, se asilando na Síria e na Argélia. Para trás ficaram milhares de refugiados civis. Receberam garantia de israelenses e do próprio governo americano de que não seriam atacados. Como relembrou o jornalista Diego Cruz, em artigo sobre os 24 anos do massacre:

"No entanto, na madrugada de 16 de setembro, a Falange, milícia libanesa cristã aliada de Israel, sob o comando direto do então Ministro da Defesa judeu, Ariel Sharon, invadiu os campos de refugiados de Sabra e Chatila, no subúrbio de Beirute, protagonizando um verdadeiro genocídio. Cerca de 3.500 mulheres, crianças e idosos foram cruelmente mortos com tiros e facadas."

A sorte estava lançada. Beguin quis destruir a OLP como foco de organização e polarização das forças revolucionárias. Ao destampar essa garrafa, o líder israelense liberou um vinho que, se num primeiro momento, produziu o que lhe pareceu um excelente perfume, liberou poderosos gases, forças sociais com as quais Israel terá que se haver até que o direito à existência soberana seja reconhecido. Enquanto isso não ocorrer, a democracia israelense será uma ficção preservada por muros e pela proteção estadunidense.

Não é sobre corpos de mulheres, crianças e idosos que se constrói um país democrático. Israel deveria, pela linha do tempo da memória coletiva, saber disso há mais de 60 anos.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Muçulmanos mudam regra da FIFA


  Por Rui Martins, de Genebra  no CORREIO DO BRASIL

Reprodução
FIFA cede à religião e aceita jogadoras cobertas da cabeça aos pés.

A decisão da FIFA de permitir às jogadoras dos países muçulmanos jogarem com véu e corpo coberto é um perigoso precedente e uma grande vitória da religião muçulmana sobre o mundo laico.
A notícia é muito mais política que esportiva e constitui a primeira grande brecha importante dos religiosos muçulmanos no mundo laico, num setor bastante popular como é o futebol. A França é até agora o único país a reagir, pois decidiu continuar proibindo o uso do véu (chador) pelas jogadoras inscritas na Federação Francesa de Futebol, com base na laicidade.
Sem começar qualquer jogo, são perdedoras todas as mulheres do mundo, porque o Ocidente laico está aceitando se submeter aos preceitos religiosos corânicos. As jogadoras dos países muçulmanos poderão competir com o véu, que cobre a cabeça e uma parte do rosto, mas não é só – mesmo com temperatura elevada terão de vestir uma traje de jogging cobrindo todo o corpo, um tanto folgado para não mostrar as formas das jogadoras.
O pretexto de se tratar de uma questão cultural árabe ou tradição não é procedente, pois muitas mulheres muçulmanas denunciam o véu como uma imposição masculina e uma restrição à sua liberdade. A decisão da FIFA, ao se dobrar ante uma exigência religiosa, anula os esforços de algumas esportistas iranianas e árabes de obter derrogação para jogarem sem o véu.
A francesa Anne Sugier, presidente da Liga do Direito Internacional das Mulheres, num artigo publicado no Journal du Dimanche, em Paris, considera a decisão da FIFA uma derrota para as mulheres e uma vitória para os religiosos dos países do Golfo, liderados pelo Qatar, que sob uma aparente promoção do esporte feminino reforçam a condição da mulher como cidadã de segunda classe.
Anne Sugier lembra algumas mulheres campeãs olímpicas que desafiaram os religiosos muçulmanos competindo de cabeça nua e no traje normal dos atletas, como, em Los Angeles, em 1984, a marroquina Nawal El-Moutawakel, primeira campeã olímpica africana e muçulmana, e Hassiba Boulmerka, primeira medalha de ouro da Argélia, em 1991, em Barcelona, que chegou a ser ameaçada de morte pelos islamitas argelinos do FIS e que dedicou sua vitória às mulheres argelinas.
Com a desculpa de se tratar de uma simples questão cultural o uso de um tecido cobrindo os cabelos (mas sem citar que as jogadoras são obrigadas a jogar de corpo totalmente coberto) o International Football Association Board ignorou o Artigo 4 do Regulamento da FIFA que proibe qualquer concessão política ou religiosa aos jogadores.
A pressão crescente veio da CAF, Confederação Asiática de Futebol, que representa mais de 220 milhões de muçulmanos, apoiada por um dos vice-presidentes da FIFA, príncipe Ali ben Al-Hussein da Jordânia, e pelo Irã. Essa brecha na laicidade do esporte pode chamar outras – a das jogadoras das seleções femininas dos países não muçulmanos serem convidadas a usarem o véu, quando os jogos forem em país muçulmano, a pretexto de respeito de sua cultura (e não de sua religião!).
Com a esperada popularização do futebol feminino, a singularidade das equipes de países muçulmanos nos encontros internacionais poderá provocar protestos das mulheres ocidentais mas será, ao mesmo tempo, uma publicidade religiosa até hoje ausente nos estádios. E logo mais haverá certamente novas medidas religiosas aceitas tanto pela FIFA como pelo COI.
Mas não é só no futebol a infiltração da lei corânica – os pais pedem dispensa das meninas nos cursos mistos de natação nas escolas, as mulheres não aceitam ser examinadas por médicos homens e maternidades são obrigadas a prever médicas no trabalho de parto de mulheres muçulmanas.
Traço marcante que envolveu essa decisão da FIFA – a insensibilidade geral da imprensa que parece ter achado normal como se fosse uma abertura da FIFA aos países muçulmanos e não uma restrição religiosa local às mulheres agora imposta de maneira global.
E nossa visão da mulher ? Um objeto de cobiça e desejos pecaminosos que deve ser obrigada a ficar coberta da cabeça aos pés para não despertar lascívia ? Que as mulheres reajam, mesmo no Ocidente, antes que seja tarde demais – na Tunísia, Líbia e Egito, onde podiam passear e ir à escola, universidade ou trabalho com roupas normais, as mulheres voltaram a ser obrigadas a colocar o véu e a usar roupas e mangas longas para cobrir seu corpo. Foi o inesperado retrocesso resultante da revolução árabe, numa mistura de religiosidade com machismo. (Publicado originalmente no site Direto da Redação)

Rui Martins, correspondente em Genebra

sábado, 30 de junho de 2012

Fundamentalismo: muçulmano, judeu ou cristão?

Quem é o fundamentalista?


 
Definitivamente a mídia continua tratando seus leitores como idiotas.
Insiste em criar slogans usurpadores para catequizar os incautos.
De um lado temos o Ocidente Cristão “tolerante e democrático”.
De outro o Oriente muçulmano  “intolerante e fundamentalista”.
O Ocidente é representado por Estados Unidos e Europa.
O Oriente por Iraque, Líbia e Afeganistão ( não por coincidência nações invadidas, ocupadas e saqueadas”).
E a estes três últimos querem acrescentar a Síria e Iran e em quem mais eles estiverem cobiçando.
Enfim, de um lado temos os “tolerantes cristãos” e de outro os “fundamentalistas muçulmanos”.
Mas espera aí.
O Iraque de Saddam Hussein tinha como vice-presidente um cristão.
Em que país cristão há algum vice-presidente muçulmano?
No Afeganistão dos Talibãs  havia uma Mesquita de Maria.
Alguém conhece alguma igreja ou templo no Ocidente democrático de nome Muhamad?
Isso, claro, para ficar na superfície do texto.
Alguém pode dizer quando o Iraque, a Líbia, o Afeganistão, a Síria ou Iran invadiram o Ocidente Cristão?
Não preciso perguntar quantas vezes o Ocidente cristão invadiu aqueles países.
Qualquer leitor minimamente ilustrado sabe  que o Ocidente Cristão fez e ( e continua fazendo) de sua razão a invasão, ocupação e saque de nações.
E não precisa ir longe.
A nossa maltratada America é um excelente exemplo.
Claro também que posso citar a África e a Ásia.
Agora falemos de Israel que, segundo seus psicopatas dirigentes, estaria ameaçado pelo muçulmano Iran.
Porque um dirigente iraniano “teria ameaçado os judeus de extinção”.
O interessante é que no Iran vivem mais de 35 mil judeus que vivem de acordo com os preceitos da religião judaica.
E jamais foram perseguidos ou maltratados.
Mas falemos de Israel, lamentavelmente, um posto militar euro-ocidental a serviço dos Estados Unidos.
Como os “judeus” foram parar ali?
Fugindo dos cristãos ocidentais.
Que jamais cessaram de persegui-los.
Basta consultar menos a mídia e mais a História para verificar essa verdade.
Foram os ocidentais cristãos que perseguiram  e maltrataram os judeus durante séculos.
Ao contrario dos muçulmanos, que sempre os abrigaram.
A lista é longa, longuíssima, mas esse é um simples blog e não uma defesa de tese.
Mas se você tiver algum tempo consulte a História e veja como Ocidente Cristão manipula vergonhosamente os fatos.
E veja quem é o fundamentalista.
E como a mídia trata os seus leitores como idiotas.
Depende apenas de você.
E abaixo você ouve Moshe Habusha, acompanhado por Ariel Cohen, cantando em árabe Ya Jarat Al Wadi, do egípcio Mohamad Abel-Wahab. Ressalte-se que Moshe possui um conjunto musical especializado em canções clássicas árabes. Muitas delas ele verteu para o hebraico. Eu o considero um dos melhores interpretes de musica árabe em todo o Oriente Médio.
 
 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Palestina: OLP condena ocupação israelense, que completa 45 anos

Créditos: CAOGRINO

O fim da Guerra dos Seis Dias completa 45 anos neste domingo (10/06). O conflito armado entre Israel e diversos países árabes demonstrou o superior poderio militar dos israelenses e culminou na dominação de territórios como a Faixa de Gaza em 1967. Algumas ds áreas conquistadas permanecem em disputa até hoje. Na foto, uma criança palestina brinca em um campo de refugiados na Jordânia em 23 de junho de 1967.

Os israelenses utilizaram tanques para avançar sobre o terreno irregular das Colinas de Golã em 10 de junho de 1967. A região permanece sendo disputada por Israel, que obteve controle da área com a Guerra dos Seis Dias, e a Síria, então detentora do local.

Aviões cruzam o céu na fronteira entre Israel e Egito no primeiro dia da guerra, em 5 de junho de 1967. Os egípcios, derrotados, sofreram as maiores baixas na Guerra dos Seis Dias e perderam o controle da Faixa de Gaza e da Península do Sinai.
Soldados sírios admitem a derrota e se rendem ao avistarem tanques israelenses nas Colinas de Golã no final da Guerra dos Seis Dias.
Na Cisjordânia - que, assim como Jerusalém Oriental, era controlada pela Jordânia antes da guerra -, soldados árabes se rendem às forças israelenses.
Estima-se que menos de mil soldados israelenses morreram no ataque, enquanto as forças árabes reunidas perderam quase 20 mil combatentes. Na foto, palestinos se rendem aos israelenses no que marcaria o aumento definitivo no número de refugiados palestinos na Jordânia e no Egito. Muitos desses nunca consequiram retornar a seus antigos territórios e ainda hoje vivem em campos de refugiados.

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) condenou "o fortalecimento de uma ocupação que ameaça ser irreversível", na véspera do 45º aniversário da Guerra dos Seis Dias, na qual Israel conquistou Jerusalém Oriental, Gaza, Cisjordânia, as Colinas do Golã e o Sinai egípcio. Enquanto isso, a Faixa de Gaza vive o quarto dia consecutivo de bombardeios israelense.


"Quarenta e cinco anos depois do começo da ocupação, Israel continua violando deliberadamente a lei internacional através de políticas que minam e ameaçam anular as perspectivas de uma solução de dois Estados", disse nesta segunda-feira em comunicado Hanan Ashrawi, membro do Comitê Executivo da OLP.


 Na nota, a dirigente palestina pede ao mundo que "examine o legado da ocupação israelense: um legado de impunidade e atrozes violações da legislação internacional". Além disso, acusa Israel "como potência ocupante" de violar as obrigações estabelecidas na Convenção de Genebra e outros tratados internacionais.


 Ashrawi condena a expansão das colônias e do que classifica de "políticas extremistas adotadas pelo governo israelense e legisladas pela Knesset (Parlamento) que enviam uma mensagem sinistra: em vez de investir na paz, Israel investe em avançar a ocupação com a construção de assentamentos, a demolição de casas e o deslocamento de milhares de palestinos".


Bombardeio


 Aviões militares israelenses bombardearam  nesta segunda (4) pelo terceiro dia consecutivo, áreas civis de Gaza. Duas pessoas morreram e sete ficaram feridas. Uma leiteria situada na Cidade de Gaza foi destruída pelos projéteis lançados pelas forças militares.


De acordo com fontes médicas e o movimento de Resistência Islâmica (Hamas), outro ataque com projéteis de grosso calibre foi registrado em uma área descampada. A ação tem por objetivo vingar a morte de um soldado israelense em um tiroteio na região da fronteira.


Vários presos palestinos em cárceres israelenses ameaçaram retomar a greve de fome massiva devido ao não cumprimento por parte do governo de Benjamín Netanyahu do acordo que colocou fim à greve de cerca de mil reclusos, realizada em 17 de abril.


domingo, 10 de junho de 2012

História recente e perspectivas da estratégia do imperialismo no Médio Oriente*


Ángeles Maestro** ODIARIO
 
Ángeles Maestro 
Tal como Lénine escreveu já há quase um século, «as relações de dominação [imperialista] e a violência ligada à dita dominação: eis a característica distintiva na fase contemporânea do desenvolvimento do capitalismo».
Esta importante comunicação de Angeles Maestro dá-nos um aprofundado panorama da actual ameaça imperialista global. Para as organizações políticas e sociais revolucionárias, hoje como noutras épocas de grande crise em que as classes dominantes perdem qualquer resquício de legitimidade, a luta pela emancipação de classe e de género e pela libertação nacional, no quadro de uma poderosa unidade e solidariedade anti-imperialista apresenta-se como a única alternativa à barbárie.

Carregue aqui para ver o artigo (PDF)

terça-feira, 29 de maio de 2012

SÍRIA: Porta-voz do Governo nega qualquer responsabilidade das forças do governo sírio no massacre de al-Hula


Eba Khattar

 
A publicação desta notícia da agência Síria SANA poderia não ser mais do que uma modesta tentativa de contrapor outra informação à enxurrada mediática imperialista, e mesmo assim já se justificaria. Mas é também uma oportunidade de denunciar o facto de no vergonhoso coro internacional da direita e da social-democracia - que reclama a repetição na Síria da criminosa operação de ocupação que se verificou na Líbia - participarem igualmente forças que se dizem progressistas e de esquerda, sem escrúpulos de juntarem as suas vozes aos objectivos da dominação e do terrorismo imperialista.

O porta-voz do Ministério dos Estrangeiros e da Emigração, Dr. Jihad Makdesi, negou qualquer responsabilidade das forças governamentais no massacre ocorrido em Hula, na periferia da cidade de Homs, ao mesmo tempo que condenou nos termos mais veementes esta matança terrorista levada a cabo com clara intenção criminosa contra os filhos da Síria, denunciado de igual modo o tsunami de mentiras desencadeado contra o Estado sírio e a leviandade com que alguns governos e meios de comunicação acusam o governo sírio pelo massacre.
Em conferência de imprensa realizada no domingo na sede do Ministério dos Estrangeiros e da Emigração Makdesi disse: “O Estado Sírio é, conforme a Constituição, responsável pela protecção dos civis, e a Síria reserva-se o direito de defender os seus cidadãos, porque aquilo que está em questão não é qualquer espécie de jogo político mas a responsabilidade pela segurança e a tranquilidade dos cidadãos que incumbe ao Estado”.
Makdisi garantiu que não se verificou qualquer entrada de artilharia ou de tanques em Houla, explicando que as forças de segurança e da ordem se mantiveram nas suas posições iniciais e que apenas intervieram em defesa própria face a este ataque, intervenção que terminou com os confrontos no final da noite de sexta-feira passada.
O porta-voz do Governo sublinhou que esta tão suspeita sincronização dos ataques com a visita do enviado da ONU à Síria, Kofi Annan, constitui um golpe contra o processo político, assinalando que “a metodologia dos assassinatos brutais não faz parte da ética do exército sírio, e que quem anda a matar não é o exército regular sírio mas sim grupos terroristas armados”.
“Aquilo que sucedeu não serve os interesses do Estado sírio … não podemos negociar com o sangue dos nossos filhos, tal como não pode justificar-se o uso das armas contra o prestígio do Estado, sejam quais forem os argumentos políticos invocados,… desde que aprovámos o Plano de Annan o terrorismo e a delinquência aumentaram, porque não desejam que este Plano tenha sucesso”, sublinhou Makdesi.
O porta-voz do Governo assegurou que as violações documentadas do Plano Annan na Síria por parte dos terroristas armados já ultrapassam as três mil e quinhentas.
“A desestabilização é o caldo de cultura para os terroristas, e aí participam a al-Quaeda e os takfirís, mas não permitiremos que tirem vantagens de um tal contexto, por mais que ampliem as suas acções; e a solução para a crise na Síria reside e estender a mão ao Governo sírio e auxiliá-lo”, concluiu Makdisi.
Makdisi explicou que o que sucedeu em Hula foi já verificado: centenas de homens armados reuniram-se ao meio-dia de sexta feira, com carrinhas pick-up repletas de armas pesadas sofisticadas, tais como morteiros, metralhadoras pesadas e mísseis anti-tanque, o que não constitui novidade nos confrontos com as forças governamentais.
“Os homens armados dirigiram-se para a zona de Hula, que é protegida por tropas governamentais em apenas cinco posições, todas elas situadas fora dos lugares em que os massacres foram cometidos…estas posições foram atacadas em simultâneo desde as duas horas da tarde até às onze da noite, tendo resultado na morte de 3 efectivos das forças de segurança e em ferimentos em outros 16, alguns dos quais em estado crítico, e há corpos carbonizados devido à grande potência das armas utilizadas contra as forças governamentais”.
“Constituímos uma comissão militar de inquérito para investigar os factos cujos resultados serão divulgados no prazo de três dias”.
O porta-voz reiterou firmemente que não existiu qualquer entrada de tanques sírios ou de artilharia na região onde foram cometidos os massacres.
Makdisi sublinhou que o massacre de Hula não foi o único, uma vez que se verificou um outro na aldeia de Shomaniye, onde foram queimadas as culturas, as casas e o Hospital Nacional, garantindo que ambos estes injustificáveis massacres justificam uma reunião do Conselho de Segurança para analisar quem financia, arma, acolhe e instiga à intervenção da OTAN.
Makdisi informou que no plano diplomático o Ministro dos Estrangeiros e da Emigração Walid al-Moalem contactou com o enviado da ONU à Síria, Kofi Annan – que chegará ao país na segunda-feira – para o pôr ao corrente dos acontecimentos e das investigações oficiais que estão em curso sobre este assunto.
“Lamentamos que primeiros-ministros de alguns países que se consideram potências se antecipem às conclusões e lancem acusações levianas em importantes fóruns internacionais sem se fundamentar em factos, mas apenas naquilo que alguns opositores sírios ou círculos mediáticos enviesados divulgam, bem como aqueles que têm agendas políticas contra a Síria”, acrescentou.”
“A concentração de homens armados vindos de várias regiões como Roston, Telbisa ou Qsair, bem como o lançamento do ataque a uma hora determinada, o que é um facto que as informações de inteligência que possuímos confirma irrefutavelmente, significa que não se tratou de um ataque improvisado mas sim de uma acção premeditada e planeada”, disse.
Makdisi garantiu que “todos aqueles que sabotam a trégua, sejam eles os países da região que albergam os terroristas ou fazem vista-grossa à sua infiltração na Síria, ou sejam os países que financiam e ameaçam publicamente,são cúmplices deste crime cometido contra o sangue do povo sírio”.
Estamos comprometidos com o Plano Annan e desejamos que tenha sucesso, mas as chaves da solução não residem apenas na Síria: há que aposte na desintegração do Estado e em golpear a sua estabilidade, e em atrair uma intervenção militar estrangeira no nosso país”, denunciou Makdesi.
“Não existe nada que tenha o nome de “tropas armadas da oposição”, como foi mencionado no relatório de Ki-moon: ou existe uma oposição de opinião que é bem-vinda a dialogar com o Estado, que nunca fechou as portas ao diálogo, ou são terroristas e, portanto, o emprego de tal designação requer um exame por parte da equipa do Secretário-Geral das Nações Unidas, porque não pode dizer-se “forças da oposição armadas” e não pode justificar-se a acção armada contra o prestígio do Estado, seja qual for a razão política invocada”, sublinhou.
Makdesi referiu-se ao relatório do Secretário-Geral da ONU, no qual é mencionado que intervêm veículos armados e máquinas pesadas, e em que é também dito que existem cidades que se encontram fora do controlo do Estado. “Parece a pintura da Mona Lisa, que cada um interpreta à sua maneira, … ou existem cidades fora do controlo do Estado e é portanto direito constitucional proteger os seus cidadãos e expulsar os terroristas e homens armados, procurando que passem a intervir no plano político e não no plano militar, ou então nada do que é dito faz sentido, o que é o que nós dizemos”.
“Existem bairros que podem estar fora de controlo devido à presença dos grupos armados, mas não existem cidades nessa situação e, por isso, o relatório não está à altura do Secretário-Geral das Nações Unidas, e esperamos que o próximo relatório seja mais profissional e que assente em políticos experientes como os observadores que se encontram na síria, que entram nossa bairros e testemunham com os seus próprios olhos a presença dos grupos armados”.
Makdisi disse: ”O Ministro dos Negócios Estrangeiros informa Annan e Ban Ki Moon, bem como os nossos aliados e amigos sobre a violações diariamente cometidas pela oposição síria, e as mais recentes estatísticas (com dados até há 4 ou 5 dias) indicam que há registo de mais de 3.500 violações documentadas”.

fonte: Agência síria SANA

sábado, 19 de maio de 2012

64 anos do Nakba: A limpeza étnica da Palestina e as responsabilidades ocidental e brasileira

Por Idelber Avelar na REVISTA FORUM

Imagens do êxodo palestino em 1948

I -Palestina Árabe

A derrota que os árabes impuseram ao domínio bizantino na Palestina, confirmado entre os anos 633 e 638 da era cristã, foi bem recebida pela população local, tanto por cristãos como por judeus e samaritanos, que ainda eram grupos numericamente importantes na região. Estes últimos grupos tinham todos os motivos para preferir a organização árabe, vítimas que já eram da intensa perseguição cristã, que só pioraria com os séculos (aliás, no início do período árabe na Palestina—que se estenderia pelos próximos 1.300 anos–, uma pequena população judaica voltaria a se estabelecer em paz em Jerusalém, depois de 500 anos de ausência, que datavam da sangrenta expulsão que os romanos lhe haviam imposto no segundo século da era cristã). O período árabe também foi bem recebido pelos cristãos da região, que “eram arameus [e] não ficaram incomodados pela organização árabe, pois a etnia era semelhante, de origem semítica”, não tendo eles “motivos para gostar da administração bizantina, de origem romana, não semítica”1. Na Palestina árabe, apesar de um imposto específico para judeus e cristãos, eles gozavam de proteção como “Povos do Livro”, e a atmosfera não tinha muito em comum com o regime de terrorífica perseguição que se instalaria nas regiões controladas pelo Cristianismo. A Sura 2 de Maomé explicitamente rejeita a conversão e o proselitismo violento: “Não obrigueis ninguém em assuntos de religião”. A violência sectária só voltaria a se disseminar na Terra Santa com as empresas cristãs de conquista conhecidas como Cruzadas, a primeira das quais foi proclamada pelo Papa Urbano II em 1095 e resultou no estabelecimento do “Reino de Jerusalém”, em 1099, uma fortaleza de reduzidas relações com seu entorno árabe, ironicamente semelhante, neste aspecto, ao enjaulamento que as construções israelenses ilegais hoje impõem a Jerusalém.
As cruzadas à Palestina enfrentariam os muçulmanos locais aos invasores cristãos, com a pequena população judaica da região frequentemente lutando ao lado daqueles contra estes, como em 1099, em Jerusalém, e em 1100, em Haifa. No século XII, na época da Segunda Cruzada, os muçulmanos se reunificam politicamente sob o comando do General Saladino, curdo nascido em Cairo. Saladino recupera Damasco (1174), Acre, Jafa, Beirute, e a própria Jerusalém, em 1187. Na Terceira Cruzada, Ricardo Coração de Leão derrotaria Saladino, forçando-o a negociar e celebrar o tratado de paz que “abriu caminho a um período de calmaria militar e tolerância religiosa na Palestina”2, permitindo aos cristãos visitar os lugares sagrados. A Quarta Cruzada (1199) planejava tomar o Egito por mar, mas fez um desvio para a região da atual Turquia, instalando o Império Latino de Constantinopla. A Palestina só voltaria a ser afetada pela Cruzada de Federico II que, conhecedor da língua árabe, foi capaz de “obter do sultão a entrega pacífica, embora condicionada, de várias terras e das cidades de Belém, Nazaré e Jerusalém, onde o imperador entrou e foi coroado em 1229”3. Já em 1244, Jerusalém voltaria ao poder dos árabes, e o último reduto cristão na Palestina, São João de Acre, cairia em 1291. O controle de toda a área entre o Jordão e o Mar Mediterrâneo—os atuais territórios de Israel e da Palestina Ocupada—permaneceria em mãos árabes até a invasão turco-otomana, em 1517. Mesmo durante o período marcado pela sua incorporação ao Império Turco-Otomano (de 1517 até 1917, com uma interrupção egípcia durante a década de 1830), a Palestina manteria sua enorme maioria árabe, organizada segundo laços sociais bem arraigados na região, que o império turco não alteraria significativamente.
As sucessivas demonstrações de desmemória na política ocidental para o Oriente Médio contrastam com o forte arraigo que certos eventos históricos possuem na reminiscência das massas árabes. Em 1993, acusado de estar celebrando com os israelenses, em Oslo, um tratado que não concedia nada aos palestinos e o instalava na posição de cão de guarda de Israel, o líder Yasser Arafat insistia, um pouco pateticamente (dadas as condições em que negociava), que ele não celebraria qualquer paz, mas “a paz de Saladino”. O leitor dos EUA não tinha a menor noção do que se referenciava ali, mas o povo árabe não deixava de notar a ironia involuntária da impotente insistência de Arafat na menção a Saladino. Antes de entrar no período histórico que imediatamente influencia o curso dos acontecimentos que nos ocupam, portanto, é boa ideia lembrar alguns fatos que se desprendem desse esquemático sumário de alguns séculos de história palestina. Inicia-se no século VII uma intensa arabização da região, que já era visível em séculos anteriores a Maomé, mas que solidifica suas raízes com a chegada dos árabes a Jerusalém, em 638, e a construção da mesquita Al-Aqsa. Durante os próximos 1.300 anos os árabes serão a grande maioria em toda a região da Palestina. No período das Cruzadas, estima-se que havia em torno de 1.000 famílias judias na região.4 Em 1914, já depois das primeiras ondas migratórias estimuladas pelo sionismo, a Palestina (ainda, naquele momento, sob domínio otomano) tinha uma população de 657.000 árabes muçulmanos, 81.000 árabes cristãos e 59.000 judeus.5 De acordo com o censo da Palestina de 1922, feito pelos britânicos, a população era 78% muçulmana, 9,6% cristã (árabe, claro) e 11% judaica. No entanto, no jornalismo “ponderado” sobre a região, mesmo depois de 60 anos de limpeza étnica e 43 anos de ocupação ilegal, você verá desinformados funcionários da grande mídia dissertando, “mui ponderadamente”, sobre os “direitos” dos dois povos sobre a Palestina.
O domínio otomano sobre a Palestina dura de 1517 a 1917, com uma interrupção de 10 anos de administração egípcia na década de 1830. A submissão ao império turco não altera de forma significativa o regime de posse baseado na renda agrícola das terras, já visível no período do sultanato, anterior aos otomanos. Esse sistema relativamente descentralizado de vilas e aldeias, com arrecadação por senhores de terras e trabalho de cultivo por lavradores, arraiga-se na região e ajuda a explicar o terror dos palestinos com—e sua impotência para se defender contra—a violenta campanha de confisco de terras e separação de raças que se inicia com o armamento dos sionistas, nas décadas que antecedem a fundação do estado de Israel. Nas primeiras décadas do século XX, o sionismo armado traria à região um modelo eminentemente europeu de organização territorial e compreensão do espaço, caracterizado pela acumulação, posse e construção de barrreiras fronteiriças. Munidos desse olhar que historicamente relativiza os fatos, nos preparamos para explicar alguns “mistérios” que cercam a história recente: como foi possível que metade de uma população árabe palestina que já se media em bem mais de um milhão tenha sido expulsa tão rapidamente por algumas dezenas de milhares de colonos sionistas? Como foi possível que o nascente estado judeu tenha adquirido uma supremacia tão incontestável no conflito com seus vizinhos árabes e com os palestinos? Para repetir a pergunta que abre um artigo já clássico de Walid Khalidi: Por que os palestinos foram embora?6Observando a realidade relativamente fluida de comunicação entre as aldeias árabes, a intensa organização acumuladora de terras e de armas entre os colonos sionistas e o papel das grandes potências–particularmente da Grã-Bretanha—no processo, começamos a vislumbrar a explicação, que só se completará, claro, com um estudo do que aconteceu em 1948. A compreensão dessa diferença nos regimes de posse da terra, no entanto, é parte da explicação da vitória sionista. Essa explicação, aliás, não tem a menor necessidade de recorrer a estereótipos antissemitas do judeu mais esperto ou conspirador, nem a estereótipos antissemitas do árabe mais atrasado ou indolente, nem a falsificações da mitologia oficial israelense, que repetiram durante décadas que os palestinos saíram voluntariamente ou obedecendo a misteriosas ordens radiofônicas dos próprios árabes, mentiras já cabalmente corrigidas pela própria historiografia israelense.
531 aldeias palestinas foram destruídas no Nakba

II – Da Declaração de Balfour (1917) à Palestina do Mandato Britânico (1922-48)

Quando se estuda o processo histórico pelo qual se chegou à atual, desastrada situação na Terra Santa, salta aos olhos a responsabilidade das potências ocidentais que, ao longo do século XX (para nos atermos à história mais recente), jogaram um jogo duplo, perigoso e marcado pela reversão do que se havia dito antes. Pensando em seu próprio interesse e em completa desconsideração pelo destino de milhões de civis inocentes, a Grã-Bretanha literalmente toca fogo na região, ao fazer promessas contraditórias aos povos árabes e ao movimento sionista. O reino de Sua Majestade não possui sequer a desculpa de que se tratava de uma causa nobre. Era 1916 e 1917, e tratava-se da consolidação de sua coalizão na Primeira Guerra Mundial. Ao contrário da Segunda Guerra, defensável como reação legítima à agressão nazi-fascista, a Primeira é um típico conflito napoleônico-clausewitziano moderno, um choque entre impérios. A Turquia, aliada dos alemães, mantinha a Palestina árabe sob o seu império otomano (como se viu acima, um jugo relativamente frouxo, onde a vida palestina seguia com considerável autonomia, situação que nem de longe tinha nada em comum com o horror das posteriores expulsão e ocupação israelenses). Interessada em atrair os árabes, a Grã-Bretanha promete para depois da guerra, em correspondência oficial entre Sir Henry Mac Mahon e o xeque Hussein, de Meca, a criação de um estado independente nas províncias do império turco em que se falava o árabe. A luta dos árabes contra a dominação otomana acabaria sendo decisiva para a vitória de seus aliados britânicos naquele front. Toda a evidência histórica demonstra que as lideranças árabes esperavam que os britânicos cumprissem sua palavra e confirmassem o estado árabe independente depois da guerra. Não foi o que aconteceu.
Ter prometido algo aos árabes não impediu que a Grã-Bretanha celebrasse com a sua aliada França um tratado contraditório com a promessa anterior. Os acordos de Sykes-Picot, de 1916, entre Grã-Bretanha e França, reservavam aos franceses a Síria e o Líbano. Em 1917, as forças otomanas se rendem ao general britânico Allenby em Jerusalém e em 1918 se confirma o fim do regime otomano na Palestina. O Tratado de Versalhes, de 1919, selaria o arranjo de Sykes-Picot entre França e Grã-Bretanha, deixando aos britânicos a área da Jordânia (então chamada de Transjordânia), do Iraque e da Palestina. A Liga das Nações, fundada depois da guerra, avalizaria esse arranjo, segundo o qual as duas potências ocidentais se responsabilizariam por um “mandato” temporário sobre essas regiões, até a sua independência formal. Em 22 de julho de 1922, a Liga das Nações aprova o mandato britânico na Palestina, que deixaria como legado o progressivo armamento dos colonizadores sionistas e a catástrofe palestina de 1948.
Ao mesmo tempo em que prometia independência aos árabes, o império britânico fazia sua famosa promessa ao movimento sionista internacional, a Declaração de Balfour (1917), patentemente contraditória com a promessa feita aos árabes e com o próprio arranjo subjacente a Sykes-Picot e a Versalhes. Enviada pelo secretário exterior britânico Arthur James Balfour ao Barão Rotschild, para transmissão à Federação Sionista da Grã-Bretanha e da Irlanda, a declaração mudaria a história do Oriente Médio: “O governo de Sua Majestade vê favoravelmente o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu, e usará seus melhores esforços para facilitar a realização desse objetivo, ficando claramente entendido que nada será feito que possa prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não judias existentes na Palestina, ou os direitos e status político desfrutados por judeus em qualquer outro país”. Apesar de que a declaração mencionava a preservação de todos os direitos da população nativa, é evidente que “Balfour não tinha nenhum interesse em consultar os árabes da Palestina acerca de seu futuro”7. Em suas memórias, Lloyd-George, primeiro-ministro em 1917, se refere à declaração como uma recompensa a Chaim Weizmann, um dos líderes sionistas mais importantes daquele momento (depois primeiro presidente de Israel) e químico que havia desenvolvido um método de sintetizar a acetona na produção de pólvora. A declaração também está inserida na tentativa de mobilizar as comunidades judaicas da Rússia e dos EUA no apoio aos esforços de guerra britânicos, e termina sendo um enorme estímulo ao movimento sionista. Depois da vitória aliada, o próprio Chaim Weizmann participaria da Conferência de Paz de Paris, em 1919, clamando por uma “Palestina tão judia como a Inglaterra é inglesa”8, num momento em que os judeus representavam não mais que 10% da população da Palestina. No ano seguinte, fundava-se na Palestina a Hagana, organização paramilitar judaica depois responsável pelo extermínio ou limpeza étnica de centenas de aldeias palestinas.
Só depois de três décadas (1880-1910) de migração, compra de terras e armamento sionistas é que aparecem os primeiros registros de preocupação entre as lideranças palestinas. Em 06 de maio de 1911, o palestino e membro do parlamento otomano, Said al-Husayni, apontava que “os judeus planejam criar um estado na área que incluirá a Palestina, a Síria e o Iraque”9. Segundo o historiador israelense Ilan Pappe, já entre 1905 e 1910 há alguma evidência de discussão, entre líderes palestinos, do fenômeno do sionismo como movimento político que acumulava poder e terra. Mas só a partir da queda do regime otomano na Palestina (1917) e o começo do período britânico (ocupação em 1918, mandato da Liga das Nações em 1922), o movimento sionista se lançaria paulatinamente a um plano de limpeza étnica dos árabes. Ali passa a ser visível a preocupação sistemática e, por vezes, o pânico das lideranças palestinas com as ondas migratórias, a acumulação de terras e a violência física que se iniciava. Mas ao longo das duas últimas décadas do século XIX e das duas primeiras do século XX, a imigração sionista não esteve entre as grandes preocupações dos palestinos.
Campo de refugiados Nahr al-Barid, Líbano, inverno de 1948

Na década de 1920, os palestinos representavam ainda uma maioria de 80% a 90% na região. A tentativa inglesa de construir estruturas paritárias que reconciliassem as promessas contraditórias feitas por eles ao povo árabe e ao movimento sionista encontrou compreensível resistência entre os palestinos, que “se recusaram, no começo, a aceitar a sugestão britânica de paridade, especialmente uma paridade que os colocava na prática em desvantagem—o que incentivou os líderes sionistas a endossarem-na”10. Começa a se desenhar ali um paradigma que seria reconhecível até os dias de hoje: 1) instala-se uma mediação ocidental que recomenda uma solução patentemente favorável ao sionismo; 2) os árabes protestam, apontando, como no caso em questão, que a paridade entre um povo que representa 90% da população e outro que totaliza 10% contraria o mais elementar princípio da democracia; 3) a liderança sionista, com intenso trabalho de relações públicas, manifesta concordância tática com a solução apresentada, sabendo que a recusa árabe os coloca na posição de, ao mesmo tempo, aceitar um plano e não se comprometer com ele; 4) enfraquecidos politica e militarmente, os representantes árabes voltam atrás e aceitam a solução originalmente apresentada pela potência ocidental; 5) ante a concordância árabe com o plano, é a vez da liderança sionista dizer que a solução lhe é inaceitável, o que lhe permite arrastar o impasse e, a partir de sua posição de força, aboncanhar mais e mais, ao mesmo tempo em que adia outra vez uma solução definitiva; a vitória não impede que a liderança sionista prolongue o impasse, reinstalado por um aumento das suas exigências; 6) esse prolongamento faz com que todo o ciclo se reinicie, com mais concessões árabes e mais impasse, até o ponto a que chegamos hoje, em que a população palestina já não tem o que oferecer, exceto alguma forma mágica de desaparição. Esse filme se repete com macabra previsibilidade, ante o olhar conivente das potências cúmplices (Grã-Bretanha e, depois, os EUA), desde 1928, vinte anos antes da fundação do estado de Israel. É a data em que as lideranças palestinas, “apreensivas com a crescente imigração judia ao país e com a expansão de seus assentamentos colonizadores, concordam com a fórmula [paritária] como uma base para as negociações”11. É a data em que os sionistas já não a aceitam e os britânicos permanecem de braços cruzados. Esses mesmos sete passos se repetirão em 1947-48, no episódio que os apologistas da ocupação israelense descrevem como o momento em que as Nações Unidas ofereceram um plano de partição “que os judeus aceitaram e os árabes recusaram”. Já veremos adiante todo o contexto que essa frase omite.
Entre 1924 e 1928 chegam mais 67.000 judeus (metade dos quais oriundos da Polônia), elevando a população judaica para 16% do total da Palestina do Mandato. Naquele momento, os judeus são donos de 4% da terra na Palestina. O censo de 1931 registra uma população de 1,03 milhão de almas, 16,9% judeus. A não implementação, por parte da Grã-Bretanha, da fórmula paritária que ela própria havia proposto, leva à rebelião árabe de 1929, o primeiro grande sinal de descontentamento com a política imposta no Mandato. Imagine um povo que representa quase 85% da população se rebelando, em sua própria terra, para ter a paridade que lhe havia sido proposta com os outros 15% que acabavam de chegar. Agora imagine que a autoridade administrativa responsável pela proposta se beneficiara da colaboração desse povo, como aliado seu, numa guerra mundial, e que a moeda de troca oferecida por essa colaboração não era paridade nenhuma, mas um estado seu, autônomo, em suas terras. Com isso você terá os elementos centrais para entender a primeira rebelião de desobediência civil árabe na Palestina moderna. Os confrontos em torno ao Muro das Lamentações em 1929 levam à morte de 133 judeus e 116 árabes, a maioria por mãos inglesas.12 Em 1931, funda-se o Irgun, outra organização paramilitar judia que se caracterizaria pelos ataques sangrentos aos árabes.
Ao se completar uma década e meia da queda do regime otomano e uma década da implantação do Mandato Britânico na Palestina, vão se configurando os elementos que produziriam a tragédia: 1) o fim da ameaça otomana ao sionismo, que depois de 15 anos já não tem que temer qualquer eventual expulsão sua da Palestina vinda do regime de Istambul; 2) o pesado armamento de grupos paramilitares sionistas como a Hagana e o Irgun, que vão acentuando a escolha por conquista e violência; 3) a perplexidade das lideranças palestinas, arraigadas em séculos de organização social descentralizada e não equipadas por sua experiência para se contrapor de forma efetiva à ofensiva territorial e armamentista do sionismo; 4) a incapacidade de setores das elites árabes de perceber a natureza do fenômeno sionista, vendo-o muito mais como uma “tentativa irresponsável por parte da Europa de transferir ao país o seu povo mais pobre e sem estado”13; e evidentemente 5) a subida ao poder do Partido Nacional Socialista alemão, que em menos de uma década alçaria 19 séculos de antissemitismo a níveis jamais vistos, com a intensa campanha de perseguições, agressões bélicas e matanças que culmina, já numa Europa em guerra, com o genocídio de 6 milhões de judeus.
Poster da organização paramilitar judaica Irgun, 1937

Qual é, então, a Palestina que assiste à invasão hitlerista da Polônia que dá início à Segunda Guerra Mundial em 1939? Robert Fisk acerta ao descrevê-la como presa a uma “atmosfera de suspeita, paranóia e intenso sofrimento”, tanto para árabes como para judeus, “os primeiros com medo de a Grã-Bretanha acabar autorizando a fundação do estado israelense em suas terras, e os segundos observando a aniquilação de sua raça na Europa”14. Não há dúvidas de que, na medida em que vão ficando visíveis as dimensões do Holocausto judeu na Europa, reforça-se a percepção sionista de que a implantação de seu estado na Palestina é uma questão de sobrevivência. Mas antes mesmo do início da Segunda Guerra Mundial, em 1938, a voz de historiadores como George Antonius já se levantava contra a eventual “resolução” do problema às custas dos árabes palestinos:
O tratamento dado aos judeus da Alemanha e outros países europeus é uma vergonha para seus autores e para a civilização moderna; mas a posteridade não exonerará nenhum país que não consiga enfrentar sua parte dos sacrifícios necessários para aliviar o sofrimento e a angústia dos judeus. Impor a maior parte da carga à Palestina árabe é uma miserável forma de esquivar-se das responsabilidades que deveriam recair sobre todo o mundo civilizado. Também é moralmente vergonhoso. Nenhum código moral pode justificar a perseguição de um povo em uma tentativa de pôr fim à perseguição de outro. O remédio para a expulsão dos judeus da Alemanha não deve ser buscado na expulsão dos árabes de sua pátria; e também não se conseguirá o alívio da angústia dos judeus às custas da angústia de um povo inocente e pacífico.15
Seria difícil formular o protesto em termos mais claros e moralmente firmes que os de Antonius. Suas palavras datam de 1938 e são, portanto, anteriores à guerra e aos horrores dos fornos crematórios nazistas; precedem, em uma década inteira, a fundação do estado de Israel e a expulsão de 750.000 palestinos de suas terras. Mais de sete décadas depois de enunciadas, elas ainda ecoam em sua atualidade e retidão ética.

III – A responsabilidade da diplomacia brasileira no Nakba: Oswaldo Aranha

Antes de transferir a questão da Palestina às mãos das Nações Unidas, em fevereiro de 1947, os ingleses apresentaram a proposta de um estado binacional, rejeitada pelos sionistas. Na mitologia oficial israelense, é frequente a referência à rejeição árabe do plano de partição apresentado pela ONU em 1947, mas é muito menos comum qualquer menção à rejeição sionista do plano inglês de um estado binacional. Já antes da transferência da questão à ONU, a liderança sionista tinha bastante claro que a Grã-Bretanha saía da Segunda Guerra Mundial como uma potência de segunda ordem, muito mais interessada, portanto, em abandonar o imbróglio da Palestina que em ajudar a resolvê-lo. Também já estava claro para os sionistas que só restavam os britânicos entre eles e a execução do plano de limpeza étnica, e que a saída britânica da região era iminente. O imperialismo ocidental mais uma vez largava um desastre de sua criação nas mãos de uma população nativa não equipada para resolvê-lo. Qualquer semelhança com o Iraque atual não é mera coincidência.
O Brasil também tem sua responsabilidade histórica no arranjo que produz a catástrofe palestina. Foi Oswaldo Aranha, diplomata brasileiro, quem presidiu as discussões que levariam à fundação do estado de Israel. Até mesmo a hagiográfica biografia de Aranha escrita pelo norte-americano Stanley Hilton dá alguma ideia do que foram as manobras do diplomata brasileiro. Convocado pelo general Dutra em 1947, Aranha seria o representante brasileiro no Conselho de Segurança da recém fundada Organização das Nações Unidas. Depois, seria eleito presidente da sessão especial da Assembleia Geral encarregada de discutir o problema da Palestina. Aranha prometeria aos representantes árabes “plena liberdade de discussão” do tema, logo depois que a Assembleia rejeitara uma proposta árabe para que se incluísse na agenda a questão da independência da Palestina. Não foi o que aconteceu. Ante a observação do Grã Mufti de Jerusalém, de que “os judeus queriam se apoderar da Palestina para sua maior expansão na região”, Aranha retrucou que “a opinião do Mufti não me interessa”16. A recomendação do comitê enviado à Palestina foi favorável ao ponto de vista sionista, ou seja, a partilha, por uma maioria de sete votos (num total de onze). Mas na Asssembleia Geral, vinte países se abstiveram e a recomendação não teve os dois terços necessários. Hilton relata que os últimos dias de novembro foram de crescente tensão, e que apesar das declarações públicas de Aranha, de que não exerceria nenhuma influência, sua atuação nos bastidores era fortemente alinhada com os sionistas, fato reconhecido por Abba Eban, membro da equipe negociadora da Agência Judaica na ONU17.
Quando a liderança sionista percebe que ainda não detinha a maioria, inicia uma manobra pelo adiamento da votação. Aranha “inteirado da situação, usou de sua autoridade para ajudar: quando terminaram alguns discursos protelatórios encomendados, anunciou ‘com irreverência’ que, sendo período de férias nos Estados Unidos, seria justo que a Assembleia o respeitasse e suspendeu a sessão”18. Quando se reabriram os trabalhos, no dia 29 de novembro, eram os árabes que sentiam que haviam perdido terreno. Tentaram adiar o voto. Aranha ignorou uma moção do Irã, que pedia um reexame da questão palestina e um adiamento dos trabalhos para janeiro de 1948. Aranha, que tinha “a mão mais rápida no martelo que já vi”, segundo a expressão de Abba Eban, procedeu a conduzir a votação, que aprovou a partição da Palestina por 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções. Note-se aí, claro, a limitada representatividade da ONU naquele momento anterior à descolonização na África e Ásia. Os árabes, num padrão que se repetiria ao longo do anos, deixaram o espaço livre para os sionistas ao se retirarem do recinto. Chaim Weizmann, que seria o primeiro presidente de Israel, testemunhou a Aranha que “a sessão da Assembleia não poderia ter terminado com esta decisão histórica [...] se não fosse vosso esforço persistente e vossa devoção como presidente”19.
Musa Kazim al-Husseini, ex-prefeito de Jerusalém, espancado por tropas inglesas

Em 29 de novembro de 1947, quando a ONU adotou a resolução de partição da Palestina, os árabes representavam dois terços da população da região. Eles eram aproximadamente 90% no início do Mandato Britânico, em 1922. A partição proposta pelo Comitê Especial das Nações Unidas para a Palestina (UNSCOP, pela sigla em inglês) concedia ao terço judeu nada menos que 56% do território, deixando aos dois terços árabes somente 44% da terra. Por pressões do Vaticano e das nações católicas, a resolução da partição reservava à cidade de Jerusalém (de população de 200.000 pessoas, divididas mais ou menos igualmente entre árabes e judeus) a condição de área internacionalmente governada. A divisão demográfica dos dois putativos países era bizarra: no estado árabe, deveriam viver 818.000 palestinos, hospedando 10.000 judeus. No estado judeu, viveriam 438.000 palestinos entre 499.000 judeus. Esse estado detinha a esmagadora maioria das terra férteis e, das 1.200 aldeias palestinas, aproximadamente 400 estavam incluídas em seu interior, sob soberania sionista20. Elaborada pelo UNSCOP, cujos membros não sabiam muito sobre a Palestina, a partição se transformaria na Resolução 181 da ONU. Não é de se estranhar que a liderança palestina do momento a rejeitasse. Com o boicote palestino ao UNSCOP, com certeza um erro político grave, a liderança sionista, de ampla superioridade bélica, se viu livre para dominar também o jogo diplomático.
A amarga ironia da história, quando a vemos do ponto de vista árabe, é que, como já argumentou a própria historiografia israelense (Simcha Flapan, por exemplo), se os palestinos tivessem aceitado a partição, a liderança sionista com certeza a teria rejeitado21. Basta examinar as comunicações entre Ben-Gurion e a hierarquia sionista para ver como a rejeição árabe ao plano de partição permitiu ao sionismo aceitá-lo publicamente e ao mesmo tempo trabalhar contra ele. Logo depois da adoção da Resolução 181, Ben-Gurion afirmava ao círculo da liderança sionista que a rejeição árabe ao plano significava que “não há fronteiras territoriais para o futuro estado judeu” e que as fronteiras “serão determinadas pela força e não pela resolução de partição” (p.37). Respondendo a um líder sionista e ministro do exterior (Moshe Sharett) acerca das possibilidades de defender o seu território, Ben-Gurion afirmava: “seremos capazes não só de nos defendermos, mas de infligir golpes letais aos sírios em seu próprio país—e tomar a Palestina como um todo” (p.46). Essas comunicações, disponíveis para consulta nos próprios arquivos israelenses, demonstram claramente que a liderança sionista viu o plano de partição como uma conquista tática, que colocava em definitivo sobre a mesa a legitimidade de um estado judeu na Palestina e estabelecia um trampolim para conquistas posteriores. Essas conquistas, é certo, foram facilitadas pelo perplexo boicote palestino ao Comitê da ONU. Reitere-se, então, que as citações de Ben-Gurion acima são parte de uma ampla documentação que prova que a liderança sionista jogou um jogo duplo e não se comprometeu com a partição como fórmula definitiva. Isso jamais é mencionado pelos apologistas da ocupação de Israel que repetem a consigna de que “os judeus aceitaram a partição de 1947 e os árabes a rejeitaram” como justificativa dos crimes cometidos por Israel em 2010, e bem além dos limites dessa partição.
Antes de descrever a expulsão dos palestinos de suas terras, mais um elemento do xadrez político legado pelo Mandato Britânico deve ser explicado: o acordo sionista-jordaniano que deixa os palestinos sem o apoio do principal exército árabe na Guerra de 1948 e à mercê do superior poder bélico sionista. Aliada dos ingleses na Primeira Guerra Mundial, a família real Hashemita havia recebido os reinos da Jordânia e do Iraque como recompensa por seus serviços. O que passou a ser conhecido como Transjordânia “era um pouco mais que um principado desértico e árido ao leste do Rio Jordão, cheio de tribos beduínas e aldeias circassianas” (p.43). As férteis terras da Palestina situadas a oeste do Rio Jordão, no que hoje é conhecido como Cisjordânia (ou seja, o grosso do território do que é, legalmente, a Palestina atual), passaram a ser objeto da cobiça da família real Hashemita. Havia poucos judeus ali, e entre 1946 e 1947 a realeza jordaniana e a liderança sionista chegaram um acordo: os jordanianos não interfeririam na guerra árabe-israelense que se avizinhava—promessa que os jordanianos cumpriram—e a região da Cisjordânia seria anexada pelo reino dos Hashemitas, sem interferência sionista—promessa que os israelenses quebraram em 1967, ao ocupar o território e mantê-lo sob seu controle, picotagem policial e colonização armada até hoje. Também ali se instalaria um paradigma repetido incontáveis vezes desde 1948. Acuados pelo poder superior dos sionistas, as elites árabes vizinhas rifavam os palestinos, deixando-os entregues à própria sorte num jogo no qual não tinham nenhuma chance. É mais um elemento da tragédia do Oriente Médio.
Revisando os diários de Ben-Gurion e os arquivos israelenses posteriores à partição, o historiador Ilan Pappe encontra certa surpresa e júbilo entre a liderança sionista com o caráter limitado da reação palestina ao recorte de suas terras. Seguindo-se à Resolução 181, os palestinos se limitam a convocar uma greve geral de três dias, durante a qual a repressão inglesa foi duríssima. As revoltas árabes que aconteceram entre 1936 e 1939 deram também à organização paramilitar judia Hagana sua primeira experiência na execução das táticas militares aprendidas com a Grã-Bretanha. A destruição da liderança política palestina seria decisiva para o rumo posterior dos acontecimentos. O quadro que precede a guerra de 1948 é de intenso armamento sionista, coincidindo com um momento de particular fragilidade da liderança palestina, destroçada pela repressão britânica à revolta de 1936-39. No jogo diplomático, começa a pesar a consciência culpada da Europa, em choque com as dimensões gigantescas do Holocausto judeu, recém perpetrado. Quebrar as promessas feitas aos árabes era preço relativamente pequeno para expiar, às custas de outrem, a culpa européia pelo judeocídio. No xadrez político da região, o acordo sionista-jordaniano neutralizava o principal exército árabe. Em pânico com os constantes ataques dos grupos paramilitares judeus (Hagana, Irgun e Stern), a população autóctona, já em 1947, começa a perceber o poderio sionista como uma força imbatível. Estava aberto o caminho para a limpeza étnica da Palestina.

IV – A preparação da expulsão

Toda sorte de distorções e mitos já foram circulados sobre o que aconteceu na Palestina entre o final de 1947 e o começo de 1949. Na mitologia oficial israelense, no senso comum, no jornalismo mais venal ou preguiçoso, nas Wikipédias e até mesmo em livros embalados como se fossem de pesquisa historiográfica séria, essas distorções foram sedimentando uma coleção de narrativas que recorrem a falsificações não raro contraditórias entre si: 1) que o povo palestino como tal não existia; 2) que ele existia mas que saiu voluntariamente de suas terras em 1948; 3) que não saiu voluntariamente, mas que tampouco foi vítima do sionismo, pois abandonou suas aldeias atendendo a ordens radiofônicas dos próprios árabes; 4) no ramo da pseudo-historiografia sem-vergonha, paga para mentir, já apareceram até livros sobre como os palestinos não eram tão antigos assim na região, já que eles teriam chegado também em imigração recente. Essas diferentes versões da mitologia oficial vão se sucedendo ou se combinando, a gosto do freguês, formando uma geleia geral de enganação empacotada. Acompanham-na algumas frases que, até corretas em si mesmas, omitem um universo de contexto que lhes transforma o sentido, como é o caso de “os sionistas aceitaram a partição proposta pela ONU, os árabes, não”, analisado acima, e “a guerra de 1948 foi iniciada pelos palestinos”, mantra que é essencial em todo mascaramento do processo.
Expulsão em aldeia palestina durante o Nakba

Como se sabe agora, a liderança militar sionista ficou surpresa com o caráter limitado dos protestos palestinos que se seguiram ao decreto da partição, em novembro de 1947. Afinal de contas, seu território havia sido rachado com uma comunidade minoritária de colonos, que receberam não só um naco de 56% do território, desproporcional à sua representação na população, mas um naco que continha pelo menos 400 aldeias palestinas, nas quais 800.000 palestinos deviam seguir vivendo sob soberania imposta e recém chegada. Ao longo dos dias que se seguem à partição, o comando sionista se reúne para encontrar formas de ataque possíveis, ante a ausência de pretextos. Os arquivos estudados por Ilan Pappe, das reuniões a liderança judaica na Palestina, dão amplo testemunho do planejamento da limpeza étnica. Os fazendeiros dos Kibbutzim transformavam suas cooperativas em postos militares, enquanto nas aldeias palestinas a vida seguia seu curso, no qual a “normalidade era a regra e a agitação a exceção”, segundo os informes do próprio Palti Sela, membro de uma unidade de inteligência sionista. Ao longo do mês de dezembro de 1947, anterior à guerra propriamente dita, as aldeias palestinas sofrem uma campanha de terror e intimidação das organizações paramilitares judias que representam o primeiro capítulo da limpeza étnica da Palestina.
A linguagem da ameaça foi prática comum naquele momento, como mostra o exemplo citado por Ilan Pappe, de panfletos lançados às aldeias sírias e libanesas na fronteira palestina: “Se a guerra for levada até você, ela causará expulsão massiva de aldeões, com suas mulheres e crianças … haverá matança sem piedade, sem compaixão” (p.56). Lembremos que nesse momento o sionismo já possui um mapa completo das aldeias palestinas, incluindo-se informação sobre água, possíveis defesas e indivíduos vinculados à resistência árabe durante os protestos de 1936-39. Esse mapeamento seria chave na destruição das centenas de aldeias palestinas e na expulsão de centenas de milhares de habitantes autóctonos da região No mês de dezembro se disseminam as ações que a Hagana chamava de “reconhecimento violento” (hassiyur ha-alim): invadir uma aldeia à noite, instaurar toque de queda, atirar em qualquer um que ouse sair de casa, permanecer durante algumas horas e ir embora. A aldeia de Deir Ayyub foi uma das vítimas de dezembro de 1947. Com aproximadamente 500 habitantes, ela acabava de comemorar a abertura de uma escola. Foi invadida por tropas judaicas que passaram a atirar indiscriminadamente nas casas. Deir Ayyub ainda seria atacada três vezes antes de ser destruída em sua totalidade em abril de 1948 (p.56). No nordeste da Galileia, na aldeia de Khisas, algumas centenas de muçulmanos coexistiam pacificamente há tempos com uma centena de cristãos. Até que no dia 18 de dezembro de 1947, tropas judaicas a invadiram e passaram a explodir casas durante a noite, provocando a morte de quinze aldeões, pelo menos cinco crianças. Ações como estas proliferaram ao longo de dezembro de 1947, e não costumam ser mencionadas pelos que justificam as atrocidades de Israel com o argumento de que “os palestinos iniciaram a guerra” em janeiro de 1948.
As ações de expulsão da população anteriores à declaração formal de guerra em janeiro de 1948 não se limitaram às aldeias pequenas. Na cidade de Haifa, principal porto da Palestina, 75.000 palestinos “foram submetidos a uma campanha de terror instigada conjuntamente pelo Irgun e pela Hagana. Como haviam chegado em décadas recentes, os colonos judaicos construíram suas casas no alto das montanhas. Viviam topograficamente acima dos bairros árabes e podiam disparar e lançar morteiros contra elas. Começaram a fazê-lo com frequência a partir do começo de dezembro. Usaram também outros métodos de intimidação: as tropas judaicas rolavam barris cheios de explosivos, e enormes bolas de aço, na direção das áreas residenciais árabes, lançavam óleo misturado com combustível nas estradas, que aí incendiavam. Os residentes palestinos, aterrorizados, corriam para fora de suas casas para tentar apagar o fogo, e aí passavam a ser alvo de rajadas de metralhadora” (p.58). A descrição documentada do que aconteceu em Haifa em dezembro de 1947 é importante porque a cidade é, com frequência, mencionada como exemplo de que as lideranças judaicas insistiram para que os palestinos ficassem e eles saíram “voluntariamente”.

V – Epílogo e promessa

Não está contada aqui, evidentemente, nada da história do Nakba propriamente dito. Para se entender a monstruosidade a que foi submetida o povo palestino, há que se conhecer os quatro planos de limpeza étnica da Palestina elaborados pela liderança sionista desde antes da II Guerra Mundial. O Plano A, também conhecido como “Plano Elimelech”, toma seu nome do líder do comandante da Hagana que, em 1937,  já elaborara, a pedido de Ben-Gurion, um projeto de limpeza étnica a ser executado no momento em que os ingleses abandonassem a Palestina. O Plano B foi escrito em 1946 e ambos depois se fundiram no Plano C, que previa: a) assassinatos seletivos da liderança política palestina; b) destruição da infraestrutura de transporte palestina; c) sabotagem específica às fontes de sustento da população nativa, como os moinhos; d) ataques escalonados às aldeias; e) bombardeios de ônibus, cafés, locais de reunião. O fundamental desse plano é mantido no projeto que é efetivamente executado, o Plano D (Dalet), anterior à guerra de 1948, e que previa a sistemática expulsão do povo palestino de suas terras.
O Plano Dalet já é consenso entre a liderança sionista em Dezembro de 1947, antes da oficialização da guerra. Ao cabo do processo de limpeza étnica, espantosamente curto e brutal, mais da metade da população palestina nativa (pelo menos 750.000 pessoas) foi expulsa, 531 aldeias foram destruídas e onze bairros urbanos foram esvaziados de sua população, um crime contra a humanidade de enormes proporções, ainda hoje negado e envolvido em falsificação. Hoje, os refugiados e seus descendentes vivem esparramados por, em números aproximados, Jordânia (2 milhões), Líbano (430.000), Síria (480.000), além de 800.000  que são parte da população palestina que mora sob ocupação militar israelense na Cisjordânia (2,3 milhões) e outro 1,1 milhão que vive sob bloqueio (e frequente bombardeio) militar israelense em Gaza. Outros 1,2 milhão de palestinos vivem como cidadãos de segunda classe em Israel. O melhor guia do Nakba é o livro de Ilan Pappé, The Ethnic Cleansing of Palestine, infelizmente ainda inédito em português. Pretendo publicar num futuro próximo, aqui pela Editora Publisher, um breve livro que contará um pouco dessa história.  Se você lê inglês e se interessa pelo acompanhamento diário do horror, sugiro o site Electronic Intifada.
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Referências fotográficas: aqui e aqui.  
Referências bibliográficas: otoRe.N
1 Aragão, Maria José. Israel x Palestina: Origens, História e Atualidade do Conflito (Rio de Janeiro: Revan, 2006), p. 23-4.
2 Aragão, p. 32.
3 Aragão, p. 33.
4 Heynick, Frank. Jews and medicine, An Epic Saga, KTAV Publishing House, Inc., 2002 p.103.
5 McCarthy, Justin. The Population of Palestine. (Nova York: Columbia UP, 1990), p. 37-8.
6 Khalidi, Walid. “Why did the Palestinians leave?” Journal of Palestine Studies 34.2 (2005): 42-54. Ver também Benny Morris, The Birth of the Palestinian Refugee Problem Revisited (Cambridge: Cambridge UP, 2004). 
7 Fisk, Robert. A grande guerra pelo Oriente Médio. Trad. Sandra Dolinsky (São Paulo: Planeta, 2007), p. 432.
8 Pappé, Illan. The Ethnic Cleansing of Palestine (Oxford: OneWorld, 2006), p. 283.
9 Pappe, p. 11.
10 Pappe, p. 14.
11 Pappe, p.14.
12 Pappe, p. 283.
13 Pappe, p.12.
14 Fisk, p.511.
15 Antonius, George. Arab Awakening: The Story of the Arab National Movement (Londres: International Book Center, 1938), p. 387.
16 Hilton, Stanley: Oswaldo Aranha: Uma biografia (Rio de Janeiro: Objetiva, 1994), p. 439.
17 Eban, Abba. Personal Witness: Israel Through My Eyes (Nova York: Putnam’s Sons, 1992).
18 Hilton, p. 456.
19 Hilton, p. 459.
20 Pappe, p. 34-5.
21 Flapan, Simcha. The Birth of Israel: Myths and Realities (Nova York: Pantheon, 1987).